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Rosa

 

Continuação do Conto Um rasto do teu sangue na neve de Gabriel Garcia Marquez, parte anterior aqui

 

- Doutor - disse. - Ela está grávida.
- Quanto tempo?
- Dois meses.


O médico não deu a importância que Billy Sánchez esperava. “Fez bem em avisar”, disse, e foi atrás da maca. Billy Sánchez ficou parado na sala lúgubre, cheirando a suores de enfermos, e ficou sem saber o que fazer olhando o corredor vazio por onde haviam levado Nena Daconte, e depois sentou-se no banco de madeira onde havia outras pessoas esperando. Não soube quanto tempo ficou ali, mas quando decidiu sair do hospital era noite outra vez e continuava a garoar, e ele continuava sem saber nem ao menos o que fazer consigo mesmo, sufocado pelo peso do mundo.


Nena Daconte internou-se às 9:30 da terça-feira 7 de janeiro, conforme pude comprovar anos depois nos arquivos do hospital. Naquela primeira noite, Billy Sánchez dormiu no automóvel estacionado na frente da porta de emergência, e muito cedo, no dia seguinte, comeu seis ovos cozidos e duas xícaras de café com leite na cafeteria mais próxima que encontrou, pois não tinha feito uma refeição completa desde Madri. Depois voltou à sala de emergência para ver Nena Daconte, mas fizeram que ele entendesse que deveria se dirigir à entrada principal. Lá conseguiram, por fim, um asturiano de plantão que o ajudou a se entender com o porteiro, e este comprovou que, por certo, Nena Daconte estava registrada no hospital, mas que só eram permitidas visitas nas terças-feiras, das nove às quatro. Quer dizer, seis dias mais tarde. Tentou ver o médico que falava castelhano, que descreveu como um negro careca, mas ninguém resolveu seu problema a partir de dois detalhes tão simples.


Tranqüilizado com a notícia de que Nena Daconte estava no registro, voltou ao lugar onde havia deixado o automóvel, e um guarda de trânsito obrigou-o a estacionar dois quarteirões adiante, numa rua muito estreita e do lado dos números ímpares. Na calçada em frente havia um edifício restaurado com um letreiro: “Hotel Nicole.”, Tinha uma única estrela, uma sala de recepção muito pequena onde não havia mais que um sofá velho e um piano vertical, mas o proprietário de voz aflautada podia entender-se com os clientes em qualquer idioma desde que tivessem com que pagar. Billy Sánchez instalou-se com onze maletas e nove caixas de presentes no único quarto livre, que era uma água-furtada triangular no nono andar, aonde chegava-se sem fôlego por uma escada em espiral que tinha cheiro de couve-flor fervida. As paredes estavam forradas de cortinados tristes e pela única janela não cabia nada além da claridade turva do pátio interior. Havia uma cama para dois, um armário grande, uma cadeira simples, um bidê portátil e uma bacia com seu prato e sua jarra, de maneira que a única forma de ficar dentro do quarto era deitar na cama. Tudo era, pior que velho, desventurado, mas também muito limpo, e com um rastro sadio de desinfetante recente.


Para Billy Sánchez, a vida inteira não seria suficiente para decifrar os enigmas deste mundo fundado no talento da mesquinharia. Nunca entendeu o mistério da luz da escada que se apagava antes que ele chegasse ao seu andar, nem descobriu a maneira de tornar a acendê-la. Precisou de meia manhã para aprender que no desvão de cada andar havia um quartinho com uma privada, e já havia decidido usá-lo nas trevas quando descobriu por acaso que a luz acendia quando passava a tranca por dentro, para que ninguém a deixasse acesa por descuido. O chuveiro, que estava no extremo do corredor e que ele se empenhava em usar duas vezes por dia como na sua terra, era pago em separado e à vista, e a água quente, controlada pela gerência, acabava em três minutos. Ainda assim, Billy Sánchez teve suficiente clareza de juízo para compreender que aquela ordem tão diferente da sua era, de qualquer forma, melhor que a intempérie de janeiro, e sentia-se além disso tão atordoado e solitário que não podia entender como conseguiu viver algum dia sem o amparo de Nena Daconte.

