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Letra

 

De manhã cedinho

Eu salto do ninho e vou para a paragem

De bandolete à espera do sete

mas não pela viagem

 

Eu bem que não queria

mas um belo dia eu vi-o passar

E o meu peito que é céptico

por um pica de eléctrico voltou a sonhar

 

Em cada repique

que salta do clique de aquele alicate

De um modo frenético

o peito que é céptico toca a rebate

 

Se eu lhe perguntasse

se tem livre passe para o peito de alguém

Vá-se lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também

 

Ninguém acredita o estado em que fica o meu coração

Quando o sete me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira desta vida vão

Mas nada me dá a pica que o pica do sete me dá

 

Que triste fadário e que itinerário tão infeliz

Traçar meu horário com  o de um funcionário de um trem da carris

 

Se o trem descarrila o povo refila e eu fico num sino

Porque um mero trajecto no meu caso concreto é já o destino

 

Ninguém acredita o estado em que fica o meu coração

Quando o sete me apanha

Até acho que a senha me salta da mão

Pois na carreira desta vida vão

Mas nada me dá a pica que o pica do sete me dá

 

Mas nada me dá a pica que o pica do sete me dá 

 

 

publicado às 22:57

O que significa Racismo?

por Jorge Soares, em 30.07.12

Racismo

racismo 

s. m.
Sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre os outros, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria (racismo anti-semita dos nazis). 

 

Foi nos Estados Unidos, algures num restaurante em Princeton, que ouvi por primeira vez falar de Obama, um americano negro que a um ano das eleições se começava a perfilar como candidato a substituir Bush. Achei a coisa tão inverosímil que nem me dei ao trabalho de pensar muito no assunto. Não, não tinha passado assim tanto tempo nem tinam acontecido assim tantas coisas como para que isso fosse possível.

 

Curiosamente um ano depois aconteceu mesmo, um negro chegou à presidência americana, um homem cheio de grandes ideias e de boa vontade. Passaram quase 5 anos, é verdade que o mundo mudou, mas ao contrário de todas as expectativas que eu e meio mundo depositávamos num homem diferente, a verdade é que muito pouco dessas mudanças se devem a Obama ou ao seu governo... e coisas como Guantânamo ou sistema de saúde e de politicas sociais, principais bandeiras da campanha de Obama e de quem o apoiava, pouco ou nada mudaram.

 

Na verdade os Estados Unidos mudaram muito menos que aquilo que podemos pensar, hoje foi notícia no Público que em pleno século XXI ainda há quem teime em viver como se vivia na década de sessenta do século passado, na época de Marther Luter King e do seu "I Have  Dream".

 

Sabemos que é preciso muito mais que um presidente negro quando lemos que em  Crystal Springs, uma cidade do Mississípi negros foram impedidos de casar em igreja frequentada por brancos.

 

Andrea e Charles eram frequentadores daquela igreja no Mississipi e, quando decidiram casar religiosamente, escolheram-na. O pastor, Stan Weatherford, marcou a cerimónia mas a comunidade baptista, composta por brancos, não gostou. O templo existe desde 1883 e nunca ali houvera um casamento de pessoas negras; queriam que assim continuasse. 


Não sei o que me choca mais, se perceber que isto continua a acontecer ou se depois de isto acontecer, não só não acontece nada, como não há ninguém que simplesmente diga a estes senhores que isto não pode acontecer e eles se preparem para o continuarem a fazer.

 

Depois disto ficamos a perceber como é tão pequeno o poder do homem mais poderoso do mundo, que apesar de conseguir decidir o que vai acontecer em lugares tão distantes como o Iraque e o Afeganistão, não consegue fazer com que não exista descriminação e racismo contra pessoas como ele numa pequena cidade que fica no seu quintal.

