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#pl118, a lei da cópia privada, episódio 3

por Jorge Soares, em 30.07.14

Diga não à lei da Cópia privada

 

Primeiro foi o PS, depois foi este governo há pouco mais de um ano, das duas vezes a enorme discussão que se gerou à sua volta fez com que o projecto de lei fosse engavetado e quem o propôs saiu de cena de fininho. Agora voltou a aparecer basicamente a mesma coisa... como a coisa é a mesma e os argumentos até são os mesmos, deixo aqui o que escrevi da primeira vez em que se falo disto:

 

Basicamente do que se está a falar é que a partir de agora, todos nós independentemente  de consumirmos ou não artigos digitais (música, filmes, séries, etc), vamos passar a pagar direitos de autor. Cada vez que compramos um computador, uma pen, um disco externo ou interno para o computador, um telemóvel, um ipad, um cartão de memória para a máquina fotográfica, qualquer coisa que sirva para armazenar bytes, uma parte do que estamos a pagar, vai para os direitos de autor.

 

Se pensarmos bem, isto nem é nada de novo, afinal Portugal é aquele país em que qualquer contador de electricidade paga uma taxa de radiodifusão tenha ou não ligado a ele um rádio... imagino que a seguir, e como nas pessoas deixaram de andar nas  ex scuts, vão acabar com as portagens e passar a incluir um valor no preço de cada pneu que se venda, para que todos paguemos as auto-estradas... assim de repente é a mesma coisa.

 

É claro que eu não tenho nada contra a existência dos direitos de autor, a cultura só existe porque há pessoas com a capacidade criativa suficiente para converter ideias em obras de arte e essa capacidade deve ser recompensada, o que não me parece justo é que se tente resolver o problema criando uma lei cega em que todos pagamos independentemente de consumirmos ou não as obras taxadas.

 

Porque tem que pagar a empresa em que eu trabalho um valor para os direitos de autor se quando compra um servidor e/ou discos estes nunca serão utilizados para armazenar o que quer que seja sujeito a direitos  e sim a informação de gestão da empresa? porque tenho que pagar direitos de autor quando compro um cartão de memória para a minha máquina fotográfica se o autor das fotografias sou eu?, será que posso ir a algum lado buscar a minha parte dos direitos de autor?.. é claro que não, eu só tenho direito a pagar. 

 

Evidentemente o que vai acontecer é que vão subir os preços de tudo o que é material informático, o segundo efeito imediato, é que eu, que tal como tinha dito aqui até achava que fazer downloads piratas era crime, vou-me sentir legitimado para passar a sacar músicas e filmes da net como faz a maioria, afinal, eu até já paguei os direitos de autor..

 

Jorge Soares

publicado às 17:45

Quem faz as guerras?

por Jorge Soares, em 28.07.14

http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/quem-faz-as-guerras-594899

Imagem de aqui

 

 

A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram."
Paul Valéry

 

A imagem acima, como muitas outras que mostram momentos de paz e amor entre israelitas e palestinianos andou o dia todo a circular pelo facebook e restantes redes sociais, por momentos parece que a guerra é só um assunto de políticos e militares, se pelos povos fosse não havia guerra....  é bonito sim senhor, mas estará sequer perto da realidade?

 

Em duas semanas chegou-se ao milhar de mortos, principalmente do lado palesteniano em que há todo um povo que para além de mais, não tem muito para onde fugir e que dificilmente poderá escapar à violência desatada.

 

A verdade é que os políticos, quem manda e faz a guerra, foram eleitos pelos mesmos povos que agora sofrem de um e outro lado as consequências do ódio e da raiva convertida em guerra sem quartel e sem tréguas.

 

Para muita gente o Hamas é só mais um grupo de terroristas, para uma grande parte dos palestinianos o Hamas é o depositário da última esperança de que alguma vez todo um povo possa voltar às suas casas e às suas terras de onde foram expulsos há três ou quatro gerações... há quem depois destes anos todos continue a guardar as chaves das suas casas há muito ocupadas ou destruidas pelos israelitas que agoram por lá vivem.

 

O governo de direita de Israel, liderado por Shimon Peres foi eleito democraticamente, nunca escondeu qual era a sua orientação com respeito aos territórios ocupados pelos palestinianos e esta politica terá sido mesmo um dos principais factores que o  levou ao poder.

