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As crianças e a televisão

por Jorge Soares, em 28.02.11

As crianças e a televisão

 

A notícia é do SOL  e fala de mais um daqueles estudos que agora abundam. A mim fez-me lembrar a conversa angustiada da mãe de um dos colegas dos meus filhos. Um dia deu por ela a sentir que o filho de 8 anos conseguia falar de sexo nuns termos e com um vocabulário técnico que até a ela a deixavam para além de muito corada, á nora. Um dos coleguinhas tinha televisão no quarto e os pais, assinantes  do cabo, tinham um daqueles pacotes que incluem os canais para adultos. Sem o menor controlo, ele passava as noites a "instruir-se" e durante o dia na escola "instruía" os colegas.

 

Durante muitos anos cá em casa só houve um televisor na sala, agora há dois, o segundo está na cozinha. Há uma norma que diz que só pode estar um ligado.. norma que no geral se cumpre... os conflitos resolvem-se com horários.. ou com o voto de qualidade dos adultos. Somos 5, e não me lembro da televisão ser um problema.  Faz-me confusão haver casas onde há mais televisores que habitantes.

 

Diz a notícia que mais de 50% das crianças consultadas já viram programas com bolinha vermelha ou com cenas de violência explícita, a mim não me estranha assim tanto,  a maioria das crianças que conheço têm televisão no quarto. Alguém me explica como é que se controla o que vê ou não uma criança que tem uma televisão só para si?...  sobretudo se a essa mesma hora o pai estiver a ver o futebol na sala e a mãe a telenovela na cozinha ou no quarto. É claro que não se controla nada, nem isso nem o que ele vê no DVD ou no computador que, evidentemente, também estão no quarto.

 

Cá em casa a guerra dos morangos com açúcar começou andavam eles na primeira classe, por decreto não viam, é claro que chegavam a casa e sabiam de cor tudo o que acontecia por lá.. todos os colegas viam e não falavam de outra coisa na escola.. isto com 6 anos. É claro que a guerra continua, mas é uma guerra perdida, chega-se a um ponto que é difícil explicar porquê não podem ver o que TODOS os colegas vêem, o decreto abrandou.. mas não se livram de me ouvir. 

 

Em si a notícia não traz nada de novo, a violência, os conteúdos para adultos e o restante lixo televisivo fazem parte da cultura em que vivemos, cabe aos pais saberem educar, gerir e controlar o que vêem ou não os seus filhos, pelos vistos a maioria não o faz da forma mais adequada, mas nem isso é nada de novo... mesmo assim mais grave da notícia está nos últimos parágrafo que dizem o seguinte:

 

"Inquiridas sobre a sua reacção quando são contrariadas pelos pais - em termos de não poder jogar em consolas ou no computador - as crianças responderam maioritariamente que tentavam convencê-los ou, numa proporção ligeiramente inferior, que se resignavam e não agiriam em relação a isso.

 

Ao analisar os resultados estratificados por sexo, verifica-se que na opção mais escolhida - «partes tudo lá em casa» - a quase totalidade das crianças que optaram por esta resposta são do sexo masculino."

 

Lá está, o estudo vale o que vale... mas não deixa de ser preocupante.

 

Jorge Soares

publicado às 22:45

13 anos depois alguém foi acusado do rapto do Rui Pedro

 

Imagem do Público

 

 

Andei aqui meio indeciso, falo dos brinquedos caros ou falo da justiça que em Portugal parece que anda montada numa tartaruga?

 

Há uma série na televisão por Cabo que se chama, casos encerrados, nela uma jovem e bonita detective pega num caso antigo por resolver  e depois de muita investigação, de voltar a interrogar as testemunhas, de seguir novas pistas, termina por encontrar o culpado.  Hoje eu pensei que estava nesta série, 13 anos depois alguém, na verdade o único suspeito que existiu desde o inicio, foi acusado do rapto do Rui Pedro.

 

Ao contrário do que acontece na série, ninguém ouviu falar de uma jovem e bonita detective, nem de novas investigações, aliás, segundo Cândida Almeida, directora do DCIAP, nem sequer há novas pistas. Ou seja, o Ministério Público demorou 13 anos a avaliar o processo e no fim, com base nos testemunhos de familiares e colegas, testemunhos que foram obtidos há 13 anos, decidiu acusar de rapto precisamente o mesmo suspeito que tinha no início. E achávamos nós que o caso Casa Pia foi lento e demorado.... 

