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As alegrias de ser pai

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Já por aqui se falou de comida muitas vezes, foi no post sobre a geração do Bacalhau escondido que falei na primeira e principal regra a ser seguida à mesa cá em casa: todo o mundo pode gostar ou não do que está no prato, ninguém é obrigado a gostar, desde que coma tudo não há problema nenhum em não se gostar da comida.


Há quem me ache um tirano e quem tenha aprendido a usar estas minhas palavras nas refeições lá em casa, certo certo é que cá por casa só há sempre um prato à mesa, não há cá pratos especiais para ninguém e em maior ou menor quantidade, todo o mundo come em todas as refeições e já seja porque aprenderam a gostar um pouco de tudo ou porque já perceberam que dizer que não gostam não os leva a lado nenhum, "Não gosto" são palavras que cada vez se ouvem menos por cá.

 

À medida que vão crescendo vai sendo mais dificil conciliar os estudos com as refeições, o ano passado durante o período escolar ou durante os períodos de férias, havia sempre alguns dias em que os dois mais velhos almoçavam no ATl e soube muito bem ouvir da boca das responsáveis lá do sitio que "vocês não imaginam o inferno que é dar comida a estas crianças, não há maneira nenhuma de conciliar uma refeição que agrade a todos..e há até aqueles que não há dia nenhum em que gostem do que aparece. Os vossos filhos são os únicos que comem sempre e raramente dizem que não gostam"

 

O meu método pode não ser lá muito democrático, mas de que funciona, funciona.

 

Jorge Soares

publicado às 21:40

Conto: A Mulher do Alfaiate

por Jorge Soares, em 29.09.12

A Mulher do Alfaiate

Inspirado na pintura La costurera de Diego Velásquez


Armando se abaixou para pegar as chaves e creeeec, as calças se rasgaram de cima a baixo bem nos fundilhos. Naquela hora, ele amaldiçoou o fato de não ter cumprido a promessa de ir à academia para perder os quilos que ganhou depois de se casar. Algumas pessoas o olhavam, certamente avistavam a cueca azul através do rasgo.

 

Ele retirou o paletó e, segurando as mãos atrás das costas, tentou disfarçar. Embrenhou-se por algumas ruas menos movimentadas e se perdeu numa parte daquela vizinhança que desconhecia. Muitas casinhas residenciais, com muros baixos e cachorros bravos tentando atacar pelos vãos dos portões. Ele avistou o cartaz dependurado na fachada de uma delas:

 

Alfaiate

Ternos sob medida

Fazemos pequenos reparos


Como não havia campainha, Armando bateu três palmas:

— Ô, de casa!

Por entre as cortinas na janela, uma mulher fez um sinal para que ele entrasse.

Ele a encontrou costurando um vestido.

— O senhor pode aguardar um pouco? O meu marido já volta — o alfaiate ia pelas manhãs ao Centro para comprar material.

— Desculpa, mas tenho um pouco de pressa, estava a caminho do trabalho quando... — Armando se virou, mostrando o rasgo nas calças.

Ela riu, mas logo tapou a boca com as mãos.

— Vai, pode rir! Eu também estaria rindo se não fosse comigo — e ele tentou dar uma gargalhada, mas soou tão artificial que pensou que até poderia tê-la ofendido.

— Nisto eu posso dar um jeito, é só tirar as calças que resolvo num minuto.

Ele procurou por um provador, ou um banheiro, mas ali só havia cadeiras, uma mesa, a máquina de costura, linhas, alfinetes e outros instrumentos de alfaiataria.

— Não precisa ter vergonha, tire as calças.

 

Se estivesse diante do marido, o alfaiate, não seria tão embaraçante. Apenas três mulheres haviam visto Armando de cuecas: a mãe, a primeira namorada com quem ele perdeu a virgindade e a esposa. Se você já esteve na mesma situação que ele, tendo de tirar as calças diante de uma mulher totalmente desconhecida, deve entender como ele se sentiu. Armando virou-se de costas para ela, desafivelou o cinto e desceu as calças. Pelo reflexo da janela, percebeu que a costureira examinava-o. Muito constrangedor!

Sem se virar, ele estendeu as calças para ela.