 

Há evidentemente quem queira a paz de um e de outro lado, mas duvido que alguma dessas pessoas admita uma paz com base na cedência de aquilo que para eles é um direito que nem admite discussão, muito menos a cedência nem que seja num milímetro.

 

Quem faz a guerra são os políticos e os militares, por trás deles há todo um mar de interesses instalados, mas por trás desta guerra há sem dúvida dois povos que de forma directa ou indirecta, também a escolheram... por muito que agora o tentem disfarçar por trás de bonitas e românticas imagens de amor e amizade.

 

Jorge Soares

publicado às 21:53

A estupidez não é deficiência

 

Imagem de As coisas do mundo 

 

É uma daquelas coisas que me deixa irritado, mesmo, tanto que andava à espera da oportunidade para falar aqui do assunto... foi hoje.

 

Foi por volta da hora do Almoço no Pingo Doce da Luísa Tody em Setúbal, feitas as compras e arrumadas na mala do carro, enquanto esperava que a minha meia laranja arrumasse o carrinho vazio, reparei como uma senhora após alguma indecisão e troca de ideias com quem ia ao lado, decide estacionar o carro no lugar reservado a deficientes que fica mesmo ao lado da entrada na loja.

 

Puxei do telemóvel e preparei-me para tirar uma fotografia para ilustrar o post, entre o pegar no telemóvel, desbloquear e encontrar o botão certo para disparar, já ela não estava ao lado do carro e até terminei por não tirar a fotografia. Entretanto a senhora e a sua acompanhante, que evidentemente não mostravam sinais de qualquer deficiência física e que até já tinham entrado na loja, foram avisadas por alguém do que eu estava a fazer.

 

Ela voltou para trás e o diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:

 

- O senhor estava a tirar uma fotografia ao meu carro?

- Por acaso estava.

- Então espere aí que eu vou tirar o carro dali e já conversamos.

 

Reparem, havia montes de lugares vagos no parque e ela sabia isso e também sabia que não podia estacionar ali, resta saber se teria retirado o carro se eu tivesse dito que não tinha tirado a fotografia. Foi estacionar a cinco metros dali e voltou cheia de genica.

 

- O senhor estava a tirar fotografias ao meu carro, tem que as apagar, se elas aparecerem em algum lugar eu meto-lhe um processo.

- A senhora é deficiente?

- Não, não sou, mas o senhor não pode tirar fotografias ao meu carro.

- Se não é deficiente sabe que não pode estacionar ali, além de uma questão legal, é uma questão de civismo.

- Eu meto-lhe um processo!

- Minha senhora, chame a policia que a gente resolve já o assunto da denuncia.

- O senhor não tem nada de fazer isso!

- E a senhora sabe perfeitamente que não pode estacionar ali!

- Olhe, o seu problema é falta de sexo, vá dar uma volta que isso passa!

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- Pois, falta de sexo, arranje mulher que isso passa!

- No seu caso é falta de civismo mesmo, ou isso ou a senhora é deficiente mental e por isso estaciona ali.

 

Entretanto a senhora voltou para dentro da loja e eu continuei à espera da minha meia laranja.

 

Passado um minuto voltou, acompanhada do segurança da loja... achei aquilo tão surreal que passei a cancela do parque e parei, só para ouvir o que me ia dizer o segurança.

 

- Está aqui o segurança da loja, ele quer falar consigo.

- Então diga lá??!!

- O parque tem câmaras de vigilância e o senhor tirou fotografias

- Sim tirei, porque a senhora estacionou no lugar de deficientes e isso além de ilegal é uma enorme falta de civismo, o senhor quer o quê de mim?

- Eu nada, só vim porque a senhora me chamou 

 

Entretanto a senhora não se calava e continuava com a ladainha de que eu não podia tirar fotografias...  o vigilante ameaçou com chamar o gerente da loja e eu pedi que chamasse também a policia, como aquilo não nos ia levar a lado nenhum, meti-me no carro e vim-me embora, mas depois fiquei a pensar que devia ter esperado pelo gerente da loja, sempre ficava a saber qual era a posição do Pingo Doce sobre clientes que estacionam nos lugares reservados a deficientes mesmo quando há muitos lugares vagos no resto do parque de estacionamento.

 

Infelizmente em centros comerciais ou em qualquer outro parque de estacionamento, os lugares reservados a deficientes raramente estão livres, há muita gente que prefere estacionar ali que caminhar mais meia dúzia de metros, mesmo quando o parque é pequeno como acontece no Pingo Doce de Setúbal.