 

Eu tenho imenso respeito pela família do Rui Pedro, acho de louvar a forma como ao longo de todo este tempo eles têm lutado para que o caso não seja esquecido e a forma como tem contribuído para chamar a atenção para este tipo de casos, mas sinceramente duvido que tudo isto dê no que quer que seja, se existissem indícios sérios não tinham demorado 13 anos a acusar o senhor..., por muito carinho e muita vontade que se tenha colocado na apreciação dos factos que levaram agora a esta acusação.  Espero sinceramente estar enganado.

 

Mudando de assunto, esta semana saíram à luz pública uma série de telegramas do embaixador americano em que este falava do ministério da defesa de Portugal e da forma como são geridos alguns dos dossiês. Diz o senhor o seguinte:

 

"No que diz respeito a contratos de compras militares, as vontades e acções do Ministério da Defesa parecem ser guiadas pela pressão dos seus pares e pelo desejo de ter brinquedos caros. O ministério compra armamento por uma questão de orgulho, não importa se é útil ou não. Os exemplos mais óbvios são os seus dois submarinos (actualmente atrasados) e 39 caças de combate (apenas 12 em condições de voar)"

 

Há muitíssima gente indignada com o senhor, não estou a ver porquê, alguém acha que gastar dois mil milhões de Euros em Submarinos não é gastar dinheiro em brinquedos caros?... só para recordar, esses dois mil milhões de euros bastariam para tapar o buraco que fez com que no início do ano se aumentasse o IVA e se descesse o salário aos funcionários públicos. Aposto que muitos dos que agora se dizem indignados são os mesmos que disseram cobras e lagartos do governo quando este apresentou as medidas.

 

Sim, o senhor tem razão, não temos onde cair mortos e compramos armas como se fossemos ricos.. para quê? Compramos brinquedos caros para brincar às guerras, quando devíamos era utilizar o dinheiro para "comprar" uma justiça nova.

 

Jorge Soares

publicado às 20:59

Conto, Malandro não estrilha, muda de esquina!

por Jorge Soares, em 26.02.11
Malandro

 

Leonardo raramente saía, e quando o fazia preferia a companhia dos amigos, decididamente, não tinha o hábito nem gostava de sair sozinho pela noite.

 

Sentou-se e logo o Sérgio se debruçou sobre a pequena mesa que os separava para lhe dizer algo sem que os clientes mais próximos ouvissem:

Sabes de quem é esta merda? Sei! E então que me dizes? Sem o deixar responder continuou: já viste o dinheirão que a puta fez à conta dos papalvos que recebia lá em casa, enquanto o Jacinto ia trabalhar?
Estás a querer dizer que ela, a Verinha… - Sim pá, a puta andava nas lides enquanto o Jacinto ia trabalhar, tanto assim, que quando o gajo soube pirou-se que nunca mais ninguém o viu. Vendo que ele não reagira continuou: agora olha, o resultado está à vista, vê bem o dinheirame que a puta fez!
Calma Sérgio, tens a certeza do que estás a dizer? Estás a medir bem o que dizes? Então pá, estás a fazer-te de parvo ou quê, ela morava no teu prédio, com certeza também lá foste e agora estás a ver para onde foi a massa, mas é mesmo assim, esquece essa merda que a gaja vem aí.

 

Hoje, tinha-se aventurado a entrar naquele bar que abrira a semana passada a dois quarteirões da sua casa. Inicialmente, a ideia era ver o aspecto com que ficara, comer qualquer coisa e regressar a casa ainda a horas de acabar aquele trabalho que tinha de ser entregue amanhã sem falta na reunião das nove.

Olá Leonardo, afinal sempre veio ver o meu barzinho! Claro Verinha, o tempo não é muito e eu não costumo sair à noite, só a minha querida me faria quebrar os hábitos, mas olhe, já estou arrependido. Não me diga isso Leonardo, e fazendo um gesto que abarcava toda a casa perguntou: está assim tão mau? Leonardo então, olhando de frente o Sérgio respondeu: Não Verinha, o bar até está melhor do que alguma vez pensei, agora a Verinha é que merecia outra sorte com os clientes.