— Agora, sente-se aí enquanto eu faço o reparo — e Armando obedeceu, cruzando as pernas como uma moça, para não exibir suas partes.

 

Lentamente, a costureira passou a linha na agulha e começou a coser. As mãos eram delicadas e brancas, o olhar sempre fixo no trabalho, a respiração suave. A vergonha de Armando começava a passar e, pela primeira vez, ele reparou como a costureira era bonita. Sua blusa tinha um decote grande e ele podia ver as alças do sutiã e uma medalhinha da Nossa Senhora sobre o seu colo. Uma recordação de infância: de sua mãe sentada na sala, diante da TV, costurando as suas meias; uma memória tão singela que Armando quase se levantou para abraçar a costureira. Dois anos que sua mãe morrera. Mas logo lhe ocorreu uma outra cena: ele enfiando a mão dentro daquela blusa, puxando os seios para fora e beijando-os, chupando-os, podia até escutar os arfar de excitação da costureira enquanto a outra mão buscava espaço por dentro da saia, pelo meio das pernas, puxando a calcinha para o lado e penetrando-a lentamente. Ela gemia, gemia, gemia, e Armando teve uma ereção.

 

— Pronto! — ela disse, entregando-lhe as calças, mas Armando não queria, não podia se levantar — Aqui está.

Ainda sentado, ele a pegou, e dirigiu-lhe os olhos desesperados.

— Não vai prová-la? Ou vai embora apenas de cuecas? — ela riu.

Sem mais opções, Armando se ergueu e a costureira pode ver o que ele ocultava. Ela recuou, assustada, como se visse uma surucucu ou uma jararaca no mato. Depois se virou, fingindo que arrumava a mesa.

Ele não disse nada, apenas se vestiu, deixou o dinheiro na cadeira e sumiu. Acredito que ele até corria, de tanto constrangimento.

 

No entanto, mais tarde, na hora de dormir, Armando voltou a pensar na costureira, no colo branco, nos seios dela, em seus dedos penetrando-a, em como ele a segurava nos braços, levava-a para um quartinho nos fundos daquela casa, e transavam como cães, de quatro, ele puxando-lhe os cabelos enquanto ela encarava-o com o canto dos olhos e lambia os lábios. A esposa de Armando dormia ao seu lado, quase uma estranha para ele nestes últimos anos, com quem não conseguia conversar, sem sexo há mais de três meses. Ele até tentou despertá-la, roçando o pau duro contra ela, mas a esposa lhe pediu para deixá-la em paz, até mandou que ele se fodesse por tê-la acordado.

 

Quando Armando apareceu novamente, na manhã seguinte, a costureira não acreditou. A caminho do trabalho, ele se debateu contra esta ideia, chegou a ensaiar a entrada no elevador da firma umas cinco vezes, mas, por fim, retornou àquela região do bairro, à procura da casa do alfaiate. Ele rasgou uma das mangas de sua camisa, como pretexto.

 

— Você não vai acreditar, mas tive outro probleminha hoje — ele resmungou, bastante desconcertado. Armando mostrou-lhe a manga de camisa rasgada.

— Não prefere esperar pelo meu marido? — ela disse. A presença de Armando a perturbava.

— Não tenho tempo. Tenho de ir ao trabalho — e ele começou a tirar a camisa. A respiração dela se acelerou. Ela mexeu nos cabelos, e evitava fitá-lo. Armando se aproximou e segurou suas mãos.

— Você é um anjo, sabia? — mas ela não respondeu.

Ele chegou mais perto e sussurrou no ouvido dela.

— Pensei a noite toda em você. Acho que estou enlouquecendo — e ele beijou pescoço dela e mordiscou a orelha. A costureira estremeceu.

— Meu marido... Meu marido... — ela balbuciava, enquanto enlaçava Armando num abraço.

Eles se beijaram e, aquilo que Armando tanto imaginara nas últimas horas, se tornava realidade, no entanto, todo o tempo, mesmo enquanto ele a penetrava de pé num canto da lavanderia, ela gemia.

— Meu marido... Ai, meu Deus, o meu marido!

