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 Irlanda

 

Há algumas coisas que saltam à vista neste país, uma delas é o numero de PUBS, não há rua que não tenha mais que um, no hotel há um, é enorme com não sei quantos televisores também enormes e onde invariavelmente está a passar futebol. Há sempre bastante gente e claro, bebem-se litros e litros de cerveja. Também com este clima, que mais pode um Irlandês fazer se não meter-se num PUB, beber cerveja e conversar com os amigos?

 

Uma das outras coisas que salta à vista é o vistosas, bem vestidas e bem arranjadas que são as mulheres. Quando vamos a um restaurante, invariavelmente há mesas de mulheres, aos pares, em grupos de 4 ou 5, montes delas, ontem fomos jantar a uma terriola aqui perto, no primeiro restaurante em que entramos não havia mesas livres, dei uma olhadela e 90% das mesas estavam ocupadas por mulheres. Fomos a outro e a cena repetia-se, muitas mulheres. Alguém comentou isto com um dos colegas irlandeses lá na fábrica, a explicação deixou-me atónito: "Os restaurantes são para as mulheres, os homens vão para os pubs ver futebol e beber cerveja" Acreditem, é verdade. É normal ver 3 ou 4 mulheres sentadas numa mesa com uma garrafa de vinho e algo para petiscar, alegres, bem vestidas e bem arranjadas....e claro, com muito dinheiro. .. que eu nunca tinha visto tantas notas de 50 e de 100 Euros.

 

No outro dia discutíamos aqui a questão das cotas e das oportunidades para as mulheres.... pelos vistos aqui não há essa discussão, ao fim do dia cada um para seu divertimento e já está.... deve ser por isso que eles são só 4 milhões.

 

No Sábado descobri uma pastelaria aqui perto do Hotel onde há uma máquina de café expresso... paguei 2.75 por um café. Uma cerveja Irlandesa num PUB custa 4 ou 5 Euros e duas pessoas nunca jantam, mesmo que seja num PUB, por menos de 60 ou 70 Euros.... é claro que quando comparamos os valores dos salários...eles continuam a ganhar..mesmo pagando estes preços pelas coisas. 

 

Falando de dinheiro, aconteceu uma coisa curiosa, no Domingo de manhã, íamos almoçar a um restaurante italiano aqui perto, de repente a minha atenção prendeu-se num papel amarelado que estava numa poça de agua entre a rua e o passeio... olhei melhor e nem queria acreditar: 50 Euros, meios molhados.... mas reais. Olhei à volta, não havia ninguém por perto... ganhei o dia. O Curioso é que o colega que estava comigo disse-me que no Domingo anterior tinha encontrado 60 Euros numa praia aqui perto. Neste país o dinheiro nasce do chão.... ou eles bebem tanto que no fim nem sabem o que fazem às notas.

 

Amanhã volto para casa, para o sol e o calor de Setúbal, isto é muito giro, muito organizado, muito verde, muito ordenado... mas não há nada que pague a nossa luz e o nosso calor.

 

Jorge

 

publicado às 22:30

Crónicas da Irlanda:Nice weather no!!??????

por Jorge Soares, em 28.04.09

 

Crosshaven, Cork Irlanda

 

 

Os irlandeses tem um sentido de humor engraçado, no Sábado de manhã fomos apanhar o autocarro para Cork, a paragem fica mesmo em frente do hotel, para não variar chovia, como chove todos os santos dias desde que cá cheguei. Na paragem estavam um irlandês e o seu filho... reparou no ar de turistas, virou-se para nós e lá saiu:

 

-Nice weather no???!!!

 

Invariavelmente há algun dos meus novos colegas Irlandeses que repete a frasezinha todos os dias quando me Vê chegar molhado e chateado, ainda não percebi se eles acham piada ao clima ou ao nosso ar enfastiado com tanta chuva.. mas pronto, enfrente.

 

Mas eu tive mais amostras do sentido de humor Irlandês, no primeiro dia éramos 4, ao fim do dia chamamos um táxi para o hotel, evidentemente chovia, eu ainda carregava com as malas e fui o ultimo a entrar para o táxi. Coloquei as coisas na bagageira e dirigi-me ao lugar do pendura, vi que estava ocupado e pensei que algum dos meus colegas se tinha sentado à frente, abri a porta de trás.... onde se tinham sentado os 3.... eles riam e gozavam comigo, eu parecia uma barata tonta... lá percebi e fui-me sentar à frente... do lado contrario....

 

Quando entrei o taxista vira-se para mim e diz:

 

-Ouça lá, eu sou um homem casado, ninguém se senta no meu colo!

 

É claro que a todas estas os meus colegas riam às gargalhadas... Raio de mania que tem estes gajos de fazer as coisas ao contrário.....

 

De resto, as coisas tem sido menos más que o que pareciam inicialmente.. pelo menos por agora, e tem dado para dar uns passeios, no Sábado fomos a Cork, a segunda cidade da Irlanda, é uma cidadezinha encantadora... tirando a chuva claro.  Não vai haver fotografias para ninguém, porque me esqueci de colocar a bateria da máquina a carregar. 