 

Jorge Soares

publicado às 21:27

 

letra

 

Maria Alice vive só com os seus gatos

Não tem família para lhe fazer companhia

mora no sétimo andar

no bairro do ultramar

casa comprada com a herança de uma tia

 

Maria Alice ficou órfã muito nova

criou a pulso dois irmão de tenra idade

não soube o que é ser criança

nunca teve esperança

até que um dia a vida mostra-lhe a cidade

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas na feira é um seguro

de roer e a Alice fez-se mulher

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas na feira é um seguro

de roer e a Alice fez-se mulher

 

Maria Alice enveredou pelas limpezas

e nem nas folgas se livrava do trabalho

por mais que ela se esforçasse

e mais dinheiro ganhar

o fim do mês era um problema sem amanho

 

Maria Alice aliciada por madames

que garantiram dar-lhe vida bem melhor

largou vassouras e pás

e a vida triste pra trás

e em pouco tempo era amante de um doutor

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas na feira é um seguro

de roer e a Alice fez-se mulher

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas na feira é um seguro

de roer e a Alice fez-se mulher

e um belo dia já fartinha da má vida

desejosa de parar com a folia

fintou do touro bem moço

e sem baixar o pescoço

fe-lo assumir a relação de fugia

 

nesse momento escancarou-lhe as portas

ela sedenta fez de tudo o que queria

mas o destino a má sorte

mudaram de novo o norte

e o seu doutor partiu sem avisar um dia

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas rafeiro é osso dure de roer

e a Alice fez-se mulher

 

oioai a vida foi-lhe madrasta

oioai só por ser de fraca casta aiai

oioai mas na feira é um seguro

de roer e a Alice fez-se mulher

publicado às 23:12

Imagem de Barro | Mais um quarto

por Jorge Soares, em 28.07.12

 

...simplesmente mulher..., por Marisa Duarte.

Imagem de aqui


"Melhor parar agora de registrar minhas ações, os verbos serão conjugados todos em voz passiva e não quero voltar à condição de Costela."

Conto dividido em quatro partes.
Parte I: Mais um quarto.


Nossas temperaturas estão a um bom tempo equilibradas e altas, o calor incomoda ainda mais quando se divide cama da solteiro. Estou de costas e me chego ainda mais em seu corpo, quero mais calor. E, para sentir a respiração leve do seu metabolismo desacelerado, enrolo meus cabelos e coloco-os de lado, pousando a cabeça encima. Então vou afastando-a até sentir que o seu nariz afogou-se em meus cabelos e que meu perfume impregne o escritório, a academia, o avião ou qualquer lugar onde esteja; que acorde e diga que sonhou comigo.

Não sei bem se o amo, se esse querer-bem é o objeto cantado tantas vezes. Mas me protege e me dá orgasmos (no plural mesmo). Talvez me sinta acomodada, numa zona de conforto, como diriam os profissionais de recursos humanos. Só não sinto nosso relacionamento seguro, acho que relacionamentos não são seguros, não são isentos das incertezas quanto ao futuro. Parei de sair com outros caras, mas não por respeito à virilidade, mas à feminilidade. Tento ficar quietinha, respirar o mais suave possível para não ser descoberta em vigília.

Pena não conseguir dormir em camas estranhas à minha. Nunca me acostumei a outras e não descubro o por que. Não me esforço muito também, talvez Deus tenha me feito assim, intuitivo que é; talvez tenha em meu subconsciente algum bloqueio que me impeça de suspender o alerta a e a atividade sensorial em habitats excêntricos. Me disseram que pode ser pela mudança do ambiente ao redor. Nunca fui boa investigadora, desisto das respostas após poucas tentativas frustradas ou incertas.

Desisto e levanto. Calço uns chinelos que ficam grandes e vou arrastando-os até a escrivaninha, onde acredito estar a minha calcinha. Visto-a. Apanho uma lapiseira e uma folha A4 na impressora, escolho um livro de capa dura na prateleira e vou sentar-me na varanda. Todos dormem, ou fingem, tanto faz. Não há o que escrever. O livro é de Administração de Marketing.

Não sei também se ele me ama, nunca ouvi nada parecido, nem na cama. Mas isso pouco importa de tão importante que é. Melhor não pensar. Nem nos conhecemos. O pior não é nunca ter escutado palavras como paixão ou amor, o pior é não fazer parte dos planos. A questão não é nem não fazer parte dos planos, também não quero me casar, acho que é não compartilhar os planos. Não vou me fazer de culpada (não posso em consideração a mim mesma), mas gostaria de saber dos seus anseios, suas aspirações. Medos já seria demasiado, homens são herméticos e nem eles o conhecem; talvez esse seja um subterfúgio para construírem.