 

A senhora do caso que conto, para além de uma enorme falta de civismo tinha muita falta de educação e a julgar pela quantidade de vezes que ela repetiu a palavra sexo, das duas uma, ou se estava a oferecer, ou estava ela com muitíssima fome.

 

Evidentemente não podemos todos ser policias uns dos outros, mas há coisas que puxam pelo meu mau feitio,  tal como no caso dos cãezinhos  de que já aqui falei (ver aqui), se calhar se todos reagíssemos aos abusos viveríamos num mundo muito melhor e com mais civismo.

 

Jorge Soares

publicado às 21:38

Conto - O anjo purificador

por Jorge Soares, em 26.07.14
O anjo Purificador Paula Rego
A mulher esperou, encoberta, que Abílio saísse, antes de subir as escadas para o estúdio e tocar. Lucília veio abrir, convencida de que o modelo, que já não ia para novo, se esquecera de algo, mas não; era Judite, uma sua ex-empregada doméstica, que ultimamente usara como modelo, e que já não via há uns quatro meses.
– Entra, Judite – convidou, sem reparar no olhar duro da mulher. – Estava a ver que já não me vinhas visitar.
– Olá, Dona Lucília – respondeu Judite, fria. – O que cá me traz é do seu máximo interesse e agradecia que me ouvisse com atenção.
– Que se passa, Judite?, não me assustes! Senta-te.
Contornaram uma grande tela, num cavalete a meio da divisão, em que se podia ver Abílio, de kilt e olhar sério, meio pintado, reclinado num sofá. No sofá verdadeiro se sentou a pintora. Judite manteve-se de pé, em atitude decidida.
– O que se passa, Dona Lucília, é que a senhora tem ganho bom dinheiro à minha custa e eu continuo pobre como dantes – disparou a mulher, de olhar alterado. – A senhora usou-me para as suas pinturas, ganhou milhares de contos com elas, e eu não tenho sequer uma casa minha.
– Ó, Judite – estranhou a pintora – eu não te reconheço; o que se passa?
– Ainda bem que não me reconhece, que eu não sou a mesma. Acabou-se a boazinha que ficava horas e horas, feita parva, em posições ridículas, a fazer de urso, ou de galinha – que agora as pessoas até se riem – e a senhora na lua, a olhar para anteontem. E, no fim do mês o que é que eu via? – uns reles contos a mais. Eu já não tenho idade para continuar a trabalhar. Quero a minha reforma!
– Reforma, como, Judite? Não sou eu que dou as reformas. Sempre fiz os descontos a que tinhas direito. Se lá fores, lá devem estar na Segurança Social.
– Eles dizem que ainda me faltam doze anos para pedir a reforma. Ora, eu não aguento mais. Eu vou ser muito direta, Dona Lucília; ou a senhora me dá vinte mil contos por estes dias, ou o patrão vai ficar a saber que a senhora anda enrolada com o Abílio. Tenho os mails todos, sabe? Tanto os que a senhora envia, como os que recebe. Levei a password da sua caixa de correio e fiz cópias de ecrã de todos. Agora, a senhora escolha; quer continuar a sua boa vida de sonsa, com menos uns trocos, ou quer ver como acaba o seu casamento?
– Eu não te mereço isto, Judite! Como podes? – desapontava-se Lucília. – Depois de tudo o que fiz por ti, que eras uma rústica… E que história é essa do Abílio? Enrolada? Tu não estás bem. O Abílio é um bom amigo e um bom modelo, tal qual como tu. Só isso!
– Sim, sim! Pensa que eu não via o seu olhar a lambê-lo de alto a baixo? Depois, quando li os mails, descobri tudo. Agora está tramada, minha santa!
– Estás louca, mulher! Nunca hás de perceber um artista. O pintor olha, com olhos de ver. Mira, sim, completa e exaustivamente o corpo do seu modelo. Conhece-lhe cada centímetro, melhor que ele próprio. E, às vezes, perturba-se, que a intimidade a tanto chega! Sempre se falou da relação ambígua entre pintores e modelos: já ouviste falar em Balthus? Às vezes, mais explícita que ambígua – Rodin, Toulouse-Lautrec… Mas isso, que te interessa!?; pareceu-te ver luxúria onde havia apreensão estética. E isso dos mails, nem quero tentar perceber que bizarros enredos de alcova engendraste. Só te digo que leste mal. E a desfaçatez de entrares na minha caixa de correio. Que cabra me saíste!
– Não adianta negar, Dona. O Senhor Jorge vai perceber muito bem o que lá está escrito. Por isso, pense bem.
