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Ainda a hiperactividade.

por Jorge Soares, em 09.06.09

Criança hiperactiva

 

Por norma sei quando um tema é muito ou pouco tratado na internet pelos logs aqui do meu cantinho, há temas que desde o mesmo momento em que os toco, passam a ter visitas diárias, em alguns casos muitas visitas, foi assim com a Adopção em Portugal, e com as famílias de acolhimento, todos os dias há pessoas que chegam ao blog porque fizeram uma pesquisa no Google, são de longe os que trazem mais visitas, em ambos falei de temas que são pouco debatidos e sobre os que há pouca informação na internet.

 

Desde há dois dias reparei que há muita gente que vem parar ao post em que falei da hiperactividade, é outro tema do que pouco se fala, apesar de que há muita gente que tem opinião, principalmente a opinião que há muito de falta de educação e pouco de doença. Não deixa de ser verdade em muitos casos, mas também é doença em muitos outros.

 

Há mais de um ano escrevi um post que  tinha como titulo Eu pai, confesso-me incapaz e que começava assim:

 

"6:55 da manhã, toca o despertador, é sexta feira, Jorge, cheira a queimado, não cheira nada, Jorge, cheira mesmo a queimado,!

 

-N. tu estás a queimar coisas?

 

-Não mamã!

 

O facto de ele a essa hora estar acordado, já é mau sinal, a P levanta-se e vai ver, de facto cheirava muito a queimado, ela grita qualquer coisa com ele... e é aí que eu me levanto, ela tinha encontrado uma daquelas caixas de fósforos de brinde na cama..... eu encontrei uma caixa de fósforos das grandes..... e depois disso, a tampa de uma caixa com restos de plásticos, de papel, de não sei quantas coisas queimadas e ainda quentes..... tudo isto na cama, debaixo de edredão, onde também tinha encontrado os fósforos."

 

Nesse dia eu interiorizei que tínhamos um problema, até ali eu achava que era uma questão de educação, eu achava que o meu rigor e mão dura iam fazer com o N. deixasse de fazer asneiras e traquinices umas atrás das outras, nesse dia, e ante o facto de que podíamos todos ter morrido queimados, eu aceitei que realmente era preciso mais, que sozinhos não íamos lá. 

 

A hiperactividade vai muito mais além da falta de educação, é verdade que existe muita gente que se aproveita da palavrinha para explicar a falta de educação dos filhos, mas também é verdade que há muitos casos em que a doença existe mesmo.

 

Mas uma coisa certa, hiperactividade não é sinal de falta de educação, o N. é uma criança traquinas e que está sempre pronto a aprontar, mas é educado e sabe comportar-se em casa e na rua.

 

Vou deixar aqui o comentário da Anabela (obrigado), ela explica muito bem o que é a hiperactividade e o que sentimos os pais.

 

"Pois é... sou mãe de uma criança hiperactiva!

 

É verdade que há uma tendência geral em chamar hiperactivo a qualquer criança activa, irrequieta ou até mal-educada, uma forma de desculpar esta ou aquela atitude... é verdade, sim.

 

Mas contudo, a hiperactividade existe, é um distúrbio da aprendizagem e do comportamento muito difícil de viver, quer para o hiperactivo, quer para seus familiares.

 

E não é a dizer que não passa de uma desculpa para o desresponsabilizar que se vai resolver um problema tão complexo.

 

O distúrbio de défice de atenção com hiperactividade (DDAH) e que muitas vezes vem acompanhado de dislexia, dificulta muito a vida da criança que não pode, não consegue controlar os seus impulsos. Não é uma questão de educação, mas claro está, não impede de dar educação.

 

O meu filho tem imensas dificuldades, quer na escola, quer na sua vivência diária, mas não é mal educado. Não falta ao respeito a ninguém, o que também não quer dizer que não faça asneiras... Uma criança "hiperactiva" não é apenas mexida... tem outras dificuldades... Aprende com castigos como qualquer outra criança, mas o défice de atenção e a sua incapacidade em manter-se atento, leva a que não consiga "lembrar-se" que não pode fazer determinadas acções. A informação está lá e depois da asneira feita até é capaz de se lembrar, mas as acções são mais rápidas que o pensamento...

 

Saio com o meu filho e ele não se porta mal... foram anos de treino, de paciência, de explicações, de conversas meigas... porque as palmadas, os ralhetes... não resolvem nada nestas crianças, pelo contrário, porque são crianças com comportamentos compulsivos, por vezes até agressivos. Agressividade gere agressividade... não sabem medir consequências e se o exemplo que damos é que se pode dar palmadas, assim o fazem porque não têm capacidade para entender de outra forma. Não nada fácil lidar com crianças com DDAH, por muita teoria que se tenha, nem sempre temos a paciência necessária.

