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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Hoje ia falar sobre as mentiras das crianças.. incluindo as minhas quando era criança... e sobre como as coisas cá por casa tem andado mais ou menos agrestes... entretanto num mail do António, que é um pai solteiro de duas crianças adoptadas, uma das quais já adolescente quase adulto, e um dos pais mais ponderados que conheço, encontrei o seguinte texto:
"As ansiedades dos pais pelo comportamento dos filhos são como ruídos no carro. Alguns ruídos indicam problemas sérios e precisam ser solucionados para manter o carro em andamento tranquilo, mas na maioria são aborrecimentos secundários na viagem. Quando nos concentramos nos ruídos, perdemos o prazer da viagem…
Lamentavelmente é só mais tarde que percebemos quantos prazeres ignoramos no caminho. Só mais tarde é que aprendemos que a criança que cresceu com o quarto mais desarrumado mantém um apartamento limpo ao viver sozinha, ou presenciamos o filho que era indiferente com a lição de casa se transformar num adulto mais do que bem-sucedido. É só mais tarde que admitimos as limitações do nosso poder para conduzir um filho à maioridade.
Gostaríamos de ter entendido antes que cada filho é uma pessoa em si, alguém que está em fase de treinamento para se tornar um adulto. Somos treinadores, não criadores. E como bons treinadores sabemos que encorajar e aceitar são atitudes mais eficazes do que pressionar e criticar, para que ele se revele como bom atleta ou como adulto saudável."
Tinha lido isto há uns dias, ontem ao fim da tarde sentado na areia da praia de Albarquel enquanto olhava para as birras da D. e a paciência do N. com ela, dei por mim a recordar fragmentos disto. A verdade é que ser pai é muito complicado, criar e educar são tarefas muito complicadas depois temos a tendência a esquecer que os nossos filhos não passam de crianças, não são adultos, não tem a responsabilidade dos adultos, nem as preocupações dos adultos, não vivem à nossa velocidade nem com as nossas ansiedades.
Neste fim de semana tivemos mais um dos episódios com o fogo .. e mais uma vez sinto que perdi a calma e o descernimento... na verdade nem eu nem a minha meia laranja sabemos muito bem como olhar para o assunto . Quando falamos com a pedo-psiquiatra que o segue sobre isto e sobre se nos haviamos de preocupar ou não, ela respondeu o seguinte:
-Eu quando era miúda adorava ver a minha avó matar as galinhas, e depois pegava nas cabeças, brincava com elas e retirava-lhes os olhos.. isso não fez de mim uma psicopata!
Ontem sentado na praia dei por mim a pensar que há algo de errado na forma como tenho reagido com o meu filho.... que se parece demais com a forma como o meu pai reagia comigo.. e que não deixou nada de bom em mim...
Definitivamente eu não quero que os meus filhos olhem para trás e sintam o que eu sinto quando olho para trás... eles são crianças, não vão mudar... é suposto eu ser o adulto racional... eu é que tenho que mudar...certo?
Jorge Soares