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Quando o jornalista vira noticia, é mau!

por Jorge Soares, em 28.09.20

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Imagem do Facebook

O senhor da fotografia chama-se Cláudio França, é jornalista, fez o caminho dele como jornalista, estudou, entrou para a televisão como estagiário e na semana passada esteve a apresentar as noticias do fim de semana. Começou como muitos outros jornalistas antes dele e muitos outros se seguirão de certeza, num horário matinal e ao fim de semana.

O certo é que de repente o Cláudio passou de ler as noticias a ser a noticia, primeiro nas redes sociais e depois inclusivamente noutros meios de comunicação.  Não sei que influência terá todo este barulho na futura carreira do Cláudio, mas quanto a mim há algo de muito errado nisto tudo.

Quando eu olho para a fotografia eu vejo uma pessoa de óculos, bem vestido e bem apresentado, por acaso calhou um destes dias ver o o Cláudio a apresentar as noticias e pareceu-me concentrado, com boa dicção e profissional.

Isto foi o que eu vi, o que viu o resto do mundo? Um negro com rastas no cabelo a ler as noticias na SIC. Não conheço o Cláudio, mas acho que ele dispensava este barulho todo, o barulho de quem critica porque viu um gajo negro de rastas a ler as noticias, como o barulho de quem aplaude porque está um jornalista negro de rastas a apresentar as noticias da SIC.

Todos nós deveríamos olhar para a televisão e ver um  jornalista a apresentar as noticias. Ponto!

Enquanto o jornalista virar noticia porque é negro e usa rastas, continuará a haver muita coisa errada no mundo.

Fiquem bem

Jorge Soares

publicado às 22:38

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Imagem da RTP

"Os trabalhadores eventuais são contratados ao turno e, quando fazem mais do que um ou dois turnos, podem ser contratados e despedidos duas e três vezes no mesmo dia” (retirado de aqui)

 

Segundo a mesma noticia esta situação mantém-se desde há pelo menos 25 anos, 25 anos? Há pessoas que se sujeitam a isto durante anos e anos?  

 

Eu consigo perceber que alguém se sujeite a algo assim por necessidade durante uns meses até arranjar um emprego a sério, mas durante anos e anos? Porquê? Estas pessoas pagam segurança social? Tem direito a férias, a subsídios de natal e de férias? Será que um dia terão direito a reforma? São muitas perguntas... 

 

Imagino que nada disto seja ilegal, mas como é que o estado permite tal coisa? Como é que uma empresa que é tão importante para o porto de Setúbal, para as empresas que o utilizam e até para a economia do país, pode funcionar há anos e anos sem ter o mínimo de funcionários para garantir o seu funcionamento?

 

Todos ouvimos falar dos funcionários em greve, mas será que realmente isto é uma greve? Afinal nenhuma daquelas pessoas tem emprego, para todos os efeitos são desempregados, se o contrato é feito e desfeito todos os dias, se não se apresentam ao trabalho não estão em greve, estão desempregados. É válido um pré-aviso de greve que se refere a pessoas que não são empregadas da empresa?

 

Tudo isto é no mínimo bizarro, pode ser legal, mas não é de certeza ético, não pode ser ético contratar e despedir dezenas de pessoas todos os dias e por um único dia. Se as leis o permitem então as leis estão erradas e alguém as devia mudar.

 

Hoje havia deputados do bloco de esquerda e do PCP entre os manifestantes que foram retirados pela policia da entrada do porto, percebo o objectivo de lá estarem, mas espero sinceramente que esse apoio se continue a manifestar sobre a forma de projectos de alteração à lei de modo a que no futuro nada disto seja permitido. Se não o fizerem então só lá estiveram para tirar vantagem política da luta dos trabalhadores.

