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Livro:Caim, José Saramago ..... e o Haiti

por Jorge Soares, em 24.01.10

Caim, José Saramago

 

A Distancia não permitia a Caim perceber a violência do furacão soprado pela boca do senhor nem o estrondo dos muros desabando uns após outros, os pilares, as arcadas, as abóbadas, os contrafortes, por isso a torre parecia desmoronar-se em silêncio, como um castelo de cartas, até que tudo acabou numa enorme nuvem de poeira que subia para o céu e não deixava ver o sol. Muitos anos depois se dirá que caiu ali um meteorito, um corpo celeste dos muitos que vagueiam pelo espaço, mas não é verdade, foi a torre de babel, que o orgulho do senhor não consentiu que terminássemos. A História dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.

 

José Saramago em Caim.

 

À falta de melhor, hoje na RTP as noticias sobre o Haiti durante longos minutos versaram o religioso, primeiro a missa ao lado do que resta da catedral, depois a visita a um sacerdote Vudú, uma festa evangélica com muita gente e de novo as pessoas na Catedral...  O José Rodrigues dos Santos ficou de certeza com tema para mais um ou dois dos seus livros.

 

Estava a ouvir as pessoas e não pude deixar de dar por mim a pensar em Saramago e no Caim que estou a ler, e não pude deixar de me lembrar de algumas passagens que já li. Quando escrevi o primeiro post sobre a tragédia que assolou este país que há muito tinha sido esquecido pelo mundo, houve uma frase que decidi retirar mesmo antes de carregar em Publicar, a frase dizia:

 

-Se duvidas houvesse, está visto que deus não existe!

 

Retirei a frase porque na verdade a mim não me restam dúvidas e era de ajuda que queria falar naquele dia.

 

A verdade é que se juntarmos a tragédia às palavras sobre deus que ouvi hoje na reportagem, tudo isto podia ser mais um capitulo do livro de Saramago, com José Rodrigues dos Santos no papel de Caim. Porque o livro é assim, um conjunto de reportagens  sobre os principais capítulos da bíblia, sobre deus, o homem e a relação entre ambos, uma relação feita de provas, desafios, prémios e castigos....   nada que não tivéssemos visto todos na bíblia,  mas raramente com olhos de ver.

 

Este é um livro bem escrito, eu não sou grande fã da escrita do Saramago, mas reconheço que este é um excelente livro.

 

Quanto à  história, ou às várias historias, a mim que sou ateu não me dizem muito, há muito que olho para a bíblia como um enorme guião para filmes de Hollywood, para quem acredita, talvez deveria ser um livro a ler com alguma atenção, há sempre outras formas de interpretar o livro que para muitos é sagrado.... esta é tão ou mais válida que outra qualquer.

 

Em suma, um bom livro, que a mim por vezes me fez sorrir pela clareza das conclusões, um livro que polémicas à parte, vale cada cêntimo que pagamos por ele.

 

 Jorge Soares

publicado às 20:45


10 comentários

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De Lara a 26.01.2010 às 12:32

Pois... Eu gostei do que li de Saramago, mas entendo que não é para qualquer um. Caim sim! Esse havia de ser para todos em vez de criticarem só porque ouviram nas notícias. É um livro muito humano, com uma linguagem e filão narrativo cativantes e de fácil percepção.
Quanto ao Haiti... Creio que no fim da tempestade vem a bonança e que agora esta será a oportunidade deles de terem um país a sério. Vamos ver o que fazem dele... É esperar...
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De Jorge Soares a 26.01.2010 às 22:37

Olá

Eu já li vários do Saramago... não gosto do estilo e não é por serem complicado, simplesmente não gosto do estilo.

Estou de acordo que todos os católicos dveriam ler o livro, duvido é que a maioria tenha a abertura de espirito suficiente para o ler sem olhar de uma forma religiosa.

Obrigado pela visita e pelo comentário
Jorge
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De Lara a 27.01.2010 às 14:19

Pois, eu não acho os livros de Saramago complicados. Acho mesmo é que a mensagem não é para toda a gente, mas por isso é que tudo se vende.
Já agora, é um pouco faccioso pensar que só os católicos deviam ler o livro, uma vez que a mensagem do livro é acima de tudo humana. E os católicos não são assim tão más pessoas (sim, esta quezília Saramago-Católicos é ridícula e influência opiniões um pouco limitadas)
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De Pedro Oliveira a 26.01.2010 às 17:02

pois, mesmo com este teu post não me convences...
abraço
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De Jorge Soares a 26.01.2010 às 22:38

Pedro... não te convenço... a leres o livro ou da minha visão de deus?