– Não percebes nada, mulher! – impacientava-se a artista. – Vieste lá das berças e pensas que este mundo tem alguma coisa que ver com o teu. Isto não é um romance do Eça de Queiroz. Aqui não há primos sabidos, nem eu sou uma cândida esposa imatura. Convence-te, Judite, o mundo dos artistas é mais solto, mais liberal. Também não gostamos de ser preteridos, às vezes choramos, mas não entendemos os maridos e as mulheres como propriedade, nem lhes limitamos demasiado a liberdade. Mas sempre com transparência. Já estive com outros homens, sim, mas o Jorge foi sempre o primeiro a saber. E ele também já teve os seus arrebatamentos. Chegou a viver lá em casa uma de quem ele gostava muito. Depois de algum tempo, como eu previa, acabou-se a chama, e ela foi-se embora. Não ando com o meu modelo, mas se andasse, o Jorge estaria ao corrente. Percebes, Judite? Agora, vai-te embora, que não me apetece olhar para ti.
Antes de sair e bater com a porta, Judite, visivelmente confusa, ainda articulou, sem convicção:
– Se é assim que quer, assim terá! Vaca!
Dois dias depois, Judite voltou.
– Que queres, Judite? – perguntou Lucília, segurando a porta, ao ver o olhar injetado da outra.
Esta empurrou Lucília e entrou, fechando a porta sem olhar para trás. Depois, retirou da malinha uma faca de cozinha e apontou-a à ex-patroa:
– Não te vais livrar assim! Deste-me a volta, deram-me a volta, cambada de badalhocos, mas eu não vou desistir. Se não dás a bem, dás a mal – vociferava a ex-chantagista convertida à extorsão.
A pintora hesitou por um momento, ao ver a faca no braço em riste da outra. Depois, recuou calmamente, de olhar perscrutador. Quem a visse a avaliar a agressora, não demonstrando medo, antes curiosidade, suspeitaria de alguma quebra momentânea de siso, provocada pela situação traumática. Também Judite pareceu surpreendida com a reação da ex-patroa. Mantinha-se parada a três passos de Lucília, faca levantada, atitude expectante. Foi a pintora que quebrou a rigidez da composição:
– Judite, escuta, se me agredires, estragas a tua vida. Vais presa, deixas de estar com o teu filho. Deves estar desesperada para fazer isto. Posso ajudar-te, mas não da maneira que dizes.
– Quero o meu dinheiro! – insistia Judite.
– Ouve, estou-te reconhecida pelos trabalhos que fizeste para mim, não o esqueço. As minhas pinturas vendem-se por muito dinheiro? Nem sempre foi assim. Mesmo então, cumpri o combinado com os meus modelos; paguei sempre no dia certo, não foi? Também um construtor vende os prédios por muito dinheiro, e não é por isso que o pedreiro muda de carro. Às vezes, lá tem um prémio pelo Natal. Queres comparticipação? Vamos fazer o seguinte: posas para mim com essa faca, nessa atitude. Interioriza-a bem: zangada, ressentida, vingativa. Gostei da imagem, é forte. Acho que dá para uma nova série de pastéis. Pago-te o mesmo que te pagava, mas, além disso, quando as obras se venderem, recebes uns três por cento do que eu receber. Parece-te bem?
Judite estava confusa e indecisa. Tentava calcular quantos contos representariam três por cento de, talvez, duzentos mil euros, depois de deduzida a parte da galeria. Nesse momento, ouviu-se uma chave a rodar na fechadura e Abílio entrou. Surpreendido por ver Judite de faca na mão e face afogueada, indagou, em prontidão:
– Há algum problema?
– Não, Abílio, entra! – contemporizou a pintora. – A Judite veio outra vez visitar-me e combinámos uma nova série de telas com anjos justiceiros femininos – uma mistura de Arcanjo São Miguel e empregada doméstica: numa mão, a espada; na outra, o pano do pó. Vou-me rir com as interpretações que a crítica vai fazer.

 

Joaquim Bispo

Retirado de Samizdat

publicado às 21:22

Ricardo Salgado e a Justiça à Portuguesa

por Jorge Soares, em 24.07.14

Ricardo Salgado

 

 

Imagem do Público 

 

A  detenção de Ricardo Salgado foi noticia em pelo menos dois dos principais jornais espanhóis online e imagino que terá tido eco em muitas outras publicações pelo mundo inteiro. Não é todos os dias que ouvimos falar da detenção de um banqueiro e muito menos de um que até chegou a ser convidado a comparecer em conselhos de ministros.

