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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem minha do momentos e olhares
No Postal anterior falei da Cidade, mas como devem imaginar não nos ficamos pela Praia, até porque a nossa D. vem mesmo lá de bem do interior. Hoje vou tentar deixar neste postal uma ilustração do que é o interior da ilha.
A Primeira saída foi à cidade velha, que é um lugar que tem muito de velho e de cidade,.... nada. Frente a uma pequena baía e uma praia de rocha negra, há um largo com um cruzeiro, um restaurante, um posto de turismo e algumas, poucas casas. Algures, há muito tempo, foi ali a primeira capital de Cabo Verde e um importante entreposto, de esses tempos e para além do cruzeiro onde ainda estão as argolas onde prendiam os escravos, restam algumas ruínas entre as árvores. Dispúnhamo-nos a visitar as ruínas do convento e da pousada, que ficam umas centenas de metros para o interior, quando reparei que alguém nos seguia, à primeira vista fiquei preocupado, era um lugar ermo e solitário. Quando estávamos prestes a chegar ao nosso destino, o homem abordou-nos, para ver as ruínas tínhamos que pagar... mais ou menos 5 Euros cada um.... não pagamos, limitamo-nos a dar meia volta, achei um enorme exagero pagar 5 Euros para ver o que já estávamos a ver desde o caminho e que não era mais que muros de pedra a delimitar uma zona com árvores de manga.
A Segunda vez fomos ao lado norte da ilha ao lugar de onde vinha a D., é uma viagem de uma hora que dá para ver que quanto mais nos afastamos da cidade mais distante ficamos do mundo que conhecemos. A velha estrada dos tempos coloniais é de paralelos e vai passando pelos vales que agora estão secos, mas que aqui e ali estão salpicados de pequenas plantações, é de aqui que o ano inteiro saem os vegetais que alimentam o mercado do Plateau. Junto à estrada um campo de milho e feijão, com vacas muito magras a alimentar-se do que resta da palha seca...e balizas de futebol. Para aproveitar a época das chuvas até o campo de futebol é plantado. Mais à frente uma porca com 3 ou 4 leitões atravessa a estrada em frente a uma pequena casa, mais à frente um grupo de crianças com 3 ou 4 pilões moem o grão à beira da estrada ...e por todos lados, crianças, muitas crianças... e pobreza, e miséria, muita miséria....e um enorme nó no coração, porque há alturas da vida em que não podemos ser mais que aquilo que somos.
No Sábado, quando já estava tudo tratado e finalmente tínhamos alguma paz de espírito fomos convidado para ir à praia. Por volta da hora do almoço chegaram os pescadores que tinham saído a meio da noite, cada um em seu barco a remos. Os peixes são de um colorido que nunca tinha visto, vermelhos, amarelos, azuis, mas são poucos... muito poucos para quem passou 12 horas no mar a remar, na praia esperavam as mulheres e as crianças que iriam vender o fruto da pescaria.
Entre o peixe havia algumas moreias que eu nunca tinha provado, e passados uns minutos chegou uma dose de moreia frita, que foi das coisas mais deliciosas que já comi.
E de novo fiquei com vontade de lá voltar, com outro tempo e outro espírito, porque há lugares que nos encantam, pela sua beleza, pelas suas pessoas e pela sua simplicidade.
Jorge Soares