Jorge Soares

publicado às 22:05

Somos um atraso de vida!

por Jorge Soares, em 22.10.18

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Hoje de manhã numa das crónicas da  Antena 1 alguém contava que recebeu este mês uma multa de transito do dia 15 de Outubro de 2017, tinha sido apanhado em excesso de velocidade quando ia algures a tentar fugir do fogo numa estrada rodeada de incêndios por todos lados... vá lá a gente perceber porque é que a GNR estava a medir velocidades no meio da maior catástrofe que aconteceu em Portugal no século XXI.

 

Bom, eu em Agosto estive de férias em França, aluguei um carro e andei a visitar pequenas cidades algures entre Poitiers e Bordéus. Munido de GPS dei por mim a percorrer kms e kms de estradas rurais, estradas onde tão depressa temos limites de 90, como de 70 porque há um cruzamento, como de 50 porque há uma casa de cada lado, como voltamos aos 90... 

 

Quem me conhece sabe que na estrada eu não abuso, cumpro os limites e pronto, algures numa terça-feira às 15:35 não devo ter visto um sinal de 70 e continuei a 90 precisamente onde havia um radar. Na quarta às 14 eu tinha um mail da companhia de aluguer a avisar-me que tinha uma multa e que me iam identificar às autoridades francesas. 

 

Na segunda-feira seguinte quando estava no aeroporto de Bordéus à espera de entrar para o avião para voltar para casa, decidi ir ver o mail. Lá estava o mail das autoridades de trânsito francesas com os avisos e as instruções todas para carregar num link e caso o pretendesse, pagar a multa. 

 

Reparem, eu fui multado na terça às 15:35, na quarta às 14 já a companhia de aluguer tinha sido avisada, na segunda seguinte, menos de uma semana depois, já eu tinha sido notificado e tinha as instruções para pagar a multa... que era mais barata se eu carregasse no link no prazo de 7 dias. Tinha uma semana para o fazer , caso contrário o link deixava de ser válido e a coisa seguia o procedimento normal e claro, pagava o máximo.

 

França é muito maior que Portugal, a julgar pelos que eu vi, deve haver milhares e milhares de radares, milhões de multas .... eles demoraram uma semana a tratar da burocracia com a companhia de aluguer e a enviar-me a multa por mail com tudo pronto para eu entrar no link, escolher o modo de pagamento, colocar os dados e pagar. ... cá demoram meses e meses para enviar a multa e há milhares de multas que prescrevem porque não são tratadas a tempo.

 

Se os franceses conseguem, porque é que nós não conseguimos? Porque somos um atraso de vida!

 

Não é que interesse muito para o caso, durante uns segundos ainda pensei se carregava no link ou não, decidi que sim, se eles demoraram  menos de uma semana a tratar da papelada toda.. .de certeza que a multa me ia chegar a casa. Paguei 45 Euros, eles aceitam cartões de crédito, paypal, transferências, o que preferires.

 

Jorge Soares

 

PS:Hoje não caminhei ... mas escrevi um post.  

publicado às 22:49

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Imagem de Lusopt

 

"Pelo artigo 5.º da Lei n.º 7/2007, de 5 de Fevereiro, é proibida a reprodução do cartão de cidadão em fotocópia ou qualquer outro meio sem consentimento do titular, salvo nos casos expressamente previstos na lei ou mediante decisão de autoridade judiciária. Não é permitida a retenção ou conservação do cartão de cidadão, para verificação de identidade que se mostre necessária por qualquer entidade pública ou privada, salvo nos casos expressamente previstos na lei ou mediante decisão de autoridade judiciária." (de lusopt)

 

Hoje foi noticia que para além de ser ilegal, vai passar a dar direito a multa de até 750 Euros para quem tirar ou pedir a fotocópia.

 

Por volta da hora do almoço tive que ligar para a empresa do cartão de crédito para confirmar que não estava a ser roubado por uma empresa de telecomunicações (estava!). Depois de me darem a informação pretendida fui confrontado com o seguinte:

 

-Tenho aqui a indicação de que a fotocópia do seu cartão de cidadão que temos connosco está desactualizada, pode enviar-nos uma actualizada?

