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Abstenção

 

Imagem do Público

 

"A TVI assinou o programa mais visto da noite: a estreia do reality show Casa dos Segredos, com 1,7 milhões de espectadores. Os especiais autárquicas ocupam o top cinco: o da TVI, seguido pela RTP1 e só depois a SIC"

 

Terão sido os que não votaram os mesmos que à hora em que se sabia quem os iria governar, estavam a ver a casa dos segredos?

 

Gostava de perguntar a alguém de Oeiras que não tenha ido votar, o que achou da caravana vitoriosa que depois de conhecidos os resultados foi em peregrinação até à cadeia da Carregueira a prestar vassalagem ao grande líder?

 

A abstenção chegou aos 47,4 %... ficou a uma unha negra de ser maioria... há quem ache que os políticos retiram alguma lição disso... talvez alguns retirem, mas não me parece que sejam os que estão habituados a vencer.

 

Há quem tenha as mais elaboradas teorias sobre o suposto efeito da abstenção na politica nacional, há até mitos sobre uma suposta lei que diz que em caso de a abstenção ser maioria as eleições não valem... há, ideias e teorias para todos os gostos.. a realidade é que para O PS e o PSD, haver abstenção ou não será a mesma coisa, os seus apoiantes vão sempre votar e eles tem os votos garantidos... o resto, é conversa.

 

O que teria acontecido no Porto se em lugar de irem votar em alguém diferente, quem votou em Rui Moreira se tivesse abstido?

 

Só daqui a uns tempos iremos perceber se afinal Rui Moreira é mesmo diferente, se representa aquela pedrada no charco que faz falta para criar uma onda contra os partidos tradicionais e os políticos de sempre, ou se será mais do mesmo... mas para já a sensação que nos fica é que as coisas podem ser diferentes... basta que alguém acredite que pode  fazer diferença e que muitos não se abstenham de ir votar.

 

É verdade que votar é um direito democrático que cada um pode exercer como lhe apeteça... e isso até pode ser não votando, mas desengane-se quem acha que a abstenção pode fazer a diferença... Como se provou no Porto e em alguns concelhos onde em lugar dos partidos ganharam listas de cidadãos, o que pode fazer diferença é ir lá e votar... não nos mesmos de sempre mas nos que realmente podem ser diferentes.

 

Há pouco alguém me fez chegar um vídeo onde Marinho Pinto no seu jeito demagogo e espalha brasas de falar, fazia um grande alarido sobre o facto de os partidos receberem 3 Euros por cada voto... gostava de perguntar a Marinho Pinto qual é a alternativa que ele sugere?, 

 

O financiamento dos partidos políticos faz parte da democracia é conhecido e está devidamente legislado, a alternativa é que esse financiamento se faça através de escuras negociatas e trocas de favores... é mesmo isso que queremos? 

 

Jorge Soares

publicado às 21:56

Em Oeiras

Imagem do Público

 

Fui votar a meio da tarde, estava a começar a chover em Setúbal, não havia filas e no velho quadro de ardósia estava escrito que até às 15 horas haviam votado 35% dos eleitores inscritos na  mesa...   pouco, muito pouco.

 

Chamou-me a atenção a quantidade de pessoas que à porta da escola e mesmo na mesa de voto, andavam de papel na mão meio perdidas sobre o local onde votar... sendo que muitas estavam mesmo no local errado.

 

Parece que finalmente temos umas eleições em que há quem perca, acho que não restam dúvidas que o PSD perdeu estas eleições, uma derrota a sério que até chegou à Madeira.. apesar de que na RTP o Morais Sarmento se tem esforçado para disfarçar a coisa . 

 

Também não restam duvidas que há alguns vencedores, O PS, a CDU, António Costa, Rui Moreira e .... Rui Rio.... Haverá depois muitas pequenas vitórias e derrotas, e uma meia derrota, a do Bloco de Esquerda.

 

O Bloco não estaria à espera de ganhar autarquias, mas do que vi até agora, eu estava à espera de uma maior percentagem de votos e será uma derrota maior se em Lisboa o coordenador João Semedo não conseguir ser eleito vereador.