 

Assim que subiu ao quarto, na manhã da quarta-feira, atirou-se de boca na cama vestindo a jaqueta, pensando na criatura de prodígio que continuava dessangrando na calçada em frente, e muito rápido sucumbiu num sono tão natural que quando despertou eram cinco horas no relógio, mas não conseguiu deduzir se eram da tarde ou do amanhecer, nem de que dia da semana nem em que cidade de vidros açoitados pelo vento e pela chuva. Esperou acordado na cama, sempre pensando em Nena Daconte, até comprovar que na realidade amanhecia. Então foi tomar café da manhã na mesma cafeteria do dia anterior, e ficou sabendo que era quinta-feira. As luzes do hospital estavam acesas e havia parado de chover, e ele permaneceu encostado no tronco de uma castanheira na frente da entrada principal, por onde entravam e saíam médicos e enfermeiras de uniformes brancos, com a esperança de encontrar o asiático que tinha recebido Nena Daconte. Não o viu, e tampouco naquela tarde depois do almoço, quando teve que desistir da espera porque estava congelando.

 

Continua

Jorge

PS:Imagem minha, retirada do blog Momentos e olhares

 

publicado às 22:12

A vida como ela é?... ou como a queremos ver?

por Jorge Soares, em 29.01.09

A vida é alegria

 

"Porque a vida é feita de pequenos nadas" e Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!" são as frases que apresentam este blog, são frases que falam da vida e em certa forma reflectem a forma como eu a tento encarar.

 

Ontem a meio da tarde apareceu no Reader do google um texto que me chamou a  atenção, muito bem escrito e com o que à primeira vista me identifiquei. Ao fim do dia em casa voltei a ler e fiquei a pensar. O texto está no blog Cocó na Fralda e tem como titulo:

 

"A vida como ela é  

 

Hoje de manhã íamos no carro, depois de mais um acordar em correria, e eu sentia-me exausta, e olhei-te e estavas exausto, e lá atrás os miúdos gritavam um com o outro, É meu! Não, é meu! Ó mãe! Ele chamou-me bebé! Eu não sou bebé! E os gritos enchiam-nos os ouvidos e o sangue principiava a ferver-nos dentro das veias, sim, que eu bem senti o teu sangue ferver-te nas veias da mesma maneira que o meu, uma vontade imensa de gritar CALEM-SE C**AL*O!, e o cansaço, às 8.30, tão fundo. 

Olhei para ti sem que te apercebesses (creio que estavas a entrar numa espécie de transe) e pensei: isto é a vida. A vida tal como ela é. E há poucas pessoas capazes de aguentar a vida como ela é. E quando se dão conta de que a vida não é como no Sexo e a Cidade, quando percebem que a vida não é só jantares românticos e festas e fins-de-semana em resorts de luxo, quando percebem que estão num carro, às 8.30 da manhã, completamente esvaídas, sem forças para darem um grito sequer, quando percebem, as pessoas - muitas pessoas - rebentam. Desistem. Dizem: Isto não é vida. Vou-me embora. Separo-me. Vou à procura de outra coisa. Melhor. Mais excitante. Mais glamorosa. Mais cool. A porra é que é engano. É mentira. É ficção. Daí a pouco, noutra casa, noutro carro, sentirão o mesmo. Sem tirar nem pôr. Porque isto é a vida. A vida tal como ela é. Claro que há momentos de uma felicidade que não tem tamanho nem preço nem palavras que a definam. Ah, sim, claro! Mas são momentos. Excelentes por serem isso mesmo: instantes. E a gente vai naquele carro e pensa: daqui a bocado vai ser melhor. Amanhã vai ser melhor. No fim-de-semana vai ser melhor. Nas férias vai ser excelente. Para o ano é que vai ser em grande. E vai. Mas a vida, a puta da vida, é aquele momento no carro. E a maior parte das pessoas que eu conheço não me parece minimamente preparada para aquele momento. Ou seja, para a vida."

 

Imagino que já todos nos teremos sentido assim, mas será que a vida é mesmo assim? não, claro que não! A vida não se resume a 15 minutos dentro de um carro, não se resume a um simples momento..... a vida é muito mais que isso.... ainda que por vezes não pareça.

 

Tenho dois filhos que se levam menos de sete meses de diferença, duas crianças vivas e irrequietas, duas crianças que me deram muitas dores de cabeça e muitas noites sem dormir. Consigo lembrar-me de muitos momentos como os que são referidos, mas também de muitos sorrisos, dos primeiros passos, das brincadeiras no jardim.... de muitos momentos maus é verdade, cabeças e ossos partidos, hospitais, viagens de centenas de quilómetros em que cheguei a parar o carro e a ameaçar deixar ambos ali..., mas no fim a marca que fica é a dos momentos positivos, da alegria, da felicidade.... da alegria de viver.