Assim, todas as manhãs, antes de ir ao escritório, Armando passava na casa do alfaiate para transar com a esposa dele.

— Vamos fugir — um dia a costureira sugeriu — Vou largar meu marido, você deixa sua mulher e vamos ser felizes juntos.

— Jamais daria certo — ele respondeu, contrariado — Somos tão diferentes. E você não é como minha mulher...

— Como assim?

— Não sei explicar... Você é apenas uma costureira — Armando disse e, na mesma hora, se arrependeu.

— Apenas uma costureira? O que você quer insinuar com isto?

— Não foi o que quis dizer...

— Acha que não sou boa o suficiente para ser sua mulher? Sou apenas um objeto no qual você mete este seu pinto mole? — e ela apanhou uma tesoura de costura, daquelas grandes, pretas, de ferro, e apontou para Armando — Não sou mulher pra você?

 

O alfaiate encontrou a esposa morta num canto do quarto, toda ensanguentada, os pulsos cortados. Nas mãos, apertando com uma força imensa, a tesoura de costura e uma recordação de Armando, que, naquele mesmo instante, chegava mutilado ao Pronto Socorro.

 

— Foi a costureira! — ele berrava — Queria apenas que ela costurasse as minhas calças... As minhas calças!


Henry Alfred Bugalho


Retirado de Samizdat

publicado às 20:55

escolher quem vive e quem morre

Imagem do Público

 

Vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível em termos de cuidados de saúde todos terem acesso a tudo


Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justifica uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros?


As frases acima fazem parte de um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) que foi elaborado a pedido do Ministério da Saúde e incidiu principalmente sobre três grupos de medicamentos: para o VIH/sida, para os doentes oncológicos e para os doentes com artrite reumatóide.

 

Traduzindo por miúdos, o parecer que recorde-se é de uma comissão Nacional de Ética,  permite que a partir de agora o ministério da Saúde , os hospitais, ou os médicos, possam decidir por exemplo se um doente com cancro em estado terminal vai ou não ter direito a tratamentos que sirvam para lhe prolongar a vida.

 

Na pratica, este parecer dá às autoridades de saúde o direito a decidir quem vai viver e quem vai morrer, quem vai ter direito aos medicamentos mais caros e quem  só tem direito aos mais baratos, quem vai ser tratado atá ao ultimo momento e quem vai ser abandonado quando chegar a um estado em que a doença seja incurável.

 

Onde está a ética em  passar para as mãos dos médicos a decisão de quem tem direito a morrer e quem tem direito a viver?

 

Há algo nisto tudo que me faz imensa confusão, existem neste país leis contra a eutanásia e o suicidio assistido, um doente ou os seus familiares não podem decidir quando parar o seu sofrimento ou o dos seus seres queridos, mas agora acha-se ético que em nome de interesses económicos os médicos e hospitais possam decidir por eles.... e chamam a isto Ética?

 

 

Jorge Soares

publicado às 21:44

Os eunucos vivem mais tempo

Imagem de aqui 

 

 

A notícia é do Público e diz o seguinte:

 

Os homens castrados que serviram os reis da Coreia ao longo de séculos viveram, em média, 14 a 19 anos mais do que os seus congéneres não castrados


Isto é, como não poderia deixar de ser, o resultado de mais um daqueles estudos que agora estão muito na moda e que quase sempre nos levam a descobertas fenomenais. Segundo concluiram os senhores coreanos que estiveram a estudar o assunto, a culpa pode ser da testosterona, a hormona responsável pela masculinidade que será a culpada pelo facto de que em muitas espécies, incluindo evidentemente a humana, as fêmeas viverem mais tempo que os machos.

 

Todos os estudos indicam que os homens castrados tem uma vida muito mais longa que os não castrados, tendo inclusivamente alguns deles superado os cem anos de idade... uma vida longa e presume-se que aborrecida! {#emotions_dlg.rude} 

 

Meus senhores, já sabem, podem viver mais tempo, é só uma questão de pensarem se querem ou não pagar o preço.... 

 

Jorge Soares

publicado às 22:16

Adriana Xavier a miúda da manifestação

Imagem do Blog  Pedro Rolo Duarte

 

A imagem correu mundo, e não é para menos, um polícia apalpado por uma beldade no meio de uma multidão não é algo que se veja todos os dias...

