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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Nos meus tempos de estudante quando ainda vivia lá para o Poço dos Negros, todos os dias adormecia a ouvir alguma das emissoras espanholas, gosto da rádio falada e para isso não há como os espanhóis. Numa dessas noites que entrou pela madreugada, o tema era os mais de 10% de desemprego que atingia, e atinge, a Espanha. Um dos locutores de serviço dizia que não acreditava, simplesmente não era possível que 12 ou 13% da população estivesse sem emprego. A explicação, mais que obvia para o caso, era a enorme economia paralela, as pessoas declaram-se sem emprego, ficam a receber o subsídio de desemprego e paralelamente tem um segundo emprego não declarado e vivem, muitas vezes muito bem, disso.
Este fim-de-semana lembrei-me desta conversa, primeiro foi este post no Blogando-me, que mostra alguma da realidade do que acontece em Portugal e depois, na viagem a Bragança, o Neca, que me falou do jogo dos carimbos.
O Neca tem uma pequena loja no centro de Bragança, não precisa de empregados, a loja é dele e para ele, mas mesmo assim, nos últimos tempos há muito quem lhe entre pela porta dentro com um papel na mão e um pedido:
-Pode colocar-me um carimbo?
Assim, sem mais conversa ou preâmbulos, não há ninguém que pergunte se precisa de empregados, ou se tem algum trabalho que possa fazer, a pergunta é mesmo pelos carimbos.
Para quem não sabe, a nova lei do subsidio de desemprego obriga as pessoas a fazer prova da procura de emprego, para isso basta um papel com carimbos de algumas empresas, de aí até à corrida aos carimbos, foi um muito pequeno passo, e não me estranhava nada, que até já exista um mercado negro de carimbos.
Esta corrida aos carimbos e o que é contado no post do Blogando-me, são o espelho da sociedade em que vivemos, é o lado perverso do estado previdência, hoje fala-se em 10% de desemprego, há quem coloque em dúvida estes números, há quem diga que a percentagem é muito maior. Para se questionar estes números haveria que começar por perguntar o que é um desempregado.
Um desempregado é alguém que não tem emprego e que está de alguma forma há procura dele, agora eu questiono, será que as pessoas de que se fala no post do Blogando-me querem mesmo um emprego?
Quem não ouviu falar de pessoas que estão a viver do subsídio de desemprego e que só aceitam empregos onde lhes paguem mais que o que recebem? Ou de pessoas que são chamadas e inventam todas as desculpas para não aceitarem o emprego que lhes é proposto? Ou de casos como os que são referidos no post do Blogando-me?
A Espanha é desde há muito tempo o país da Europa Ocidental com maior índice de desemprego, mas também é desde há muito tempo o país com a maior economia paralela. Há quem diga que o dinheiro vivo que existe escondido na economia espanhola daria para retirar o país da crise. Em Portugal ainda estamos longe disso, mas quando falamos em desempregados falamos de quê?, das pessoas que querem um emprego ou das que andam à cata de carimbos que garantem que podem continuar a receber o subsidio? ou daquelas que são referidas no post do Blogando-me?
Jorge Soares
PS:imagem retirada da internet