A vida é feita de momentos sim, de pequenos nadas, mas podemos olhar para ela da maneira que entendermos, o copo sempre poderá estar meio cheio ou meio vazio... e nem sempre olhamos para o copo da mesma maneira....resumir a vida por um momento de 15 minutos dentro de um carro não só é redutor como é esquecer que ela existe para além desse momento.

 

Numa coisa estou de acordo, há muita gente que não está preparada para viver, limita-se a existir, essas são nas pessoas que rebentam, que resistem, que abandonam tudo e voltam para casa dos pais ou para os apartamentos de solteiro.

 

E vocês, como vêem a vida, como eu? ou como a pessoa que escreveu o texto?

 

Jorge

PS:Mafalda, obrigado por partilhares os posts.

publicado às 21:04

Eu no História Devida IV :-)

por Jorge Soares, em 28.01.09

 

Depois de O Quebra cabeças de arame, de O perfume daquela rosa e de A carta, agora foi a vez de O Caminho dos Medronhos.

 

Recebi o seguinte email da RDP:

 

Caro Jorge Soares:

Queria avisá-lo de que, no próximo Domingo, dia 1, vamos ler a história que nos enviou, «O caminho dos medronhos», numa emissão que terá como convidada a guionista e autora Maria João Cruz.
Pode ouvi-la na Antena 1, a partir das 13h.

Para se manter actualizado em relação ao programa, consulte o nosso blogue:
ahistoriadevida.blogs.sapo.pt

Cumprimentos, e boas histórias,
Inês Fonseca Santos.

 

Os 4 textos foram escritos aqui no blog, todos fazem parte das minhas memórias de vida, são histórias reais que por um ou outro motivo me vieram àe  memória e que decidi partilhar com vocês, as pessoas que dão vida  a este blog.  

 

Obrigado a todos os que dedicam uns segundos da vossa vida a ler o que eu escrevo e obrigado à RDP pela enorme honra de seleccionar os meus humildes textos para partilhar com os seus ouvintes.

 

O Texto a ler no próximo Domingo dia 1 de Fevereiro, é este:

 

O caminho dos medronhos... ou a bebedeira!

 

 

MedronosNasci num aldeia do distrito de Aveiro, num tempo em que se nascia em casa com uma parteira por obstetra, noutro tempo... agora muito distante. 

 

A minha casa era num lugar donde a escola ficava a Quilometro e meio, mais coisa menos coisa, e desde os seis anos, lá ia eu, a pé para a escola, todos os dias. Acompanhado pela chuva do

 

Outono, a geada do Inverno ou o calor do verão, uma parte pela estrada, outra pelos atalhos que cruzavam pinhais e campos numa vã tentativa de encurtar caminhos.

 

Um dia, andaria eu na terceira classe, eu e o Quim Faianca, meu colega de caminho, descobrimos um novo atalho, que passando por entre campos de milho e batatais, encurtava duas ou três curvas ao caminho. A meio, na separação de dois terrenos, havia um medronheiro, naquele dia coberto de flores brancas. Na altura nem reparamos, mas de vez em quando lá passávamos, e pouco a pouco as flores foram passando a pequenas bolinhas verdes, que com o tempo passariam a bolas amarelas já rosáceas a meio da primavera, que mais tarde passariam a um vermelho vivo no inicio do verão e por fim a vermelho escuro, quase cor de vinho... quando as aulas estavam prestes a terminar.

 

Nós íamos passando por lá, um dia sim outro não, até que um dia reparamos que os melros e os pardais começavam a assentar arraiais na árvore em busca de um festim de frutos doces. Nesse dia, decidimos que estava na altura e na volta para casa... paramos lá.

 

O Quim, muito mais afoito a essas coisas que eu, subiu à pequena árvore, eu fiquei cá em baixo, comi todos os que estavam ao alcance da minha mão..e depois,  ele ia atirando dos que estavam lá em cima. Há medida que íamos comendo, íamos ficando mais barulhentos, mais faladores, até que de repente, num movimento mal calculado a um caxo de medronhosMedronhos mais distante, o Faianca estatelou-se no chão...e eu, após uns segundos de silêncio, desatei ás gargalhadas...... Ri feito doido, sem conseguir parar e a olhar para ele. Ele olhou para mim, levantou-se e riu comigo.

