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Há portugueses de primeira e segunda?

por Jorge Soares, em 07.09.09

 

Liceu Carlos Soublette

 

Um destes dias deparei-me com a seguinte frase

 

Se o Liédson jogar pela selecção portuguesa, deixo de assistir aos jogos. Não por qualquer espécie de discriminação contra os estrangeiros. Mas gostava que a selecção não fosse constituída por brasileiros naturalizados, e caminhamos para a ausência de portugueses. Verdade que depois de naturalizados são, para todos os efeitos, portugueses. Mas para efeitos futebolísticos não.

 

Marta Rebelo - Deputada do PS

 

 

Nunca na vida tinha ouvido falar da Marta Rebelo, imagino que será mais uma que está na assembleia da república para fazer numero, as palavras dela fizeram-me recordar.

 

No Liceu Carlos Soublette o primeiro toque não era o da campainha, todos os dias o primeiro toque era o do hino nacional. Naquele dia, como todos os dias, a directora da escola desceu até ao pátio, eu estava por ali na conversa com os meus colegas, ela tocou-me no ombro, estendeu a mão entregou-me a bandeira.

 

- Hoy te toca a ti

 

Olhei para ela,   com cuidado  recolhi o pano das suas mãos ,  dirigi-me ao mastro, atei as pontas à corda tendo  cuidado para não trocar as cores, não fosse o Amarelo da madre Espanha ficar por baixo e o sangue dos heróis da independência ficar por cima. Passados uns segundos o hino começou a tocar, e ali estava eu, com as centenas de alunos da escola a olhar para mim, ali estava eu, orgulhoso!,  porque apesar do meu bilhete de identidade amarelo de estrangeiro, até a directora da escola via em mim alguém digno de içar aquela bandeira, que apesar de não ser verde e vermelha, também era a minha.

 

O jogo foi no Sábado, Liedson jogou e até marcou o golo, no fim estava tudo tão chateado que nem se terão lembrado da polémica alimentada por frases como a da Senhora deputada. A mim a polémica fez-me confusão, não a percebo, não percebo porque pode ser Liedson polémico e não o ser Manuel da Costa, que não nasceu cá, nunca cá viveu e nem fala português. Assim como não percebo porque é que estamos todos orgulhosos do  Francis Obikwelu  , e depois achamos mal que Pepe tenha decido jogar por Portugal. No Judo há a Yahima Ramirez, que nasceu em Cuba, o Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim , de resto, há naturalizados na selecção de Basket, na de Andebol, na de Rubgy, na de natação, etc, etc, etc.

 

Porque é que esta polémica é só na selecção de futebol?..e só com os jogadores brasileiros?... não sei.. quer dizer, acho que prefiro não saber.

 

Pode ser inocência minha, mas coloco-me no lugar do Liedson ou no do Pepe e volto a aquele dia em que eu ia subindo a bandeira no mastro da escola, tendo o cuidado de não ir nem muito rápido nem muito devagar, porque a bandeira devia chegar lá acima com o ultimo acorde do hino.

 

Jorge Soares

PS:Imagem da internet, ainda lá está o mastro, ainda que as árvores tenham crescido.

 

publicado às 22:46


15 comentários

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De DyDa/Flordeliz a 07.09.2009 às 23:42

Em primeiro lugar quero felicitar-te pois fiquei deliciada com a forma que descreves o orgulho da tua participação no hastear da bandeira. De resto concordo contigo! Se vestem a nossa camisola é porque mereceram e aceitaram fazer parte da nossa selecção e por isso recebem o meu respeito e o meu apoio. Aliás, a maioria é de uma simpatia e humildade que seria exemplo a seguir por desportistas que se consideram 100% "made in portugal".
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De Jorge Soares a 08.09.2009 às 22:31

Há coisas que me puxam pela memória, pelas vivências.... felizmente eu vivi... e sei que isso fez de mim alguém bem melhor, porque consigo olhar para o mundo com uma perspectiva que dificilmente teria se não tivesse passado por uma cultura diferente, conhecido outro povo... outras formas de ver a vida.

Tens muita razão, a maioria destas pessoas representa o nosso país com muito orgulho e carinho e não são umas prima donas.

Beijinho e obrigado
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De xana a 07.09.2009 às 23:51

Estive aqui, saí, mas voltei.
A deputada em questão, provavelmente é das que não quer ver brasileiros na selecção, mas defende a integração de Portugal na Espanha... vai dái...
bjks
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De Jorge Soares a 08.09.2009 às 22:32

Olá Xana

A deputada em questão deve ser uma daquelas que estava nas listas só por causa da paridade, ... é nestas alturas que eu acho que definitivamente há deputados a mais no nosso país.

