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Preservativos nas escolas?, porque não?

 

As noticias sobre a discussão que está a acontecer na assembleia da republica sobre se devem ou não distribuir preservativos na escola fez acordar as minhas memórias.

 

Eu fiz a escola secundária na Venezuela, um país muito mais latino que o nosso, com uma cultura muito mais religiosa e em torno da família que a nossa, mas que em muitas coisas está a milhas... prá frente, é claro.

 

Andava eu no 9 ano, algures a meio da década de 80 do século passado, e tinha uma disciplina que se chamava Puericultura. Era nesta disciplina que se falava de educação sexual. Lembro-me que tivemos que fazer um trabalho de grupo que terminava com uma apresentação à turma sobre métodos anticonceptivos, já não me lembro qual nos calhou, mas sei que andamos pelos centros de saúde e  os hospitais a falar com os médicos e a recolher informações.  No fim, ficamos todos especialistas pelo menos num dos métodos e a grande maioria ficou a perceber muito bem as vantagens e perigos de cada um deles. E diga-se de passagem que esses conhecimentos me fizeram brilhar mais que uma vez, quando já regressado a Portugal e já na universidade, constatei que a maioria dos meus colegas mal sabia como é que funcionava o preservativo, quanto mais os outros métodos.

 

A educação sexual faz parte da educação, o sexo é um tema como outro qualquer, faz parte da vida e da cultura, e como tudo o resto na vida e na cultura, deve ser tratado em casa e na escola e não percebo porque é que há tanta gente que vê problemas nisso. Haveria que perguntar a quem é contra, se alguma vez abordou o tema com os seus filhos, e se o fez, como é que o fez...se calhar íamos logo perceber muitas coisas.

 

Ontem estava a ler o DN de Sábado e no caderno gente encontrei um artigo de Fernanda Câncio  onde se falava da distribuição de preservativos na escola. O artigo fala de pelo menos 3 escolas onde  desde há vários anos que há um gabinete de entendimento onde se respondem a dúvidas colocadas pelos alunos e se distribuem preservativos, isto porque desde há 10 anos que  a lei 120/99  o permite...e quanto a mim, muito bem.

 

Todas as pessoas envolvidas nos projectos das escolas retratadas falam do sucesso da iniciativa e da forma positiva como pais e alunos aderiram. Fiquei contente, porque uma das escolas é a Escola do Viso aqui em Setúbal, a escola secundária da minha área de residência.

 

Depois de ler isto fiquei a pensar, a assembleia da republica está a discutir uma coisa que já é permitida e legal há 10 anos, será que os senhores deputados não terão coisas mais importantes para discutir?, alguém me explica o que é que tem de mal a distribuição de preservativos nas escolas? alguém me explica o que é que tem de mal que se fale de sexo na escola? ou será que os pais preferem mesmo que os seus filhos aprendam por si e da pior maneira?

 

Jorge

publicado às 22:20


14 comentários

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De Branca a 25.05.2009 às 00:03

Sabes jorge , eu acho q na maioria das vezes é falta de assunto , por isso volta-se a outros passados.
Desde que feito de forma pedagógica , não me faz confusão, pena é que neste país se façam leis a trás de leis que depois não se aplicam ou se aplicam mal.
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De Jorge Soares a 25.05.2009 às 00:29

Pois, deve ser isso.

Pelo que li no artigo do DN, as coisas funcionam bem nestas escolas, portanto, só falta estender a coisa ao resto do país.

Jorge
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De xana a 25.05.2009 às 00:15

Sinceramente, eu que geralmente tenho opinião para tudo, desta vez fico-me pelo não sei... Sim, a educação sexual deve ser acessível a todos, quer seja na escola, em casa, ou nos centros de saúde, nos gabinetes de apoio á juventude, etc. Eu nunca entendi porque é que ainda hoje há tantos jovens "desinformados", porque eu sou um pouco mais nova que tu, nunca morei noutro país e sempre estive bem informada sobre sexualidade, meios anti-concepcionais, etc, e moro no campo, onde geralmente as coisas são ainda mais escondidas, e existem mais tabus. Acho que são coisas que dependem das pessoas em si, da curiosidade, do esforço para se conhecerem os factos e como as coisas se processam. Acho que os jovens de hoje primeiro tentam conhecer as coisas experimentando, e só depois é que tentam saber mais sobre o assunto. "Partem à descoberta, sem mapas, por assim dizer, e depois acabam por se perder. Tal como nas viagens primeiro deviam conhecer os mapas, saber o caminho, como lá chegar os perigos que se podem encontrar e só depois partir para a viagem." Claro que para haver dsitribuição de preservativos nas escolas terão de haver gabinetes de apoio, e isso prevejo ser caminho complicado, porque se já é dificil encontrar professores para "leccionarem" as aulas de educação sexual, mais dificil será ter pessoas com conhecimentos nas escolas para os gabinetes de apoio. Portanto, não sei...
beijinho
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De Jorge Soares a 25.05.2009 às 00:28