Nesse momento já ela acompanhava o seu olhar na direcção do Sérgio, este, sentindo-se incomodado mostrou intenção de se levantar, mas Leonardo agarrando-lhe o braço obrigou-o a permanecer, e olhando para Vera continuou: Diga-me aqui só para nós que muito a estimamos, como é que as cartas lhe renderam tanto dinheiro? Vera, compreendeu de imediato as intenções de Leonardo e decidiu entrar no jogo.
Que isto não saia daqui, só vos conto a vocês porque são pessoas honestas e acredito que saibam guardar um segredo, bem, o Leonardo está mais ou menos a par, mas o Sr. não sabe e eu vou-lhe contar em atenção a ele: aquela clientela que eu tinha, era tudo gente abastada como sabe o Leonardo, homens de negócios que nada faziam sem eu lhes deitar as cartas, depois, como eu os orientava nas aplicações que faziam na bolsa, foram passando a palavra aos amigos mais chegados, estes a outros e sabem como são estas coisas, até que, me apareceu lá em casa um industrial do norte, o merceeiro como lhe chamo, e o coitadinho estava desesperado porque os negócios lá por Espanha estavam a ir de mal a pior, eu deitei-lhe as cartas e dei-lhe alguns conselhos que o levaram a ter de novo êxito, ele como retribuição, deu-me um chorudo cheque com que abri aqui o barzinho, e foi assim.

Mas o inesperado aparece quando menos se espera e as coisas não aconteceram assim.

Leonardo olhou então para o Sérgio, que a essa altura já parecia um tomate e disse: A Verinha seria uma grande amiga se deitasse as cartas para nós, que também somos filhos de gente e precisamos de alguma sorte, isto se o Sérgio concordar como é evidente. Sérgio, que até aí permanecera calado e com os olhos enfiados no copo de cerveja, ainda tentou perguntar se o tal merceeiro era aquele gajo dono da - , mas Leonardo fazendo-lhe sinal para se calar, assentiu de imediato com um gesto de concordância, dizendo: esse mesmo em que estás a pensar.


Vera medindo bem a situação e depois de pensar um pouco, disse que sim, que lhes lançava as cartas, mas que seria a última vez que o fazia, é que, tinha começado a ficar assustada com a sua capacidade para interpretar tudo o que as cartas lhe diziam, por isso, queria pôr de parte aquela actividade, esta seria portanto a ultima vez e só o fazia em consideração ao Leonardo, mas agradecia que este nunca mais lhe pedisse o mesmo. Dito isto, pediu-lhes para entrarem na salinha privada que ficava no fundo do bar, que ela já lá iria com o Tarot.

Mal entrou, e ainda os seus olhos tentavam absorver a decoração do lugar, ouviu o seu nome gritado de uma mesa no fundo da sala. Olhou, e viu a mão levantada do Sérgio, seu vizinho de rua que o convidava a aproximar.

Leonardo e Sérgio, acomodaram-se na sala, e enquanto esperavam por Vera, Leonardo foi-lhe dizendo, se ele agora tinha percebido a razão de tantos homens visitarem a casa de Vera, este, consternado, dizia que sim, que pensara ser outra coisa, que nunca imaginara uma coisa daquelas e por aí adiante, até Vera chegar com as cartas.


Contou-as e verificou que estavam as 78 necessárias, baralhou-as, e perguntou qual queria ser o primeiro. Leonardo prontificou-se de imediato, começariam com ele. Vera, mostrou então o que sabia fazer e Sérgio bebia as palavras com que Vera acompanhava o ritual, como se, de um ser divino e omnipotente se tratasse, até chegar a sua vez.

 

Depois de baralhadas as cartas, Vera disse-lhe em tom muito sério e de olhos nos olhos: Tome atenção, eu não sei muito bem como isto funciona, mas funciona, agora, o mais importante é que acredite em tudo o que lhe vou dizer através das cartas, depois é consigo, que eu lavo daí as minhas mãos. Sérgio assentiu de imediato com um abanar de cabeça, só queria que Vera começasse logo, e ouviu com sofreguidão todas as banalidades que ela lhe dizia, até ao momento em que parou e se mostrou muito pensativa. Leonardo perguntou em tom preocupado: Não é aquilo que eu estou a pensar, pois não? Vera continuou calada, voltou a mexer nas cartas, baralhou de novo e voltou a lançá-las, voltando a ficar calada com os olhos fixos na mesa. 
Leonardo perguntou com voz assustada: É a torre que te preocupa? Vera olhou para ele com as mãos a tremer e disse: A Torre e a Caveira, eu sabia que nunca mais deveria mexer-lhes, e agora? Nesta altura, Sérgio, que ora olhava para um, ora olhava para outro, quis saber o que é que se passava, o que é que as cartas tinham de tão mau? Vera mostrava-se relutante, Sérgio insistia, queria saber, fosse lá o que fosse, tinha o direito de saber já que era com ele.