Abraço amigo
Jorge
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De Pedro Oliveira a 27.01.2010 às 09:26

A ler o livro...
abr
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De Existe um Olhar a 26.01.2010 às 18:54

Olá Jorge
Li e reli este post, confesso que fiquei sem saber por onde começar...por Saramago? Pelo Haiti?
Não li este livro, não gosto de ler Saramago...o que sei do livro é apenas o que vou lendo e ouvindo nas notícias. Saramago resolveu escrever sobre um texto biblico que gerou grande polémica, coisa que lhe granjeou mais popularidade e acrescentou mais uns euros á sua conta bancária. Se a intenção foi chocar, conseguiu...confesso que não me afectou minimamente, a Biblia é um livro que li com o mesmo entusiasmo com que que li outros épicos...dela retirei o que mais me interessou...talvez os dez mandamentos e pouco mais. Gosto mais do Novo Testamento, esse sim... tem o relato da vida de um homem especial...um mestre como tantos outros, que de vez em quando aparecem e que nos vão deixando através de parábolas alguns ensinamentos que nos podem ser úteis para a nossa vida.
Sobre o Haiti...ou melhor sobre a frase que resolveste retirar e que agora deixaste aqui...
"-Se duvidas houvesse, está visto que deus não existe!"
Porque dizes isto Jorge? Porque se Deus se existisse e fosse justo não permitiria tamanha desgraça? Porque os homens são incapazes de contolar estas tragédias naturais e deixam de ter poder?
Dizes o mesmo quando sabes das crianças que todos os dias morrem de fome?
Da guerra no Iraque...no Afeganistão e em outros tantos sítios?
Dizes o mesmo quando assistes ao corte indiscrimado de árvores?
Dizes isso quando olhas para o despotismo e corrupção de certos governantes?
Dizes isso quando se fala da poluição e do aquecimento global?
Não serão mais injustos os homens do que o Deus que não acreditas?
Sabes e já o disse aqui, sou católica não praticante e não interpretes este discurso que já vai longo , como fanatismo da minha parte...não, nada disso, só que não consigo deixar de me interrogar quem terá criado este maravilhoso planeta onde vivemos? Quem terá colocado no céu tantas estrelas? Quem terá conseguido que brilhe todas as manhãs aquele sol que nos anima e dá vida?

Já vai longa a prosa..desculpa o meu desabafo
Beijos
Manu



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De Jorge Soares a 27.01.2010 às 22:13

Não tens que pedir desculpa, gostei muito do teu comentário.... tanto que merecia um post como resposta....e foi hoje

Beijinho
Jorge
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De Maria a 01.02.2010 às 11:53

Ainda não o li. Mas a ideia que tenho dele é mesmo essa que resume no último parágrafo!
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De olivencalivre a 03.02.2010 às 14:16

OS ESFORÇOS PARA ACUDIR AO HAITI (MAIS UMAS INICIATIVA...)
É um lugar comum. Os esforços para acudir às vítimas da tragédia do Haiti não serão
nunca demais. Morre-se em cada hora que passa. Cerca de 120 mil mortos, um grau de
destruição quase inimaginável, a agonia das estruturas
estatais/assistenciais/administrativas de um País. Pobre
situação a de um povo que começou a sua História lutando pela liberdade contra os donos
de escravos franceses no início do século XIX, que venceu essa prova, mas que tem
conhecido guerras internas, invasões e ocupações estrangeiras, além de desastres
naturais, ao longo de dois séculos... para já não falar das ditaduras que pouco dignos
filhos seus exerceram.
É curioso ver como se unem esforços.
Uma iniciativa em particular chama a atenção. O Nobel português, José Saramago , vai
promover uma edição especial de solidariedade do seu livro de 1986, "Jangada de Pedra".
Citando agências noticiosas e a sua fundação, «a acção de solidariedade reverte a favor
das vítimas do sismo do Haiti e decorrerá
futuramente também em Espanha e na América Latina. O livro custa €15 e estará disponível
nas livrarias a partir de sexta-feira; e porque, segundo o próprio Saramago "todos temos
uma obrigação", a campanha "Uma Jangada
de Pedra a caminho do Haiti" vai prolongar-se até 28 de Fevereiro de 2010.»
Recorde-se que esta obra descreve um cenário imaginário, no qual uma espécie de
terramoto lento separa a Península Ibérica do resto da Europa, e a coloca à deriva, como
uma gigantesca ilha, no que é interpretado por alguns críticos como uma das primeiras
manifestações de iberismo deste escritor. A catástrofe imaginária terá levado o autor a
escolher este livro
para esta acção, em que se procurará acudir às carências resultantes de uma catástrofe
real.
O livro é ainda hoje muito citado. Não parece crível que o autor, com este gesto,
esteja a sugerir que a Haiti se deva deixar governar por alguma potência externa e
vizinha, como por exemplo a República Dominicana, já que Saramago é um conhecido lutador
pela liberdade dos povos e pela direito à auto-determinação, como recentemente se viu em
relação ao Sahará ex-espanhol. Aliás, no livro, o Nobel não hesita em ironizar sobre as
esperanças espanholas sobre Gibraltar... que não acompanha a península na imaginária
ruptura geográfica... referindo mesmo que sobre este litígio o português é pouco
"sensível" ... já que «a sua mágoa histórica chama-se Olivença e este caminho não leva
lá.»(página 89)
Receia-se, porém, que Saramago não seja bem compreendido nesta sua iniciativa, por
causa da escolha desta obra em concreto, e que poderá sujeitar-se a alguns comentários
algo cépticos.
Penso que todas as iniciativas a favor do Haiti serão positivas, desde que eficazes
e desinteressadas. Esta não será excepção, mas penso que Saramago, e ele que me desculpe,
poderia ter escolhido outro texto. Valha-nos a qualidade literária!!!
Estremoz, 27 de Janeiro de 2010
Carlos Eduardo da Cruz Luna

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