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Idiotas sem pedegree

por Jorge Soares, em 03.03.17

idiotas com pedegree.png

 

Imagem do Facebook de Rita Marrafa de Carvalho

 

 

Há pessoas que apesar da evolução do mundo insistem em viver noutras épocas, noutros séculos, João Braga é claramente uma dessas pessoas, durante a cerimónia dos óscares saiu-se com o seguinte comentário: "A distribuição dos Trumps – Agora basta ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares", evidentemente para ele não interessa nada nem a qualidade dos filmes nem a dos actores, aliás, duvido muito que se tenha dado ao trabalho de sair de casa para ir ver qualquer um dos filmes nomeados.. pelo comentário o que percebemos é que para ele o que interessa é a cor da pele ou orientação sexual, não a capacidade de actores, músicos ou realizadores.

 

Não contente com a polémica causada pelos seus comentários racistas e homofóbicos, o senhor resolveu continuar com as provas da sua ignorância e desprezo pelo mundo em que vive e pela a sociedade actual. 

 

A imagem acima mostra a forma como ele resolveu comentar a carta aberta que foi escrita pela Jornalista Rita Marrafa de Carvalho e publicada no site Capazes. A Rita é uma das melhores jornalistas portuguesas, com presença diária nas noticias da RTP, ao fingir que não a conhece João Braga só mostra até que ponto pode chegar a sua ignorância e prova que só pode viver noutro mundo, num mundo qualquer onde não há noticias e que ficou parado algures no fim do século XIX...

 

João Braga acha-se uma figura importante, infelizmente não passa de um idiota ultrapassado e sem pedigree.

 

Jorge Soares

 

CARTA ABERTA AO AMIGO DOS PRETOS E DOS GAYS

 

Querido João,

Eu sei que no teu tempo a coisa era complicada. Não se dizia nada a ninguém e ia-se a umas saunas ou tinha-se uns amigos que padeciam da mesma “doença”. Casava-se com menina de bem, casadoira, boa dona de casa e parideira. E tudo às escuras, para não se ver que naquele peito não havia pelos e abdominais definidos. Nem uns ombros largos ou uma cintura direita. Pronto. Serviço feito e nasciam os filhos que se impunham. E continuavam as saunas e os encontros interditos. Mas isto… só os sortudos e intelectuais da altura. Aos outros, por vezes, destinava-se uma vida de clausura. Ou solteiros ou mal casados. O medo da prisão. O medo das palavras. Ai, como é que era? Ah… Paneleiro. Medo dos risos bêbados do “lá vai o panisgas”.

Depois, havia aqueles de quem se desconfiava mas ficava-se calado… porque escrevia muito bem. Ou cantava muito bem. Ou declamava muito bem. Ou pintava muito bem. Era qualquer coisa “muito bem”. E pronto, era lá com ele. Com a vida dele. Coisas dele. Cada um sabe “onde quer levar”. Não era, João?

Aliás, deixaste isso bem claro, quando escreveste uma mensagem para o Marcelo Rebelo de Sousa, que lamentava a morte daquele grande panilas George Michael “ó Professor, cada um gosta do que gosta e de quem gosta e ninguém tem nada com isso; mas não houve um só assessor de Vossa Excelência, unzinho, o seu amigalhaço que chefia aquele saco de gatos que governa esplendidamente o nosso país, enfim, um motorista da presidência, alguém, que tenha alertado Vossa Mercê para o facto de desperdiçar o seu luto todo com um “génio” que, ao mesmo tempo que exibia uma versatilidade e um talento que o levavam, inclusive, a espreitar as pilas alheias nos urinóis públicos, drogava-se fortemente, com ecos na juventude que o idolatra tanto quanto o excelso presidente?!”

Eh, pá. Tens razão. As pessoas deixam de ser génios musicais. Por tudo isso, viram uma valente merda. João, aplaudo-te. Vê lá bem, que o Thomas Edison dava-lhe forte e feio em doses de coca e mesmo assim inventou a lâmpada! E esse escritor de bosta, o Truman Capote… um maricas! Sabe-se lá quantos gajos comeu. Não. Não merecem o epíteto de génios. Estou contigo. Mas sei que falaste com Salvador Dali em 1977 e que gostaste. Ainda bem.

