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Crianças institucionalizadas

Imagem da internet

 

Cá por casa para além das noticias pouco se vê a televisão generalista portuguesa, deve ser por isso que o programa me passou ao lado, o comentário do Pedro hoje à tarde chamou a minha atenção para o assunto e lá fui ao site da SIC e pude ver o programa.

 

Fiquei chocado com tudo o que é ali mostrado, é chocante ver que há crianças que estão no centro de acolhimento há 6, 7, 12 anos, entraram para ali crianças e vão sair adultos, por muito bom que seja o lar, por muito boa intenção que pareçam ter as pessoas, a verdade é que aquelas crianças cresceram e viveram longe do carinho de uma família e como pudemos ver em mais que um dos testemunhos, isso deixa marcas.

 

Está claro que há algo de errado com tudo isto, como é possível que uma criança que entra para um centro de acolhimento com um ano, continue lá aos 10? Quantos anos são necessários para que se conclua que não vai haver volta atrás e que deve ser encontrado um projecto de vida que não passe por famílias que não aparecem?

 

No encontro nacional de adopção da semana passada Fernanda Salvaterra, responsável pelas equipas de adopção de Lisboa, dizia a propósito da integração de crianças nas famílias adoptivas, que conseguiam saber à partida se a integração ia ser mais fácil ou mais difícil de acordo com a instituição de onde elas vinham, isto porque há instituições que preparam as crianças para a adopção e outras que por um motivo ou outro não o fazem.

 

É claro que a instituição retratada na reportagem não prepara as crianças para a adopção, o caso que apresentaram ali é gritante, levar uma criança a uma esplanada e apresentar-lhe duas pessoas que supostamente irão ser os seus pais, assim,  sem preparar a criança previamente, só pode resultar em fracasso. O que a mim me pareceu é que esta instituição não tem uma equipa preparada para enfrentar estas situações, não prepara as crianças, quando falamos de crianças a boa vontade não chega, é necessário que existam equipas profissionais e preparadas para preparar as crianças para a sua vida futura, já seja o regresso à família ou a ida para a adopção.

 

Outra coisa que me chocou foi a forma como as crianças foram apresentadas na reportagem, perfeitamente identificáveis, não sei quem deu a autorização, mas duvido que o tribunal, o verdadeiro responsável como foi dito várias vezes,  tenha autorizado isto, até porque a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei: 147/99 de 01 de Setembro, artigo 90º, número 1) diz o seguinte:

 

1 - Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem situações de crianças ou jovens em perigo, não podem identificar, nem transmitir elementos, sons ou imagens que permitam a sua identificação, sob pena de os seus agentes incorrerem na prática de crime de desobediência.

 

Eu sei que estas reportagens são importantes para chamar a atenção das pessoas para o que verdadeiramente se passa com as crianças, sei que esta reportagem fez mais para chamar a atenção que mil posts meus, mas era mesmo necessário mostrar as caras das crianças? 

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:31


24 comentários

Sem imagem de perfil

De Essência a 03.11.2009 às 09:41

Eu vi a reportagem do princípio ao fim. De tudo o que escreveste no post, houve mais uma coisa que me chocou, algumas daquelas crianças, como deu para perceber vão ficar na instituição até à idade pré-adulta. Pergunto-me eu: Como é possível nenhuma delas ter um projecto de vida, como é possível estas instituições não prepararem estes jovens para a vida "cá fora", porque pelo que deram a perceber, salvo raras excepções e as idas para a escola, elas não têm contacto com a realidade do mundo exterior. Outro grande ponto de interrogação aqui fica: Como se processa a saída delas da instituição, como são preparadas, como são encaminhadas para que fique salvaguardada a sua subsistência? Disto não falaram, terão também algum apoio pós saída da instituição?

Tantas perguntas sem respostas...
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De Jorge Soares a 04.11.2009 às 22:50

É possível porque há quem queira que as coisas sejam assim, de toda a conversa ficaste com a ideia de que alguém ali era favorável à adopção daquelas crianças?

Apoio?, claro que não, no dia em que fazem 18 anos elas querem é sair dali... porque aquele centro de acolhimento é razoável, mas nem todos são assim, e há alguns muito maus mesmo...

É suposto as instituições terem técnicos, assistentes sociais, trabalharem com psicólogos... deu-te ideia que ali existisse algo disso? preparar como?

É mesmo muito triste
Jorge

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