-Eu acabo de ler algures que tirar fotocópias do cartão do cidadão é ilegal e até pode dar direito a multa.

-Mas eu tenho aqui a indicação para pedir outra.

-Mas isso é ilegal!

-Eu tenho indicação para pedir, e de certeza que lhe vai chegar uma carta a pedir para enviar.

-Mas como é que vocês pedem uma coisa ilegal?

-Vai receber uma carta a pedir, quando puder envie!

-Mas é ilegal

-Pois, mas se puder mande na  mesma!

 

Portugal no seu melhor, é ilegal, mas mande na mesma

 

Jorge Soares

 

publicado às 19:01

Somos um país bacoco e provinciano

por Jorge Soares, em 07.06.16

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Imagem do Facebook

 

""Ao fim de 21 anos em cadeira de rodas senti descriminação. Que sentimento horrível!!!

Nunca pensei passar por isto no meus país em 2016 e numa cidade como Lisboa. Fui sair com um grupo de amigos à discoteca Bosq quando chego a porta vi logo que algo se passava quando vejo os seguranças a segredar.Minutos depois dizem que não posso entrar porque a discoteca não tem rampa nem WC!!!

Pedimos para chamar o gerente mas a pessoa tão cobarde que é nem teve coragem de aparecer. Pedimos livro de reclamações mas como não tínhamos entrado não nos deram o livro felizmente tinha amigas lá dentro que puderam escrever.

Como não saímos da porta o segurança diz o consumo para entrar são 300€!!! milagre ao fim de 30 mts a discoteca já tinha rampa e WC!!! E sim o deficiente se pagar já pode entrar. Já frequentei tantos espaços noturnos sem rampas e WC e nunca mas nunca fui tratado de tal forma é triste ser tratado assim dói muito. Mas não são pessoas assim que me deitam abaixo são pequenas e medíocres e essas sim devem se sentir inferiores . Só espero que um dia elas próprias ou alguém da família ou próximo não passe pelo mesmo. Obrigado a todos os meus amigos que estavam comigo e não posso deixar de referir um segurança que falou comigo e compreendeu a minha revolta mas estava a cumprir ordens!!! A essas pessoas digo eu amo viver e não tenho vergonha de ser deficiente e o que não falta é outros espaços noturnos para me divertir. Nem toda a deficiência é visível que grande verdade!!!"

 

Ricardo Antunes

 

Isto foi a semana passada, na mesma semana em que ficamos a saber que algures no norte de Portugal há um hotel que no seu site pede a homossexuais para não fazerem reserva pois pode ser-lhe "vedada a admissão". Dono disse que ele é que decide "quem inclui e quem exclui"

 

Estamos no século XXI mas pelos vistos há quem continue a viver algures a meio do século passado, podemos pensar que no caso do hotel é provincianismo bacoco, mas a discoteca que discrimina deficientes é em Lisboa. 

 

A verdade é que Portugal continua a ser um pais onde a discriminação e o pré-conceito imperam. A constituição diz que ninguém pode ser excluído ou discriminado com base na orientação sexual, o proprietário do hotel decide fazer tábua rasa da mesma e coloca as suas condições bem à vista no site... será vedada a admissão a "adeptos de futebol; frequentadores/adeptos de festivais de música de verão; gays e lésbicas; consumidores de estupefacientes e quaisquer substâncias psicotrópicas." não serão aceites.

 

Curiosa a parte dos adeptos de futebol.... só o Benfica diz ter seis milhões de adeptos, que ficam a saber que não podem passar férias neste hotel.... depois disto espero bem que não queiram!

 

Quanto ao caso da discoteca,  entendo a indignação do Ricardo Antunes, mas quem não foi alguma vez excluído à porta de uma discoteca? A verdade é que as discotecas sempre discriminaram uma parte enorme da população, todo o mundo sabe qual o papel daqueles senhores grandes e musculados que estão à porta destes estabelecimentos... e em muitos casos estes até são agentes da autoridade que à noite fazem part times.. a garantir que se discrimine a torto e a direito.