 

Depois disto, não consigo recordar muito mais, sei que fizemos o restante caminho até casa entre sorrisos e tropeções..e que cheguei a casa e a sentia às voltas, em lugar de ir almoçar, fui directo à casa de banho..... e despejei o estômago até à bilis... E consigo recordar uma enorme dor de cabeça que me acompanhou o resto do dia..e de que só passados quase 20 anos desenjoei dos medronhos e pude voltar a comer um!

 

Jorge

PS:Imagens retiradas da internet

 

 

publicado às 22:04

 

Aviso desde já que hoje vou ser politicamente incorrecto, se calhar vou até ser contra algumas ideias que transmito... mas  há coisas que são como são.

 
Imagino que todos terão lido, visto ou ouvido algo sobre o facto de Portugal se ter oferecido para receber os presos considerados inocentes em Guatanamo....desde já digo que sou contra.
 
Depois do 11 de Setembro, a América de Bush começou uma cruzada mundial contra o terrorismo, sendo que uma parte dessa cruzada consistia em raptar pessoas por todo o mundo e a coberto do segredo das agências de informação americanas e mundiais, transportar essas pessoas para uma prisão construída para o efeito em Guantanamo, uma base militar que os EU mantém na ilha de Cuba.
 
Estas pessoas eram mantidas presas na ilha, sem qualquer direitos, sujeitas a uma lei que não é nem civil nem militar, vítimas de sevícias e torturas. Com o tempo esta justiça concluiu que muitas destas pessoas eram inocentes e não constituíam perigo algum.  Ditam as regras do bom senso que estas pessoas sejam libertadas e reintegradas na sociedade.  
 
O que fizeram os Estados Unidos? nada, como a maioria destas pessoas não podem voltar aos seus países onde seriam vítimas de perseguição e também não lhes permitem a entrada na América, a solução é impingir estes presos a outros países...
 
Esta semana li uma notícia que falava de 17 presos chineses de etnia Uirgur que foram declarados inocentes em 2004 e que continuam na prisão porque o estado americano se nega a os deixar entrar no seu território. Mesmo após uma sentença de um juiz Federal Americano que ordena a sua libertação em solo do país, os EU negam-se a recebe-los. Que estado é este que não cumpre as leis dos seus próprios tribunais?
 
Portugal foi o primeiro país a responder ao pedido americano para os receber e esta semana o assunto foi debatido a pedido do nosso país em reunião da União Europeia, há países que se negam a receber esses presos em território Europeu, acho bem, se  os americanos criaram o problema, por uma vez que sejam eles a resolver. Foram eles que raptaram as pessoas, que os levaram dos seus países, devem ser portanto eles quem os receba.
 
Os americanos que por uma vez limpem a m. que fizeram, ao contrario do que se pretende fazer passar, não é uma questão de humanidade e solidariedade, é uma questão de justiça.
 
Jorge

publicado às 22:23

Vivemos no céu...acreditem

por Jorge Soares, em 26.01.09

Caracas

Imagem retirada da internet

Vista de Caracas

 

Hoje ia falar sobre Guantanamo.... fica para amanhã, estava a ver o telejornal e mudei de ideias.

 

No outro dia em conversa com uma amiga sobre viver na cidade da eterna primavera, ela perguntava se eu não queria lá voltar. É uma pergunta que me fazem muitas vezes..... a resposta é não.

 

Vivi 10 anos em Caracas, foram sem duvida anos muito felizes, sobretudo porque foram os anos que marcaram a minha personalidade e a minha forma de ser..... uma cidade moderna, bonita e onde eu vivia bem. Porquê não quero voltar? já lá vamos.

 

Hoje no telejornal deram a noticia de um senhor que assaltou uma bomba de gasolina, chegou a pé com uma arma na mão, retirou o dinheiro da caixa, 140 Euros e fugiu a pé. O lugar tinha vigilância privada, o vigilante e alguns populares seguiram o homem, este virou-se apontou a arma....e foi à sua vida..... confesso, desatei às gargalhadas. Desculpem...mas isto é para rir.... este deve ser o unico país do mundo onde alguém assalta a pé, um sitio com vigilância, leva uns trocos e vai à sua vida.. a pé.... isto é para rir. Já agora, o vigilante estava lá para quê?