 

Do que vi até agora da noite eleitoral, não posso deixar de realçar o facto de termos visto como em Oeiras venceu Isaltino Morais, eu sei  que é um sinal da de democracia em que vivemos, e há até quem diga que o povo em democracia quando vota tem sempre razão... mas que numa noite eleitoral em lugar do nome de quem venceu, se grite o nome de alguém que está preso e que foi condenado .. é no mínimo bizarro.

 

Rezam as estatísticas que Oeiras é o concelho do país com maior literacia... ou seja, não será o populismo que leva as pessoas a votarem. É suposto que as pessoas tenham a educação suficiente para votarem em consciência e para saberem exactamente quem estão a eleger.

 

Não faço ideia quem escolheram os partidos para encabeçar as suas listas em Oeiras, mas custa-me entender que se vote numa lista que tem o nome de alguém que comprovadamente não é honesto e só não está preso há bastante mais tempo porque soube aproveitar todos os buracos da lei para ir deixando cair as acusações.

 

Para mim antes de mais os políticos devem ser sérios, não tenho nada contra o senhor que ganhou em Oeiras, mas é difícil esquecer que o vitoriado não foi ele.. foi Isaltino..resta saber quem irá governar Oeiras... e até que ponto é este o país real.

 

Uma palavra final para os 45% de abstenção, metade dos eleitores continuam a  deixar para outros a decisão de quem os irá governar, há quem ache que abster-se é uma forma de castigar quem está no poder... estão errados, abster-se é concordar com quem lá está, é não fazer nada para mudar a situação..e na realidade, só contam mesmo os votos colocados na urna.. só esses são contados... no limite podia ser só um, era esse que contava.

 

Jorge Soares

publicado às 22:49

Conto - Chapéu verde

por Jorge Soares, em 28.09.13

Chapéu verde

Imagem de aqui


..nem estava despida nem com roupas que se pudesse dizer a noite passada passou-a numa cama, ali dentro, dormida entre pacientes, entre aparelhos com sinais de luzes a dizerem se as tripas funcionam a preceito, se tem açucares e oxigénio em doses justas e os colestróis em níveis decentes.


    Ela vestia calças de ganga muito justas - azuis- e uma camisola verde a marcar-lhe as mamas, e tinha um blusão em cabedal castanho que descaía no braço da cadeira: coisa de corte duvidoso tal como as botas com tacão do tamanho do meu palmo bem esticado, num castanho semelhante ao blusão, que era mais um amarelo caca. 

 

   Dormitava quando me sentei. Eu a sentar-me a seu lado na cadeira que sobrava. Eu a medo: com licença. Eu com todo o cuidado e ela a remexer o corpo magro. Senti-lhe o cheiro que era um perfumezito sem destino em prateleiras que não fossem as de um qualquer supermercado.


   A mulher que tinha rimel nas pestanas e batom a cobrir-lhe os lábios - encarnado - não estaria ainda na casa dos quarenta, teria até muito menos, não fosse aquele leve traço - reparei que tinha um de cada lado dos lábios - e um plissado, ainda que suave, no canto dos olhos que ela manteve fechados apesar do ruído que troava no corredor feito sala de espera. Um corredor apinhado: doentes recebendo líquidos vertidos de saquinhos transparentes, caras de estar fartos, caras de estar doente, e havia-as, também, de quem está velho. 


    Os médicos esgravatavam por ali e os técnicos e os enfermeiros.


   Um relógio especado na parede assinalava, mudo, a passagem lenta, imensamente demorada, do tempo que pesava como se fosse um suor de trabalhos forçados, e seria dele que o ar semelhava pejado de maus gases - como custava respirar.

 

   Ela remexeu uma mão sem anéis nem pintura nas unhas e eu vi-lhe o relógio, uma coisa enorme com ponteiros a navegarem entre números escritos a vermelho sobre fundo azul. Estava parado nas duas de um qualquer outro dia que não este, que era meio dia e treze no relógio da parede.

 

   Natércia Pimentel, chamou a enfermeira e ela endireitou-se, abriu os olhos que eram enormes e de um azul de céu ensolarado, e ficou a agarrar a napa preta do cadeirão como se fosse a amurada de um navio de onde olhasse, incrédula, que a chamavam do cais.