 

Também há uma lei que impede que isso aconteça, mas alguém alguma vez ouviu falar que se cumpra? O caso do Ricardo só veio chamar a atenção para algo que sempre aconteceu e não é preciso estar numa cadeira de rodas para se ser dicriminado, basta ter o penteado errado. Nas discotecas e bares deste país a discriminação é um desporto que todos se orgulham de praticar.

 

Queremos ser um país desenvolvido, do primeiro mundo, mas depois temos conhecimento destas coisas e percebemos que falta educação, cultura, civismo, solidariedade.... e sem tudo isto, dificilmente passamos de um país bacoco e provinciano... um atraso de vida.

 

Jorge Soares

publicado às 22:18

A escola pública e o direito a escolher.

por Jorge Soares, em 09.05.16

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Imagem de aqui 

 

Tenho três filhos, dois estão na escola pública, um está numa escola privada porque não "há" lugar para ele na pública. Já tivemos experiências boas e más com a escola pública e com as privadas e posso dizer que sei do que falo.

 

Há pouco no telejornal um grupo de pessoas ia entregar cartas ao primeiro ministro, cartas a pedir a manutenção dos contratos de associação entre o ministério de educação e as escolas privadas. Entre as pessoas que foram entrevistadas duas ou três diziam que o governo lhes tem que garantir o direito a escolher o tipo de educação que elas querem dar aos filhos.... para ser sincero não percebi onde lhes foi retirado esse direito, mas já lá vamos.

 

As pessoas não percebem que a questão não é essa, não tem nada a ver com direitos de escolha, tem sim a ver com todos termos direito a uma educação digna, de excelência e igual para todos, e não,  não é de certeza este modelo de financiamento que estas pessoas tanto defendem, que garante esse direito.

 

Há uns dias o meu filho participou num jogo de basket contra o Estoril Baket, esta equipa joga no Pavilhão da Escola Salesiana de Manique. Um pavilhão com todas as condições, bastante melhor que o pavilhão municipal de Setúbal, ao lado do pavilhão havia uma piscina coberta, do outro lado havia um campo de futebol relvado e uma pista de atletismo sintética. O resto das instalações da escola estavam ao mesmo nível.

 

Acontece que a Escola Salesiana de Manique é uma das escolas com contrato de associação e é uma das escolas a que aqueles pais, que não sabem ou não querem saber mas que na realidade são uns privilegiados, se acham com direito a escolher.

 

Mas qual é a realidade do resto do país?

 

A equipa de basket onde joga o meu filho utiliza, por especial favor da câmara municipal,  para treinos e jogos o pavilhão de uma das escolas de Setúbal, basicamente são quatro paredes, um telhado  e pouco mais.

 

A minha filha mais velha está no Liceu de Setúbal, no inicio do ano escolar uma parte do telhado pavilhão caiu, como não há dinheiro para a reparação,  nos dias de chuva não há educação física, nos dias em que não chove as aulas são ao ar livre, esteja frio ou calor.

 

É claro que todos os pais que fomos ver o jogo a Manique estávamos de acordo, aquela era a escola ideal para os nossos filhos, o problema é que não há uma escola daquelas com contrato de associação em Setúbal e para quem cá mora já é uma sorte se conseguir escolher a escola pública onde colocar os seus filhos.

 

Aqueles pais que iam entregar cartas ao primeiro ministro acham que  o estado lhes deve garantir o direito a escolher o tipo de educação que querem para os seus filhos, eu concordo, a eles e a todos nós. O problema é que antes de se chegar a esse ponto, há muitas outras coisas para resolver e garantir. Por exemplo, garantir que há dinheiro para reparar o pavilhão do liceu de Setúbal para que os alunos possam ter todas as aulas de educação física a que tem direito.