 

Mas este não é caso unico, no outro dia em Palmela havia uma operação STOP, havia mais de 150 policias numa rotunda, a uns 50 metros da sitio onde estava o aparato policial todo, há um hipermercado, não é que 3 caramelos decidem assaltar o supermercado? É evidente que mal entraram o alarme tocou e havia dezenas de GNRs a correr para lá... é claro que foram apanhados.... não é para rir? 

 

Vivi 5 anos em Lisboa, morava na rua Poços dos Negros em São Bento, estudava no IST na Alameda, saia da Faculdade tarde e a más horas, ia a pé pela Almirante Reis ou pelo Saldanha, havia sempre muitissima gente na rua...a noite toda, nunca senti o menor temor.... nunca ninguém me chateou.... nunca senti o menor perigo.

 

Em Caracas todos os prédios tem grades... em todas as portas e janelas, o prédio pode ter 15 andares, podem ter a certeza que há grades em todas as janelas...de todos os andares. Há grades na porta do prédio e em todos os apartamentos. E isto era há 20 anos... agora há vigilantes armados na entrada das ruas. Depois das 9 da noite não há transportes publicos, na rua não há pessoas, só carros e não se para nos semáforos.

 

As pessoas que vivem em Portugal não fazem ideia do que é viver num sitio sem segurança, durante anos em Lisboa eu ia pela rua e sabia absolutamente tudo o que se passava à volta, sentava-me no Cais das Colunas e sabia perfeitamente quem era o traficante e o comprador... essa é outra coisa, vivi 10 anos em Caracas, ao lado de um bairro de lata e nunca vi droga, ou um drogado... em Lisboa, bastava passar em alguns lugares que era certo e sabido que vinha alguém oferecer-me droga...coisas do primeiro mundo.

 

É claro que existe criminalidade em Portugal...mas acreditem em mim, não tem nada a ver, vivemos no céu.... só que a maioria das pessoas não sabe.

 

Tenho muitas saudades de Caracas e da venezuela.... mas não conseguia lá ir... nem sozinho, muito menos com a familia, porque não conseguia voltar a viver naquele clima de terror e muito menos seria capaz de sujeitar a minha familia a isso.... porque depois de vivermos no céu.... dificilmente voltamos ao inferno

 

Jorge

publicado às 22:44

Receita:Bacalhau à minha moda

por Jorge Soares, em 25.01.09

Bacalhau

Imagem retirdada da internet

 

Parece que a minha receita de lombo de porco foi um sucesso....pelo menos a julgar por alguns comentários que me chegaram..... dizia a Pepita que eu deveria fazer um dia da semana dedicado às receitas cá no blog....  obrigado amiga, mas não sou assim tão bom cozinheiro....

 

Mas hoje temos mais uma receita, bacalhau à minha moda. Cá por casa eu sou o único que aprecia bacalhau, o resto da família já é da geração do bacalhau escondido e como temos aquela regra de que não há pratos diferentes à refeição....raramente posso cozinhar o fiel amigo.

 

Um destes dias fizemos uma excepção à regra, fiz filetes de peixe espada no forno para o resto da família, ia fazer bacalhau com grão para mim.... à ultima hora mudei de ideias, e decidi inventar um pouco.

 

Bacalhau à minha maneira

 

Ingredientes:

2 postas de bacalhau

1 cebola,

2 tomates

Meio pimento

Alhos

Pimentão

Azeite

1 Caldo knorr

Vinho branco

Pimentão

 

Piquei a cebola, os tomates, o pimento e os alhos e coloquei numa panela juntamente com o azeite. Deixei alourar e juntei o bacalhau, que ainda estava congelado. Juntei o pimentão, o Caldo Knorr, a pimenta e 1 copo de vinho branco. Deixei cozinhar durante 30 minutos... Na verdade esteve mais tempo, porque os filetes no forno ainda não estavam prontos... juntei um pouco mais de vinho branco e ficou mais uns 15 minutos em lume brando.

 

Cozeu demais, e quando o servi desfazia-se em lascas e estava uma verdadeira delicia. Servi com batatas cozidas.

 

Jorge

 

publicado às 21:50

- Doutor - disse. - Ela está grávida.

por Jorge Soares, em 24.01.09

Um rasto do teu sangue na neve, Uma rosa

 

Continuação do Conto Um rasto do teu sangue na neve de Gabriel Garcia Marquez, parte anterior aqui

 

- Imagine só - disse. - Um rastro de sangue na neve de Madri a Paris. Você não acha bonito para uma canção?