 

Na sexta tínhamos jantado muito bem, comi um belo bife com molho de pimenta verde num restaurante digno de um filme,...  éramos 5 pessoas, sem entradas e só com uma garrafa de vinho, pagamos quase 200 Euros pelo jantar...mas estava mesmo delicioso. 

 

No Sábado à tarde fizemos um belo passeio à chuva, uns 10 Kms, os Irlandeses aproveitaram os trilhos de uma antiga linha de comboio e fizeram um passeio pedestre que segue junto ao rio... para lá fomos de táxi, para cá decidimos fazer o caminho a pé..... umas duas horas a andar à chuva...

 

O resto dos dias não tem sido nada de especial, entre o trabalho e o Pub do Hotel.... onde se bebem litros e litros de cerveja  Guiness.... mas dos Pubs, dos Irlandeses, das Irlandesas e da cerveja... já falarei.

 

Entretanto já há algumas fotografias do passeio de Domingo... podem espreitar aqui: http://picasaweb.google.pt/momentoseolhares/Irlanda#, não estão grande coisa, entre a minha natural falta de jeito, a pouca luz e o medo de molhar a máquina...

 

Jorge....

 

 

publicado às 22:14

25 de Abril... sim, mas a vida segue.

por Jorge Soares, em 27.04.09

 

 

 
Este deve ser um dos poucos blogs em que não se falou do 25 de Abril, o raio dos Irlandeses para alem de muitas outras coisas, não festejam o dia... portanto a mim passou-me um bocado ao lado, e ainda por cima não tive muito tempo para colocar a leitura dos blogs em dia, fui lendo as centenas de posts em atraso no Reader durante o fim de semana. De tudo o que li, chamou-me a atenção que muitas  das pessoas está descontente com o 25 de Abril... o que tendo em conta que a maioria até nem tinha nascido na altura e que dos que tinham, a maioria não teria mais que 10 anos, não deixa de ser algo estranho.
 
Quanto a mim, o 25 de Abril cumpriu na perfeição a sua função, o país vivia numa situação de atraso insustentável, fora dos centros urbanos a maioria da população vivia muito perto da miséria e  numa ignorância parva, não havia recursos, não havia educação, não havia liberdade, não havia nada. A imprensa era controlada completamente pelo lápis azul da censura e os direitos e liberdades que há muito eram comuns em todos lados, aqui não passavam de miragens.
 
E’ evidente que agora não vivemos no paraíso, mas ao contrario do que acontecia antes, agora somos nós, o povo, quem diz o que queremos que o país seja, somos nós que escolhemos os dirigentes que temos, e’ o nosso voto que elege quem nos governa, temos acesso a muitos e diferentes meios para reclamar e para exigir que as coisas sejam como devem ser...e claro, está em cada um de nós utilizar este poder da melhor forma.
 
Muitos dos posts que li falam da situação actual do pais para  tentar mostrar que o 25 de Abril e os seus ideais falharam, confesso, não consigo perceber o que tem a ver uma coisa com a outra.
 
O 25 de Abril foi há 35 anos, tinha ideais de liberdade, de conquista de direitos e deveres, e quanto a mim, eles foram cumpridos na perfeição. O que acontece actualmente no país tem a ver com muitas coisas, mas de certeza que tem pouco ou nada a ver com os ideais de Abril.
 
O 25 de Abril já passou há muito, acho importante que todos saibam o que foi e o que significou, que aos nossos filhos seja explicado como eram as coisas antes e porque foi necessário, mas foi um momento da nossa historia, a vida agora e’ outra, muito melhor seja qual for o ponto de vista, e falar de ideais de Abril ou  de falhanços da revolução, não faz o menor sentido... pelo menos na minha modesta opinião.
 
Jorge

 

PS:Imagem retirada do FlorBytes

PS2:E desculpem la os acentos

 

publicado às 16:42

Sonhar mulher

 

Meia culpa, meia própria culpa

 

Nunca quis. Nem muito, nem parte. Nunca fui eu, nem dona, nem senhora. Sempre fiquei entre o meio e a metade. Nunca passei de meios caminhos, meios desejos, meia saudade. Daí o meu nome: Maria Metade.

 

Fosse eu invocada por voz de macho. Fosse eu retirada da ausência por desejo de alguém. Me tivesse calhado, ao menos, um homem completo, pessoa acabada. Mas não, me coube a metade de um homem. Se diz, de língua girada: o meu cara-metade. Pois aquele, nem meu, nem cara. E se metade fosse, não seria só a cara, mas todo ele, um semimacho. Para ambos sermos casal, necessitaríamos, enfim, de sermos quatro.
 