 

Em lugar de gastar milhões a financiar escolas privadas de luxo, o estado deve garantir que existam escolas públicas com condições mínimas. Qual é a lógica de se fazerem contratos de associação com escolas privadas em cidades onde há ensino público suficiente?

 

A maneira do estado garantir uma educação pública eficiente e igual para todos não é financiando escolas privadas de luxo, é usando o dinheiro para melhorar o ensino público.

 

Já me esquecia,  evidentemente todo o mundo tem direito a escolher entre as publicas e as privadas, basta que se disponha a pagar, que foi o que eu fiz quando percebi que na pública neste momento não "há" lugar para o meu filho e que a resposta era nas privadas..

 

Jorge Soares

publicado às 23:29

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Imagem do Público

 

O Rendimento de Cidadania  ou ainda Renda Básica, é uma quantia paga em dinheiro incondicionalmente a cada cidadão pertencente a uma determinada região. O valor é distribuído pelo poder público de forma igualitária, não importando o nível social ou disposição para o trabalho de quem recebe. A retribuição garante o direito inalienável de todos usufruírem de uma parte das riquezas produzidas na região. (in Wikipédia)

 

A primeira vez que ouvi falar deste conceito foi através do Podemos, partido político da esquerda anti-sistema espanhola, esta proposta está entre as linhas mestras do Partido e  será de certeza um dos pontos que está neste momento em discussão entre Pablo Iglésias e Pedro Sanches, líder do partido Socialista.  com vista à formação de um governo de alternativa de esquerda ao PP do actual primeiro ministro Rajoy.

 

Traduzindo por miúdos, a Renda básica seria uma quantia a distribuir pelo estado a todos os cidadãos independentemente da situação financeira, familiar ou profissional, e, idealmente, deveria dar para viver de forma digna.

 

É uma ideia que se encontra em discussão em alguns países e que segundo uma noticia do Público estará prestes a ser aplicada de forma experimental na Finlândia e em algumas cidades da Holanda. Em Macau os gigantescos lucros do jogo são utilizados para algo parecido.

 

Em Portugal a ideia foi hoje apresentada na assembleia da República pelo Deputado Jorge Silva do PAN.

 

O conceito não deixa de ser interessante, sobretudo se for levada à letra a parte "deveria dar para viver de forma digna", resta uma questão muito interessante, num país como Portugal,sem petróleo ou outros recursos naturais e sem os lucros do jogo de Macau, como seria possível financiar algo assim?

 

Ao fim do dia na Antena 1 alguém, não me lembro do nome do senhor, defendia o conceito e a sua aplicação, como forma de financiamento propunha o fim dos paraísos fiscais e o pagamento justo e sério  de impostos por empresas e cidadãos. Mesmo que isto fosse possível, não sei se o dinheiro que de aí resultaria seria suficiente para manter a medida e a continuação do estado e das garantias tal como as conhecemos.

 

Não vou entrar na discussão sobre se uma medida destas  faria ou não que as pessoas simplesmente deixassem de se preocupar por ter um emprego e um salário para além do que daqui receberiam, mas não há duvidas que esta medida resolveria muitos dos males que afligem a nossa sociedade....O meu bom senso diz-me que simplesmente é impossível de concretizar.

 

Com respeito ao PAN, está muito longe de ser o Podemos, assim como Jorge Siva nunca será Pablo e Iglesias, para o bem e para o mal.

 

Jorge Soares

publicado às 22:15

Tony quer morrer e não o deixam

Imagem do Público 

 

A Eutanásia ou a morte assistida são assuntos recorrentes cá no blog, cada certo tempo aparecem,  não porque sejam assuntos que estejam na ordem do dia em Portugal, mas sim porque algures encontrei mais um testemunho de alguém que se recusa a passar por uma morte dolorosa e sem dignidade.  Primeiro foi a Eluana, depois foi o caso do Tony Nicklinson, depois foi o da Britanny, pelo meio houve um caso na Bélgica em que foi aprovada uma lei que permitiu a morte assistida de crianças.