   A enfermeira era tão bonita e tão menina, a olhar a mulher e a dizer: venha comigo.

 

   Eu sorri e ela piscou-me os olhos como a responder, e sorriu também, a afastar-se. Só então lhe vi o chapéu de feltro. Verde. Igual ao tom da camisola. Um chapéu que ela tinha enterrado quase até aos olhos.  Um chapéu a não deixar desvendar a cabeleira, a tapar, diria eu, um cabelo que seria em cachos de vermelho, ou em doirados, ou negro atado em duas tranças. 

 

   Assim pensei eu a olhar o chapéu da mulher colocado como se quisesse esconder.

 

Maria de Fátima

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:57

Como saber o número de eleitor e onde votar?

por Jorge Soares, em 27.09.13

Não à abstenção

 

 

Está recenseado e perdeu o cartão de eleitor?,  saiba que este não é necessário para poder  votar, basta o bilhete de identidade ou a carta de condução e saber o número de eleitor. Não sabe o número de eleitor ou onde votar?... o site do MAI diz-lhe o seu número de eleitor e onde votar, com o número do bilhete de identidade ou o nome completo e a data de nascimento, é aqui, não deixe de ir votar.

 

De registar que nas últimas eleições presidenciais este site dava a informação do local onde se iria para votar, informação que pelos vistos de Janeiro para cá se perdeu, agora só dá o número de eleitor e a freguesia.

 

Para saber o local exacto onde votar, depois de ter o número de eleitor podem ir ao Site do CNE, onde sabendo o Concelho e a Freguesia podem consultar a mesa de voto.

 

Já nas últimas eleições era assim e já na altura achei que estava mal, que não custava nada juntar as duas funcionalidades num só local... mas está visto que as duas instituições, MAI e CNE trabalham cada uma para seu lado.

 

Resumindo : Para saber o número de eleitor: site do MAI 

Para saber o local onde irá votar: Site da CNE

 

Jorge Soares

 

UPDATE: O site do CNE, para não variar já hoje está lento a responder, há que ter paciência e ir insistindo, está visto que não aprenderam nada com as últimas eleições... ou será que a Troika não autorizou o investimento em melhores computadores

publicado às 22:05

Não há abstenção

 

Imagem de aqui

 

Faltam 3 dias para as eleições, vou votar é claro, mas se me perguntarem, ainda não sei muito bem em quem... Em Portugal as campanhas nunca andam perto daquilo que interessa, mas talvez nunca como esta vez terá andado tão longe de esclarecer e de debater as ideias que realmente interessam.

 

Sou uma pessoa atenta, leio jornais, vejo noticias na televisão, ouvi na Antena 1 uma boa parte dos debates para as principais cidades, mas mesmo assim se alguém me perguntar,  o único que sei sobre propostas para a minha cidade, Setúbal, é que um dos candidatos, não faço ideia qual, prometeu que vai criar o Roaz, uma moeda nossa.... e isso porque hoje no Público a ideia aparecia listada como uma das anedotas da campanha.

 

De resto, de propostas a sério para se melhorar a mobilidade, a educação, a vialidade, os transportes, para se dar vida à baixa da cidade que cada vez mais se torna numa zona fantasma... zero. Atenção, não quer dizer que não tenham sido apresentadas soluções e ideias, se calhar foram, mas do meu ponto de vista algo terá falhado nas formas de comunicação de candidatos e partidos.

 

Só sei quem são alguns dos candidatos à câmara municipal porque vi cartazes e outdoors espalhados pela cidade... mas quem vê rostos não vê propostas... e a dizer verdade, há casos em que nem o nome nem o rosto me dizem o que quer que seja.

 

Sobre os candidatos à junta de freguesia, não faço a menor ideia de quem sejam ou das suas ideias.... o sitio onde moro é na fronteira com outra freguesia e já praticamente na saída da cidade... deve ser por isso que nem os costumeiros folhetos na caixa de correio com nomes e caras me chegaram.