Vem a inspiração. Checo se o grafite está OK. Há um cofre e não há o segredo./ O cofre está fechado./Talvez os séculos com suas armas corrosivas o abra/ talvez.. Está frio e logo estará na hora de acordar.

Tivesse agora, fumaria meu primeiro cigarro. Ninguém sorri enquanto fuma, me disseram. Não quero sorrir. Acho que só deveríamos sorrir ante a morte, pois ai é certo que não haverá mais futuro para se chegar. É um erro sorrir enquanto se luta. Não tenho nada, porque o que conquisto jogo fora para ir atrás de mais, senão morro. E o cigarro me parece uma parada técnica. Meu pai fumava e quando discutia com a minha mãe sempre pausava para um cigarro na varanda, quando voltava, estava mais sereno e a mulher logo acalmava também. Na verdade queria pensar assim e fumar, mas acho as duas coisas muito másculas. Queria ser uma mulher dedicada e fiel, mas também não ser essa. Tentarei fumar, mas só em festas.

Já estamos enjoando um do outro, acho. O nosso elo mais forte é na cama, talvez o único. Antes nos víamos quase todos os dias, nem que fosse para dar uns beijinhos apenas, no cinema ou em mesas de fundo no bar. Agora fodemos no fim de semana e ele nem em liga todos os dias. Está decaindo ao sexo casual, ou banal, como dizem. Necessidades fisiológicas de ambos supridas, cada um em sua solidão. Acho que já posso começar a procurar outro ou fazê-lo acreditar isso.

Gostaria que, ao tocá-lo/ ele se abrisse/ (como se a senha estivesse em algum buraco de mim)/ só para desmistificá-lo/ ver que não há nada insólito/ que induz a idolatria./Igual/ mas não reciclável..

Há tempos não via o dia germinar; o negro está ficando azul-marinho. Está também cada vem mais frio. Entro, fecho a porta e me sento próxima à varanda com a persiana aberta, numa poltrona de antiquário. Não temos mais muito assunto. Filmes, só vemos os recreativos de Hollywood que não dão muito que comentar. Música, temos gostos totalmente opostos e nenhum de nós é eclético e tão pouco queremos dar o braço a torcer na questão. Conversas banais sobre cotidiano e vida alheia logo que deixam enfadada. Queria que ele me explicasse suas empresas, motores de automóveis, futebol que seja. Queria que me aplicasse testes.

Agora está azul-turquesa e os pássaros começam a lavrar o café-da-manhã. Qual será a diferença entre ave e pássaro? Logo acordará. Deixa a persiana aberta para que a luz do dia seja seu despertador natural. Criativo.

//O que preciso é que esteja ao meu alcance/ como um brilhante/ para ditar a hora de usá-lo/ e de negá-lo.

Já está ficando azul-azul. As nuvens, de invisíveis, foram pintadas dum laranja que fosforesce e já estão descorando. Acho que vou me deitar. Destaco a parte escrita da folha, amasso a não-escrita e tento fazer uma cesta na lata de lixo, mas erro. Levanto e vou arrastando o chinelo em direção à cama. No caminho coloco o poema na bolsa e displicentemente o livro e a lapiseira na escrivaninha. Admiro, ainda em pé, suas pálpebras trêmulas: certamente, em sonho, me perdeu.

Sento-me na cama devagar e deito tentando imitar uma pluma. Ele dorme de lado e um pouco encolhido, tento encaixar meu corpo ao seu. Conchinha. Novamente enrolo meu cabelo e faço dele travesseiro. Deixo a região da clavícula e cervical nuas, sei que ao acordar ele irá atacá-la como um anti-vampiro que dá vida ao despertar sensações diversas...

Dissolveram a aquarela azul, e agora está aguado e límpido. Os pássaros já quietaram e as nuvens estão brancas. Acho que as coisas voltaram ao normal após a turbulência que o rompimento da madrugada causa, inclusive eu.

Roço minha bunda em seu púbis em intervalos desritmados, se ele acordar um pouco mais cedo e se deparar com meu corpo livre, quererá. Não há porque terminar esse relacionamento, afinal de contas temos o que precisamos um do outro. Não sei se me portaria bem como cúmplice, talvez não seja esse o porque de sermos. Estamos mais para um ser válvula de escape do outro, mas não no sentido portuário, tange ao circense, algo sem itinerário ou contratos. A tradução literal de boyfriend e girlfriend talvez seja a que melhor nos defina.