 

Em Portugal o assunto veio agora à baila a partir de um manifesto a favor da morte assistida apresentado por uma serie de personalidades e porque o Bloco de Esquerda diz que vai avançar com uma iniciativa legislativa que permita a legalização da Eutanásia.

 

Nada como o exemplo para tentarmos perceber, o texto abaixo foi escrito por mim em Junho de 2012, para ler e reflectir:

 

Não vos posso dizer a paz de espírito que teria só por saber que eu posso decidir sobre a minha vida, em vez de ser o Estado a dizer-me o que eu devo fazer – nomeadamente continuar vivo, independentemente da minha vontade”.

“Não posso coçar-me se tiver comichões, não posso assoar-me e só posso comer se for alimentado como um bebé – só que nunca irei passar a comer sozinho, ao contrário do bebé (Tony Nicklinson)

 

Tentemos imaginar que de um dia para o outro ficamos literalmente presos dentro do nosso corpo, o mundo à nossa volta, as pessoas que que amamos, as coisas de que gostamos, tudo continua lá, mas nós não conseguimos mais que olhar, não podemos tocar, não podemos comer, não conseguimos sequer sentir, só olhar e pensar.

 

É esta a situação do Tony desde que em 2005 sofreu um AVC, está completamente paralisado sem sequer conseguir falar, só consegue comunicar com o mundo graças a um software especial que consegue ler os seus olhos. Depende completamente das pessoas à sua volta para conseguir continuar a viver. 

 

Tony simplesmente decidiu que isso não é vida, que  o seu estado actual e o sofrimento que este lhe causa não é justo nem digno, portanto o Tony quer morrer, exige que o deixem morrer.

 

Tal como na maioria dos países, no reino Unido a eutanásia e o suicídio assistido são ilegais, no seu estado  o Tony sozinho não consegue por fim à sua vida, portanto ele decidiu levar o caso até ao supremo tribunal e implora que o deixem morrer com a dignidade que ele já não tem em vida.

 

De toda a noticia, para além do estado e da lucidez do Tony chamou-me a atenção a seguinte frase do médico que lhe salvou a vida quando ele teve o AVC:

 

"...quando fui informado que ele estava vivo, fiquei surpreendido mas também triste. Não desejaria ao meu pior inimigo que ele ficasse vivo nestas circunstâncias durante tantos anos"

 

Só pensar na situação deste homem é aterrador, eu não me consigo imaginar a viver assim, o direito à vida há muito que está consagrado e é um dado adquirido, mas será que aquilo que o Tony tem é realmente vida? Será que como sociedade e como seres humanos temos o direito de obrigar alguém a passar assim o resto dos seus dias? Será que em casos como este a morte digna e sem sofrimento não deveria também ser um direito?

 

Jorge Soares

publicado às 21:36

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Lembram-se daquele "custe o que custar" de Passos Coelho? ...para ler e reflectir

 

"Estou desmotivado… mais! Estou revoltado!


Porquê? Tentando fugir a toda e qualquer subjetividade, vou-me restringir a factos (sem respeitar um acordo ortográfico que assassina a minha língua materna):

 

1. Tenho 38 anos, sou Médico há 15 anos. Possuo uma especialidade em Anestesiologia, uma subespecialidade em Medicina Intensiva e a competência em Emergência Médica. Gosto do que faço!

 

2. Recebo menos de metade de quando acabei a especialidade há 8 anos. É um facto. Para receber o meu ordenado base limpo tenho de acrescentar em média 100 horas extras por mês. Trabalho assim 65 horas por semana a uma média de 9 euros por hora. É um facto.

 

3. Este ano estive de serviço no dia de Natal, o ano passado fiz o 31 de Dezembro. É um facto. Nesse dia de Natal fui insultado pelo familiar de um doente que não concordou com o horário da visita do meu serviço. É um facto. Tenho um filho com 5 anos e não tenho dinheiro para pagar o infantário a um segundo que não tenho. É um facto.

