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“Antigamente, não havia senão noite e Deus pastoreava as estrelas no céu. Quando lhes dava mais alimento elas engordavam e a sua pança abarrotava de luz. Nesse tempo, todas as estrelas comiam, todas luziam de igual alegria. Os dias ainda não haviam nascido e, por isso, o Tempo caminhava com uma perna só. E tudo era tão lento no infinito firmamento!

 

Até que, no rebanho do pastor, nasceu uma estrela com ganância de ser maior que todas as outras. Essa estrela chamava-se Sol e cedo se apropriou dos pastos celestiais, expulsando para longe as outras estrelas que começaram a definhar.

 

Pela primeira vez houve estrelas que penaram e, magrinhas, foram engolidas pelo escuro. Mais e mais o Sol ostentava grandeza, vaidoso dos seus domínios e do seu nome tão masculino. Ele, então, se intitulou patrão de todos os astros, assumindo arrogâncias de centro do Universo. Não tardou a proclamar que ele é que tinha criado Deus.

 

O que sucedeu, na verdade, é que, com o Sol, assim soberano e imenso, tinha nascido o Dia. A Noite só se atrevia a aproximar-se quando o Sol, cansado, se ia deitar. Com o Dia, os homens esqueceram-se dos tempos infinitos em que todas as estrelas brilhavam de igual felicidade. E esqueceram a lição da Noite que sempre tinha sido rainha sem nunca ter que reinar.”

 

MIA COUTO, no livro  “A confissão da leoa”

 

Retirado de ContiOutra

publicado às 21:13

vestido.png

 

Imagem de aqui

 

Logo de manhã a Mie reclamava no Facebook  com o facto de a cor do vestido ser noticia no site da SIC noticias, mal sabia ela o que estava para vir, durante todo o dia, olhássemos para onde olhássemos lá estava a pergunta: É branco e dourado ou azul e preto?

 

No fim do dia era noticia na SIC, na RTP, na TVI e em todos os sites dos jornais online não só nacionais como internacionais, há uma guerra na Síria, outra na Ucrânia (alguém reparou que identificaram o tipo que se decapita os reféns do estado islâmico?), estudantes mortos pela polícia na Venezuela,... mas o que é que isso interessa? O que interessa mesmo é a cor do vestido...

 

Tudo começou com um post na rede de blogs Tumblr, uma senhora colocou uma fotografia de um vestido e perguntou quais eram as cores que se viam, de ali a coisa passou ao Twitter e de um momento para o outro parece que todo o mundo estava interessado naquilo. Segundo os responsáveis da rede Twitter, o vestido bateu todos os recordes de visualizações e o Twitter teve o melhor dia da sua história.... o artigo sobre o vestido que foi publicado na rede Buzzfeed, teve em dois dias mais de 20 milhões de visualizações...  incrível, e tudo porque alguém perguntou "de que cor é o vestido?"

 

Vivemos num mundo estranho em que pelos vistos, qualquer coisa, até uma simples pergunta sobre a cor de um vestido, pode virar uma noticia a nível mundial que é divulgada por todas as agências de noticias, televisões e jornais.... já imaginaram a quantidade de coisas realmente importantes que aconteceram nestes dois dias e das que não fazemos a menor ideia?... mas quantas pessoas a esta hora não terão ouvido falar da cor do vestido?

 

Sou só eu que acha que isto é a prova de que para além de haver muita gente com pouco que fazer, há algo de muito errado com a forma como estamos a gerir as nossas prioridades?

 

Por certo, para mim é branco e dourado, mas já vi versões em azul e preto, vermelho e preto e muitas outras cores, mas dado o estado actual da arte da fotografia da era digital, a pergunta não deveria ser "qual é a cor do vestido?", deveria ser "Qual queres que seja a cor do vestido?" Não sei se terá sido propositado, mas não há duvida que para a marca que os vende, isto foi a melhor campanha publicitaria do mundo.

 

Haja paciência

 

Jorge Soares

publicado às 22:55

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Imagem de aqui

 

O jovem da imagem chamava-se Kluiverth Roa, tinha 14 anos e há quem diga que nem se estava a manifestar, estava simplesmente por ali e cometeu o erro de gritar "parem com a repressão" aos polícias que de arma em punho tentavam silenciar os estudantes universitários que se manifestavam contra a inflação e a escassez de comida.

 

Kluiverth morreu de um disparo na cabeça, é o sexto estudante morto pelas forças policiais do estado desde o inicio das manifestações de estudantes há uma semana.