 

Divulgada até à exaustão (mea culpa também) na blogosfera e no facebook, aquela fotografia tirada por José Manuel Ribeiro tornou-se o símbolo da luta contra a austeridade e a TSU. A beldade, Adriana Xavier de seu nome, teve direito aos seus cinco minutos de fama, com direito a entrevistas em tudo o que era meio de comunicação.

 

Na altura a Jonas reparou num detalhe importante e neste post perguntava-se se "o Policia tinha mel", já que circulavam pela net não uma, mas duas miúdas giras a apalpar em momentos diferentes o mesmo  policia no meio da multidão.

 

Curiosamente, na altura não li nem ouvi ninguém a queixar-se ou a burlar-se das entrevistas que a menina Sónia deu aos vários jornais e outros meios de comunicação, mas bastou que aparecesse uma entrevista um bocadinho mais cor de rosa na revista Lux, para que caísse o Carmo e a trindade...e já todo mundo, acha que todo aquele apalpanço ao polícia teve pouco de revolucionário e inocente e muito de falso....

 

Não li a entrevista na revista cor de rosa, não faço ideia se as repostas foram mais para o inteligente ou mais para o estilo Casa dos Segredos, mas juro que não percebo qual é a diferença entre aquelas entrevistas aos vários jornais diários e esta.

 

De resto, com tantas mulheres a quererem apalpar o senhor polícia, o que eu não entendo é porque é que ninguém até agora o quis entrevistar, era giro ouvir o outro lado da história de tanto apalpanço... não?

 

Jorge Soares

 

Update: Já estava nos comentários do Post da Jonas, que eu não tinha lido, aparentemente não foram duas raparigas a abraçar o Polícia, foi a mesma que primeiro posou de cabelo comprido e depois de cabelo apanhado... vá lá a gente perceber porquê. O meu obrigado ao anónimo que nos esclareceu

publicado às 21:24

Miguel Macedo acha que somos parvos.

por Jorge Soares, em 24.09.12

A formiga no Carreiro

 

Imagem do Perguntas Parvas 

 

 

Não restam dúvidas que este governo perdeu o norte, há dois dias quando no primeiro dia de Chuva do Outono inaugurava um quartel de bombeiros em Vouzela, Miguel Macedo foi confrontado com os protestos e desagrados ddo povo e talvez recordando que no fim de semana anterior um milhão de portugueses saiu à rua para protestar contra as políticas do governo de que faz parte, afirmou que Portugal é "um país de muitas cigarras e poucas formigas"


Todos conhecemos a Fábula de Esopo que fala da cigarra que canta o verão todo enquanto a formiga trabalhadora acumula alimentos para o inverno que há-de vir... de certeza que  o senhor ministro quando fala das cigarras se está a referir a toda a corja de boys e políticos que nos tem governado durante os últimos 35 anos e que levaram o país a este estado em que as pobres formigas já só trabalham para alimentar a fome voraz de um sistema que leva tudo o que elas produzem e não deixa nada para garantir o futuro que se adivinha mais negro e frio que qualquer inverno.

 

Mas não contente com o insulto aos portugueses e ao seu direito ao protesto e à indignação, o senhor Ministro acha que somos parvos e veio afirmar que quando disse que havia muitas cigarras e poucas formigas em Portugal referia-se, “em especial”, aos trabalhadores por conta de outrem e aos pequenos e médios empresários, comerciantes e agricultores.

 

Senhor ministro, tenha dó, não faça de nós parvos e por favor, mostre algum respeito, é verdade que o povo é sereno... mas olhe que há limites.

 

 

A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
ao pé de um septuagenário

Lerpou trepou às tábuas (bis)
que flutuavam nas águas (bis)
e do cimo de uma delas
virou-se para o formigueiro
mudem de rumo (bis)
já lá vem outro carreiro

A formiga no carreiro
vinha em sentido diferente
caiu à rua
no meio de toda a gente

buliu abriu as gâmbeas
para trepar às varandas
e do cimo de uma delas
...