Beijinho
Jorge
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De Margarida a 08.09.2009 às 07:59

Ola',

Esse comentario foi simplesmente Xenofabo e uma vergonha.

Beijos para ti, a P. e as criancas,
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De Jorge Soares a 08.09.2009 às 22:33

OLá

Bom, eu não queria ser tão directo.... mas foi sem duvida o que eu achei.
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De Pedro Oliveira a 08.09.2009 às 09:22

Só para dizer que a Marta Rebelo é bem gira....
sobre o assunto já sabes a minha opinião.
abraço
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De Jorge Soares a 08.09.2009 às 09:57

HUmm.. tendo em conta o meu post sobre a Paula Deus, (http://oqueeojantar.blogs.sapo.pt/134875.html) ... está visto que o PS arranja uns bibelots para que os deputados possam descnasar a vista quando a coisa está borrecida... pena é que depois os ditos bibelots abram a boca.

Abraço Pedro
Jorge
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De DH a 08.09.2009 às 10:03

Fizeste com que as lágrimas transbordassem dos meus olhos... Pergunto-me e não se pode amar a Pátria que nos dá pão da mesma forma como se ama a que nos viu nascer... E também me lembrei do teu post em que falavas da M.João Pires, José Saramago, Miguel Sousa Tavares... Que comentei bastante...

Eu fui registada como portuguesa de segunda. Nasci numa ex-colónia e na altura a minha Pátria fazia a distinção.
DH
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De Jorge Soares a 08.09.2009 às 10:11

Pode, claro que pode, o meu coração diz-me que pode... mas acho que só quem já passou por isso consegue ter a capacidade de o entender.

Também eu já me senti português de segunda, quando o meu sotaque e forma de ser, me denunciavam como alguém a rotular.. emigrante!.

O racismo e a xenofobia moram em muitas casas e estão vestidos com muitas vestes no nosso país.

Beijinho
Jorge
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De entremares a 08.09.2009 às 12:42

Meu caro Jorge...

Já deves ter percebido que não sou própriamente um "animal politico", mas também é verdade que não podemos fazer como a avestruz, quando os nossos politicos dizem palermices... em nosso nome, ainda por cima.

" Minha pátria é minha lingua" diz a canção, diz o poema.
É... talvez seja. Mas a Pátria também é o acolhimento, o sentir-se parte de algo, não necessáriamente perfeito, mas de algo que nos transcende a todos. Provávelmente esses comentários parvos que ( e bem ) motivaram este teu post partem daquele tipo de pessoas que até é capaz de sentir que Portugal é este pequeno rectangulo, que acha que todos devemos pedidos de desculpa a Africa, pedidos de desculpa aos mouros, aos árabes, aos chineses, a toda a gente a quem o nosso passado enquanto nação possa ter maltratado. Provavelmente essas pessoas não se coibem de contratar emigrantes como funcionários, e até os obrigam certamente a falar a lingua de Camões.
Provavelmente... se essas pessoas emigrassem, sentir-se-iam excluidas, nunca assumindo a tua posição ( mais que correcta ) de conseguir hastear uma bandeira, que não a sua por nascimento.

Essa gente tem um espirito mesquinho, e irrita-me. Faz-me lembrar um tempo em que a frase " Orgulhosamente sós" queria significar precisamente isso, o isolamento do mundo.

Ah, a propósito... ontem comemorou-se o aniversário da independÊncia do Brasil. Terá essa senhora ainda pretensões ao velho império?

Um abraço.
Rolando
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De Jorge Soares a 09.09.2009 às 21:41

Amigo Rolando, fixo esta frase:

"a Pátria também é o acolhimento, o sentir-se parte de algo, não necessáriamente perfeito, mas de algo que nos transcende a todos"..

É exactamente isso que eu sinto que sentia naquele momento, eu era parte daquela pátria feita de muitas pátrias diferentes.

Infelizmente de vez em quando aparecem estas pessoas, que nos recordam o país em que vivemos e as mentalidades que infelizmente ainda por cá moram....