 

A situação social na Venezuela está a chegar a um estado de completa degradação, à insegurança, durante o ano 2014 foram assassinadas no país mais de 25000 pessoas, juntou-se uma inflação anual que está perto de atingir os 3 dígitos e a falta de bens de primeira necessidade.

 

O petróleo tornou-se na única fonte de recursos da Venezuela, com a descida dos preços para menos de 50 dólares por barril e o estado deplorável das infra-estruturas petrolíferas do país, levaram a uma descida abrupta da entrada de dinheiro.

 

A falta de dinheiro para a importação de matérias primas levou ao encerramento da maior parte das industrias nacionais e ao quase completo desabastecimento do mercado, para conseguir comprar qualquer produto de primeira necessidade, desde papel higiéncio a farinha, são necessárias horas e horas nas filas dos supermercados.

 

É contra este estado de coisas que se manifestam os jovens estudantes Venezuelanos, a resposta de Nicolás Maduro e do seu governo é enviar as forças militarizadas com armas de fogo para a rua, o que se traduz em forte repressão e em pelo menos seis estudantes mortos só numa semana.

 

Nicolás Maduro foi eleito em eleições democráticas, mas não é a forma como são eleitos os seus governantes que definem o tipo de governo de um país, em democracia o governo é eleito pelo povo e para o povo, neste momento o governo que foi eleito pelo povo parece estar no poder não para o povo mas sim contra o povo.

 

Durante o último ano foram utilizados todos os pretextos legais e ilegais para silenciar os protestos do povo, o principal dirigente da oposição está preso desde há mais de um ano porque pediu ao povo que se manifestasse contra a situação no país, durante o último ano foram presos para além de estudantes, políticos da oposição  e até o governador da Capital Caracas.

 

Enquanto o governo usa as forças policiais para reprimir os protestos do povo, há dirigentes do partido de governo que são acusados de dirigirem redes internacionais de tráfico de drogas e a corrupção faz desaparecer uma boa parte dos muitos milhões que entram no país.

 

Calcula-se que só em 2013 tenham entrado no país quase 140 000 milhões de Dólares proveniente da venda do petróleo, para onde foi todo este dinheiro? ninguém sabe.

 

Jorge Soares

publicado às 23:12

Mãe, o que é ir à missa?

por Jorge Soares, em 25.02.15

Imagem minha

 

Um destes dias, já não sei a propósito de quê, a D na sua infinita curiosidade saiu-se com o seguinte:

 

- Mãe, o que é ir à missa?

 

A minha meia laranja ia tendo um fanico, e a seguir teve mesmo quando olhou para mim e eu disse:

 

- Finalmente à terceira fizemos o trabalho como deve ser! 

 

Ela ainda tentou argumentar, mas eu como quem não quer a coisa, lembrei-lhe como tinha corrido a experiência do N. e a R. com os escuteiros e a catequese (ver este post), deve ter funcionado, não se voltou a falar do assunto.

 

Os meus filhos são os três baptizados, a mais nova já tinha sido baptizada quando chegou cá a casa e os mais velhos são porque a P. e uma parte da  família faziam questão, a mim tanto se me dá que o sejam ou não, a educação que sempre pensei para os meus filhos não tem nada a ver com religião. Sempre tentei educar com o exemplo e se possível ensinando os meus filhos a pensar por sí, se no fim eles por si e pela sua cabeça chegarem a uma religião qualquer, isso é problema deles, mas se for pelo meus exemplo, não irão de certeza absoluta precisar de igreja ou religião para nada.Eu não preciso mesmo.  Ninguém é melhor pessoa por acreditar ou não em deus, pessoas boas e más há em todas as religiões do mundo e evidentemente entre os ateus.

 

Porque é que me lembrei de tudo isto, porque hoje pelo meu facebook passou o seguinte artigo: Famílias sem religião estão fazendo um trabalho melhor do que as demais

 

Trata-se evidentemente de um artigo sobre vários estudos feitos nos Estados Unidos, vale o que vale, mas não deixa de ser interessante olhar para as várias conclusões, vejamos:

 

-apresentam muito mais solidariedade e proximidade emocional entre pais e filhos

 

-A maioria parecia viver vidas plenas caracterizadas por uma direcção moral e um sentido de que a vida possui um propósito.