 

A medicação resolve o défice de atenção, permite ter mais concentração... não resolve nem cura a doenças. São normalmente crianças inteligentes mas com imensas dificuldades na aplicação dos conhecimentos. É como estar descansadamente no sofá a ver TV e mudar de canal com o comando, mas sem ele não sabe como fazê-lo. É este o problema do DDAH, não tem comando, os canais estão lá, mas não tem como mudá-los. E tem noção dessa limitação, o que, a cada dia que passa, lhe diminui a auto-estima.

 

Toda esta conversa é irritante para os pais de crianças realmente hiperactivas, os problemas destas crianças já são suficientes, não precisam de ser catalogadas de mal-educadas.

 

Não há nada que doa mais a uma mãe que ver o seu filho, à noite, na cama, antes de dormir, a chorar por não saber como parar, dizer que "se calhar sou burro, mas vale desistir... não sei fazer nada bem"

 

Muito mais há a dizer,.. fica para outro dia

 

Jorge Soares

 

PS:imagem retirada da internet 

PS2:Bons feriados e bom fim de semana a todos, que aqui o senhor vai para o Alentejo, longe de blogs e computadores.

 

publicado às 21:45


9 comentários

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De cigana a 10.06.2009 às 03:01

Conheço miúdos hiperactivos e miúdos malcriados. São muito diferentes, tanto eles como os pais.
Chego a ter pena dos miúdos hiperactivos e dos respectivos pais. Os pais normalmente são firmes e mantêm a rédea curta, tentando evitar os desastres. Mas nota-se que os miúdos não conseguem deixar de criar uma série de complicações, como se fosse um comportamento compulsivo. Obedecem se forem repreendidos, mas em vez de estar a acender e a apagar a luz, ficam a mexer em todos os botões do comando da TV, e depois de outro ralhete, passam a outro disparate qualquer. Obedecem sem fitas, mas parece que têm pilhas Duracell e não conseguem parar.
Mas o meu prometido post era sobre os outros, os malcriados e os seus papás.
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De laurinda a 11.06.2009 às 01:28

Hiperactivo ou não! eis a questão.
Depois de anos a saltitar de pediatra para medica de desenvolvimento/psicologa de apoio especial/ pedopsiquiatra e ainda sem diagnostico definitivo, fico a pensar....serei eu doida?
Com um filho eletrico de 5 anos, meiguinho e sempre pronto a pedir desculpa, mas sempre a repetir as mesmas asneiras e outras mais, impulsivo, irrequieto, brutinho até cansar(com ele nada se mantem intacto muito tempo, parte tudo). Nunca mas nunca, uma unica vez, consigo estar estar sentada no sofá a ver o que quer que seja, pois salta-me para cima, vindo de qualquer lado e de qualquer maneira, sem medir perigo de especie alguma, obrigando-me a dar-lhe atenção continua a qualquer preço. Sou uma pessoa com um limite razoável de paciencia mas ele consegue por vezes levar-me ao limite e passá-lo até.À hora da refeição é um filme, com o miudo a por a todos a cabeça num bolo, ralho, immponho ordens, ponho de castigo, tenta sempre impor a sua vontade, tentando com artimanhas chegar onde quer e às vezes consegue, pois vence-me pelo cansaço e pelo desespero. Ir às compras, com ele sempre foi um pesadelo, nas lojas a minha preocupação sempre foram as portas de saida, pois parece um furacão, deita-se rebola-se, corre...
Gostava que alguem me dissesse se isto, são ou não sintomas de hiperactividade!
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De sonia a 11.06.2009 às 23:05

Por vezes as crianças nessas idades são muito traquinas, cheias de energia e depois acalmam. O meu filho, embora continue uma criança muito dinâmica, acalmou muito desde que entrou para a escola (1º ciclo). Antes disso fazia cada uma! abriu o lábio 3 vezes, enfiou uma pilha no nariz, perdeu-se várias vezes, enfim...trinta por uma linha, surpresas todos os dias. Agora mudou completamente, talvez por ter interiorizado várias regras, ter a noção do perigo...nunca foi mal educado mas foi preciso sempre muita paciência. realmente um manual para pais dava muito jeito!