A meu esposo chamavam de Seis. Desde nascença ele nunca ascendeu a pessoa. Em vez de nome lhe puseram um número. O algarismo dizia toda a sua vida: despegava às seis, retornava às seis. Seis irmãos, todos falecidos. Seis empregos, todos perdidos. E acrescento um segredo: seis amantes, todas actuais.
 
Das poucas vezes que me falou, nunca para mim olhou. Estou ainda por sentir seus olhos pousarem em mim. Nem quando lhe pedi, em momento de amor: que me desaguasse uma atenção. Ao que retorquiu:
- Tenho mais onde gastar meu tempo.
 
Engravidei, certa vez. Mas foi semiprenhez. Desconcebi, em meio tempo, meio sonho, meia esperança. O que eu era: um gasto, um extravio de coisa nenhuma. Depois do aborto, reduzida a ninguém, meu sofrer foi ainda maior. Sendo metade, sofria pelo dobro.
 
Pede-me o senhor que relate o sucedido. Quer saber o motivo de estar nesta cadeia, desejando ser condenada para o resto deste nada que é a minha vida? O senhor que é escritor não se ponha já a compor. Escreva conforme, no respeito do que confesso. E tal e qual.
 
Pois, conforme lhe antedisse: a verdade não confio a ninguém. Verdade é luxo de rico. A nós, menores de existência, resta-nos a mentira. Sovi pequena, a minha força vem da mentira. A minha força é uma mentira. Não é verdade, senhor escritor?
 
Por isso, lhe deitei o aviso: eu minto até a Deus. Sim, Lhe minto, a Ele. Afinal, Deus me trata como meu marido: um nunca me olha, o Outro nunca me vê. Nem um nem outro me ascenderam a essa luz que felicita outras mulheres. Sequer um filho eu tive. Que ter-se filhos não é coisa que se faça por metade. E metade eu sou. Maria Metade. Agora, o que aspiro é ficar em sombra perpétua. Condenada por crime maior: apunhalar meu marido, esse a quem prestei juramento de eternidade. É por causa desse crime que o senhor está aqui, não é assim?
 
Pois lhe confesso: aqui, penumbreada nesta prisão, não sofro tanto quanto sofria antes. É que aqui, sabe, acabo saindo mais que lá em minha casa natal. Vou onde?
 
Saio pelo pé de meu pensamento. Por via de lembrança eu retorno ao Cine Olympia, em minha cidade de outro tempo. Sim, porque depois de matar o Seis reganhei acesso a minhas lembranças. É assim que, cada noite, volto à matiné das quatro de minha meninice. Não entrava no cinema que me estava interdito. Eu tinha a raça errada, a idade errada, a vida errada. Mas ficava no outro lado do passeio, a assistir ao riso dos alheios. Ali passavam as moças belas, brancas, mulatas algumas. Era lá que eu sonhava. Não sonhava ser feliz, que isso era demasiado em mim. Sonhava para me sentir longínqua, distante até do meu cheiro. Ali, frente ao Cinema Olympia, sonhei tanto até o sonho me sujar.
 
Regressava a horas, entrava em casa pelas traseiras para não chorar ante os olhos sofridos de minha mãe. Minha fatia de tristeza era uma ofensa perante as verdadeiras e inteiras mágoas dela. Regressava depois do quarto, olhos recompostos, fingindo uma alegriazita. Minha mãe se apercebia do meu estado, desembrulho sem prenda. E me dava conselho:
- Sonhe com cuidado, Mariazita. Não esqueça, você é pobre. E um pobre não sonha tudo, nem sonha depressa.
 
Vantagem da prisão é que todo o dia é domingo, toda a hora é de matiné das quatro. É só meu sonho dar um passo e eu já vou sentando minha privada tristeza no passeio público. Volto onde eu não amei, mas sonhei ser amada. É só um passo e eu atravesso o passeio público. E não mais precisarei de invejar o sorvete, o riso, a risca no penteado.
 
Pouco restou da minha cidadezinha. Onde era terra sem gente ficou gente sem terra. Onde havia um rosto, hoje há poeira. O trilho das goiabas se asfixiou no asfalto. Nem a chuva tem onde repousar. A cidade se foi assemelhando a todas as outras. Nessa parecença, o meu lugar foi falecendo. Nessa morte foi levada minha lembrança de mim. A única memória que me resta: a migalha de um tempo, o único tempo que me deu sonhos. Sob vigilância de minha velha mãe, eu cuidava de não sonhar tudo, nem depressa. Ainda que fossem metades de sonhos, esses pedaços ainda me adoçam o sono, deitada no frio da cela.
 
O senhor não está aqui por mim. Mas por minha história. Isso eu sei e lhe concedo. Quer saber como sucedeu? Foi em tarde de cinza, o céu descido abaixo das nuvens.
 
Eu pretendia era revirar página de um despedaçado livro. Descosturar-me desse Seis, meu marido. Eu queria me ver separada dele para sempre, desunidos até a morte nos perder de vista. Até não ser possível morrermos mais.
 