 

Se calhar em Setúbal acontece como em Lisboa em que mais de metade dos candidatos não vota no concelho para o que pretende ser eleito... de aí aqueles rostos não me dizerem nada... porque na realidade não são pessoas que estejam empenhadas na sua cidade... aparecem nesta altura por conveniência dos partidos... depois desaparecem e voltam a aparecer daqui a 4 anos. Então e mudarem a lei para que isto não seja permitido? Só deve poder-se candidatar nas listas de um concelho quem efectivamente lá mora.. boa?

 

Setúbal tem mais de 120 mil habitantes, tem imensos problemas sociais, as escolas funcionam a duras penas, os pais tem que deixar os filhos à porta da escola porque nos arredores da maioria delas há uma enorme insegurança, todos os dias há relatos de estudantes assaltados, com consumo e vendas de droga à vista de todos. A baixa da Cidade está ao abandono e a partir das 7 da tarde é praticamente uma cidade fantasma. 

 

A Arrábida está cada vez mais abandonada e abundam as matilhas de cães selvagens, no verão torna-se um enorme estacionamento que vai do Outão ao Portinho sem que ninguém garanta as mínimas condições para toda esta gente. 

 

Entrar na cidade ao fim do dia é um caos, há uma variante que foi feita com curvas, curvinhas e cruzamentos para não se derribar ou mudar de lugar um pseudo monumento que agora está ao abandono e que um dia destes vai cair para a estrada dos Ciprestes.

 

Há o bairro da Belavista e os seus eternos problemas sociais que ninguém entende que não se combatem com mais polícia mas sim com programas sociais e de integração....

 

Era deste tipo de coisas que eu gostava de ter ouvido falar nestas semanas de campanha eleitoral... dos problemas reais da cidade... não do mesmo que costumo ouvir o resto do tempo e que é importante sim, mas não agora.

 

Não vou deixar de ir votar... é um dever e um direito do que não abdico, mas daqui até Domingo vou pensar muito bem como castigo tamanho vazio de ideias e a completa falha na comunicação por parte dos políticos desta cidade.

 

Jorge Soares

publicado às 21:57

Crónicas das férias - A Dune du Pyla

por Jorge Soares, em 25.09.13

Dune du Pilá

Imagem minha do Momentos e Olhares 

 

Para quem não sabe, no Arcachon, a sul de Bordéus, fica a Dune du Pilat ou Du Pyla, com um comprimento de 3,5 Kms e mais de 100 metros de altura, é a duna mais alta da Europa e ocupa um enorme espaço entre o mar e o pinhal.

 

É evidentemente uma enorme atracção turística e na sua sombra há 3 ou 4 parques de campismo, já lá tínhamos estado, da outra vez ficamos no parque mais a sul, já quase na ponta da duna. Ficava numa posição elevada e para chegar à bonita praia de águas cálidas e transparentes, só havia que descer umas poucas dezenas de metros de areia.

 

Confiança a mais e falta dos trabalhos de casa, fizeram com que esta vez tenhamos batido com o nariz na porta, estava cheio, ficamos num dos outros... 

 

Montamos a tenda a poucos metros da imensa mole de areia. A ideia era desfrutarmos 5 dias de praia, ali, bem junto ao mar. 

 

Foi um daqueles dias em que tudo correu mal, uma viagem que tinha sido planeada para pouco mais de três horas demorou quase 6, demoramos uma duas horas a passar Bordéus tal era a quantidade de gente que se dirigia a sul. Depois uma das varetas da tenda decidiu dar definitivamente de si e não houve forma de a reparar, quando finalmente encontramos uma solução para remediar e já estava tudo montado, descobrimos que estávamos a ocupar o sitio errado e tínhamos que mudar para o do lado.... 

 

Ao fim da tarde já estávamos todos pelos cabelos e só queríamos ir mergulhar nas ondas... pegamos nas toalhas e fomos enfrentar a duna.

 

Vista de longe aquilo parece só mais um monte de areia... quando chegamos mesmo ao pé dela o que vemos é uma parede de areia quase na vertical com mais de 100 metros de altura... uma coisa de meter respeito e de nos deixar a pensar se realmente queremos mesmo ir à água que de um momento para o outro parece que ficou a muitos kms de distância.