A formiga no carreiro
andava à roda da vida
caiu em cima
de uma espinhela caída

furou furou à brava
numa cova que ali estava
e do cimo de uma delas

 

publicado às 22:12

João Gil

Imagem de Santos da Casa 

 

Íamos a Caminho de Porto Covo, na Antena 1 ouvia-se  o Hotel Babilónia de João Gobern e Pedro Rolo Duarte, a certa altura comenta-se o facto de João Gil ter apresentado a sua candidatura a Presidente da Câmara de Cascais. 


Na rádio os apresentadores do programa hesitam entre questionar a sanidade mental, aconselhar juízo ou aplaudir o músico pela sua iniciativa. " Não pode ser só falar falar, há que chegar-se à frente". Já não me lembro se foi Gobern ou Rolo Duarte quem concluiu o assunto com esta frase.

 

No carro a coisa também não foi pacifica e as opiniões dividem-se. A minha meia laranja acha que não faz sentido nenhum um músico candidatar-se ao cargo, ele não tem formação ou preparação para exercer um cargo destes....

 

Eu por outro lado concordo com a frase final da rádio, a verdade é que todo o mundo tem opinião, todo o mundo critica e uma boa parte acha que faria melhor que qualquer um dos nossos governantes, mas na hora da verdade não há muito quem esteja disposto a abdicar da sua vidinha e pegar o touro pelos cornos.

 

Sobre o facto do João Gil não estar preparado para ser presidente da câmara, alguém já se questionou alguma vez sobre o passado de algum presidente da câmara deste país? Será que na sua grande maioria estão preparados para comandar uma câmara? Alguém vai olhar para os currículos antes de votar? 

 

É evidente que era desejável que todos os presidentes tivessem uma enorme experiência de gestão antes de chegarem a um cargo tão importante como o de presidente da câmara, mas a realidade é que na grande maioria este é um lugar político, sendo que muitas vezes os candidatos nem sequer vivem na cidade à que se candidatam, basta olhar para o exemplo de Pedro Santana Lopes que vivendo em Lisboa ganhou a Câmara da Figueira da Foz.

 

Não conheço João Gil para além da sua faceta de músico, de resto não voto em Cascais, mas acho muito positivo que para além dos políticos do costume apareçam outras figuras da nossa sociedade a candidatar-se aos lugares públicos, falar e criticar é fácil, difícil mesmo é chegar-se à frente... bem haja para quem o faz... além disso, se alguém que nunca fez nada na vida pode ser Primeiro Ministro, porque não pode um excelente músico ser um bom presidente da cãmara?..e dificilmente ouviremos alguém dizer: "Ó Gil Vai estudar"

 