Xana.... quanto a mim, os preservativos são o de menos, se bem me lembro há máquinas que os vendem baratos em qualquer discoteca, ou nas casas de banho dos centros comerciais, ou.... Importante mesmo é que exista educação sexual, alguém que ensine aos jovens onde está o mapa e como é que ele se lê. Isso sim é importante.

Se as coisas funcionam nestas escolas sobre as que li, porque é que não haveriam de funcionar nas outras?

Beijinho
Jorge
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De entremares a 25.05.2009 às 11:15

Suponho que já é hábito, os nossos deputados debaterem sobre o que já legislaram... mas que nunca se cumpriu. Ou talvez já nem se lembrem das leis que aprovam ou reprovam... ( o mais certo ).
Seja como for... quanto mais ênfase derem ao assunto, mais formal se tornará. O que é péssimo.
Talvez se começassem por formar pessoas nessa área concreta ( em quantidade suficiente, claro ) e as colocassem no terreno... os resultados fossem mais palpáveis.

Assim, é tudo segredo, é tudo tabu, é tudo proibido.
Ora bolas, não é isto precisamente o mais apetecível ? Sempre foi. Da pior maneira, que o digam todas as jovens mães ( conheço muitas ) que interromperam os seus estudos para ... ser mães.

Podia tudo ter acontecido de maneira bem diferente, não é ?

Um abraço. Boa semana para ti.
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De Jorge Soares a 25.05.2009 às 23:10

Sim, o maior problema é que é tudo segredo e tudo tabu..e há muita gente, muitos pais, muitos professores que acham que deve continuar assim.

Felizmente ainda há bons exemplos, ainda há esperança.

Há tantas coisas que tantos poderiam fazer para mudar algumas coisas..

Abraço
Jorge
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De Paola a 25.05.2009 às 21:49

´Chover no molhado, amigo. Já reparaste quantas vezes ao mesmo facto é apresentado como "novidade"? Mesmo no ensino básico, quer na disciplina de Ciências, quer na de Formação Cívica e até noutras, dependendo dos conteúdos, estes assuntos são abordados... Não vejo onde está a novidade!!!
O acesso a métodos contraceptivos é outra coisa... No secundário, com parcerias, com técnicos especializados... tudo será melhor que tanta gravidez precoce... e doenças sexualmente transmissíveis... Um dos problemas mais complicados, nem está nas escolas... mas nas famílias... Lá vem a cultura, amigo!!! Uns não querem que se fale no assunto; outros demitem-se de educar e outros nem educam, nem querem que ninguém o faça... Se calhar o muito que se gasta, poupa-se na saúde...

Beijinhos


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De Jorge Soares a 25.05.2009 às 23:13

Sabes amiga, a mim custa-me perceber, como é que pessoas formadas, pessoas com educação e cultura não percebam o que é óbvio, como é que há tanta gente que decide esquecer tantas mães solteiras, tantas crianças que abandonam todos os seus sonhos para de um momento para o outro caírem na vida... custa-me, perceber como é que há tantos pais que preferem ter os seus filhos na ignorância e depois descobrir que são vitimas de doenças, de descuidos..... custa-me, porque na verdade, as pessoas que são contra, são aquelas que já viveram... e pelos vistos, as que esquecem que há quem precise de viver.

Beijinho
Jorge
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De Paola a 26.05.2009 às 09:15

Jorge, "não percebes" o peso da cultura? Lá volto eu!!! Lembras-te, por exemplo, da posição da Igreja relativamente aos preservativos? Face ao casamento? Face à procriação? Face ao aborto? Face ao amor? O que eu não entendo mesmo é se hipotequem vidas em nome de valores cientificamente caducos... e isto não tem nada a ver com Fé...