 

Começamos a subir, passados uns 10 metros estamos cansados... mais um pouco e começamos a ver os copas dos enormes pinheiros desde cima... já começam a doer as pernas... se andar na areia é cansativo, imaginem o que será subir uma parede de areia. O pior é que olhamos para cima e não estamos nem perto do meio.

 

Quando eu cheguei a meio comecei a duvidar seriamente se ia conseguir chegar lá acima vivo, tais eram as dores nas pernas e a falta de ar... e olhava para cima e só via areia e o cimo cada vez mais longe.

 

Depois de muito sofrer chegamos lá acima... depois de uns bons 10 minutos para voltar a respirar dá para perceber que a vista é mesmo fantástica, com um pinhal a perder de vista de um lado e o mar do outro.

 

Olhando para o mar parecia que deste lado era menos inclinado e nós tínhamos subido aquilo tudo não para ver a vista mas para ir à praia... Havia muita gente em cima da duna... mas quase ninguém na praia... já havíamos de perceber porquê.

 

Fomos descendo... e descendo... e descendo, quando chegamos lá abaixo verificamos que nem a praia era tão paradisíaca, nem o mar tão azul e convidativo, nem a agua tão quente como a recordávamos.. Olhando para cima percebemos porque é que quase ninguém descia, vista desde aqui a mole de areia não só era tão alta como do outro lado, como dava a sensação de que a cima ficava longe, muito longe... depois percebemos que não era sensação... aquilo era mesmo longe.

 

Estivemos uma meia hora na praia.... ainda pensei se não haveria forma de dar a volta.. mas para onde olhasse só se via a enorme montanha de areia junto ao mar... lá muito ao longe havia gente a lançar-se de parapente desde o cimo da duna... a  vista era gira.

 

O que tinha demorado uns 5 ou 10  minutos a descer, demorou à vontade uns 45 minutos a subir... sem exagero... era muito menos inclinado que desde o outro lado, mas a distância era enorme e a cada passo que dava parecia que as pernas ficavam mais pesadas e mais doridas.

 

Quando finalmente chegamos cá acima era quase a hora do pôr do sol... havia imensa gente no topo da duna e bastante mais a subir... não sei se era do meu estado perto do esgotamento físico.. mas dei por mim a pensar que conhecia dezenas de lugares com por do sol muito mais bonito e onde não é necessário arriscar um ataque cardíaco para os podermos ver.

 

Não foi preciso muita conversa para se perceber que por ali não voltávamos a ir à praia... e para ter que pegar no carro para chegar ao mar.. havia praias muito melhores em Portugal... na manhã seguinte desmontamos a tenda e partimos rumo a sul... até porque o parque de campismo deixava bastante a desejar, mas disso já falarei noutro post.

 

Jorge Soares

publicado às 22:14

Dilma Rouseff, uma mulher com eles no sitio

por Jorge Soares, em 24.09.13

Dilma Rouseff, Uma mulher com eles no stio

 Imagem do Público

 

"Imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas, sobretudo, entre nações amigas”

 

Hoje no seu discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a presidente do Brasil não poupou nas palavras e foi contundente no seu repúdio à politica de vigilância dos Estados Unidos posta a descoberto por Edward Snowden.

 

A Presidente do Brasil que subiu ao púlpito antes do presidente Obama a quem eram dirigidas as críticas, acusou os Estados Unidos de atentarem contra a soberania dos outros paises, de violarem o direito internacional  e os direitos humanos.

 

Recorde-se que a presidente do Brasil tinha pedido explicações ao governo americano sobre as escutas de que tinham sido alvo ela e algumas instituições brasileiras, e que insatisfeita com as explicações recebidas, cancelou a visita oficial que estava marcada para o próximo mês.

 

Tudo o contrário do que se passou por cá e no resto da Europa, onde a maioria dos países e instituições também foram alvo de espionagem, para além de não termos visto ou ouvido grandes reclamações, ainda vimos como uma serie de países prestaram vassalagem ao governo americano ao não autorizarem a passagem do avião de Evo Morales, presidente da Bolívia.

 

Haja gente com capacidade de indignação no mundo... e haja mulheres com eles no sitio para mostrarem  a quem se acha acima da jsutiça e do resto do mundo  que há limites para a falta de respeito. Bem haja Presidente  Dilma Rouseff.