Leonardo, tomando o comando da conversa disse: deixe Verinha, eu digo-lhe, a culpa é minha que o meti e a si nesta encrenca, a Verinha não se preocupe, só fez o que sabe fazer, não tem culpa das coisas serem o que são, a Verinha é simplesmente o saber interpretativo das cartas, um veículo, nada mais. Virando-se então para Sérgio, com cara de pesar e depois de alguns segundos a pensar como lhe daria a noticia, disse-lhe: A Torre com a Caveira, representam a morte à pergunta que a Vera lhes fez, e a ti, saiu-te duas vezes, não há que enganar.

Sérgio estarrecido balbuciou: E agora, o que é que eu faço? Deve haver uma maneira, ela que faça a pergunta de outra forma? Não há nada a fazer, respondeu Leonardo, não há como fugir. O meu conselho é que tenhas cuidado com tudo, até a atravessares a rua para não seres atropelado. Dito isto, baixou a cabeça e elevou as mãos que se enterraram nos cabelos.


Sérgio levantou-se em estado de choque, branco como a cal, balbuciou qualquer coisa imperceptível e saiu.

Passados uns minutos e depois de terem a certeza que ele tinha desaparecido, desataram numa gargalhada pegada, recordando os tempos em que se divertiam a pregar estas partidas, aos bicéfalos anácronos dos seus colegas de liceu. Mas isso, era quando a Verinha ainda se chamava Rafael, tinha sido antes da operação de mudança de sexo que ela fizera na Holanda, mas também ninguém sabia, ela só mudara para o seu prédio depois disso acontecer e o Jacinto nunca o diria a ninguém. Ainda recordaram como ela se tinha livrado dele, quando decidiu deixar a prostituição. A ideia de lhe dizer que tinha Sida devido à vida que levava, tinha sido sua.

Por volta das cinco da madrugada, Leonardo despediu-se de Vera e saiu. Enquanto percorria os dois quarteirões que o separavam de casa, olhou para a janela do Sérgio que ficava logo no primeiro, constatando com um sorriso sacana, que a luz 

 

Retirado de Rua dos contos

publicado às 21:03

Livro: O Bom Inverno

por Jorge Soares, em 25.02.11

O Bom Inverno, João Tordo

 

O livro foi presente de natal.. .. bom, mais ou menos, porque foi um daqueles presentes escolhidos, para ser sincero eu nunca tinha ouvido falar do João Tordo nem do livro. A stiletto falou dele no Clube de Leitura e cá em casa ficámos curiosos, de aí a escolha para a lista de natal.

 

É um daqueles livros em que custa pegar, a mim custou-me, tem um início lento e até algo vago,a história enrola-se mais ou menos em si mesma e acredito que haverá quem desista por ali ... felizmente eu nunca desisto de um livro.. porque chega a um ponto em que pegamos no fio à meada até ao ponto que custa deixar a leitura.

 

Não é uma história linear, não é um daqueles livros de leitura fácil, temos que esperar até à ultima página para saber como se resolve o mistério... e resolve-se.. pensando bem, resolve-se?.. Digamos que tem um desenlace completamente inesperado. A meio caminho entre o romance e o livro de mistério, o mínimo que se pode dizer é que este é um livro diferente... mas definitivamente bem escrito e que a mim me deixou com vontade de revisitar o autor.

 

O narrador é um escritor, solitário, frustrado e hipocondríaco que leva uma vida completamente solitária e quase eremita, numa deslocação a Budapeste conhece um grupo de pessoas que o arrasta para uma estranha casa na costa italiana donde uma morte inesperada faz desencadear uma série de acontecimentos.