 

Não sou dos que acham que todos os banqueiros são ladrões, os bancos existem porque o mundo precisa deles, são um negócio e os negócios existem para servir quem deles precisa e para dar lucro a quem teve a capacidade de os montar. É claro que os bancos e quem os dirige tiveram a sua quota parte de culpa na crise, tal como a tiveram os políticos e até todos nós que os elegemos.

 

Ricardo Salgado era até há uns dias atrás uma figura poderosa, havia (há?) muita gente a depender dele ou pelo menos do dinheiro que estava ao seu alcance, da politica ao futebol passando pela industria, muito poucos dos poderosos deste país não tinham ligações mais ou menos próximas ao BES e/ou à família Espírito Santo.

 

Hoje o senhor foi detido, interrogado durante horas e teve que pagar a módica quantia de 3 milhões de Euros para poder preparar a sua defesa em liberdade. Curiosamente a sua detenção estará relacionada com o caso Monte Branco, caso pelo qual já tinha sido investigado e na altura ilibado.

 

Imagino que o descalabro do grupo Espírito Santo terá deixado à vista muito lixo que estava escondido debaixo dos tapetes financeiros, mas ficamos sempre a  pensar, o que terá mudado desde a altura em que se concluiu que o senhor era inocente até agora?

 

Poderão ter mudado muitas coisas, mas uma é evidente, Ricardo salgado deixou de ser "o gajo que manda nisto tudo", o banqueiro que até aparecia nos conselhos de ministros, no momento em que se percebeu que o GES era um gigante com pés de barro Ricardo Salgado passou a ser um cidadão comum e até passou a poder ser preso.

 

Eu sei que entre outros Daniel Oliveira já fez esta pergunta, é uma pergunta que nos fazemos todos, com os mesmos indícios que se conhecem agora, Ricardo Salgado teria sido detido e sujeito a uma caução de 3 milhões de Euros há dois ou três meses atrás? Eu quero na justiça portuguesa e portanto quero acreditar que sim.... mas também sei que sou muitas vezes sou lírico.

 

Esperemos é que a justiça à portuguesa não apareça de novo e a montanha não dê em mais um rato do tamanho do que deu com os senhores do BPN.

 

Jorge Soares

publicado às 23:35

Anas

 

 

Imagem do Facebook

 

Num comentário ao Post de ontem (Ver Aqui) alguém me acusava de ser Anti Judeu, está enganado, não sou anti Judeu, nem pró palestiniano, sou sim contra a violência, sou sim contra as injustiças e sou contra quem não tem memória histórica e faz aos outros o que não gostou para si, e sou contra todos os responsáveis, de um e outro lado, pelas mais de 600 mortes que já aconteceram desde que começou a escalada de violência na Faixa de Gaza

 

 

Jorge Soares

publicado às 20:46

O que ganha Israel com tudo isto?

por Jorge Soares, em 22.07.14

Gaza

 

As imagens que nos entram pela casa dentro são aterradoras: pânico, morte, destruição, bairros inteiros destruídos, escolas e  hospitais atacados por tanques de guerra, centenas de mortos, milhares de feridos, milhares e milhares de pessoas em fuga... Pessoas que para além demais não tem para onde fugir, o que era o seu país é neste momento o Estado de Israel e o que resta da Palestina está a pouco e pouco a ser destruído e anexado pelo Exército israelita.

 

Todos sabemos, porque faz parte da história antiga e da moderna, como tudo isto começou, não sei  nem quero saber se a culpa deste novo capítulo que se está a escrever com sangue e morte é do Hamas ou do exército israelita, sei que todo este ódio e violência não levam a lado nenhum, só geram mais ódio que por sua vez irá algures no futuro gerar mais violência e sinceramente não consigo perceber o que ganha Israel com tudo isto.

 

O que a simples vista me quer parecer é que durante todos os séculos em que viveu sem pátria e disperso pelo mundo, o povo judeu aprendeu muito pouco sobre humanidade, só alguém que não tem memória e consciência do seu passado pode pretender para outros povos o que de muito mal lhe aconteceu a si no passado.

 

Para além do ódio a condenação e o desprezo de muita gente, o que ganha Israel com toda esta violência desatada?