Ele está acordando e já vai pulando em minha nuca com os lábios. Melhor parar agora de registrar minhas ações, os verbos serão conjugados todos em voz passiva e não quero voltar à condição de Costela. Acho. Toma minha barriga com o braço e trás para si. Ataca meu pescoço e vou esquivando-me para frente ante suas investidas. Mas nesse movimento nossas partes inferiores se friccionam e ele já se faz sentir.

Ocorreu-me o título: ídolo de barro. Espero que ele me faça esquecer.


_____________________________________________


Ídolo de Barro

Há um cofre e não há o segredo.
O cofre está fechado.
Talvez os séculos com suas armas corrosivas o abra,
talvez.
Gostaria que, ao tocá-lo
ele se chorasse
(como se a senha estivesse em algum buraco de mim)
só para desmistificá-lo
ver que não há nada insólito
que induz a idolatria.
Igual
mas não reciclável.

O que preciso é que esteja ao meu alcance,
como um Brilhante,
para ditar a hora de usá-lo
e de negá-lo.

*

Wellington Souza 

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:03

Estádio Olimpico

Imagem do Público 

 

É verdade que a China deixou a fasquia muito alta e que sería dificil para alguém melhorar a cerimónia de abertura de há 4 anos atrás com os milhares de figurantes que nos mostraram um magnifico mosaico da cultura milenar e actual chinesa. Imagino que os britânicos tentaram uma fuga para a frente... mas era mesmo preciso colocar um coro de criancinhas a cantar em pijama?

 

É claro que cada um terá os seus gostos, mas eu achei esta cerimónia de abertura um bocado pirosa. A ideia era dar uma imagem do país e da cultura britânica, há partes em que conseguiram, outras em que nem por isso, mas no geral foi chato, piroso e até engorroso.

 

Além de que houve momentos em que parece que o realizador se esqueceu que a cerimónia era em primeiro lugar para aparecer na televisão, há partes em que as tomas são sempre do topo do estádio e vemos umas figurinhas a mexer lá me baixo sem percebermos muito bem o que se está a passar.

 

Agora, venham os jogos, a competição que é para isso que eles lá estão.. 

 

Jorge Soares

publicado às 22:26

deixam  filha de dois anos abandonada no aeroporto

Imagem do DN

 

Imagine a situação, depois de todo um ano a sonhar com aquelas férias maravilhosas num lugar paradisíaco, você está com a família no aeroporto, prestes a apanhar o avião para finalmente poder sentir que está de férias. No último momento, mesmo quando o sonho se está a tornar realidade, você descobre que o passaporte da sua filha mais nova de apenas dois anos, não é válido e portanto ela não vai poder embarcar... o que faria?

 

Não há muitas respostas possíveis, assim de repente só me ocorrem duas hipóteses,  ou ninguém apanha o avião e depois vemos o que fazemos, ou a família vai de férias e eu fico com a mais nova para tratar do assunto, deve haver uma forma qualquer de ir ter com a família mais tarde.

 

Bom, na realidade há uma terceira hipótese, quem tem os documentos em dia vai de férias, quem não tem, fica em terra.... pois, há aquele detalhe de estarmos a falar de uma criança de dois anos... mas há quem não veja problema nisso.

 

Segundo o DN, aconteceu na Polónia, numa situação destas ... Uma menina de dois anos foi deixada em lágrimas no aeroporto em Katowice, na Polónia, enquanto o resto da família foi de férias para a Grécia.


Ainda segundo a notícia, a menina estava histérica quando se apercebeu que a família ia de férias e ela ficava ali sozinha, mas isso não demoveu pais e restantes familiares, que apanharam o avião e a deixaram mesmo em terra.

 

Há coisas que são até dificeis de comentar, eu não consigo imaginar que existisse algum motivo que me fizesse deixar um dos meus filhos para trás, muito menos para ir de férias. 

 

Mas que raio se passa com o mundo e com as pessoas, como é que chegamos a um ponto em que uns pais preferem deixar uma criança de dois anos sozinha e abandonada num aeroporto do que abidcar de uma viagem de férias?