Naquela vez, já a decisão me havia tomado. Fui recebê-lo na porta, a roupa abotoada por metade, o punhal escondido em minha mão. Chovia, de lavar céu. Eu mesma me aguei aos olhos de Seis. Brinquei, provoquei, mostrei o cinto distraído, desapertado. Provoquei com perfume que minha vizinha me emprestou.
- Você quer-me molhada pela chuva.
- Quero-lhe é mais molhada que chuva.
 
Então, quase derrapei em minha decisão. Estava-se emendando fatalidade? É que, por primeira vez, meu marido me olhou. Seu rosto se emoldurou, único retrato que comigo guardo. Para disfarçar, revirei a chuinga entre os lábios, fiz adivinhar o veludo da carícia. Mas o gesto já estava fadado em minha mão e, num abrir sem fechar de olhos, o meu Seis, que Deus tenha, o meu Seis estava todo pronunciado no chão. Decorado com sangue, aos ímpetos, mapeando o soalho.
 
Relatei o sucedido, tudo de minha autoria. Mas não confesso crime, senhor. Não. Afinal, não fui eu que lhe tirei vida. A vida, a bem dizer, já não estava nele. O que sucedeu, sim, foi ele tombar sobre o punhal, tropeçado em sua bebedeira. O Seis, meu Seis, se convertera em meia dúzia. A condizer com a minha metade de destino.
 
Não o matei. E disso tenho pena. Porque esse assassinato me faria sentir inteira. Por agora, prossigo metade, meio culpada, meio desculpada.
 
Por isso lhe peço, doutor escritor. Me ajude numa mentira que me dê autoria da culpa. Uma inteira culpa, uma inteira razão de ser condenada. Por maior que seja a pena, não haverá castigo maior que a vida que já cumpri. E agora, por amor dessa mentirosa lembrança, o senhor me abra a porta do Cine Olympia. Isso, faça-me esse obséquio, lhe estou agradecendo. Para eu, finalmente, espreitar essa luz que vem de trás, da máquina de projectar, mas que nos surge sempre pela frente. E sente-se comigo, aqui ao meu lado, a assistirmos a esse filme que está correndo. Já vê, lá na tela, o meu homem, esse que chamam de Seis? Vê como ele, agora, no escurinho da sala está olhando para mim? Só para mim, só para mim, só.
 
 
Mia Couto, O Fio das Missangas
Retirado de Contos de Aula

publicado às 21:14

Cronicas da Irlanda

por Jorge Soares, em 24.04.09

 

Carrigaline, Cork 

Imagem retirada da internet

 

Antes de mais, este computador tem um teclado ingles... nao ha tiles nem acentos para ninguem, se o corrector ortografico do SAPO nao funcionar isto hoje ainda vai ter mais erros que os ja habituais.

 

Durante uma semana, o jantar vai ser feito desde uma terreola no sul da Irlanda, ali algures na fotografia....

 

Cheguei ontem por volta da hora do almoco, vim directamente do aeroporto para a fabrica ( tambem esta na fotografia) e entrei de cabeca no stress e caos de mais um projecto 'a Portuguesa, resultado, da Irlanda, so vi o Aeroporto, a Fabrica e o  hotel.... e como estao as coisas nao sei se vai dar para ver muito mais.

 

Entretanto deu para ver que e' verde, muito verde e que chove, quando nao esta a chover, esta com aspecto de que vai chover. O que mais me impressionou ate agora foi a zona envolvente da fabrica, estamos numa zona industrial com varias fabricas de produtos quimicos, mas a sensacao com que ficamos e a de estarmos no meio do campo, rodeados de pastos, podemos olhar pela janela e ver as vacas a pastar ao lado.

 

As fabricas sao construidas e enquadradas na paisagem de uma forma tal, que podemos passar ao lado delas e simplesmente nao dar por elas..... nada que ver com as zonas industriais portuguesas. Toda a zona me faz lembrar as Asturias, ou os Acores, mas sem tanto sobe e desce...

 

Uma das coisas agradaveis destas viagens em trabalho e' que por aqui nao tenho de me preocupar com o jantar....  e terminam por se constituir num verdadeiro passeio gastronomico...e esta vez comecou muito bem.

 

Ontem sai da fabrica  eram quase 21 horas, por aqui os restaurantes fecham cedo pelo que a optamos por jantar no hotel..... e em boa hora...  foi sem duvida uma excelente escolha.

 

Vejamos o que escolhi para jantar.

 

De entrada um pate de figado de galinha com molho de frutos silvestres e salada verde para acompanhar.

 

Prato principal, um magret de peito de pato com molho doce, salada e batatas gratinadas.

 

Sobremesa: Prato de queijos irlandeses com uvas e maca....

 

Tudo excelentemente confeccionado e apresentado e acompanhado por um vinho tinto de excelente qualidade......

 

Acho que esta vez nao vou conhecer muitos mais restaurantes.