 

O verdadeiro enredo do livro desenrola-se dentro e à volta da casa, uma a uma vamos conhecendo as personagens, as suas vidas, o que as levou ali, a sua relação com o falecido e até o que esperam da vida... se conseguirem ter alguma depois de passarem por ali.

 

É um bom livro, não será de certeza um daqueles livros para se ler na praia, está bem escrito apesar do inicio lento e desencorajador.. 

 

Sinopse:

"Quando o narrador, um escritor prematuramente frustrado e hipocondríaco, viaja até Budapeste para um encontro literário, está longe de imaginar até onde a literatura o pode levar. Coxo, portador de uma bengala, e planeando uma viagem rápida e sem contratempos, acaba por conhecer Vincenzo Gentile, um escritor italiano mais jovem, mais enérgico, e muito pouco sensato, que o convence a ir da Hungria até Itália, onde um famoso produtor de cinema tem uma casa de província no meio de um bosque, escondida de olhares curiosos, e onde passa a temporada de Verão à qual chama, enigmaticamente, de O Bom Inverno. O produtor, Don Metzger, tem duas obsessões: cinema e balões de ar quente. Entre personagens inusitadas, estranhos acontecimentos, e um corpo que o atraiçoa constantemente, o narrador apercebe-se que em casa de Metzger as coisas não são bem o que parecem. Depois de uma noite agitada, aquilo que podia parecer uma comédia transforma-se em tragédia: Metzger é encontrado morto no seu próprio lago. Porém, cada um dos doze presentes tem uma versão diferente dos acontecimentos. Andrés Bosco, um catalão enorme e ameaçador, que constrói os balões de ar quente de Metzger, toma nas suas mãos a tarefa de descobrir o culpado e isola os presentes na casa do bosque. Assustadas, frágeis, e egoístas, as personagens começam a desabar, atraiçoando-se e acusando-se mutuamente, sob a influência do carismático e perigoso Bosco, que desaparece para o interior do bosque, dando início a um cerco. E, um a um, os protagonistas vão ser confrontados com os seus piores medos, num pesadelo assassino que parece só poder terminar quando não sobrar ninguém para contar a história."

Jorge Soares

publicado às 22:45

Ai Margarida

por Jorge Soares, em 25.02.11

Pequenas Margaridas

 

Ai, Margarida,

Se eu te desse a minha vida,

Que farias tu com ela?

— Tirava os brincos do prego,

Casava c'um homem cego

E ia morar para a Estrela.

 

Mas, Margarida,

Se eu te desse a minha vida,

Que diria tua mãe?

— (Ela conhece-me a fundo.)

Que há muito parvo no mundo,

E que eras parvo também.

 

E, Margarida,

Se eu te desse a minha vida

No sentido de morrer?

— Eu iria ao teu enterro,

Mas achava que era um erro

Querer amar sem viver.

 

Mas, Margarida,

Se este dar-te a minha vida

Não fosse senão poesia?

— Então, filho, nada feito.

Fica tudo sem efeito.

Nesta casa não se fia.

 

Comunicado pelo Engenheiro Naval

       Sr. Álvaro de Campos em estado

                de inconsciência

                         alcoólica

 

publicado às 22:08

Portugal ou Guantanamo?

 

Imagem do Público

 

 

Há coisas que damos por adquiridas, coisas que eu dou por adquiridas, vivi alguns anos em Caracas ao lado de uma favela, a entrada da minha casa era no fim da rua, mesmo ao lado da entrada para o bairro, havia um cesto de basquete e normalmente havia jovens a jogar ou simplesmente por ali a conversar, pessoas do bairro e pessoas das casas, porque ali éramos todos amigos ou conhecidos.

 

Assisti muitas vezes à chegada de algum carro com policias que invariavelmente e sem qualquer motivo, mandavam tudo encostar à parede, revistavam um a um, e ai daquele que não tinha ali os documentos...  Vi vários amigos meus serem agredidos só porque perguntavam porquê.. tudo aquilo me chocava, porque não fazia sentido, e não servia para absolutamente mais nada que para criar sentimentos de aversão contra a autoridade... esse foi um dos motivos  que na hora de pesar os prós e contras, me fizeram voltar a Portugal.

