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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Na semana passada quando escrevia o post sobre o céu em que vivemos, vieram-me à memória os meus tempos de estudante em Lisboa.
Depois de 15 dias a morar num quarto em Sete Rios e do episódio que contei naquele post sobre o Tu e o você mudei-me para um quarto na Rua do Poço dos negros. Há dias em que vou recordando factos e acho que poderia escrever um livro com algumas das coisas que me aconteceram nos quartos em que vivi em Lisboa.
Depois da primeira experiência falhada, a minha mãe lá na santa terrinha desencantou alguém que tinha família em Lisboa que tinha um quarto para alugar. Era um quarto minúsculo, com uma janela que dava para o interior do prédio, era num quarto andar de um prédio muito antigo e a precisar de obras. No inverno eu tiritava com o frio e no verão morria com o calor... mas era muito barato e as pessoas eram simpáticas. Felizmente o meu quarto ficava por baixo das aguas furtadas e não chovia lá dentro, mas na cozinha, na sala e em alguns dos outros quartos...chovia como na rua. Morei lá quatro anos, até que decidiram fazer obras no telhado e eu fui despejado.
Era um prédio com uma vizinhança pintoresa. No 3 andar vivia uma senhora que alugava quartos a meninas.... bom, pelo menos isso foi o que me disseram..... Com o tempo percebi que o termo meninas era mesmo eufemismo, no verão eu dormia com a janela aberta, e elas também, o resultado era que muitas noites eu acordava de madrugada com os gritos.... uma das meninas era extremamente barulhenta.... e tinha muitas visitas.
No segundo andar havia uma pensão de africanos, além do corrupio de entradas e saídas de pessoas, eram frequentes as zaragatas e as festas que entravam pela noite dentro.
No primeiro andar não havia problemas, soube muito mais tarde que vivia uma senhora sozinha, soube isto porque um dia ela morreu e o senhorio selou o apartamento, não fossem os do primeiro andar estender a pensão... mas sobre mortes neste prédio.... já falarei noutro dia... que também dá pano para mangas.
Como disse eram pessoas simpáticas, por especial favor eu pagava 10 contos pelo quarto, o apartamento era enorme, tinha uns 8 quartos, e eles pagavam 2 contos de aluguer..e passavam a vida a queixar-se quando o senhorio aumentava os 3 ou 4 % de lei. O raio do Homem não fazia obras.....
Como disse no outro dia, uma das coisas que mais me impressionou quando cheguei a Lisboa era a aparente facilidade com que decorriam os negócios da droga. De inicio eu achava estranho que fosse a hora a que fosse que eu chegasse a casa, nas ruas e vielas ali à volta havia uns fulanos que estavam por ali, nas portas de alguns prédios, com o tempo eu percebi que o negocio era ali, em plena luz do dia. De resto, com o meu ar de turista nórdico, bastava ir dar uma volta pela baixa de Lisboa para atrair as ofertas... .... somos um país estranho. Eu tinha vivido 10 anos em Caracas, estudei sempre em escolas publicas, o prédio onde morava era mesmo encostado a uma favela...e acreditem em mim, nunca vi ou ouvi alguém falar de consumo de drogas... cá...... enfim.
Jorge