 

Vídeo do Discurso da presidente do Brasil:

 

 

Jorge Soares

publicado às 21:15

António Ramos Rosa - A Festa do silêncio

por Jorge Soares, em 23.09.13

A Festa do silêncio

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Escuto na palavra a festa do silêncio. 
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. 
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas. 
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas. 
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma. 

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia, 
o ar prolonga. A brancura é o caminho. 
Surpresa e não surpresa: a simples respiração. 
Relações, variações, nada mais. Nada se cria. 
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça. 

Nada é inacessível no silêncio ou no poema. 
É aqui a abóbada transparente, o vento principia. 
No centro do dia há uma fonte de água clara. 
Se digo árvore a árvore em mim respira. 
Vivo na delícia nua da inocência aberta. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"



Canoas à espera na barrgaem de Montargil

Junho de 2010


Post publicado inicialmente no Momentos e Olhares em Dezembro de 2010

 

Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, António Ramos Rosa morreu esta segunda-feira aos 88 anos.


Há pessoas cujas palavras nunca morrerão


Jorge Soares

publicado às 22:12

Consegue o ministro Crato fazer cumprir a lei?

por Jorge Soares, em 22.09.13

Escola

 

Imagem do Público

 

 

A Lei nº 85/2009 diz que "a escolaridade obrigatória implica, para o encarregado de educação, o dever de proceder à matrícula do seu educando em escolas da rede pública, da rede particular e cooperativa ou em instituições de educação e ou formação reconhecidas pelas entidades competentes, determinando para o aluno o dever de frequência"

 

Não sou jurista nem li evidentemente toda a lei, mas se o estado diz que eu sou obrigado a colocar os meus filhos na escola entre os seis e os 18 anos, imagino que o mesmo estado se encarregará de fornecer as condições para que isso seja possivel, nomeadamente garantindo que existem escolas suficientes e com as condições adequadas para que a lei se possa cumprir e eu não entre em incumprimento.

 

Ora, o que acontece quando as escolas se recusam a a receber as crianças porque alegam que não tem nem funcionários nem condições para que elas as possam frequantar?

 

Segundo a  Confederação Nacional Independente de Associações de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), foi isso que aconteceu esta semana em pelo menos em duas escolas do país, uma em Cinfães  e outra em Santa Cruz da Trapa, São Pedro do Sul. Nos dois casos as escolas pediram a pais manterem os seus filhos em casa por não reunirem condições para os receber.


Todos lemos ou ouvimos que o Ministro da educação Nuno Crato disse que o periodo escolar se iniciou dentro da normalidade, normal seria que todas as escolas tivessem todos os professores colocados, que todas tivessem os funcionários suficientes, que todas tivessem garantidas as condições de segurança e que todas as crianças pudessem ir à escola.


Parece que o senhor ministro vive noutro país qualquer, um país onde não há turmas sobredimensionadas e onde o ministério da educação consegue fazer cumprir a lei, um país onde em lugar de andarmos o tempo todo preocupados com o défice e os mercados há quem se preocupe com a educação e o bem estar das crianças... o que pelos vistos por cá parece muito dificil.


Jorge Soares

publicado às 22:58

Conto - As meninas do viaduto

por Jorge Soares, em 21.09.13
As meninas do viaduto

Nem sei quantas noites faz que o farol do meu carro bate nos mesmos corpos  franzinos das meninas do viaduto. Há muitos anos, faço sempre este caminho para casa, todas as noites. Vou enxergando as silhuetas magras, quase  desnutridas, que  se  destacam na imundície da calçada. Sempre juntas, como pombas em bando, seriam meninas não fosse o sexo que já carregam rompido entre as perninhas malfeitas. Uma come pirulito, toda noite; outra, aninha uma boneca no colo. Duas, mais novinhas, vivem abraçadas, mesmo com tempo quente. Todo ano, percebo  que  algumas sumiram, algumas pintaram o cabelo, outras deixaram  de  sorrir.  Já  encontrei uma delas, moça feita, disputando o ponto com um travesti numa rua de comércio. Reconheci por um defeito no braço.