 

Jorge Soares

publicado às 21:13

Um grilo

Imagem do Facebook 

 

Não podíamos fazer barulho, tínhamos que encontrar o buraquinho na terra, depois com uma palhinha fazíamos umas cócegas e.....VOILÁ............O grilo vinha cá para fora. .... 


O meu pai comprava uma gaiola de plástico com paredes de ripas amarelas e tecto azul ou vermelho na festa da aldeia,  metíamos o grilo lá dentro, e pendurávamos a gaiola algures na cozinha lá de casa. Era alimentado a alface e nos dias quentes de verão ele cantava para toda a família.  :-)


Coisas que eu fazia no fim dos anos 70 e inicio dos 80 e que os meus filhos dificilmente irão alguma vez fazer....., caçar grilos era de certeza uma destas coisas, até porque tirando os meus passeios pelo sopé da Arrábida, não me lembro de aqui em Setúbal  ter ouvido alguma vez um grilo a "cantar".


Para quem não sabe, os machos do grilo dos campos  "cantam" esfregando duas das  suas asas uma na outra para fazer aquele som característico que tanto nos encantava naquela altura... na realidade eles estão a tentar chamar a atenção das fêmeas... mas também funciona com os humanos.


A saudade é uma palavra que serve para nos recordar que alguma vez na vida, nós já vivemos.

 

Jorge Soares

publicado às 11:58

Parque campismo da Praia Fluvial da Aldeia Ruiva

Imagem Minha do Momentos e Olhares 

 

Tome nota, ao contrário do que o nome parece indicar, a Praia Fluvial da Aldeia Ruíva, não fica na Aldeia Ruíva, fica na Isna de São Carlos, uma pequena aldeia mesmo junto ao IP8 entre a Sertã e Proença a Nova. Acredite ou não, este é um dado importante, não vá ser que lhe aconteça como ao Paulo e a Maria João que colocaram Aldeia Ruiva no GPS e foram parar a uma Rotunda a uns 40 kms a Norte... que é onde fica a dita aldeia. 

 

Pouco a pouco e à medida que vou conhecendo novos parques e lugares, vou mudando a minha ideia sobre a qualidade média dos parques de campismo em Portugal, sendo que este, tal como já me tinha acontecido o ano passado com O Moinho em Castanheira de Pêra, foi uma agradável surpresa.

 

É um parque pequeno, mas no fim de semana em que lá estivemos a meio de Julho, havia 3 ou 4 tendas, sendo um parque sem residentes permanentes, é limpo e muito organizado e tem imensas sombras. Não tem muitos serviços, mas a Praia a que está encostado tem um café  com Snack Bar e um bar, do outro lado do rio há um bar Gourmet com uma quinta pedagógica, animais e até actividades radicais.

 

Paredes meias com o campismo, há uma zona com churrasqueiras comunitárias, e no rio de águas límpidas e repletas de peixes há uma zona de banhos para crianças e outra para os mais afoitos. Além disso, há uma zona com relva e outra com areia para se estender as toalhas.

 

A praia, que tem nadador salvador, encontra-se classificada como praia acessível , tendo recebido o galardão de “Praia Acessível, Praia para Todos”, pelo Instituto da Água.

 

Éramos seis adultos e 9 crianças, divididos por 2 bungalows e uma tenda. Os bungalows devem ser os maiores e mais funcionais em que já estivemos e acreditem, passamos um fim de semana 5 estrelas.

 

A pouco mais de 200 Kms a norte de Lisboa, é o lugar ideal para se passar um fim de semana descansado, longe de qualquer bulício ou confusão, ideal para quem quer ir visitar as aldeias de Xisto e a sua rede de praias Fluviais ou ou simplesmente descansar.

 

Para quem gosta de boa comida Portuguesa, não deixem de  provar a excelente gastronomia beirã especialmente o bucho e os maranhos.

 

Prometo que quando lá voltar esclareço o estranho enigma do nome da praia que fica a 40 Kms da Aldeia Ruíva.

 

As fotografias vão estar no Picasa, aqui 

 

Jorge Soares

publicado às 22:13

Terrorista?, não, americano maluco 

Imagem do Facebook 

 

Já aqui falei do assunto, foi a propósito de Breivik , nos Estados Unidos James Holmes, um estudante de medicina de 24 anos, entrou num cinema com um arsenal e a meio do filme desatou a disparar sobre tudo o que mexia, o balanço final fala de 12 mortos e 59 feridos.

