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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Uma das coisas engraçadas dos Blogs dos SAPO, é que estão ligados com o SAPO noticias, isto faz com que cada vez que a malta escreve algo sobre um concelho qualquer do país, durante umas horas o post aparece listado na página do SAPO noticias de esse concelho.
Quando eu no outro dia escrevi aquele post sobre o livro de reclamações no café em Portimão, eu sabia que o post ia aparecer na página dos Sapo Noticias de Portimão, ou seja, aqui. E também sabia que havia alguma probabilidade de que alguém de Portimão viesse cá parar ... o que evidentemente não me impediu de contar o que se passou nem de emitir a minha opinião. A coisa foi em Portimão, mas podia ter sido em Faro, em Lisboa, em Bragança ou no Porto... eu tinha feito o mesmo e da mesma maneira.
Nada me move contra o Algarve ou os Algarvios, sou sim contra o mau serviço e a falta de profissionalismo e tenho por norma reclamar os meus direitos quando sinto que estão a ser escamoteados, como foi o caso. Pelos vistos há pessoas que quando são mal servidas se limitam a virar as costas e a não voltar ao sitio, cada um é como é, eu não sou assim, porque se eu me limitar a virar as costas, como alguém sugeriu, o que vai acontecer é que tudo vai continuar da mesma forma, ou seja, mal.
Eu não reclamo por capricho ou mau feitio, reclamo porque acho que todos temos direito a receber um serviço de qualidade pelo dinheiro que pagamos,,,, e só reclamando e exigindo os nossos direitos podemos fazer com que as coisas melhorem. A si Teresa Sena, o conselho que lhe dou é que quando voltar a Setúbal e for mal servida, faça como eu, reclame.. talvez assim quando lá voltar as coisas não sejam tão más.
O Algarve é uma região que vive principalmente do Turismo e os turistas só voltam se forem bem servidos, e isso é válido para todos os turistas, estrangeiros e Portugueses..e nesse sentido falta muito por fazer. No Sábado à noite fui jantar a um restaurante no Carvoeiro, a historia dava para um post com algum humor, talvez um destes dias, hoje só vou referir que o comportamento dos empregados foi de tal ordem que pela primeira vez em muito tempo vi pessoas levantarem-se das mesas e irem-se embora sem consumirem, e eram estrangeiras, para não falar de outras pessoas nem se chegaram a sentar e se foram embora ao serem ignorados completamente..e não, o restaurante não estava cheio. E nós só não nos fomos embora porque estávamos com duas crianças esfomeadas e já tínhamos comido as entradas.
Não nos vamos enganar, o maior problema do Algarve é a falta de profissionalismo nos serviços, um empregado de restaurante que vira as costas aos clientes e os deixa a falar sozinhos a meio do pedido é um mau profissional, o mesmo empregado que fica chateado com o colega porque este atendeu uma mesa e o mostra de tal modo que este se despede na hora, é um mau profissional... e isto é verdade no Algarve, em Aveiro ou em qualquer lugar do mundo.
Que me lembre nunca tinha apagado um comentário neste blog... há sempre uma primeira vez para tudo na vida, o blog é dos leitores e todas as opiniões são bem vindas, mas o insulto fácil e a má educação eu não tolero. O blog vai permanecer com os comentários anónimos moderados.... e já agora, recordo que em todos os comentários é guardado o IP do computador de onde foi feito.. se não sabem o que é e para que serve, investiguem.
Jorge Soares
PS:Imagem minha
PS2:Como devem imaginar, este post vai aparecer no sapo noticias de muitas cidades...foi de propósito
Conheci a Maria João há uns 4 ou 5 anos no primeiro encontro nacional de adopção aqui em Setúbal, ela foi a precursora da adopção internacional em Portugal, foi ela que desbravou os caminhos, naquele dia ela contou a sua saga, toda a luta necessária para poder ter as suas filhas. Havia mais de cem pessoas na sala e lembro-me que dei por mim a olhar à volta e ver uma grande parte a chorar.
A Maria João é uma lutadora, uma daquelas raras pessoas que tem o dom de fazer as coisas acontecerem. É ela a mentora da associação Meninos do Mundo (Adopção Internacional) e é em grande parte responsável pela existência da Missão criança.
Hoje é a Maria João que fala aqui, vou copiar um comentário que ela deixou no meu post sobre a Madonna e a adopção, o post de hoje é teu amiga, obrigado por existires e por ser como és.
De Maria João a 10 de Abril de 2009 às 18:47
Conheço muito bem a adopção internacional. Travei uma grande luta em Portugal há quase 10 anos, adoptei a minha primeira filha no âmbito da adopção internacional e continuei a lutar. Dois anos depois adoptei a minha segunda filha, também internacionalmente.
Foram meses de avaliação e mais outro tanto tempo de espera. Pela minha segunda filha esperei 1 ano e meio. Não me meti num avião certo dia e voltei passados 3 dias.
Concordo em pleno com a Margarida: nós (quem adopta internacionalmente) somos os primeiros responsáveis para que a adopção internacional seja olhada como um bem para os milhões de crianças no Mundo e não como um meio de tráfico de crianças.
ADOPÇÃO INTERNACIONAL, SIM. TRÁFICO DE CRIANÇAS, NÃO.
Conheço muito da adopção internacional, conheço quem tenha adoptado em Cabo Verde, Timor, Brasil, Macau, Tailândia, Polinésia Francesa e Vietname. Tudo processos com respeito pela legalidade mas muitos haverão por esse mundo fora que não respeitaram os trâmites legais, claro.
A adopção internacional é uma resposta a milhões de crianças que, como diz o Jorge, se não formos nós dos países desenvolvidos jamais serão adoptadas.