 

Jorge

 

PS:O corrector ortografico do SAPO nao funcionou mesmo, se conseguir fazer com que a internet funcione no quarto do hotel, logo trato de corrigir isto no outro computador, caso contrario...desculpem la, nao ha acentos para ninguem.

publicado às 12:25

Paridade...e em casa não?

 

O post que mais sucesso teve neste blog foi um que tinha como titulo Vá lá senhoras digam da vossa  justiça foi o post que teve mais comentários se exceptuarmos o das maminhas ... mas esse não conta porque teve direito a destaque.

 

Na altura comentou-se aqui o facto de os homens ajudarem ou não na cozinha.. e o tema deu pano para mangas. Hoje lembrei-me desse post, com o aproximar das eleições o tema da paridade nas listas eleitorais está a vir ao de cima, para além desta noticia do publico que mostra bem o tipo de democracia que se vive na Madeira.... Inqualificável, chamou-me a atenção uma outra noticia, esta vez no SOL.

 

Eu acho esta historia da paridade uma parvoíce, vivemos numa sociedade o suficientemente desenvolvida e madura como para que as pessoas se distingam pelos seus méritos e isso é válido para homens e mulheres. Tentar impor regras que digam que deve haver percentagens de mulheres é aceitar que elas são umas coitadinhas que não conseguem lá chegar pelos seus méritos...e isso não é verdade.

 

Mas o que me chamou verdadeiramente a atenção na noticia foi o seguinte:

 

"Para a deputada democrata-cristã (Teresa Caeiro), bancada que votou contra, tal como o PSD, PCP e PEV a lei da paridade em 2006, o acesso das mulheres à tomada de decisão faz-se em primeiro lugar através da criação de condições para a conciliação da vida familiar e profissional."

 

Desculpem lá, o que é que isto significa? porque é que devem ser criadas condições de vida familiar especiais para as mulheres? Isto não é aceitar que existem papeis diferentes para os homens e as mulheres na vida familiar? As condições de conciliação da vida familiar que existem para o homem não servem para a mulher?...alguém me explica?

 

Minhas senhoras, digam da vossa justiça, vocês acham que é necessária a criação de condições especiais de conciliação da vida familiar para que possam ter vida profissional? E porque é que simplesmente as pessoas não partilham a vida familiar de modo a conciliar as duas carreiras e não só a do homem?

 

Estou a ser lírico?

 

Jorge Soares

PS:Escolhi a imagem porque eu acho que a paridade deve começar por casa na distribuição das tarefas.... e não, não é só na cozinha

publicado às 21:34

A Marta e a Latika

por Jorge Soares, em 20.04.09

O mundo em que vivemos não para de me surpreender, hoje o blog Um olhar sobre o mundo levou-me a duas noticias diferentes, ambas tem em comum que falam de crianças, mas as semelhanças ficam por aí.

 

LatikaEu devo ser uma das poucas pessoas que não viu o Slumdog Billionaire, o ultimo grande sucesso do cinema. Se bem entendi, a fita foi gravada num dos muitos bairros de lata de Bombain e utilizou como actores principais algumas das crianças que nasceram e cresceram no bairro, conferindo um (enorme) toque de realismo às filmagens e chamando a atenção do mundo para os pobres e esquecidos que na Índia são aos (muitos) milhões.

 

Todos vimos as crianças felizes a entrar na passadeira vermelha do Kodak Teathre em Hollywood, todos os vimos felizes a receber os vários Óscares que o filme ganhou. Muitos, milhões em todo o mundo, viram o filme e muita gente ganhou muito dinheiro à custa daquelas crianças... mas o que aconteceu com elas quando as luzes da ribalta se apagaram e elas voltaram à sua vida? Será que alguma parte dos muitos milhões que o filme gerou serviu para retirar as crianças e as suas famílias do bairro de lata retratado no filme?, será que algo mudou nas suas vidas?

 

Quem me lê sabe que sou sensível a toda a problemática da adopção e das crianças abandonadas e em risco, esta noticia do Publico chocou-me profundamente, diz o seguinte:

 

Pai de actriz de "Slumdog" quis vendê-la por 310 mil euros.

 

Reza a noticia que o pai da menina tentou vender a Latika para adopção por 310 mil Euros, não sei o que me choca mais, se o facto de todo o dinheiro gerado pelo filme não ter servido para mudar nada na vida daquelas crianças, se o facto de existirem pais que tentam vender os seus filhos..... a noticia termina com o seguinte paragrafo em que todos deveríamos pensar....e eu, fiquei sem vontade de ver o filme 

 

"O tráfico de raparigas para o Médio Oriente é um problema grave na Índia. Muitas são transformadas em escravas sexuais ou criadas domésticas. O “News” adianta que todos os anos, 11 milhões de crianças são abandonadas no país, tornando-se vítimas fáceis. "

 

Algo que nos deveria fazer pensar a todos, algo que nos deveria levar a olhar para o filme e para aquelas crianças com outros olhos

 

 

O outro post diz o seguinte:

 

Ajudem a Marta

 

 Ajudema a Marta

 

A vida da pequena Marta , de quatro anos, mudou em Fevereiro quando descobriu que sofria de leucemia. Depois de vários tratamentos de quimioterapia, a menina precisa agora de um transplante de medula óssea para viver.