 

-têm seus próprios valores morais e preceitos éticos, entre eles a solução racional de conflitos, autonomia pessoal, livre-pensamento, rejeição de punições corporais, um espírito de questionar tudo e, principalmente, empatia

 

- tratar os outros como gostaríamos que fôssemos tratados. Este é um imperativo ético antigo e universal, e não há nada nele que force a crença no sobrenatural

 

-Quando estes adolescentes se tornam adultos, eles tendem a apresentar menos racismo que seus colegas religiosos

 

-Os adultos seculares têm uma tendência maior a compreender e aceitar a ciência do aquecimento global, a apoiar a igualdade feminina e os direitos dos gays.

 

-No cenário internacional, países democráticos com os menores níveis de fé religiosa são também os que têm as menores taxas de crimes violentos e gozam de bem estar social relativamente alto

 

Ora, a mim parecem-me argumentos suficientes, mas muito mais importante que tudo isto é o facto de eu querer que os meus filhos aspirem a ser pessoas cultas e integras com consciência, não por medo às consequências do pecado ou aos castigos divinos e sim porque essa é a forma correcta de se viver.

 

Jorge Soares

publicado às 23:25

Imagem do Pontos de vista

 

Não ando nos meus dias e isso nota-se até na forma como às vezes deixo passar as conversas e prefiro estar calado a entrar em discussões que no fim não me levam a lado nenhum.

 

Um destes dias à hora do almoço discutia-se o Eurogrupo e as decisões sobre a Grécia, havia alguém espantado em como Grécia não só não quer pagar a dívida, como se prepara para a seguir a não pagar, pedir mais dinheiro a quem "ficou a arder"

 

Ainda esbocei um "mas ninguém disse que eles não querem pagar...", a pessoa estava com tanta atenção à sua sabedoria que (felizmente) não me ouviu, 

 

Há muito quem pense como ele, assim como há muita gente que acha que a saída do Euro significa não pagar as dívidas, deve ser o que pensam alguns iluminados que acham que Portugal deve voltar ao escudo, eu sinceramente não percebo o que tem uma coisa a ver com a outra.

 

Saindo ou continuando no Euro as dívidas vão continuar a existir, seja para Portugal ou para a Grécia. Se a Grécia sair do Euro vai deixar de estar tão controlada, vai ter liberdade para fazer orçamentos mais liberais e não ter tantas preocupações com défices e rácios, mas por outro lado irá ter muitas mais dificuldades em ter crédito. Em lugar de ter uma moeda forte passará a ter uma que poderá desvalorizar para obter liquidez, mas como a sua dívida continuará em Euros ou em último caso em Dólares, o que vai acontecer é que esta irá aumentar de forma exponencial e além disso, como tem uma balança comercial negativa, a inflação tomará conta do país e a população verá o seu salário e as suas poupanças desaparecer ao ritmo que aumentam os preços dos bens importados.

 

Há quem veja algo de positivo nisto tudo, eu sinceramente não consigo ver onde estará esse lado positivo, e também não acho que alguma vez a Grécia abandone o Euro..a menos que seja para aderir ao rublo.... mas para isso o preço do petróleo terá que aumentar muito mesmo..

 

Quer isto dizer que a única solução é a Troika e a austeridade? Não, é claro que não, assim como acho que a Grécia não sairá do Euro, também acho que nas condições actuais, nunca conseguirá pagar a sua dívida, o mesmo se aplica a Portugal, como é que com um crescimento de 1 ou 2 % se consegue gerar riqueza para pagar juros  de 4 ou 5%? A resposta é simples, não se consegue, é impossível.

 

Mesmo com a austeridade e os impostos brutais dos últimos anos, a dívida Portuguesa não parou de aumentar,  da Grega nem se fala, como é  possível que alguma vez se amortize?

 

Não sei se será agora, se será daqui a uns anos, mas mais tarde ou mais cedo alguém vai ter que parar para pensar noutro caminho qualquer para se conseguir sair deste circulo vicioso de divida que  tem juros que geram dívida que geram juros que geram dívida. 

 

Diz a imagem acima que as revoluções começam sempre em ruas sem saída, acho que a Europa chegou a uma dessas ruas agora só falta mesmo tirar as cadeiras aos velhos do Restelo que insistem em esconder o muro.

 

Jorge Soares

publicado às 23:04

Conto - Histórias de sonhos

por Jorge Soares, em 21.02.15

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Eu a conheci num lançamento de livro. A música que tocava era diferente de quase tudo que estamos habituados. Música contemporânea experimental, creio que era este o nome. Enquanto muitos pareciam estranhar, ela demonstrava prazer e alegria. Logo soube que tinha a ver com seu neto, que foi morar nos Estados Unidos justamente para estudar esse tipo de música. 