Jorge Soares

publicado às 22:05

Conto, 11 da noite

por Jorge Soares, em 22.09.12
São 11 da noite, sandálias pretas
São 11 da noite. Eu não sei se pressinto ou se estou mesmo ouvindo os passos que se aproximam novamente da minha porta.
Desde que me mudei para este prédio, escuto as pisadas de todos os moradores com nitidez. O chão de cerâmica dos corredores faz ressoar todos os sapatos, especialmente aqui no meu andar, que é o último. O mais estranho dos passos é que a gente sempre imagina como é o corpo em cima da sola. Depois de um tempo, um esbarrão na entrada do prédio, um encontro na escada confirmam a suspeita de quais passos pertencem a quem. E é quase sempre batata! Existe uma intimidade até promíscua em reconhecer o outro pelos passos.
O edifício não é grande. São três andares com quatro apartamentos em cada um, todos de um quarto só. Apartamentos para solteiros, embora eu tenha certeza de que em vários deles esteja morando mais de uma pessoa, principalmente crianças.
Reconhecer as crianças é mais fácil, porque menino não anda, corre. E grita. Vira tudo um escarcéu que mais parece briga, tropel. Mesmo assim, tem os que andam com um passinho miúdo e rápido, como a menina do primeiro andar que sobe aqui de vez em quando para brincar com o garotinho que mora duas portas depois da minha. Tem minha vizinha da direita, que chega sempre tarde e sobe as escadas de salto alto, fazendo um estrondo que acorda meio mundo. Eu não sei como ela é, nem quantos anos tem, porque nunca a vi, mas escutei sua voz uma vez e me pareceu alguém entre os 25, 30 anos.
É divertido este pretenso controle diário de idas e vindas, de subidas e descidas. Como meu horário de trabalho é variável, fico brincando comigo mesma de identificar os passos da manhã e as pisadas da tarde. Já as passadas da noite são quase sempre as mesmas: um estudante universitário que chega por volta de meia-noite; o senhor do 403, que bebe, cambaleia e faz “psiu” para si mesmo; visitantes ocasionais, parceiros de um sexo também ocasional, e que andam sempre na ponta dos pés; e, é claro, os visitantes habituais, já quase aceitos como moradores — namorados, noivos, amantes fixos.
Quando a gente conhece assim tão bem os passos, fica difícil não se desconcertar com alguma coisa que soa diferente. Como esses passos. Não faz uma semana que dei para escutar esses pés impacientes que param à minha porta. São saltos de mulher, sem dúvida, mas parecem frouxos, perdidos. Ficam um pouco, depois se afastam. Não reconheço a direção de onde vêm ou a que tomam em seguida, mas sei que chegam sempre, sempre às 11 horas. O que fazem esses pés na minha porta?
Sondei se há moradoras novas no prédio. “Não, ninguém se mudou“ — afirmou o porteiro indiferente. Minha segunda pesquisa foi junto às solteiras como eu, com quem acabei travando um tipo corriqueiro de amizade ao longo dos dois anos em que moro aqui. Alguma amiga dormindo em casa? Parente? Não, nenhuma delas tem recebido visitas. Enfim, não tenho a menor pista sobre os passos. Além disso, reclamar com o síndico sobre quem tem ou não as chaves do prédio é bobagem. Em lugar de gente solteira, tudo é cumplicidade.
Hoje, tomei banho mais cedo e fiz um lanche leve. Ando tendo pesadelos quando como demais antes de dormir. Um filme talvez me traga o sono mais rápido. Mas... O que é isso?! Droga, a luz acabou de apagar no prédio todo! O que será? Logo eu que detesto escuridão. E para completar os passos estão aí fora, novamente. Ai que agonia! Preciso realmente fazer alguma coisa a respeito dessa criatura inconveniente! Vamos, coragem, vamos! Abro a porta de supetão e não há ninguém no corredor. Sobre o tapete de entrada, apenas um par de sandálias pretas, elegantes, de saltos altos. Já chega! Amanhã pela manhã vou reclamar com o síndico dessa bagunça! Que cara de pau dessa mulher!, esbravejo, enquanto bato a porta com força.
São apenas 5 da manhã e o alarme chato do celular está tocando. Eu, hein! Na escuridão de ontem, devo ter me distraído e programado errado o horário. Agora, não vou conseguir dormir de novo e o resto do meu dia está arruinado! Mas isto não é... não é o despertador... É a campainha! O síndico ignora os meus olhos quase fechados e pede desculpas pelo incômodo. Apresenta-me rapidamente a um policial de bigode e a dois bombeiros compungidos, e pergunta, sem rodeios: “Você tem visto a sua vizinha de porta?” Não vi. Aliás, vejo pouco. A moça não aparece no trabalho há quase uma semana e alguém deu queixa do sumiço dela. Eles me avisam, então, que vão fazer barulho, porque é preciso arrombar a porta do apartamento dela.
Lá dentro, uma mulher de cabelos pretos, caída no chão da sala, está morta há uma semana, comentam os bombeiros em voz baixa. Nos pés, um par de sandálias pretas. Elegantes. De saltos altos.
CINTHIA KRIEMLER  
Retirado de Samizdat

publicado às 21:46

São gatunos, mas continuamos a votar neles!

por Jorge Soares, em 21.09.12

21 de Setembro em belém

Imagem do Público 

 

Saí de Lisboa por volta das 18, na rádio as noticias  vinham principalmente de Belém, enquanto a jornalista da Antena 1 tentava explicar o que por lá se passava, como pano de fundo por entre o barulho dos petardos, ouvia-se o povo a gritar:

 

-Gatunos

 

Rezam as crónicas que estariam em Belém perto de dez mil pessoas, 10 mil pessoas que enquanto atiravam petardos, pedras ou cravos brancos, gritavam impropérios e tildavam de gatunos a Cavaco, passos Coelho e conselheiros de Estado.. gatunos.