 

4. Pertenço à minoria de Portugueses que paga impostos, e como sou considerado rico o meu filho paga mais na creche que muitos outros… pelo mesmo serviço, porque não come mais, nem come antes. É um facto.

 

5. Todos os dias tenho de tomar decisões clínicas que determinam a vida e a morte de pessoas ao meu cuidado. É um facto. Hemorragias aneurismáticas, como as do mediático caso do David, são apenas um exemplo das situações que eu e os meus colegas temos de tratar o melhor que sabemos e podemos. É um facto.

 

6. Mesmo sendo médico limito-me a comentar profissionalmente situações que são da minha área de diferenciação. A Medicina é tão vasta que se comentar situações ou acontecimentos de outras áreas sei que vai sair asneira. É um facto.

 

7. Vivo num País em que quem comenta o penalti e o fora de jogo acha que sabe o suficiente para ditar o certo e o errado naquilo que faço todos os dias. Em que aqueles técnicos de ideias gerais, a quem chamamos jornalistas, e os seus amigos comentadores profissionais, se sentem à vontade para “cagar lérias” sobre aquilo que desconhecem e não têm capacidade técnica para apreciar. É um facto. Por mais de 9 euros à hora… Julgo eu, porque nunca me mostraram o recibo de vencimento!

 

8. Trabalho num serviço de saúde onde tenho de improvisar a toda a hora porque o fármaco x e y “não há” (Ups… estamos proibidos de dizer que não há!). É um facto. Onde temos vários ventiladores de 30 mil euros avariados (um deles há mais de 1 ano!) porque “ninguém” pagou a manutenção. É um facto. Eu levo o meu carro à revisão todos os anos e pago. É um facto.

 

9. No dia em que o que me pagarem para ir trabalhar não for o suficiente para a despesa da gasolina e do estacionamento ( como concerteza acontece com algumas equipas de prevenção específicas do SNS), não o farei. É um facto. Isso não retira qualquer valor ao juramento de Hipócrates, nem a Lei obriga (ainda!) ao trabalho escravo. É um facto.

 

10. Se eu estiver doente e precisar de assistência prestada pelos meus colegas no SNS tenho de pagar taxa moderadora, ao contrário de muitos outros… É um facto. E se andar de comboio, como não sou trabalhador da CP também pago. É um facto.

 

11. Eu e os meus colegas trabalhamos mais doentes que muitos doentes que são vistos no serviço de urgência. É um facto. Vivo numa região em que qualquer dor de dentes, grão no olho ou escaldão da praia vai para a urgência do hospital numa ambulância de emergência médica. Muitas vezes com a família no carro imediatamente atrás da ambulância. E sem pagar um tostão. É um facto.

 

12. No hospital em que trabalho existem mais de 100 camas de agudos ocupadas com as chamadas “altas problemáticas”. Situação que se arrasta há vários anos e legislaturas e cuja resolução (política) escapa aos mais dotados. É um facto.

 

13. Vivo numa região em que se gastam muitos milhões em fogo de artifício e marinas abandonadas, sem existir contudo dinheiro para um monitor e um ventilador de transporte para a sala de emergência de um hospital dito central e centro de trauma certificado. É um facto.

 

14. A descoberta das vacinas constitui um dos maiores avanços da Medicina do século XX e a implementação de um plano de vacinação global para a população é um marco histórico de qualquer civilização, contribuindo para a redução da mortalidade infantil e aumento da esperança de vida. É um facto. Vivo num país que já não consegue garantir uma cobertura vacinal completa e atempada às sua crianças. Um retrocesso de gerações… um sistema podre e decadente. Não vejo os noticiários abrirem com esta notícia. É um facto. O meu filho não fez a vacina da difteria, tétano e tosse convulsa aos 5 anos. Não há… Talvez para o ano. É um facto.