 

Da música e do neto passamos a falar de outros assuntos, e ela começou a contar episódios de sua vida. A neta bailarina e estudante de Jornalismo, que sofreu por ficar em segundo lugar num processo seletivo de uma companhia francesa de balé. Suas comunicações com o neto via Skype, que pede conselhos a ela, não aos pais.

 

Até que falou de sua recente viuvez, surpreendendo-me. Até então, era toda risos e brilho nos olhos, inclusive no esquerdo que, cego, nada azulando à deriva em seu globo. Perdeu o marido há onze meses. Estava tudo preparado para a comemoração, era o aniversário dele, 18 de março. Salgados, doces, doces dietéticos, refrigerantes, sucos, cerveja. Todos estavam chegando quando uma das noras, médica, reconheceu algo estranho no rosto de Jorginho (era chamado assim desde criança). Pediu licença à sogra para levá-lo ao pronto-socorro, coisa breve, só pra dar uma garantida de que estava tudo certo. Não estava. O que era para ser uma ida rápida foi consumindo o tempo até a festa ser desmontada, a comida e a bebida doadas para um asilo vizinho. Ninguém queria mais comer, seu Jorginho fora internado. A diabetes, que o acompanhava há quarenta anos, complicara.

 

Seu Jorginho não saiu mais do hospital. A mulher o visitava diariamente, sem sentir a densidade do real que surgia sem gentilezas. Uma sobrinha, psiquiatra, orientou os filhos a administrarem ansiolíticos em meio aos remédios muitos que ela também tomava. Não percebia que o marido morria.

 

Sem que o casal desconfiasse, os filhos os filmaram caminhando pelos corredores do hospital, captando, eternizando a doçura com que aquelas mãos se tocavam, o sorriso no rosto dele, que lhe dizia Você é tão linda, meu amor, e eu te amo tanto, tanto. E ela então respondia Eu também, eu também. E os dois riam, porque era assim há sessenta anos.

 

Depois de dez dias Jorginho morreu. De início levaram-na para os filhos, ficou uns meses longe de sua própria casa, viajou bastante, mas estava de volta.

 

Onze meses para ter o primeiro sonho com o marido. Deitara-se pouco depois das onze, uma amiga fazendo companhia. A voz foi vindo de muito longe. Te amo, meu amor, te amo, te amo. Falando, falando, até ela acordar assustada – enternecida, mas assustada, devia ter dormido muito, ele a chamava, os remédios, ela tinha que tomar o antibiótico às sete. Sentou-se na cama para enxergar o rádio-relógio, apenas uma da manhã.

 

Quando finalmente amanheceu contou o sonho para a amiga, que opinou fosse algo que Jorginho ainda lhe precisasse reforçar. Nessa parte da história minha amiga tem os olhos transbordando, ainda mais azuis. Porém logo sorri e diz que eu não poderia imaginar, mas uma das netas, a mais namoradeira, completou pela primeira vez um ano ininterrupto de namoro e veio falar que gostaria de lhe apresentar o rapaz, só pedia que não se assustasse. Pensou em tudo: tatuagens, piercings, até drogas.

 

Nada disso, o moço parece bonzinho que só. Tem o mesmo nome e apelido do avô, Jorginho. Minha amiga esclarece que é muito católica, não acredita em reencarnação nem nada parecido, mas a coincidência a divertiu. Ela que só conheceu Jorginho, ambos com catorze anos, fala, sorridente e de novo serena, que nunca foi namoradeira, mas o marido sim. Adorava dançar e namorou várias, mas sempre lhe dizia É com você que quero casar. E casou. Ela não gostava de bailes, ele parou de ir. Ele gostava de falar de futebol e política, ela não. Eram bem diferentes nessas coisas, por isso ela sorri ainda mais e me joga a pergunta Não dizem que os opostos se atraem? Então, é verdade, responde a própria indagação de imediato. Nessa hora a música para e levantamos, é hora de comprar o livro, pegar autógrafos, tirar fotos.

 

Marina Silva Ruivo

 

Retiradp de Samizdat

publicado às 22:30

E o governo lá sabe o que é ter dignidade?

por Jorge Soares, em 20.02.15

dignidade.jpeg

 

 

Imagem do Henricartoon

 

É claro que os senhores do governo não concordam com as declarações de Juncker, eles lá sabem o que é ter dignidade?