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De laurinda a 12.06.2009 às 11:40

Agradeço o apoio! O meu filho não é o único a ter esse comportamento e isso eu sei.
Esqueci-me foi de dizer que tenho mais 2 filhos com idades muito diferentes, mas que nunca tiveram um comportamento tão desafiador! Pois este pequenito, consegue ser mais difícil que os outros 2 juntos... e tem um defeito terrível , que é quando contrariado reage, impulsivamente, agride e atira o que tiver à mão. Já tive todo o tipo de reacções , da minha parte, inclusive , com as orientações da Pedopsiquiatra e ainda não consegui que ele mudasse!
Espero que ele acalme e mude com a idade, senão vou ficar velha a uma velocidade ainda mais rápida que a imposta pelo tempo!
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De Anabela a 12.06.2009 às 18:12

Olá... cá estou eu outra vez!
Como a compreendo...
O meu Gabriel era exactamente assim com essa idade, sozinha eu não saia de casa com ele...
Massacrava-me diariamente, saltava-me em cima quando eu tentava relaxar no sofá... não tinha descanso, ele não parava, mas não fazia asneiras. Nunca me tirou nada do sítio em casa, nunca partiu nada e por incrível que possa parecer, apesar das acrobacia, nunca se magoou!
Não dormia mais de 3 ou 4 horas por noite... intercaladas, o meu cansaço era tanto que o deitava ao meu lado, passava a noite a puxar-me o cabelo, pois era a única coisa que o acalmava. Isso durou até aos 6 anos, com o tempo habituei-me a dormir assim... embora o real descanço não existisse.
A hiperactividade só deve ser diagnosticada com rigor depois da entrada na escola, pois é fundamental avaliar também as capacidades cognitivas. Normalmente vem acompanhada de défice de atenção, o que limita as capacidades de aprendizagem. Uma crinaça hiperactiva é impulsiva, irriquieta e mexida, não só em casa mas também na escola.
Alguns psicólogos e pedopsiquiatras avaliam o DDAH antes da idade escolar, embora a maioria defenda que se deve aguardar pelos 6 ou 7 anos para fazer o diagnostico.
Algumas crianças, no ambiente escolar e quando sujeitas a regras de grupo, mudam...
Infelizmente não foi o caso do meu filho e iniciou medicação com 7 anos.
Com a cumplicidade da professora, no 1º ano, filmamos um dia "normal" de aulas. Foi realmente ilariante, mas profundamente preocupante...
Nunca imaginei algum dia ver tal espectaculo... Sempre pensei que conseguiria conter-se na sala de aula!
Tenha paciência... não grite com o seu filho, não repreenda em demasia, tente levá-lo pela brincadeira, seja clara quando lhe dá instruções. Se for hiperactivo, não tem capacidade para interpretar o que diz... não lhe diga "o casaco ficou no chão", à espere que ele o apanhe... tem que dizer "apanha o casaco".
Quanto mais agitação houver, mais agitado irá ficar, é preciso falar sempre com calma, meiga, abraçá-lo quando estiver incontrolável.
É difícl, eu sei... é esgotante, mas só assim se consegue avançar...
Força!
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De Jorge Soares a 16.06.2009 às 00:00

Olá

Acho que o comentário da Anabela diz tudo, mas eu vejo o meu filho no que descreve do seu.....

Não é fácil, nada é fácil com crianças assim, mas com amor, carinho e algo de mão dura, eles crescem e são felizes como qualquer criança.

Jorge

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De Jorge Soares a 15.06.2009 às 23:55

Nem sempre é fácil distinguir onde termina a falta de educação e de controlo e começa a doença..eu demorei muito tempo a aceitar que era doença...

Existe muita permissividade na sociedade actual, a maioria dos pais acha que não se devem contrariar as criaturas e elas crescem sendo uns déspotas...

Fico à espera do teu post

Beijinho
Jorge
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De Anabela a 12.06.2009 às 19:00

Olá... muito obrigada pela alusão ao meu comentário...
De facto, há muito a dizer sobre a hiperactividade e essencialmente sobre o drama da hiperactividade, porque é um drama, para a criança - muitas vezes injustiçada - e para as famílias.
É uma luta diária, quer para proporcionar maior qualidade de vido à criança, quer para fazer valer os seus direitos, e sobretudo, uma luta contra a discriminação que todos os dias enfrentamos.
É uma luta diária para uma crianças que apenas pede para crescer e ser compreendida, que apenas quer sentir-se "igual" aos outros, e que não entende... não entende porque é olhada de lado, porque é criticada, porque é "diferente"... porque não consegue, porque.. porque...
Porque ninguém ecolhe nascer com limitações, porque "parece" igual aos outros, porque simplesmente é tida como mal-educada...
Cheguei a ter receio em dizer que o meu filho é hiperactivo... receava o olhar dos outros... receava as ideia pré-comcebidas... mas hoje, olho em frente, cabeça levantada... o meu filho é como é, não por escolha, não pela educação que lhe dei.. é como é por assim foi, só tenho que que o ajudar a enfrentar a realidade, o mundo cruel que o rodeia e ajudá-lo a crescer...
Obrigada por falar neste assunto.
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De Jorge Soares a 16.06.2009 às 00:03

Olá

Obrigado eu pela forma clara e esclarecida como fala do assunto, muito melhor que eu... há muito mais para dizer, de certeza que voltarei ao tema.


Jorge

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