 

Na impossibilidade de arranjar dador entre a família, tanto os pais como a irmã mais velha e a mais nova, nascida há 15 dias, foi lançado um pedido de ajuda na Internet .

 

Um amigo do pai lembrou-se de criar uma conta no Facebook - chamada 'Ajudar a Marta' - que ao fim de cinco dias conta já com quase cinco mil pessoas associadas à causa. "Com o Facebook temos a noção desta mega rede de solidariedade, porque com os e-mails não temos o mesmofeedback", revela ao Expresso Maria João Dray, a tia da criança.

 

O objectivo da campanha é não só tentar arranjar um dador compatível mas também sensibilizar a população para a importância de se doar medula óssea . "Hoje em dia é mais simples do que ser dador de sangue. O risco de físico do dador decorre apenas de uma colheita de sangue", diz Maria João.

 

A partir do apelo já há instituições, escolas e empresas que organizaram centros de recolha para quem quiser ser dador.

 

 

Via Expresso

 

 

Jonas obrigado por ouvires o meu apelo.. porque ajudar não custa!.. passem a palavra

 

Jorge Soares

 

publicado às 21:34

Livros:O Jogo do Anjo

por Jorge Soares, em 19.04.09

 O jogo do Anjo

 

 

Andava com uma enorme curiosidade sobre este livro do Carlos Ruiz Zafon, o La sombra del viento foi um dos melhores livros que já li, comprei este na véspera dos dias de férias no Algarve, comecei a ler no primeiro dia  à noite e tive uma enorme dificuldade em parar de ler, a madrugada já ia alta quando decidi que era melhor dormir.

 
Li mais de metade do livro de uma só tirada ... a primeira parte está à altura do A sombra do Vento, de novo a historia tem uma Barcelona de outros tempos quase como um protagonista mais e  há até algumas coisas comuns nos dois livros, o cemitério dos livros esquecidos não podia deixar de ser uma delas.  O livro começa assim:
 
Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.
 
O livro conta a história de um escritor de romances policiais que vai enfrentando a vida e subindo por ela a pulso. A atmosfera do livro, a cidade, o ambiente e até alguns personagens são  os  mesmos de A sombra do Vento...e como já disse, a primeira parte lê-se de um fôlego, é difícil deixar o livro de  lado. Depois... bom, eu cheguei a meio e achei que a história tinha atingido o seu epílogo... que o livro devia ter terminado ali. Olhei para o livro e vi que ainda faltavam mais de duzentas páginas...... é claro que continuei a ler.. mas para mim era como se fosse outra história..... outro livro, apesar de a personagem principal ser a mesma.
 
Não deixa de ser um excelente livro, muito bem escrito. Ao recorrer as suas páginas sentimo-nos a passear pela Barcelona de aqueles tempos, conseguimos sentir a cidade, o ambiente.
 
A segunda parte do livro começa com um pacto que sela a vida do protagonista, não está lá escrito mas conseguimos sentir que vendeu a alma ao diabo, é também nesta parte que o livro se torna uma história de amor, um amor impossível... confesso que gostei mais da primeira parte....  mas é sem duvida um dos melhores livros que me passaram pelas mãos nos últimos tempos.
 
E agora,  respondendo ao desafio da Xana, no Blue Eyes..... bom mais ou menos, deixo aqui uma parte:
 
Despia-a à luz  de uma vela. tirei-lhe os sapatos, impregnados de água empossada, o vestido ensopado e as meias rasgadas. Enxuguei-lhe o corpo e o cabelo com uma toalha lavada. Ainda tremia de frio quando a deitei na cama e me estendia ao seu lado, abraçando-as para a aquecer. Ficamos assim durante muito tempo, em silêncio, a ouvir a chuva. Lentamente senti que o seu corpo amornava sob as minhas mãos e a respiração começava a tornar-se profunda. Julguei que tinha adormecido, mas depois ouvi-a falar no escuro.
 - A tua amiga foi ter comigo.
-A Isabella.
-Contou-me que te tinha escondido as minhas cartas. Que não o fez por mal. Achava que era  para teu bem e se calhar tinha razão.
Inclinei-me sobre ela e procurei-lhe os olhos. Acariciei-lhe os lábios e pela primeira vez sorriu vagamente
-Pensava que me tinhas esquecido - disse
-Tentei
Tinha o rosto marcado pelo cansaço. Os meses de ausência haviam desenhado linhas sobre a sua pele e o olhar possuía um ar de derrota e vazio.
.......
 
Jorge

publicado às 21:55

O ultimo amor do principe -Fim

por Jorge Soares, em 18.04.09

O ultimo amor do principe

 

Continuação do conto O ultimo amor do principe, escrito por Marguerite Yourcenar, podem ver a primeira parte aqui

 

O Outono chegou, mudando as árvores da montanha noutras tantas fadas vestidas de ouro e púrpura, mas destinadas a morrerem com os primeiros frios.