 

Durante o dia Cavaco Silva que finalmente terminou a sua larga hibernação de verão, garantia que a crise política estava afastada e que de novo reinava a paz entre Portas e Passos Coelho.

 

Ao fim do dia, o povo, que eu já não sei se fica triste ou contente com as zangas entre Passos e Portas, juntou-se à porta do Palácio de Belém para, tal como já o havia feito no passado sábado,  gritar a todo pulmão e para quem quiser ouvir que somos governados por gatunos.... e para mostrar que a sua guerra é outra, ima guerra pela sua sobrevivência.

 

Há aqui qualquer coisa que não bate certo, se eles são gatunos porque os continuamos a querer no governo

 

Jorge Soares

publicado às 23:04

és suficeintemente parvo para voltar a votar em quem nos levou a este estado?

 Imagem de aqui

 

...o medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte, vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura, algo me sugeriu o seguinte: que há neste mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas...


Mia Couto


Hoje no telejornal da RTP foi apresentada uma sondagem que diz que se as eleições fossem hoje, o PS estaria muito próximo de ter mais votos que PSD e CDS juntos. Bastou que Passos Coelho nos fosse ao bolso a todos para que um monte de gente que há um ano atrás mimava os socialistas com impropérios como: incompetentes, corruptos, ladrões, etc, agora se prepare para os voltar a colocar no poder... Quer-me parecer que para além de um povo sereno, somos principalmente um povo de memória curta.

 

Como é possivel que depois de tudo o que se disse sobre Sócrates e o seu governo socialista, o PS possa ser neste momento a alternativa para voltar a governar o país?

 

Como é possivel que depois do que tem sido o governo do PSD/CDS e a sua política do custe o que custar até ao descalabro final, existam 31% de eleitores que voltaria a votar nestes senhores?

 

Na verdade não é assim tão estranho, não conheço ninguém que consiga estar de acordo com Passos Coelho na questão da TSU, todos acham que é uma medida que só vai piorar a situação do país, mas quando tento aprofundar um bocadinho a conversa e tentar perceber em quem votariam as pessoas, a coisa termina sempre em "pois, mas não há alternativas"

 

Esta semana perguntei directamente a alguém porque não equaciona votar num dos partidos que nunca governou, por entre dentes e meio a medo, lá obtive a confissão, "o povo tem medo do comunismo".

 

Não, isto não foi dito por alguém de 60 anos que cresceu a ouvir dizer que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço, isto foi-me dito por uma pessoa na casa dos trinta, ante a minha incredulidade e o silêncio das 3 ou 4 pessoas que estavam ali naquele momento. 

 

Medo, a explicação para o facto de apesar do roubo dos subsídios, do aumento do IVA, da TSU, do aumento das taxas moderadoras, do descalabro da politica educativa, e de tudo o resto, a soma dos votos do PCP e do BE apenas chegarem aos 20%, bem menos que nas eleições de 2008 por exemplo, é que as pessoas tem medo da mudança.

 

O medo explica que as pessoas prefiram ser roubadas, enganadas, espoliadas dos direitos que custaram décadas a ser conquistados pelos nossos pais, a acreditar na mudança, a acreditar que sim, que os políticos não são todos iguais e que poderá haver no nosso país quem possa governar de outra forma, de uma forma que não nos leve ao abismo.

 

Depois disto, e apesar de eu não estar muito para aí virado porque já passei por isso e não me estava mesmo a ver a repetir a experiência, acho que a mim e a muita gente que quer o melhor para os seus filhos, só nos resta mesmo uma hipótese, emigrar, porque pelos vistos com este povo não vamos lá...

 

Muito sinceramente já deixei acreditar na lucidez de quem vota neste país... tem medo, compre um cão, não abra as portas aos ladrões.

 

E tu és suficientemente parvo para voltar a votar nos partidos dos dois governos anteriores?

 

Jorge Soares

publicado às 22:13

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