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Tony quer morrer e não o deixam

Imagem do Público 

 

A Eutanásia ou a morte assistida são assuntos recorrentes cá no blog, cada certo tempo aparecem,  não porque sejam assuntos que estejam na ordem do dia em Portugal, mas sim porque algures encontrei mais um testemunho de alguém que se recusa a passar por uma morte dolorosa e sem dignidade.  Primeiro foi a Eluana, depois foi o caso do Tony Nicklinson, depois foi o da Britanny, pelo meio houve um caso na Bélgica em que foi aprovada uma lei que permitiu a morte assistida de crianças.

 

Em Portugal o assunto veio agora à baila a partir de um manifesto a favor da morte assistida apresentado por uma serie de personalidades e porque o Bloco de Esquerda diz que vai avançar com uma iniciativa legislativa que permita a legalização da Eutanásia.

 

Nada como o exemplo para tentarmos perceber, o texto abaixo foi escrito por mim em Junho de 2012, para ler e reflectir:

 

Não vos posso dizer a paz de espírito que teria só por saber que eu posso decidir sobre a minha vida, em vez de ser o Estado a dizer-me o que eu devo fazer – nomeadamente continuar vivo, independentemente da minha vontade”.

“Não posso coçar-me se tiver comichões, não posso assoar-me e só posso comer se for alimentado como um bebé – só que nunca irei passar a comer sozinho, ao contrário do bebé (Tony Nicklinson)

 

Tentemos imaginar que de um dia para o outro ficamos literalmente presos dentro do nosso corpo, o mundo à nossa volta, as pessoas que que amamos, as coisas de que gostamos, tudo continua lá, mas nós não conseguimos mais que olhar, não podemos tocar, não podemos comer, não conseguimos sequer sentir, só olhar e pensar.

 

É esta a situação do Tony desde que em 2005 sofreu um AVC, está completamente paralisado sem sequer conseguir falar, só consegue comunicar com o mundo graças a um software especial que consegue ler os seus olhos. Depende completamente das pessoas à sua volta para conseguir continuar a viver. 

 

Tony simplesmente decidiu que isso não é vida, que  o seu estado actual e o sofrimento que este lhe causa não é justo nem digno, portanto o Tony quer morrer, exige que o deixem morrer.

 

Tal como na maioria dos países, no reino Unido a eutanásia e o suicídio assistido são ilegais, no seu estado  o Tony sozinho não consegue por fim à sua vida, portanto ele decidiu levar o caso até ao supremo tribunal e implora que o deixem morrer com a dignidade que ele já não tem em vida.

 

De toda a noticia, para além do estado e da lucidez do Tony chamou-me a atenção a seguinte frase do médico que lhe salvou a vida quando ele teve o AVC:

 

"...quando fui informado que ele estava vivo, fiquei surpreendido mas também triste. Não desejaria ao meu pior inimigo que ele ficasse vivo nestas circunstâncias durante tantos anos"

 

Só pensar na situação deste homem é aterrador, eu não me consigo imaginar a viver assim, o direito à vida há muito que está consagrado e é um dado adquirido, mas será que aquilo que o Tony tem é realmente vida? Será que como sociedade e como seres humanos temos o direito de obrigar alguém a passar assim o resto dos seus dias? Será que em casos como este a morte digna e sem sofrimento não deveria também ser um direito?

 

Jorge Soares

publicado às 21:36


1 comentário

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De Psicogata a 10.02.2016 às 17:00

Isso nem sequer deveria ser uma questão, se eu não quero viver deviam fazer-me a vontade, já que se não fossem as limitações poderia fazê-lo da forma que bem entendesse.
Compreendo que se levantem questões éticas e que se deva dar acompanhamento psicológico a quem se propõe morrer, validar a sua vontade, verificar se poderá mudar de ideias, ouvir os seus argumentos e escutar também os familiares. Embora considere que nestes casos as pessoas que solicitam a morte não o façam por impulso mas sim porque não conseguem viver assim, é por isso uma decisão bem consciente.
Não faz sentido negar a alguém o direito de acabar com a própria vida, é um direito fundamental da nossa existência.

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