 
A Dama descrevia a Genghi aqueles castanhos-cinza, aqueles castanhos-dourados, aqueles castanhos-malva, tendo o cuidado de os referir só por acaso, e evitando sempre dar mostras de ir ostensivamente em seu auxílio. E a toda a hora encantava Genghi com a invenção de engenhosos colares de flores, de pratos requintados de tão simples, de letras novas adaptadas a velhas modas ternas e dolentes. Já no seu pavilhão de quinta concubina, onde Genghi a visitara em tempos, fizera valer aqueles mesmos encantos; distraído, porém, por outros amores não dera conta deles. Pelo fim do Outono, as febres subiram dos pântanos. Os insectos pululavam no ar empestado, e cada respiração era como um gole de água sorvido numa fonte envenenada, Genghi caiu doente e deitou-se na sua enxerga de folhas mortas, sabendo que não voltaria alevantar-se. Envergonhava-se da sua fraqueza e dos cuidados humilhantes a que a doença o obrigava frente à Dama, mas àquele homem, que toda a sua vida procurara em cada experiência aquilo que ela tinha simultaneamente de mais único e de mais dilacerante, apenas restava provar o que aquela intimidade nova e miserável entre dois seres acrescentava às estreitas doçuras do amor. 
 
Certa manhã em que a Dama lhe massajava as pernas, Genghi ergue-se apoiado nos cotovelos, procurou as mãos da Dama, tacteando e murmurou: 
- Jovem mulher que cuidas deste que vai morrer, enganei-te. Eu sou o príncipe Genghi. 
- Quando vim ao teu encontro, não passava de uma provinciana ignorante -disse a Dama -, e não sabia quem era o príncipe Genghi. Sei agora que foi o mais belo e o mais desejado de entre os homens, mas não precisas de ser o príncipe Genghi para seres amado. 
Genghi agradeceu-lhe com um sorriso. Desde que se lhe haviam emudecido os olhos, dir-se-ia que o seu olhar lhe palpitava nos lábios.
- Vou morrer -disse a custo. - Não me queixo de uma sorte que partilho com as flores, com os insectos, com os astros. Num universo onde tudo passa como um sonho, seria censurável durar sempre. Não me queixo de que as coisas, os seres, os corações sejam perecíveis, porquanto parte da sua beleza é feita desse infortúnio. O que me aflige é que sejam únicos. Antigamente, a certeza de obter em cada instante da minha vida uma revelação que não mais se repetiria constituía o que havia de mais luminoso nos meus prazeres secretos: agora, morro envergonhado como um privilegiado que tivesse assistido sozinho a uma festa sublime que apenas terá lugar uma vez. Queridos objectos, apenas tendes por testemunha um cego à beira da morte. Outras mulheres hão-de florescer, tão sorridentes como as que amei, mas o seu sorriso será diferente, e aquele sinal que me apaixonava na sua face de âmbar ter-se-á deslocado a espessura de um átomo. Outros corações hão-de ceder ao peso de um amor insuportável, mas não serão nossas as suas lágrimas. Mãos húmidas de desejo continuarão a enlear-se sob as amendoeiras em flor, mas nunca a mesma chuva de pétalas se desfolha duas vezes sobre à mesma felicidade humana. Ah! Sinto-me como um homem levado pela cheia, que quisera encontrar ao menos um quinhão de terra seca para aí deixar algumas cartas amarelecidas e alguns leques de cores já desbotadas...Que será de ti quando já aqui não estiver para me enternecer contigo, Recordação da Princesa Azul, minha primeira mulher, em cujo amor apenas acreditei no dia seguinte ao da sua morte? E Dor de ti também, desolada Recordação da Dama-do-Pavilhão-das-Volúveis, que morreu nos meus braços porque uma noiva ciumenta teimara em ser a única a amar-me? E de vós, insidiosas Recordações da minha demasiado bela madrasta e da minha demasiado jovem esposa, que se encarregaram de me ensinar à vez quanto se sofre ao ser-se o cúmplice ou a vítima de que uma infidelidade? E de ti, subtil Recordação da Dama-Cigarra-do-Jardim, que por pudor se esquivou, de tal modo que tive de consolar-me junto do fim seu jovem irmão, cujo rosto infantil reflectia alguns traços daquele tímido novo sorriso de mulher? E de ti, cara Recordação da Dama-da-Longa-Noite, que tão doce foi e consentiu em ser tão-só a terceira em minha casa e no meu coração? E de ti, pobre e breve Recordação pastoral da filha do rendeiro So-Hei, que em mim apenas no meu passado amava? E sobretudo de ti, de ti, deliciosa Recordação da pequenina Chujo que neste momento me massaja os pés e nem tempo terá de ser recordação? Chujo, que gostaria de ter encontrado mais cedo na minha vida; mas também é justo haver frutos reservados para o Outono mais tardio... 
 