 

Hoje de manhã ao ouvir a noticia na rádio,  voltei a sentir esse choque, voltei a sentir essa aversão a algo que para mim não faz o menor sentido... porque não faz. A mim não me importa o crime que aquela pessoa tenha cometido, o que eu vejo ali é um ser humano com problemas graves, um ser humano que à primeira vista me parece assustado e submisso, um ser humano que é simplesmente agredido de uma forma bárbara e completamente desajustada.

 

Eu sei que a esta hora há muitíssima gente que acha que o senhor é um criminoso e que portanto merece todo aquele tratamento, sei porque li alguns dos comentários que foram deixados nas noticias dos jornais online, há muitíssima gente que acha um exagero todo este barulho por algo assim... bom, eu não acho. Não há justificação nenhuma para a forma como estes guardas actuaram, nenhuma. Tem que haver uma diferença entre a forma como actuam os criminosos e a autoridade, tem que ser claro para a sociedade quem são os bons e quem são os maus, e desculpem lá, mas nesta cena, naquilo que se vê no Vídeo, eu tenho sérias dúvidas sobre quem deveria estar de um e outro lado das grades... mas é que tenho mesmo.

 

Acho muito estranho que esta cena tenha sido gravada, ouvi alguém justificar a gravação com o facto de gravarem sempre estas acções de modo a que não restem dúvidas... é pá... desculpem lá, mas não acredito, mas há algum guarda que aceite ser gravado numa situação destas?... agora vou-me pôr a adivinhar, mas era capaz de apostar que por exemplo, aqueles senhores tivessem um brinquedo novo e tenham aproveitado para o testar.. daí a gravação.. não será?, repito, estou a adivinhar.

Ver o Vídeo, aqui

 

Jorge Soares

publicado às 22:27

Armando Vara e a falta de vergonha

 

Ainda há coisas neste país que me conseguem deixar estupefacto, e confesso que não sei o que neste caso me deixou mais espantado, se a lata do Armando Vara para se achar com direito a passar por cima de tudo e todos, se a passividade de seguranças e empregados do centro de saúde, a estupidez da médica que passa o atestado  ao senhor sem questionar porque está ele a passar à frente dos restantes doentes, ou a passividade de quem foi ultrapassado e não reclamou por isso.

 

Armando Vara é uma figura pública, até  já foi ministro, pelos vistos em Portugal as figuras públicas estão sujeitas a um qualquer regime especial, mesmo aquelas cuja notoriedade vem mais dos maus que dos bons motivos, este senhor acha-se impune e acha que pode simplesmente pôr e dispor de quem entende, o pior é que a julgar por este exemplo, a coisa funciona.

 

Já agora, o senhor ia apanhar um avião????, neste país qualquer pobre diabo que seja apanhado a roubar um pão para comer, se tiver a sorte de não ficar em prisão preventiva é de certeza obrigado  a apresentar-se  periodicamente na esquadra ou no tribunal, e é claro que nem pensar em sair do país. Este senhor está acusado de participar em não sei quantas negociatas, negócios de milhões, mas mesmo assim, passa a vida a viajar pelo mundo, a propósito de quê?

 

Ainda não vi ninguém questionar o papel da médica e dos responsáveis do centro de saúde, porquê? o Centro de saúde não tem seguranças?, não tem funcionários? servem para quê? para abrir alas ao senhor?..e a médica?  passou o atestado porquê? E não me venham com a história de que não sabia que não era a vez dele, por norma os médicos tem consigo a ficha de quem vão atender... se não tinha a dele, porque passou o atestado? cai-lhe alguém de pára-quedas no consultório, pede um atestado médico e a senhora passa? a propósito de quê?

 

Tudo isto só se tornou público porque um utente se sentiu lesado e decidiu reclamar, então e os restantes? encolheram os ombros? 

 

É sabido que eu tenho mau feitio, é pá, nestes casos tenho mesmo, estivesse eu naquele centro de saúde em Lisboa ...e o senhor iria apanhar o avião, depois de eu e as pessoas que estavam antes de mim serem atendidas... isso é certinho... uma coisa são os brandos costumes, outra coisa é a falta de vergonha na cara.

 

Jorge Soares

publicado às 21:51

Libia, a revolução perdida

por Jorge Soares, em 22.02.11

Kadafi de ditador a líder de uma revolução perdida

 

Eu não sou o Presidente, sou o guia da revolução"

 

Uma revolução que dura 40 anos e desembocou num povo oprimido e num banho de sangue, só pode ser uma revolução perdida.