 

15. E por tudo isto estou revoltado… É um facto.


Funchal, penúltimo dia de 2015.
Ricardo Duarte. Cédula da Ordem dos Médicos 41436"

 

Retirado da Visão

publicado às 23:00

amorviolento.jpg

 

Imagem do Facebook

 

Bom dia eu sou vitima de violência domestica e eu acho que a luta deveria ser contra o sistema judicial pois já que se trata de um crime publico a justiça e lenta na minha situação apresentei a primeira queixa em Julho já depois disso já me tentaram matar 2 vezes ele esta com uma medida de coação hilariante e esta a violar as medidas de coação já participei rodas estas situações e a justiça ainda não fez nada que me proteja e uma vergonha tenho vergonha de ser portuguesa tenho 4 filhos menores e só quando me matarem e que se vão ou não lembrar de fazer alguma coisa obrigada por me deixarem dar este grito de revolta não só por mim mas também por centenas de mulheres que não se sentem protegidas pela justiça e acabam mortas forca mulheres eu estou com vocês não desistam da vossa dignidade.

 

Marques Marlene

25-11-2013

 

 

comigo acontece o mesmo . em Fevereiro não morri ás mãos do meu marido graças a rápida intervenção da GNR, foi afastado de casa pelo tribunal, proibido de se aproximar de mim, de frequentar locais onde eu estiver pondo fim a 30 anos de violência. Mas aí a violência continua em forma de medo,de insegurança, é viver com medo de tudo o que mexe, medo da própria sombra. ele não cumpre as medidas que lhe foram impostas pelo tribunal e ninguém faz nada. o tribunal diz que as medidas são suficientes ( SE CUMPRIDAS ) mas ele não cumpre, antes pelo contrário, mesmo estando já divorciados, vivendo numa pequena vila, ele segue todos os meus passos ,e eu nada posso fazer . Na teoria é tudo bonito, pedem para denunciar, dizem para não ter medo, prometem ajuda, mas; na pratica; deixam-nos a mercê da sorte, do medo, da angustia,de andar na rua sempre a olhar para todo o lado. É terrível a sensação de insegurança em que vivo, eu e quem passa pelo mesmo, porque quem exerce violência não conhece nem respeita regras, venham de onde vier. É triste mas é realidade, temos que primeiro morrer, para depois alguém tomar medidas sérias.

 

Fé Carvalho.

25-11-2013

 

Escolhi estes dois textos, podia ter escolhido outros, infelizmente há muitas mais por aí, historias em primeira pessoa do que é o dia a dia de muita gente, são testemunhos do dia a dia de mulheres portuguesas que são vitimas de quem as deveria proteger, vitimas em primeiro lugar de quem lhes é próximo e muitas vezes vitimas da indiferença de quem está à sua volta, da família, dos vizinhos, da comunidade, das forças policiais, da justiça.

 

Segundo o Observatório de Mulheres Assassinadas, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, no que vai de ano registaram-se  27 homicídios consumados e mais de 30 tentados. Quase três mulheres assassinadas por mês, e isto é de certeza só a ponta do iceberg, muitas situações de violência doméstica não são nunca denunciadas.

 

Hoje é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, Já disse aqui várias vezes que sou contra os dias, não faz sentido nenhum escolhermos um dia para nos lembrarmos de algo que depois esquecemos o resto do ano, se isso faz sentido para o resto dos dias, faz muito mais sentido para um dia como este.., porque as mulheres, todas as vitimas de violência, sofrem os abusos todos os dias e devem ser lembradas e protegidas todos os dias... 

 

Desde 25 de Novembro do ano passado, quando também aqui falei do assunto, morreu quase uma mulher por semana e muitas outras dezenas foram humilhadas, violentadas, maltratadas, vitimas da violência e muitas vezes da indiferença de todos nós... a eliminação da violência, de todos os tipos de violência, deve ser um objectivo de cada um de nós para todos os dias, até que não haja no mundo mais nenhuma Marlene e mais nenhuma Fé a ter que lutar pela sua vida ante a indiferença de quem a devia proteger.

 

Jorge Soares

publicado às 21:31


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