Ébrio de tristeza, deixou tombar a cabeça no travesseiro duro.
A Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem inclinou-se para ele e murmurou tremurosa: 
-Não havia acaso em teu palácio outra mulher, cujo nome não pronunciaste? Uma mulher meiga? Uma mulher chamada Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem? Ai, recorda-te... 
Mas já os traços do príncipe Genghi haviam conquistado aquela serenidade que só aos mortos é reservada. O termo de toda a dor apagara do seu rosto o menor vestígio de saciedade ou de amargura e parecia tê-lo convencido a ele próprio que tinha ainda dezoito anos. A Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem deitou-se ao chão, gritando para além de toda a medida; as lágrimas salgadas devastavam-lhe as faces como a chuva da tempestade e os cabelos que arrancava às mancheias voavam como penugem. O único nome que Genghi esquecera era precisamente o dela.
 
Marguerite Yourcenar, in Contos Orientais
 
Retirado de : Contos da Aula

publicado às 20:55

Os olhos do meu filho

por Jorge Soares, em 17.04.09

filhos do coração

 

Há dias em que sentimos que não temos nada para dizer, aqueles dias em que todos os temas nos parecem banais, sem interesse... mas há coisas que me fazem acordar, vim ver os mails, alguém, uma pessoa que nunca vi, uma pessoa que só me conhece de aqui, do pouco de mim que vou deixando aqui todos os dias, enviou-me um mail que me deixou com lágrimas nos olhos.

 

Há algo de muito errado neste país... há mesmo, porque eu vou responder ao email e apesar de ir usar de todo o meu carinho para pessoas que estão  a passar por uma situação que eu também já passei, eu vou ter que ser realista...e quando falamos de adopção em Portugal, a realidade é muito triste.

 

 Agora, vou-me repetir... peço desculpa a quem já leu.

 

 Os olhos do nosso filho

 
Os olhos do nosso filho
São ainda de cor incerta
Não sei sequer se existem
Vão ser de Deus uma oferta
 
Existem na minha alma
Cravados no meu semblante
Os olhos do nosso filho
Que teve nascer errante
 
Foste esculpido a preceito
Nas entranhas de outro ser
Não vais sorver do meu peito
Este meu longo querer
 
E nestas voltas da vida
Cuidou-te Deus sem saber
Para que não herdes no sangue
Este meu estéril sofrer
 
Não vais nascer de mim
De outro ventre virás
Mas filho da minha alma
Tão amado serás!
 
E nesta triste incerteza
Me pergunto em desalento
Já nascente de alguém?
Ou é Deus que te traz?
 
Ala dos Reis
 
 
A dor de se querer ter um filho e não se conseguir é algo que não se consegue explicar, de inicio vamos tendo desilusões, depois começa o sofrimento, ver passar o tempo, ouvir as pessoas a perguntar:
 
-Então, é para quando?
-Quando vamos ter um neto?
-Então, e filhos?
 
Respondemos às pessoas com um sorriso de circunstância e sofremos em silêncio. lembro-me de ir pela rua, olhar os casais com bebés e pensar: E eu? porque é que eu não tenho direito?. Chega uma altura em que começa a ser doloroso ver crianças na rua. E depois há as expectativas das pessoas que estão à nossa volta, as lágrimas em casa cada vez que aparece um novo período , as lágrimas em silêncio na nossa solidão. Com o tempo, os meses transformam-se em anos e a tristeza em resignação. Nós decidimos que não íamos continuar com dor, e não íamos seguir a via sacra dos tratamentos, decidimos partir para a adopção.
 
No fundo, mudamos a expectativa, as coisas deixam de depender de nós e passam a depender de outras pessoas, processos longos, morosos, complicados, muitas vezes inumanos ...e novas expectativas, e novas esperas. O Poema traduz um pouco do que é querer ser pai adoptivo, traduz a espera desesperante por um telefonema, por uma noticia, saber que o nosso filho poderá estar neste momento nos braços de alguém. Cada pessoa é diferente, mas atrevo-me a dizer que os pensamentos são comuns..será que o meu filhos já nasceu?..será que está bem?, será .......
 
Eu sou uma pessoa que não crio expectativas da vida, a maior parte do tempo limito-me a viver, um dia de cada vez, só crio expectativas com as pessoas, por norma entrego-me de alma e coração às pessoas de quem gosto...e dos meus filhos.
 
Sei que uma boa parte dos leitores chegam ao blog à procura de informação sobre adopção, a todos eles, a todos os que estão, ou vão passar por isto, deixo uma palavra de carinho e  de força, não desistam, não deixem de acreditar.
 
Jorge
PS:Imagem retirada da internet
PS2.No blog está o meu email, ali do lado esquerdo, está o endereço da associação Bem me queres, não duvidem em pedir ajuda.
 

publicado às 22:37

Pág. 1/3



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