 

Ao contrário do que aconteceu com Breivik, até agora não se conhecem nem antecedentes nem fins políticos no tresloucado acto, mas há algo que salta imediatamente à vista, a facilidade com que se compram armas no estados Unidos, em pouco tempo e sem que alguém levantasse a mínima questão, James comprou uma serie de armas e milhares de munições.

 

As armas fazem parte da cultura americana, desde a guerra pela independência, à guerra de secessão, passando pela conquista aos Índios, toda a história americana foi escrita a ferro e fogo. Se a tudo isto juntarmos uma industria cinematográfica em que a maioria dos heróis constrói as suas carreiras de arma na mão, temos um caldo de cultivo que só pode terminar em episódios como este.

 

Para nós que observamos tudo isto desde longe não deixa de ser evidente a forma como são tratadas de forma completamente diferente os atentados de cariz politico como o do 11 de Setembro que levaram a que os americanos olhassem para tudo o que vem de fora como uma ameaça evidente, e para os crimes cometidos por americanos, já sejam actos tresloucados como este ou os atentados de Oklahoma.

 

Se calhar não seria má ideia que alguém começasse a olhar para tudo isto de uma forma mais racional, o que mais será necessário para que alguém perceba que o que verdadeiramente está por trás de actos como este é a facilidade com que nos Estados Unidos se chega às armas?

 

Tal como diz a imagem, fosse James um muçulmano e a estas alturas toda a sua familia e amigos estariam presos ou a ser investigados, como é americano, é só mais um acto de um louco.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 23:39

Conto, Maria e Maria

por Jorge Soares, em 21.07.12

Conto, Maria e Maria

Imagem de aqui

 

Nasceu uma 92 segundos antes da outra. As gêmeas univitelinas de Raissa e Robledo pagaram todos de surpresa, quem diria uma barriguinha tão murchinha caberem duas crias tão robustas, tudo preparado, um berço, um enxoval, um chocalho, camisinhas de pagão e cueiros para uma que agora são duas. Dos narizes arrebitados à choradeira tudo era absolutamente igual. Sincronizavam hora da fome e arroto, banhavam-se nas mesmas águas mornas da bacia, sorriam simultâneos bilus bilus. Até o cocô vinha na mesma hora, com a mesma coloração e consistência. Para encerrar as confusões, quem é quem, cara de uma focinho da outra, nem uma pintinha para diferenciar,  os pais receberam sinais dos anjos e trataram de obedecer chamando as duas de Maria. 


Maria pra lá, Maria o pra cá. Assim vingaram sem identidade própria, sem vontades próprias, sem desejos próprios.  


Na escola, usavam a mesma carteira, escreviam no mesmo caderno, partilhavam da mesma merenda: 


sanduíche de pão com goiabada, que apesar de um só, tinha o tamanho de dois. 


Cresceram Maria e Maria pulando a mesma corda, ninando a mesma boneca, lambendo o mesmo pirulito. Rezavam o mesmo terço, recitavam as mesmas poesias, contavam as mesmas prosas, cantavam as mesmas modinhas, riam das mesmas piadas. Declamavam os mesmos versos nos saraus familiares, quando o tio beberrão sempre encerrava a salva de palmas com a mesma voz pastosa: “essa menina é um talento, até parece que é duas.” 
Menstruaram no mesmo dia e assim foram mês a mês, um reloginho de precisão suíça de incômodos e tpms, nada que uma só gota de atroveran para aliviar o ardor de duas cólicas. Mocinhas, viram de a mesma janela o amor chegar. E ele bem que chegou de repente: Amaro, garboso forasteiro, elegante nos gestos e no vestir, encantou-se pelas duas, de uma só vez. Com a mesma corte, derrubou Maria e Maria com charme e lábia singulares. Raissa e Robledo faziam gosto. Resolveriam com um único mancebo despachar as meninas predestinadas, sem preocupações de dois genros intrusos 