Não teve tempo de tornar a pensar. Nos subúrbios de Paris, o dedo era um manancial incontrolável, e ela sentiu de verdade que a alma estava indo embora pela ferida. Havia tentado cortar o fluxo com o rolo de papel higiênico que levava na frasqueira, mas demorava mais em vendar o dedo que em jogar pela janela as tiras de papel ensangüentado. A roupa que vestia, o casaco, os assentos do carro, iam se empapando pouco a pouco, mas de maneira incorrigível. Billy Sánchez assustou-se de verdade e insistiu em procurar uma farmácia, mas ela já sabia que aquilo não era questão para boticários.


- Estamos quase na porta de Orleans - disse. - Continue em frente, pela avenida General Leclerc, que é a mais larga e com muitas árvores, e depois vou dizendo o que fazer.


Foi o trajeto mais árduo da viagem inteira. A avenida General Leclerc era um nó infernal de automóveis pequenos e motocicletas, engarrafados nos dois sentidos, e dos caminhões enormes que tentavam chegar aos mercados centrais. Billy Sánchez ficou tão nervoso com o estrondo inútil das buzinas que trocou insultos aos gritos, em língua de bandoleiros de corrente na mão, com vários motoristas e até tentou descer do carro para brigar com um, mas Nena Daconte conseguiu convencê-lo de que os franceses eram as pessoas mais grosseiras do mundo, mas não trocavam porrada nunca. Foi mais uma prova de seu bom senso, porque naquele momento Nena Daconte estava fazendo esforços para não perder a consciência.


Só para sair da praça León de Belfort precisaram de mais de uma hora. Os cafés e as lojas estavam iluminados como se fosse meia-noite, pois era uma terça-feira típica dos janeiros de Paris, encapotados e sujos, e com uma chuvinha tenaz que não chegava a se concretizar em neve. Mas a avenida Denfert-Rochereau estava mais livre, e uns poucos quarteirões adiante Nena Daconte indicou ao marido que virasse à direita, e estacionaram na frente da entrada de emergência de um hospital enorme e sombrio.


Precisou de ajuda para sair do carro, mas não perdeu a serenidade nem a lucidez. Enquanto chegava o médico de plantão, deitada numa maca, respondeu à enfermeira o questionário de rotina sobre sua identidade e seus antecedentes de saúde. Billy Sánchez levou a bolsa para ela e apertou sua mão esquerda onde então estava o anel de casamento, e sentiu-a lânguida e fria, e seus lábios haviam perdido a cor. Permaneceu ao seu lado, a mão na dela, até que o médico de plantão chegou e fez um exame muito rápido no dedo ferido. Era um homem muito jovem, com a pele da cor do cobre antigo e a cabeça raspada. Nena Daconte não prestou atenção nele, e dirigiu ao marido um sorriso lívido.


- Não se assuste - disse, com seu humor invencível. - A única coisa que pode acontecer é este canibal me cortar a mão para comer.


O médico terminou seu exame, e então os surpreendeu com um castelhano muito correto, embora com um estranho sotaque asiático.


- Não, meninos - disse. - Este canibal prefere morrer de fome do que cortar mão tão bela.


Eles se ofuscaram, mas o médico tranqüilizou-os com um gesto amável. Depois mandou que levassem a maca, e Billy Sánchez quis acompanhá-la preso à mão da mulher. O médico o deteve pelo braço.


- O senhor não - disse. - Ela vai para a terapia intensiva.


Nena Daconte tornou a sorrir para o marido, e continuou dando adeus com a mão até que a maca se perdeu no fundo do corredor. O médico ficou para trás, estudando os dados que a enfermeira havia escrito numa tabuinha. Billy Sánchez chamou-o.
- Doutor - disse. - Ela está grávida.

 

Continua
Jorge
PS:Imagem minha, retirada do blog Momentos e olhares

publicado às 22:04

Adopção:Então e os genes?

por Jorge Soares, em 23.01.09

 

Não sei se alguém se lembra do post em que falava dos genes e das duas mulheres cá de casa?... certo certo é que desde então o clima de guerra está instalado, e os dois homens já estamos a pensar pedir asilo algures... mas disso já falarei outro dia

 

Por estes dias recebi um mail em que alguém dizia o seguinte:

 

Acho que a maior dificuldade é não sermos um casal infértil e ninguém perceber porque é que podendo ter filhos biológicos alguém se propõe adoptar uma ou mais crianças. è recorrente a questão mas não queres ver os teus traços na criança, mas e os genes perdem-se e blá blá blá...