Observo o cafetão que não trabalha. Sentado na grama, ao lado de uma mulher  adulta, vigia disfarçadamente as meninas e, quando a polícia passa, finge ser o pai de uma família necessitada. A polícia também finge.

Do sinal fechado, eu fico vendo que, de tempos em tempos, uma das mais velhas vai lá e entrega ao homem um monte de notas miúdas. Depois, volta para tomar conta das outras. Descobri que essa menina mais velha é poupada dos programas. Só vai se o cliente exigir. Sua obrigação é fazer com que as menores  trabalhem. Faz tempo também que eu percebi que o pirulito serve para amansar o choro. Já a rebeldia é impedida com porrada mesmo. Briga de meninas de rua: quem dá bola?

Meu carro não desperta interesse. As unhas pintadas e os requebros caricatos se assanham somente para os homens. Qualquer um. Uns meses atrás, dei um flagrante. Só vi a mão chamando da janela de um carro, balançando a ponta de uma nota de R$10,00. A menina entrou no veículo rapidamente e eu não tive tempo de ver mais nada.

Semana passada, parei pra conversar com elas. Fiquei com medo do cafetão, mas segui a regra: paguei adiantado com uma nota de R$20,00. Nas minhas contas, dava para dois programas. Depois que o dinheiro trocou de mãos, ele nem se preocupou mais em saber o que eu queria. A regra é simples: a pequena recebe, a maiorzinha recolhe. Daí, a pequena entra no carro. É tudo num piscar de olhos. O carro fica parado, de faróis apagados, e ninguém que passe por ali tem coragem ou interesse de olhar lá dentro.

De perto, elas são ainda mais novas. Meu carro ficou com cheiro de álcool barato e de uma outra coisa que não identifiquei. Talvez thinner, talvez outro solvente. E antes que eu pudesse lhe dizer que só estava ali para saber da vida dela, fui avisada: 

— Tu não pode me apertá com força, nem batê. Pode mexer aqui em cima, ó... Mas  lá  em baixo tu só pode oiá. Se eu gritá o tio vem atrás de tu, viu?

Não tinha mais criança ali. 

De  repente, me deu vergonha de alguém me ver com aquela menina no carro. Todo o mundo sabe o que fazem os carros que param e apagam os faróis. Eu sei.

— Vai ficá aí me espiano, é, tia? Se não andá logo o tempo acaba. 

Antes do tempo acabar, meu estômago embrulhou. A maiorzinha chegou de novo perto do carro e eu estiquei a mão pra fora com outra nota de R$20,00. Não dava pra ir embora antes de saber se ainda tinha alguma coisa inviolada na menina. Nada. Dela só arranquei que queria crescer pra trabalhar numa boate e dançar em cima de um palco em forma de queijo, com um mastro pra agarrar com as pernas e ficar rodando, de biquíni prateado, bota e peito de fora. Queria ganhar um dinheiro só pra ela.

As meninas não chegam nem perto dos dez reais de cada programa. Ganham balinhas, bonecas baratas e uma noite de sono tardia numa cama de barraco. Isso se não for noite de o cafetão aparecer pra “conferir a mercadoria”.

Quando levantei a mão para afagar o cabelo da pequena, me lembrei que qualquer  gesto seria  mal-interpretado como uma  carícia  sexual. Parei a mão no ar e comecei novamente a sentir ânsia. Não tem coisa que me deixe mais impotente do que uma criança corrompida. 

— Tu não é cana que eu sei... Mas tu deve ser dessas muié que qué tirá a gente da rua, né?

Quem dera! Parei no ponto delas por curiosidade. Para fingir que me importo. Para ser diferente de quem passa e vai embora. 

Depois disso, me afastei do viaduto das meninas por várias semanas. Mas acabei voltando, porque continua a ser o caminho mais curto até em casa. A  cada  vez  que  o  sinal  fica  vermelho,  o  cafetão  se  levanta  e  fica  me  encarando  até  eu  ir  embora.  Não  sei  por  quê.  Eu continuo inútil.

(Esta crônica faz parte do meu livro "Do todo que me cerca", lançado em 2012 pela Editora Patuá, São Paulo, Brasil)

 

Cinthia Kriemler


Retirado de Samizdat

publicado às 21:08

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