no dia a dia da casa.  E assim começaram os três a namorar. A calça de tropical inglês roçando as baias das saias rodadas nos encontros no portão fez crescer fantasia que pernoitava na cama das duas. Segredavam-se em duo com sôfregos gemidos, suores dobrados, queimações duplas pelos entre pernas. Tocavam-se irmãmente descobrindo as delícias do fogo divino e não se decepcionaram na noite de núpcias. Depois da cerimônia, onde Robledo conduziu Maria e Maria, uma em cada braço 


aos braços de Amaro, sob a estranheza de dezenas de olhares, o trio nubente enfurnou-se num sexo veemente e compartilhado. O rapaz era um espetáculo. Dava conta das duas com a mesma intensidade, produzindo esplendores sem que ninguém ficasse devendo a ninguém. Pouco a pouco as meninas iam se transformando em sacerdotisas do gozo e da luxuria. Mitos católicos e cartilhas de bons costumes foram se esvaindo entre os lençóis, quando todas as formas de afeto e prazer 


eram experimentadas e descobertas a cada seção. Dedos, línguas, narizes, cotovelos e calcanhares, o que houvesse de extremidades rijas eram bem recebidas por lábios, grandes, pequenos, carnudos, recônditas protuberâncias enrijecidas, úmidas e pulsantes, cavernas aconchegantes, orifícios diversos. Discretos, não proclamavam à vizinhança e à parentada suas proezas, cabendo às maledicentes de plantão duvidar da virilidade de Amaro, esquisito rapaz que se submete a este situação, 


quem tem duas na cama, acaba por ter nenhuma, rezava a corrente da inveja. Mentira desdenhosa. 


Tão logo correu noticia da gravidez simultânea de Maria e Maria, engoliram as Matildes a verdade de que o rapaz numa noite só teria aumentado com duas matrizes a população mundial. Nove meses depois, Maria e Maria pariram trigêmeos cada uma, três meninos, três meninas, para orgulho de Raissa e Robledo. Melhor impossível: criaram duas filhas como se fosse uma e agora a vida em progressão geométrica ofertava três casais de netos numa tacada só. Lembraram do sinal dos anjos quando a gêmeas nasceram, imbuindo o casal da missão de purificar a raça humana, fazendo de duas ovelhas um ícone singular da concórdia. 


Mas nem tudo foi paz na vasta prole. Longe disso. Os anos se passaram e o a população da casa de Amaro, Maria e Maria virou um saco de gatos. Da harmonia desejada surgiu o transtorno opositor. Como anti modelo às duas mães monozigóticas, aos avós obsessivos e a um pai conivente, o sexteto desgovernou-se. Floresceu cada um com suas manias, fé, times de futebol, jeito de falar, caráter, personalidade, fraquezas, caligrafia, paladares, vícios, preferências políticas, musicais e sexuais. 


Rixas de irmãos era pinto diante que os tempos aprontaram: litígios ferozes, brigas severas, ameaças e tentativas de morte. Adolesceram os seis como se estranhos fossem. Mais que isso: inimigos, como inimigos são os radicas étnicos, ideológicos, torcedores, sectários e religiosos mundo afora, como espelho do rosto mais perverso da humanidade. Corroídas de desgosto, Maria e Maria, num pacto sinistro, beberam do mesmo veneno. Estrebuchou uma 92 segundos antes da outra.  


As gêmeas univitelinas de Robledo e Raissa, co-esposas de Amaro, e ungidas com os óleos da extrema fraternidade, foram enterradas num mesmo caixão sob as vistas dos pais devastados e de um marido combalido. Nenhum dos seis filhos compareceu. Dizem que andam pelo mundo disseminando a discórdia, plantando o ódio, promovendo a intriga, cultuando a inveja, espargindo a soberba, o egoísmo, a injustiça, a avareza, o rancor, o ciúme, a barbárie e a crueldade. Foram além 


das fronteiras do bom senso, regente do fato que são as diferenças que movem a existência, e vestiram os capuzes da intolerância.
Robledo e Raissa enlouqueceram nos porões de um manicômio, pregando aos quatro ventos que eram os mentores do apocalipse, arautos do pior dos mundos, logo eles, que tanto fizeram do ideal da igualdade o turbo da vida. E ainda hoje, Amaro, o duplo viúvo, vive correndo atrás da produção do Fantástico para contar sua história estapafúrdia. Só que ninguém acredita.

 

ZÉGUI VEREZA 


Retirado de Samisdat

publicado às 21:04

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