Beijinhos
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De iris barroso a 26.05.2009 às 23:49

Acho que é mesmo a 2ª hipótese... infelizmente!

Eu fiz um trabalho semelhante, mas foi mesmo no 2º ano e em Portugal.

Por isso eu nunca entendi o porquê de tanto fuzué à volta da educação sexual nas escolas. Eu falei disso em Ciências da natureza, quando demos o aparelho reprodutório e tudo surgiu de forma tão natural, que não entendo o porquê de quererem mudar o sistema, o porquê de criar uma aula apenas para isso, o porquê dos professores não serem capazes de falar sobre sexo, como se estivessem a falar do anti-cristo. Porquê este recente e falso puritanismo?!

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De iris barroso a 26.05.2009 às 23:52

Esqueci-me de explicar que o 2º ano antigo, é o equivalente ao 6º de hoje! Não pensem que foi na 2ª classe...
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De Jorge Soares a 26.05.2009 às 23:56

Olá

Iris, devias ter lido o artigo... o do jornal em papel,.... de certeza que ias perceber melhor.... eu estou como tu, não percebo tanta falsa moral e puritanismo,... mas ao contrário de ti, acho que faz falta a educação sexual... ou como nos casos apresentados, o gabinete onde os jovens se possam dirigir e tirar duvidas.
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De Elsa a 16.10.2012 às 11:52

Pois... sei que este post já tem uns "anitos", mas ando agora a ler estes temas que me serão úteis daqui a uns tempos (os 3 filhotes ainda têm 5 / 2 anos e 5 meses) mas a parte:" Eu falei disso em Ciências da natureza, quando demos o aparelho reprodutório e tudo surgiu de forma tão natural, que não entendo o porquê de quererem mudar o sistema, o porquê de criar uma aula apenas para isso, o porquê dos professores não serem capazes de falar sobre sexo, como se estivessem a falar do anti-cristo." fez-me lembrar o 11º ano um certo professor de CTV (Ciências da Terra e da Vida) que saltou um capitulo inteiro do livro referente aos aparelhos reprodutores, e quando questionado por um dos meus colegas, limitou-se a responder que "isso compete à intimidade do casal, não é para ser dado aqui"!!! Fizemos queixa, os nossos pais fizeram queixa, não deu em nada! Escusado será dizer que não foi esclarecida nenhuma dúvida em aula, estudámos por conta própria e que bem que o fizemos pois, para além de tudo, saiu um capitulo dessa matéria na prova global!! Espero que o ensino esteja bem melhor, e que este tenha sido apenas o caso de um professor!

Eu concordo plenamente com a Educação Sexual nas escolas e espero conseguir esclarecer os meus filhos quando chegar à altura deles.
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De marta a 27.05.2009 às 00:32

Eu vivi a minha infância e adolescência no Alentejo, no campo, arredores de uma pequena cidade onde fiz o ciclo e o secundário. Na altura, se a minha memória não me atraiçoa falámos dos órgãos reprodutores em Biologia ou Ciências e a minha professora falou sobre sexo, sem drama e sem trauma, nem para alunos nem para professores, nem para pais. Eu já tinha uma boa ideia de como a coisa se processava, porque além do que tinha aprendido na rua, com os mais espertos que eu, tinha tido uma conversa (a tal das mães com as filhas) com a minha mãe quando comecei a ser menstruada.
No 9º ano, tínhamos obrigatoriamente uma hora por semana com a psicóloga da escola, chamava-se se não me engano orientação profissional, mas o nome ficava aquém do que realmente era. A psicóloga era uma “amiga”. Falava-se de futuro, de aptidões, faziam-se testes e falava-se da nossa vida dos nossos problemas e das nossas dúvidas. Entre elas como é evidente sexo. Portanto, mais uma vez sem traumas nem dramas, falava-se de sexo e de métodos contraceptivos e em relação ao preservativo também aprendíamos a colocá-lo correctamente. E não sei como é agora a relação dos pais com os filhos, mas eu não tinha assim tanto à-vontade quanto isso, para chegar ao pé da minha mãe e dizer-lhe que queria ver um preservativo e aprender a colocá-lo.
Isto foi no meu 9º ano, na província, onde dizem que tudo anda mais lento e é atrasado, ora eu já fiz 33 anos... façam-me o favor!

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