 

Kadafhi  diz "Não vou deixar esta terra. Morrerei aqui como um mártir"... acho que alguém lhe deveria fazer a vontade rapidamente.

 

Jorge Soares

publicado às 17:20

A razão

por Jorge Soares, em 21.02.11


 

"Algures na tarde há um fumo que arde
no sangue de dois faladores
Discutem e agitam e como que gritam
atraem mais espectadores
Têm raiva nos dentes e fogo no olhar
atiram serpentes de fúria ao falar
Perguntam á toa, respondem que não,
e mesmo que doa hão-de ter, a razão.

Com frases alheias defendem ideias
que ouviram alguém defender
Arriscam a fé e encaram até
se sentirem que podem vencer
E não buscam verdade, que é isso afinal
viva a tempestade mentir não faz mal
Avançam nos gritos,talvez frustração
por dentro os não ditos, lá têm, a razão

E uma crianca sem tempo para saber ser atrevida
a ter na frente um exemplo do que é essa gente crescida
Afasta-te já não demores por cá,
tu não ouves, não olhas, não vês
Tu és simples e justa,
ai eu sei quanto custa tentar aprender os porquês
Tu és vida e bonança depois do furor
és sol de esperança de algum sonhador
Sorris na beleza da tua ilusão
tu tens a pureza do bem, a razão.

Eu invejo o sorriso
que agora te vi
Criança eu preciso
lembrar-me de ti
Na vida tão escura
tens luzes na mão
O sonho, a ternura, o amor
a razão...

"
Carlos Paião

 

A Dulce, beijinho amiga, deixou-me esta música num comentário... não conhecia.. mas adorei, é o reflexo de tantas vezes na vida, de tanta gente, de tantos momentos. Nem sempre temos razão na vida, mas uma coisa é certa, só o debate e a troca de ideias nos podem levar à verdade.

 

 

Jorge

publicado às 23:12

Soror internet, expulsa do convento por ter facebook

 

Hoje a meio da tarde falava-se do Facebook, dizia alguém que tinha sido motivo para mais um divórcio... bem espremidas as coisas... o Facebook contribuiu para que o marido descobrisse que andava a ser trocado.. e postas as coisas à vista , seguiu-se o divórcio. As pessoas não se divorciam por causa do Facebook, divorciam-se porque estão fartas, ou porque descobrem que não era aquilo que queriam, o Facebook é só a desculpa.

 

Mas tudo isto fez-me recordar uma notícia do Público, a história de Soror Internet que segundo o jornal, foi expulsa do convento depois de 34 anos de clausura. Tudo porque para além de utilizar as tecnologías para colocar em ordem o arquivo do monastério, decidiu que esta era uma óptima forma de comunicar com o mundo... daí até ter uma página no Facebook, foi um instantinho.

 

Nunca percebi muito bem o que leva alguém a fazer os votos numa ordem de clausura, consigo entender o propósito de quem quer ser freira ou padre para através da igreja e da religião poder ser útil à sociedade. Consigo entender quem quer ser missionário e assim contactar e ajudar os mais desfavorecidos. Mas qual o propósito de se ir para um convento para depois se viver a vida toda enclausurado e em silêncio?, longe das pessoas, longe de tudo?

 

Também não entendo o que leva uma freira que vive em clausura a ter uma página no Facebook, talvez a solidão tenha sido forte demais e o apelo das tecnologias e do mundo mais forte que ela. O que definitivamente não entendo é porque é isto motivo para que alguém seja expulso de um convento.

 

Estive a ler a notícia nos jornais Espanhóis e em lado nenhum se fala do Facebook como motivo para a expulsão, mas se efectivamente for este o motivo, está à vista que a igreja perdeu mais uma excelente oportunidade de estar quieta. O Facebook, as redes sociais, fazem parte do mundo em que vivemos, podemos gostar ou não, ser mais ou menos adeptos, tirar mais ou menos partido, mas não há como fugir à realidade... são meios de comunicação que aproximam as pessoas e vão de certeza cada vez mais fazer parte da nossa vida... de tal forma que estou completamente convencido que se deus existisse teria a  sua página no Facebook... ele e o diabo.

 

Jorge Soares

publicado às 22:11

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