 

Jorge Soares

 

Vídeo: Trying to survive on deserted streets of Gaza - BBC News

 

 

publicado às 22:33

Catarina Marcelino e o Facebook

 

 

Imagem algures do Facebook

 

Confesso, nunca tinha ouvido falar da senhora deputada Catarina Marcelino, apesar de que ela até foi eleita pelo distrito de Setúbal, são os defeitos do nosso sistema eleitoral.

 

A imagem acima andou o dia todo a rondar pelo Facebook, não dei grande importância, eu escrevo com erros no Facebook, escrevo muitas vezes com erros no mail e nos dias em que estou a despachar e o corrector do Sapo não anda nos seus dias, dou erros aqui no Blog... Ao fim do dia fiquei intrigado com o insistir da coisa e fui ver o porquê de tanto barulho.... fiquei esclarecido quando percebi que Catarina Marcelino é deputada, é do PS e é apoiante de António Costa.

 

São estes os perigos do Facebook, quando eu apesar dos avisos do browser escrevo um erro no Facebook, haverá uma ou duas pessoas que esboçam um sorriso, às vezes há uma ou outra alma caridosa que me avisa (muito obrigado) dos erros que escapam ao dicionário do SAPO, mas a coisa não passa a mais, eu não sou deputado nem figura pública e poucos se importam se depois de todos estes anos ainda meto palavras em castelhano pelo meio dos textos.

 

Quando se é figura pública e se escreve um texto como o que vemos acima, evidentemente a coisa não pode passar em claro e vai haver muita gente que se vai aproveitar da situação.

 

A senhora deputada esclarece num post do seu Facebook, que diga-se de passagem também tem alguns erros, que sofre de dislexia... eu tenho um filho disléxico, entendo as dificuldades na escrita de Catarina Marcelino, o que já não entendo é que tendo ela consciência dessas dificuldades e sabendo que tudo o que publicar será analisado por quem não gosta dela, não tenha o cuidado de passar por um corrector ortográfico o que coloca na internet. A maioria dos browsers tem verificação automática e sublinha a vermelho os erros ortográficos, se não tem esta opção activa, sendo disléxica deveria ter.

 

Evidentemente a dislexia e as dificuldades em escrever correctamente não impedem ninguém de ser deputado e de fazer um bom trabalho na representação de quem a elegeu, mas neste caso a dislexia não explica tudo. A Catarina Marcelino foi neste caso vitima, para além da doença,  da sua falta de cuidado e dos perigos do Facebook.

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:32

Trabalho infantil

 

Imagem de aqui

 

Se não podes vencê-los, une-te a eles, deve ter sido este o pensamento de Evo Morales e dos deputados Bolivianos que aprovaram uma lei que permite o trabalho infantil a partir dos 10 anos de idade.

 

O trabalho infantil é uma realidade na Bolívia, há mais de 500 000 crianças que trabalham nos mais variados sectores da economia, desde o a economia informal até ao duro trabalho nas profundezas das minas. A anterior lei que regulava as condições de trabalho no país só permitia o emprego de crianças a partir dos 14 anos, a que acaba de ser aprovada pelo parlamento boliviano e promulgada pelo vice presidente Alvaro García, baixou a idade legal para se trabalhar  para os 10 anos sobe o pretexto que esta lei se adequa mais à realidade do país (??).

 

Ou seja, como não conseguem combater a precariedade e a realidade de haver crianças a trabalhar à vista de todos, a solução não é fazer aplicar a lei, a solução é inventar uma lei que torne o ilegal em legal.

 

A Bolívia é certamente um dos países mais pobres da América Latina, 55% da população é de origem indígena e Evo Morales, que é o primeiro e único presidente da América Latina que não é descendente de Europeus e sim dos aborigenes que viviam no país antes da chegada de Colombo à América, foi eleito principalmente com os votos desta parte da população. Uma das suas primeiras afirmações após tomar posse foi: "Os 500 anos de colonialismo terminaram e a era da autonomia já começou."

 

Para quem tem uma ideia do nível de vida da maior parte da população boliviana, esta afirmação faz algum sentido, mas a julgar por leis como esta que acaba de ser aprovada, ou como aquela ideia de fazer girar os relógios ao contrário de que falei aqui, não sei se Evo e os governantes bolivianos fazem ideia do que é o melhor para os seus concidadãos, alguém me explica de que forma  estas medidas podem contribuir para melhorar o nível de vida da população do país, seja esta nativa ou descendente de europeus?.

