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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do Momentos e Olhares
Um destes dias chegou-me o seguinte via Facebook
"Hoje o dia foi complicado. O meu Pipoca chegou da escola muito triste. Depois de muita conversa lá me disse que a estudo do meio estão a falar de quando eram bebés e que tinham de levar fotos dessa altura e ele não tem. Mas ao mesmo tempo não queria dizer que era adoptado... Assim torna-se difícil para mim ajudar o pequeno. E depois de muito puxar por ele para saber o porquê de ele querer esconder uma coisa que sei que ele adora (ser adoptado), descobri que ele tem medo que ao dizer a verdade, alguém o tire de mim. Escusado será dizer que acabamos os dois abraçados a chorar depois de eu lhe prometer que ninguém me tira o meu filho ou eu não me chamo ......."
Curiosamente esta semana a professora da D. pediu uma reunião com a minha meia laranja, as coisas não tem estado fáceis cá por casa no que diz respeito às escolas, pelo que ficamos logo a pensar o que teria aprontado esta vez a teimosa e muito dona do seu nariz dona D.
Mas não, a mudança para a escola oficial está a fazer milagres e está a tudo correr muito bem... A professora pediu a reunião precisamente para saber como devia tratar na sala de aula o tema da adopção e fez todas aquelas perguntas que todos os professores deviam fazer mas que muito raramente fazem.
Casos como o que está contado acima acontecem muitas vezes, noo infantário e na escola primária, a nós já nos aconteceu com os dois adoptados cá de casa. Há educadores de infância e professores que pedem fotografias de quando eram bebés, professores que pedem às crianças para perguntarem aos pais como foi o nascimento, há de tudo um pouco.
A sensação com que fiquei é que há muita gente que segue uma cartilha e tudo o que lá está escrito é para se levar à letra, sem importar se há ou não crianças adoptadas na sala, se há filhos de mães solteiras, se há órfãos que nunca conheceram os pais e até em alguns casos em que as crianças ainda estão institucionalizadas, qualquer família.
A grande maioria das crianças por volta dos cinco seis anos está na fase da descoberta da sua situação, no nosso caso os dois entraram em negação. O N. simplesmente desaparecia de ao pé de nós se por algum motivo a conversa entre nós ou com visitas era sobre adopção, a D. foge ao assunto e simplesmente fecha-se dentro de si. Imaginem agora como será para eles terem que enfrentar o assunto na escola perante os seus colegas e amiguinhos, quando educadores e/ou professores se esquecem que eles estão ali e que para além de serem diferentes, tem direito a essa diferença.
Atenção, eu não digo que o assunto não deve ser tratado na sala de aula, o que eu digo é que para que não aconteçam cenas como as que estão contadas no primeiro parágrafo devem ter-se em conta as diferenças de cada uma das crianças. Se há uma criança adoptada na sala de aula, o mais provável é que esta não tenha fotografias de quando era bebé, a maioria não tem mesmo e isso torna-se um problema para a criança, portanto vamos arranjar uma forma alternativa de falar naquele assunto.
Eu sei que há os objectivos e que o que está na cartilha tem que ser tudo tratado, mas não tem de certeza que ser tratado sempre da mesma forma, até porque cada criança é diferente e não temos que ser todos iguais e educados pela mesma cartilha.
Jorge Soares