 

Não é uma conversa que não tenha escutado antes, eu e todas as pessoas que optaram por adoptar mesmo podendo ter os seus filhos biológicos. Não consigo perceber porque é que as pessoas acham que os genes do meu filho adoptado não são melhores que os meus, ou porque é que eu haveria de preferir os meus genes a outros qualquer... mas deve haver alguma razão lógica..... aliás, atendendo ao post que referi no inicio... bem que tínhamos dispensado alguns dos genes da R... que o N.  é bem menos reivindicativo.

 

Mas voltando ao mail, vou de novo socorrer-me da resposta da Sandra:

 

tal como vocês também nós não somos inférteis (que saibamos, porque nunca tentámos engravidar nem queremos!). A recepção por parte da nossa família e amigos até foi bastante boa, mas a verdade é que já estavam preparados para tal. A mim desde sempre me ouviram dizer que não queria ter filhos (por uma multitude de razões que vão muito além das questões da adopção, da protecção à infância e que se prendem com formas específicas de '"ver" o mundo). Todas essas razões, levaram a que a adopção de uma criança (quando a vontade de sermos pais surgiu) fosse a escolha mais óbvia e lógica.

Apesar da desilusão da mãe do meu companheiro e também da minha, a aceitação foi muito boa e a minha filha hoje (e desde o início) está perfeitamente integrada na família. 

Mas é claro que também tivemos de responder a algumas questões como as que indicaste. Essa dos genes então tira-me do sério. Normalmente, a minha resposta é "quem lhes disse a eles que os seus (e meus) genes eram melhores do que os de outra pessoa qualquer no mundo?!". Tentei sempre explicar também porque é que os genes, a biologia, o sangue e a carne não significam nada para mim. O que me importa são os afectos. E exemplos de como isto é verdade não faltam à nossa volta. Na sociedade, no nosso círculo de amigos, no seio da nossa própria família! 

Esses impulsos de transmitir os genes, deixar descendência biológica, etc..., funcionava em tempos muito, muito remotos, em que o objectivo humano era, como o de qualquer outra espécie a sobrevivência e a evolução. Não quer dizer que hoje, esses impulsos não existam, mas existem também uma série de outros factores com um peso enorme e o facto de, enquanto seres racionais que somos, podermos e termos o dever de ponderar todos os condicionantes.

No seguimento disto e em relação às dúvidas das pessoas, sobre o porquê de não querer ter filhos biológicos, a resposta é também, para mim, óbvia:

- O planeta está sobrelotado. 
- Os recursos, por mais que as pessoas teimem em ignorar esse facto, são finitos. 
- Toda a ideologia política, económica e social na qual se baseiam as sociedades actuais, aniquila-me qualquer ponta de optimismo em relação a «esta» humanidade. 

Considerando tudo isto (e muito mais, mas se começo nunca mais paro!), porque razão é que eu quereria pôr mais um ser humano cá?! Para mim isso simplesmente não faz sentido.

- Depois, também acresce a questão da prioridade: já cá estão crianças sem família. Neste mundo. Já existem. Estão primeiro do que as que ainda não existem! Parece-me lógico, não? Então primeiro há que tratar destas. É tão simples quanto isso. 

Esgotados todos os argumento lógicos, resta-nos o inestimável direito de decidirmos sobre a nossa própria vida: "É assim que vai ser porque eu quero. É a minha/nossa vida e eu/nós é que decidimos. Se querem apoiar, muito bem. Se não querem, olhem, vão dar banho ao cão!"

 

Sandra..... tu és demais!

 

Jorge

PS:imagem retirdada da internet

publicado às 21:46

Para sempre.... o amor pode ser para sempre!

por Jorge Soares, em 22.01.09

 O cisne monogâmico

 

Dizia hoje a Sininho no Jardim dos segredos  o seguinte:

 

"Sem falar no número de vezes...que afirmamos com convicção que Nunca mentimos ou que Sempre dissemos a verdade....quando na realidade ...se pararmos para pensar alguns segundos ..vamos chegar à conclusão ...que afinal ...Sempre é muito....e Nunca é pouco!!!"

 

O post fez-me lembrar algo que ouvi estes dias, e que podemos ver nesta noticia do Diário de Noticias:  Afinal o amor pode durar para sempre

 

Será?. cada vez mais as relações são feitas de momentos, paixões, loucuras passageiras, as pessoas casam e prometem amor e fidelidade,  mas já são poucos os que acreditam na sinceridade daquele momento..... para a maioria não passa de palavras, que ante a primeira contrariedade perdem todo o seu valor.