 

Um país só se começa a mudar com a educação do seu povo, afastar as crianças da escola para que estas comecem a trabalhar aos 10 anos de idade não me parece que vá contribuir minimamente para dar um melhor futuro nem às crianças nem ao país. 

 

E o mundo olha para o lado e finge que no pasa nada!

 

Para quem percebe Castellano:

 

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:54

Conto - A minha avó lia Nietzsche

por Jorge Soares, em 19.07.14
cartas

 

Toco a campainha. Gesto ridículo. Costume. Entrar na casa da avó sempre foi um ritual. Tocar, esperar que seus passos lentos  equilibrassem o corpo magro e velho em direção à porta, escutar os quatro ou cinco cliques das chaves e cadeados feitos para impedir algum bandido de forçar a entrada para roubar móveis antigos e bibelôs saudosistas. Bolo de cenoura ou de milho, café passado na hora, manteiga de verdade, pães fresquinhos.
Coloco no chão as caixas de papelão que trouxe desmontadas e começo a testar as chaves nas trancas, bem devagar. Tão devagar que desperto os olhares do homem no fim do corredor de portas iguais. Ele entra indeciso no elevador, imaginando se sou a nova inquilina ou uma ladra bem vestida.
Estou dentro. O corpo retesado procurando fantasmas. Das minhas narinas sai um vento quente e rápido que conheço de sobra. Desde o meu divórcio tumultuado que é assim. Passei meses hiperventilando por qualquer besteira que me causasse ansiedade. E tudo me causava ansiedade. Até que a avó me viu em plena crise. Abriu a gaveta do móvel da cozinha e tirou de lá um saquinho marrom de papel, desses de padaria. Põe na boca, depois inspira e solta o ar dentro do saco, ela me disse. Recusei a oferta. Anda, ela insistiu, faz o que eu estou dizendo. Fiz. Parei de ficar tonta. E melhorei ainda mais um ano depois, após começar a terapia. Mas o artifício dos saquinhos carreguei comigo. Dentro da bolsa. Até hoje, em qualquer lugar, quando sinto que a respiração começa a descompassar, é só me afastar para um canto e soprar.
Os pelos do gato ainda estão nas almofadas. Talvez eu deva levar todas elas para casa, agora que Oscar Wilde está morando comigo. Ele vai gostar. Gato estranho. Desde que saiu daqui, parou de miar. O veterinário me diz para esperar, porque os gatos são avessos às perdas. Como as pessoas. Mas eu acho que ele não mia de pirraça. Não gostou de se mudar.
Quantos livros. Vou encaixotar e mandar tudo para uma biblioteca. Nada disso me interessa. Coleções encadernadas de receitas, atlas, dicionários. Romances antigos de M. Delly que pertencem à minha mãe, constato pela assinatura nas folhas de rosto. Biblioteca das Moças é o nome da coleção. Um mundo condicionante de felicidade para jovens bem comportadas. 
Interessante. Nas prateleiras mais altas, Byron, Lorca, Flaubert, Balzac. Bela safra. Edições originais misturadas a livros traduzidos. São da avó, com certeza. Meu avô só lia jornais e novelas policiais. É uma estante ambígua. Definitivamente, ambígua. 
Vou montar mais uma caixa. Ainda faltam os livros da última prateleira. Deve ter uns vinte lá em cima. O que não tem é escada. Levei para casa junto com o gato. Tudo bem. O cabo do rodo resolve. Só tenho que cutucar. E aí vem o primeiro. A Gaia Ciência. Nietzsche...? A avó lia Nietzsche? Talvez tenha sido presente de alguém. Uma folheada e vejo as expressões "Deus está morto" circuladas a lápis. São três. No rodapé de uma das páginas, escrita com a letra miúda e desenhada da avó, a anotação: "declarar a morte é reconhecer a existência?", seguida de outras duas que não consigo ler. Em outra página, há uma frase inteira marcada: "Há qualquer coisa de estupidificante e monstruoso na educação das mulheres da alta sociedade, talvez nada mais haja tão paradoxal. Todos estão de acordo em educá-las numa ignorância extrema das coisas do amor...". 
Além dos comentários em Nietzsche, há expressões grifadas e questionamentos anotados em Sartre, Beauvoir, Camus. Desconcertantes. Como a mulher que os escreveu.