Abraço
Jorge
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De Escondida a 09.09.2009 às 01:40

Lamento mas não concordo contigo.
E eu, embora não goste do Liedson (bolas, a cara dele irrita-me!), gosto muito o Pepe e do Deco.
E eu acho que a questão é muito simples.
Eu sou contra o Liedson na selecção das quinas, porque ele não foi para lá pelo amor à pátria. Digam o que quiserem. Portugal necessitava de golos e ele era uma solução.
O Deco foi para à selecção quando não era necessário um jogador na posição dele, no Deco mal se nota, a falar, que é brasileiro. O Deco diz que quer viver cá. Aqui sim, já acredito num amor à nossa pátria.
Eu não acho que conte o sitio onde nasceste para representares um país, conta sim a mentalidade que tens.
Além de tudo, e por muito amor à pátria que exista por parte do Deco eu acho que mesmo assim não devia estar lá. Porque não é português, é brasileiro!!

Porque é que se fala nos casos no futebol e não nas outras modalidades? Não parece uma pergunta tua, de um conhecedor da sociedade em que habita. Porque o futebol faz parte de Portugal, como mais nenhum desporto faz. Nunca viste ninguém na rua, a chorar porque... Nelson Evora teve azar!! Mas já deves ter visto a chorar por resultados de futebol.

Espero que tenhas entendido o que eu quero dizer. Existe uma nacionalidade, que pode não ser onde nasces, mas com a que és criado. O J. nasceu na suiça, cresceu lá, mas sempre com a cultura portuguesa, fala português e francês incrivelmente bem desde miudo, e assume-se como português, porque foi a pátria que amava.
Assim, cada um representa a sua nacionalidade, e não é por questões de dinheiro ou de "fama" que a deve mudar!

Boa noite
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De Jorge Soares a 09.09.2009 às 21:49

Amiga, o facto de eu ser um conhecedor da sociedade em que vivo é o que me faz gastar o meu pobre latim e gritar ao vento o que sinto... há sempre a esperança que alguém me leia e fique a pensar.... quem sabe!

Precisamente ontem fiquei escandalizado, sabes que para jogar na selecção de Rubgy não é necessário ser português? é verdade, basta ter jogado cá 3 anos e meio, e há lá Argentinos, Australianos, Franceses, ... e quem não se lembra da forma como eles cantavam o hino no mundial? e o orgulhosos que todos ficamos apesar de terem perdido os 3 jogos?

Como é que tu avalias as motivações do Liedson?, ou do Deco?, ou do Pepe?, eu tenho a certeza que no caso de não terem escolhido ser portugueses ambos estavam a jogar a titulares na selecção brasileira, como avalias isso?

A nacionalidade pode ser o que dizes, mas eu deixo-te a frase do Rolando:

"a Pátria também é o acolhimento, o sentir-se parte de algo, não necessáriamente perfeito, mas de algo que nos transcende a todos"

Como avalias que o Liedson não se sente parte?

Beijinho
Jorge
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De Escondida a 09.09.2009 às 22:10

"sabes que para jogar na selecção de Rubgy não é necessário ser português? "
E consideras isso correcto?
Ficamos orgulhosos pelo que representantes do nosso país fizeram, claro que sim! A mim, não me agrada que Argentinos joguem por Portugal, porque não são portugueses, até podem nem saber falar a lingua de Camões!!

O Deco eu acredito que estivesse a jogar pelo Brasil, de facto, é um excelente jogador. Mas como eu te digo, por conhecimento pessoal, eu acredito no amor à Pátria por parte do Deco.
O Pepe... hmmm... bem, no Pepe já tenho as minhas dúvidas de o ver a defender as cores do Brasil a titular, não por não ser bom, que é, mas porque talvez exista melhor para o lugar dele, não duvidando no entanto que fosse convocado, mas AGORA, não antes de se tornar português.
O Liedson, que é tão recente, só tenho uma coisa a dizer: se tinha lugar, porque não foi convocado até agora, se até já teve momentos mais felizes do que o que está a passar?

Eu não digo que o Liedson não se sinta parte de nós, mas não duvido nem por nada, que tudo isto foi por interesse! Porque para se sentir parte de algo não tem de se mudar do modo como está. Um sportinguista não tem de se fazer sócio para dizer que se sente parte da familia sportinguista!

Eu não tenho nada contra os humanos de outras nacionalidades. Como a maioria das pessoas, tenho amigos/conhecidos que não são portugueses, e gosto muito deles. Mas, na maioria das vezes, não considero correcto que representem as cores nacionais.
Dei-te o exemplo do J.! Ele foi registado como Suiço, no entanto, a ele, eu aceito que pertence a Portugal, porque cresceu com a nossa cultura, fala a nossa lingua desde miudo, ama o nosso país desde que se lembra o que é isso!

:)

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