 

É claro que toda regra tem a sua excepção, e há aquelas pessoas, cada vez menos, que passam a vida juntas e que afirmam que o que os mantém juntos é o amor. Dizem os estudiosos que os Cisnes são aves monogâmicas, que acasalam e ficam juntos para a vida, mas será que entre os humanos isso é possível?

 

Na noticia podemos ler o seguinte:

 

"A equipa de investigadores comparou, através de scanner cerebral, as reacções químicas manifestadas por casais de longa data e por casais em início de relacionamento amoroso. Os resultados foram surpreendentes: o cérebro de alguns casais, juntos há mais de 20 anos, libertou os mesmos níveis de dopamina - neurotransmissor associado às sensações de prazer - encontrados na fase inicial do enamoramento. Mas, sublinham os investigadores, sem o quadro obsessivo que também caracteriza esse estado nascente, o que poderá indiciar uma maior maturidade no relacionamento destes casais que, passado o teste do tempo, podem dizer com segurança ter encontrado a sua "alma gémea"."

 

Os estudos científicos valem o que valem, diz a noticia que na maior parte dos casos o amor esmorece ao fim de 12 a 15 meses,  e que ao fim de 10 anos até a Química desapareceu... pelos vistos, os estudiosos estavam enganados, agora está provado cientificamente, o amor pode mesmo durar para toda a vida, talvez não sejamos os Cisnes que acasalam uma vez e depois é para toda a vida, mas resta alguma esperança.

 

O que não diz a noticia, é qual o segredo, deviam ter perguntado, não acham?

 

Jorge

PS:Flor.... pronto, mudei de assunto, contente?

PS2:Sininho, pelos visto, sempre.... nem sempre é muito!

PS3:Imagem minha, retirada de Momentos e olhares

 

publicado às 21:33

Somos um pais do sul da Europa!!!!!!!

por Jorge Soares, em 21.01.09

Bicicletas em Helsinquia. 

 

Lembro-me quando há 20 anos cheguei a Portugal, como todos os emigrantes que passam uns anos longe, vinha com uma ideia de um país que já não existia. No meu caso, era mais a imagem do país dos meus pais..... que as minhas memórias não eram muitas.

 

Cheguei a Lisboa numa época em que havia muito dinheiro, era a época de ouro dos fundos da CEE, por todo lado havia obras. Eu vinha de um país do terceiro mundo, mas confesso que apesar das obras.... em muitas coisas senti que o terceiro mundo era cá..... muitas coisas mesmo.

 

A que vem toda esta conversa?... hoje a seguir ao telejornal da RTP passaram uma reportagem em que os jornalistas acompanharam uma equipa da inspecção do trabalho. De mais está dizer que de norte a sul do país, só faltou encontrar fazendas de escravos, porque de resto, desde Tailandeses contratados por um Israelita e que supostamente ganhavam mais numa semana que num mês na Tailândia... não disseram quanto, a brasileiros e moldavos que almoçavam na rua, até uma cave de 9 por 5 metros e  sem nenhuma luz natural, onde viviam 14 pessoas, foi de tudo um pouco. Nada que não se encontre em qualquer primeiro mundo.

 

Mas o que realmente me chamou a atenção,  foi o comentário de um senhor, acho que alguém responsável pela inspecção do trabalho, que ante a questão do jornalista sobre o porquê de tudo isto acontecer, se saiu com esta:

 

-Somos um país do Sul da Europa, portanto, a tendência é a facilitarmos nestas coisas e que as pessoas abusem.

 

Acho que as palavras não foram estas exactamente, mas o sentido era este. 

 

Somos um país do Sul da Europa, sim, mas isto é desculpa para algo? Eu já estive no norte da Europa, eu sei que foram poucos dias, mas não me lembro de ter visto nada de especial, até o estereotipo dos nórdicos altos e loiros me pareceu um logro... que eu era bem mais alto que a maioria.....

 

Eu diria que somos um país de desculpas esfarrapadas....e que o que falta, é mão dura para que as leis se cumpram... ou serei eu que não sou uma pessoa do sul da Europa?

 

Jorge

PS:Imagem minha retirada do momentos e olhares, uma esplanada em Helsinquia.

 

publicado às 22:11

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