Finalmente, o último livro da prateleira vem para as minhas mãos. A capa amarrada por uma fita estreita chama a atenção. Cartas a um jovem poeta. Rilke subjugado, sequestrado, preso em seu próprio livro é um pensamento idiota. Mas é tudo o que me vem à cabeça. Desfaço o laço empoeirado e quatro envelopes amarelados caem no meu colo. Eu me pergunto se devo ler; se quero ler. Mas meu constrangimento não resiste ao argumento conveniente de que as fatalidades não devem ser desprezadas.
No primeiro deles, uma carta que me parece em escrita lusitana. José de Arimatéia Sobrinho é o remetente. O texto é curto. A despedida magoada e piegas de um amante ressentido. "Não te importunarei mais. A nossa história morrerá comigo. Eu só estou a cismar como há-de ser possível que consigas viver ao lado desse gajo que teu pai te escolheu para marido, porque eu sei que não és rapariga de aceitar cabrestos. Mas como tu mesma o disseste, isso não é da minha conta. Envio-te os retratos que pediste, e que tanta apreensão te causam."
Quem é esse homem? Que fotos são essas? A data na carta não deixa dúvida: a avó ainda era bem jovem quando a recebeu: Rio de Janeiro, 20 de Setembro de 1950. Foi escrita aqui mesmo e não vejo carimbo dos correios, o que me leva a crer que tenha sido entregue por um mensageiro ou por um amigo comum, cúmplice de histórias obscuras. 
No segundo envelope, a data da carta é anterior à primeira: Rio de Janeiro, 4 de junho de 1950. Talvez revele um pouco mais. Mas não. O tal José de Arimatéia pede desculpas por não ser um homem livre e declara-se apaixonado. Mais adiante, escreve um parágrafo de desprezo por Alberto Vargas, a quem se refere como "o marido de conveniência”.
Não, José de Arimatéia. Alberto Vargas não foi um marido de conveniência. Foi o meu avô amado. Que me dava escondido as balas e os chocolates que mamãe proibia. Que me ensinou a andar a cavalo, a jogar cartas, a gostar de viajar, a caminhar pela praia às seis da manhã. Que foi o único pai que eu tive, depois que o meu morreu tão cedo. Você, sim, é um oportunista, José de Arimatéia. E eu não gosto de você. Aliás, eu detesto você. 
O terceiro envelope não está sobrescritado. Dentro dele, um recorte de jornal, com data de 23 de setembro de 1950, mostrando o desfecho daquela história incompleta: "Fogo em Laranjeiras mata empresário português". Na matéria, a dúvida da polícia entre acidente e incêndio criminoso, seguida de uma declaração da mulher do morto e de uma breve  menção aos três filhos do casal. 
No último envelope, também não endereçado, quatro fotografias em preto e branco. E é você, avó, em cada uma delas. 
Você, exibindo os seios para o homem atrás da câmera. Você, de braços levantados, de pernas abertas, equilibrando o corpo despido sobre os saltos altos. Você e uma nudez descarada sobre a cama desfeita de um quarto qualquer. Você feliz. De uma felicidade que dá estocadas nos meus olhos. 
Você sabia que seria eu. Quem mais? Sabia que eu encontraria o seu segredo, e que as minhas narinas iriam respirar rapidamente em descompasso, e que eu precisaria usar de novo os saquinhos de papel marrons, e que eu vomitaria no banheiro o meu pudor oportunista. Porque somente eu viria aqui. Para levar o gato. Para esvaziar o apartamento. Para folhear seus livros. Para invadir a sua morte. Você sabia. E preparou a armadilha da fita amarrada. Só não me preparou para você.
Tenho que levar as almofadas para Oscar Wilde. Ele sente falta delas. Colocar em caixas separadas as roupas de cama, a louça, os bibelôs. Avisar à transportadora que pode vir buscar os móveis da sala, da cozinha, dos quartos. Levar comigo os quadros menores; a coleção de M. Delly que vou devolver à mamãe; a caixa com os existencialistas, que acabo de doar a mim mesma para poder ler com atenção cada anotação da avó.
Preciso de mais tempo para me decidir se vou rasgar estas fotos. Ou para me convencer de que isso já não faz diferença. Rasgada ou intacta no envelope amarelado, não importa, a avó dos bolos e da manteiga de verdade não é mais de verdade. Mas talvez a mulher nua das fotos seja. A mulher que esperou a morte para se apresentar honestamente a mim. 
Cinthia Kriemler
Retirado de Samizdat

publicado às 21:37

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