 

Jorge Soares

publicado às 09:03

sacosplásticos.jpg

 

Imagem de aqui 

 

Lembro-me que durante os anos que vivi na Venezuela raramente vi sacos de plástico dos supermercados, em frente há linha de caixas dos grandes supermercados havia sempre caixas de cartão vazias das que vinham com os produtos à venda e era nessas caixas que eram transportadas as compras para minha casa.

 

Já em Portugal durante anos quando as compras eram no LIDL, onde os sacos plásticos sempre foram pagos, as coisas saiam da caixa registadora para a caixa de cartão que eu ao passar pela zona onde estavam os amendoins tinha posto para dentro do carrinho, entretanto os sacos de amendoins do LIDL deixaram de vir para as lojas naquelas caixas com o tamanho certo para carregar as compras cá de casa e passamos a utilizar os sacos de ráfia, que custam 50 cêntimos em qualquer supermercados e duram anos e anos.

 

Como raramente vou a hipermercados, há anos que me habituei que os sacos de supermercados se pagam, era assim desde que me lembro  no LIDL, no Pingo Doce e no Dia e desde que deixei de usar as caixas de amendoins que passei a andar com sacos de ráfia no carro, que nos camompanham até para as férias.... os sacos do Pingo Doce com aquelas cores todas fazem um figurão nas Astúrias.

 

Dito isto, não percebo porque é que há tanto alarido com esta história dos sacos plásticos passarem a ser pagos, parece que as pessoas não estavam habituadas a isso há anos, qual é o problema? 

 

Um destes dias estava a ouvir uma reportagem sobre o assunto na rádio e só me apetecia bater na jornalista, a senhora insistia em que as pessoas vissem isso como um problema, quando a maioria até nem via problema nenhum e até concordam que ecologicamente é uma enorme vantagem.... No fim, como já não havia nada para perguntar, ela lá insistiu em que nos sacos mais caros, os tais de ráfia ou parecidos, que existem há anos, o governo não leva nem um cêntimo e vai tudo para o supermercado e a industria... santa ignorância, então o IVA do saco não vai para o estado?

 

E qual é o problema dos sacos mais fortes não pagarem o imposto especial? Eu há anos que os compro e os utilizo, são super práticos, super resistentes, duram anos e ecologicamente são o ideal, melhor só as caixas de cartão...

 

É assim tão difícil perceber que o plástico é um enorme problema para a natureza, há milhares de animais que morrem todos os anos devido à forma negligente em que o utilizamos e ao pouco cuidado que temos com a forma como nos desfazemos dele

 

Este vídeo já aqui passou uma vez, mas nunca está demais, são só quatro minutos, não deixem de ver e pensar se qualquer motivo que contribua para haver menos plástico na natureza, não será um bom motivo, será que 10 cêntimos é assim tanto dinheiro? Quanto vale o mundo que conhecemos? Que mindo queremos deixar para os nossos filhos?

 

 

Jorge Soares

publicado às 22:52

Je suis frango

por Jorge Soares, em 17.02.15

Rui-Patricio-frangos-Bayern.png

Imagem de aqui

 

O Rui Patrício é um excelente guarda redes, não será um grande guarda redes, mas é de certeza um dos melhores guarda redes portugueses, ou não fosse há uma carrada de anos o titular da selecção. Como todos os excelentes guarda redes de vêz em quando tem um mau momento e acontece o que na gíria futebolística se chama um frango.

 

Comparado com a maioria dos jogadores de campo, os guarda redes são os que dentro do campo por norma cometem menos erros, muitos menos que os defesas, os avançados e até os treinadores, mas a vida é injusta com os homens das redes, falhar um golo de baliza aberta ou fazer a substituição errada não dão mais que para cinco minutos de conversa, dar um frango é motivo para semanas de assunto.

 

Foi isso que aconteceu a Rui Patrício no jogo com o belenenses, teve um momento de infortúnio e um pontapé na atmosfera resultou em golo dos azuis.

 

Só que desta vez a coisa deu para mais que titulares de jornais e tema nos milhentos programas sobre futebol, o frango deu para um vídeo da sagres, patrocinador do belenenses e da liga de futebol.

 

Vídeo que pelos vistos deu tal alarido e deixou tanta gente ofendida que a sagres se viu obrigada a o retirar e até a pedir desculpa ao guarda redes e aos sportinguistas.