Depois… depois, naqueles tempos, tínhamos, acabadinhos de chegar das colónias ultramarinas, uns pretinhos engraçados. Aquilo não nos era estranho. O teu pai, na Fazenda do Bom Jesus, sabia bem o que era viver no meio deles. Já tínhamos recebido uma remessa deles, ao longo dos anos, mas vinham mais. A descolonização, pá! Raios partam os tipos que lhes deram liberdade e tal e eles vieram todos para cá, em magotes. Naquele 25 de abril frenético, sem rei nem roque, feito por terroristas. Que continuam a denegrir a imagem daquele que escreveste ser, para ti, “o maior estadista português”: Salazar.

Bem sei, para ti não há volta a dar, João. O dia em que se comemora a Implantação da República algo se quebra em ti. Todos os anos.

CARTA ABERTA AO AMIGO DOS PRETOS E DOS GAYS Como eu contava, há pouco, depois daquela revolução dos cravos vermelhos, que flor tão bonita para uma festa tão tresloucada… vieram os pretos. Fazer barracas à volta de Lisboa. Uma chatice. Vinham construir-nos casas e limpar escadas. Depois começaram a estudar e muitos já vinham com estudos de lá. Quem diria… escritores, músicos. E bons, e bons. Lembras-te da Titina? Muito boa, essa cabo-verdiana. E a carrada de mestiços? Como é que algum branco se misturava? Perguntavam tantos, como era possível? Agora é vê-los, no tráfico, com as calças a meio do rabo, a roubar carros e a responder mal. Uma desgraça.

Nós, João, gostávamos de Torga e Pessoa. Não íamos ler Germano de Almeida. A ouvir crioulo pelas ruas e o teatro Dona Maria a cheirar a Guiné por todo o lado. Não. E por isso sei bem que o ano passado soltaste nas redes sociais um “DEPOIS DO QUE VI HOJE SÓ ME OCORRE DIZER ISTO: RESTAUREM A MONARQUIA!” Eu sei. Resolveria tudo termos um rei não eleito. Mas respeitavas Miles Davis. Aliás, em 1971 foste buscá-lo ao camarim.

CARTA ABERTA AO AMIGO DOS PRETOS E DOS GAYS

Foi ele quem exigiu. Mas sempre era o Miles Davis… e lá lhe fizeste a vontade. Admiravas aqueles músicos.

Mas sei que ficaste contente com o Nobel de Bob Dylan. Porque sabes que ele é bom. Pergunto-te, querido João, se viste Moonlight. Aquele filme que ganhou o Óscar para melhor filme. E se viste a interpretação do preto que ganhou o Óscar para melhor actor secundário, o Mahershala Ali. Mas espera… é pior! É muçulmano! Imagina! Além de preto é o primeiro muçulmano a ganhar um Óscar. Bom, mas viste?

Gostava de saber se viste o filme. Ou se tens um filho homossexual que, desde jovem, tenha lutado, interiormente, com o não saber o que é, com o ser humilhado na escola, e o não entender os sinais. Pergunto-te se ser preto e gay é algo que se possa sobrepor a, simplesmente, ser-se bom. Se Bob Dylan fosse gay ias achar a mesma graça à atribuição do Nobel. Ou se o Nobel fosse entregue a… Miles Davis, de quem gostas tanto. Se calhar, já não teria grande piada. Mas já percebi que nos rótulos da vida, João, gostas de etiquetar tudo. É um método e eu compreendo. Também gosto de escrever nos jarros de vidro “açúcar”, “esparguete”, “canela”. Por isso, compreendo que gostes de definir bem os axiomas e premissas. Como aqui demonstras:

CARTA ABERTA AO AMIGO DOS PRETOS E DOS GAYS

Posto isto, há coisas que me confortam. Idolatravas Amália… ao menos isso. Espero, então, que esta missiva te encontre bem e que, para o ano, os Óscares sejam mais justos e que os jurados nem vejam os filmes. Votem só nos brancos. E hétero.

 

Rita Marrafa de Carvalho no site Capazes

publicado às 20:23


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