 

Não sei quem terá tido a ideia do vídeo, o que não entendo é porque é que há tanta gente ofendida, Rui Patrício é um jogador de futebol, o futebol é um espectáculo e há muitíssima gente  a viver dele e a ganhar dinheiro com ele, porque é que a sagres não pode fazer um vídeo divertido sobre os frangos do guarda redes do Sporting ou outro qualquer?

 

Os sportinguistas não gostaram? Porquê? Só eles é que podem gozar com os frangos do Patrício? Não percebo porque é que há tantas virgens ofendidas, agora além de não se poder gozar com a religião, o papa, Maomé, também não se pode gozar com o futebol?

 

Uma coisa é certa, não fosse o burburinho armado pelos sportinguistas, eu e a maioria nem teríamos dado pelo vídeo....

 

Para quem ainda não viu:

 

 

Jorge Soares

publicado às 23:17

asas-de-anjo.jpg

 

No terceiro dia de chuva tinham matado tantos caranguejos dentro de casa que Pelayo teve de atravessar o seu pátio inundado para atirá‑los ao mar, pois o bebé recém‑nascido tinha passado a noite com febre e pensava‑se que era por causa da pestilência. O mundo estava triste desde terça‑feira. O céu e o mar eram uma única e mesma coisa de cinza e as areias da praia, que em Março resplandeciam como poeira de luz, tinham‑se transformado numa papa de lodo e mariscos podres. A luz era tão fraca ao meio‑dia que, quando Pelayo regressava a casa depois de ter deitado fora os caranguejos, teve dificuldade em ver o que era que se movia e gemia no fundo do pátio. Teve de aproximar‑se muito, para descobrir que era um homem velho, que estava caído de borco no lodaçal e que, apesar dos seus grandes esforços, não podia levantar‑se, porque lho impediam as suas enormes asas.

 

Assustado por aquela visão aflitiva, Pelayo correu em busca de Elisenda, sua mulher, que estava a pôr compressas ao bebé doente, e levou‑a até ao fundo do pátio. Ambos observaram o corpo caído com um silencioso pasmo. Estava vestido como um trapeiro. Não lhe restavam mais do que uns fiapos descoloridos no crânio pelado e pouquíssimos dentes na boca, e essa lastimosa condição de bisavô ensopado tinha‑o desprovido de qualquer grandeza. As suas asas de abutre velho, sujas e meio depenadas, estavam encalhadas para sempre no lodaçal. Tanto o observaram, e com tanta atenção, que Pelayo e Elisenda muito rapidamente se recompuseram do assombro e acabaram por achá‑lo familiar. Então atreveram‑se a falar‑lhe, e ele respondeu‑lhes num dialecto incompreensível, mas com uma boa voz de navegante. Foi por isso que deixaram de preocupar‑se com o inconveniente das asas e chegaram à sensata conclusão de que era um náufrago solitário de algum navio estrangeiro, desfeito pelo temporal. Contudo, chamaram, para que o visse, uma vizinha que sabia todas as coisas da vida e da morte, e a ela chegou‑lhe um olhar para tirá‑los do engano.

 

‑ É um anjo ‑ disse‑lhes. ‑ Com certeza vinha por causa da criança, mas o desgraçado está tão velho que a chuva o fez cair.

 

No dia seguinte toda a gente sabia que em casa de Pelayo tinham cativo um anjo de carne e osso. Contra o critério da vizinha sábia, para quem os anjos destes tempos eram sobreviventes fugitivos de uma conspiração celestial, não tinham tido coragem para matá‑lo à paulada. Pelayo esteve toda a tarde a vigiá‑lo, da cozinha, armado com o seu garrote de aguazil, e, antes de deitar‑se, tirou‑o de rastros do lodaçal e fechou‑o com as galinhas no galinheiro alambrado. À meia‑noite, quando terminou a chuva, Pelayo e Elisenda continuavam a matar caranguejos. Pouco depois o menino acordou, sem febre e com desejos de comer. Então sentiram‑se magnânimos e decidiram pôr o anjo numa balsa com água doce e provisões para três dias e abandoná‑lo à sua sorte no mar alto. Mas, quando foram ao pátio com as primeiras claridades, encontraram toda a vizinhança em frente do galinheiro, divertindo‑se com o anjo, sem a menor devoção e a atirar‑lhe coisas para comer pelos buracos dos alambres, como se não se tratasse de uma criatura sobrenatural, mas sim de um animal de circo.

 

 

 

Gabriel García Márquez, 1968.

 

Retirado de ContiOutra

publicado às 23:05

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