A adopção internacional é um bem para muitos Meninos do Mundo e por isso luto, lado a lado com outras pessoas, por uma adopção internacional séria e digna, na qual os mecanismos de controle da legalidade são uma necessidade.
Quem passou por um processo de adopção internacional sente na pele e impotência de nada poder fazer perante a fome, a doença e o abandono de muitas crianças nos países em desenvolvimento. Vamos buscar uma mas muitas ficam para trás. Percebo que quando se fale de adopção internacional, o tráfico seja o problema que vem à cabeça das pessoas, em geral, mas a adopção internacional encerra em si muitas outras questões.
A adopção internacional desperta consciências ou deveria despertar. Quem passa por um processo de adopção internacional nunca mais é a mesma pessoa. Em certos países, e não muito longe de nós, morrem crianças por abandono e negligência que acabam por ser comidas pelas moscas.
Num Mundo sério todos os Estados se empenhariam em proteger os Meninos do Mundo e garantir-lhes a possibilidade de adopção, criando sérios controles ao tráfico de crianças mas ao mesmo tempo investindo na adopção internacional, permitindo, assim, aos milhões de meninos espalhados pelo mundo uma vida digna conforme vem estabelecido na Declaração dos Direitos da Criança.
Como diz o Jorge, na dúvida opte-se pela criança, sim é verdade. O mundo seria um mundo bem melhor se os Estados assumissem a adopção internacional como um bem para milhões de crianças.
Julgo que foi o Pedro que falou em outros "Mundos". Grande verdade, Pedro. Outros Mundos que passam completamente ao nosso lado, que não temos consciência deles mas eles existem e todos fazem parte deste nosso Mundo, o Planeta Terra!!!!!!!
Controles de legalidade internos, acordos bilaterais, acompanhamento em período de pré-adopção e se necessário pós-adopção mas dêem às crianças do Mundo inteiro a oportunidade de VIVEREM...porque muitas delas, simplesmente morrem...COMIDAS PELAS MOSCAS...
(www.meninosdomundo.org)
Maria João
Uma criança é uma criança em qualquer parte do mundo!
Ps:Imagem retirada da internet
Fui passar 4 dias ao Algarve, por norma só vou tão para Sul em épocas em que não há muito calor e sobretudo grandes confusões.. e claro que cada vez que lá vou, além de algumas cores mais para o bronzeado, traigo sempre que contar.. esta vez não podia ser excepção.
No Sábado o dia acordou meio farrusco, bastantes nuvens e até alguns pingos... passageiros, que o sol por ali nunca anda muito longe. Chegamos a Portimão e o tempo não convidava muito à praia, pelo que optamos por um passeio pelo circuito pedonal que fizeram da parte de cima da Praia da Rocha. Passado um bocado decidimos tomar um café e entramos no primeiro sitio que não falava de beans and bacon, que tinha aspecto de estar aberto e ter café expresso.
Mal entrei reparei no intenso cheiro a cigarro, a minha primeira ideia foi que tinha entrado num sitio onde era permitido fumar, um rápido olhar em volta desfez as duvidas, lá estavam bem visíveis os anúncios vermelhos... Proibido Fumar. Ao lado de um desses anúncios estava sentado um senhor de cinzeiro na mesa e cigarro na mão, que conversava alegremente com uma senhora na mesa do lado... que também fumava.
Comentei para a empregada que nos servia os cafés que as leis no Algarve deviam ser diferentes do resto do país. Ela lá me explicou que isso eram coisas da patroa.. que ela deixava os clientes fumarem. Comentei que achava mal e que se os anúncios estavam lá deviam ser cumpridos.
Entretanto, o senhor que ouvia a conversa, puxou de outro cigarro e ficou a olhar para mim descaradamente. Aqui foi quando surgiu o meu mau feitio e pedi o livro de reclamações. A empregada chamou a patroa.. que adivinhem lá.. era a senhora que conversava com o dito senhor e que estava a fumar também.
A conversa foi surreal... mas terminou assim:
-Minha senhora eu quero o livro de reclamações.
-Na verdade eu não sei onde está.
-Não sabe?
-Não, não me consigo lembrar, quem tratava disso era o meu marido, ele faleceu e eu não me lembro onde ele o guardava.
-A senhora tem ali o anuncio do livro, eu quero reclamar, a senhora tem que me apresentar o livro.
-Sim, eu tenho o livro..mas não me lembro onde ele está.
-Nesse caso, eu vou chamar a policia.
-Chame!
É claro que ela não me conhecia, porque se conhecesse sabia que eu estava a falar a sério, passado uma meia hora eu voltei lá com a policia... e achava eu que entretanto o livro teria aparecido... engano meu. O certo é que o senhor se tinha mudado com os cigarros para a esplanada e os cinzeiros tinham desaparecido das mesas. Mas nem com a policia e a ameaça de multa a dobrar, o livro apareceu. O que apareceu foram muitas lágrimas e uma história de fazer chorar as pedras da calçada... e claro, ela não viu ninguém a fumar lá no café, a única que estava a fumar era ela... não sabia ela que eu tinha a máquina na mão e tinha registado em primeira mão a prova do crime.
Segundo o policia, casos como este são às dezenas, pelos vistos no Algarve alguns comerciantes acham que as leis que fazem lá por Lisboa não são para cumprir.. não conhecem é o meu mau feitio.
Mas o dia não se ficou por aqui... que ao jantar a coisa também foi de morrer a rir... bom, se não fosse triste.. mas disso falo noutro dia.
Jorge
Continuação do conto O ultimo amor do principe, escrito por Marguerite Yourcenar, podem ver a primeira parte aqui
.....
A Dama seguiu-o, tendo o cuidado de imitar o andar simplório de uma camponesa. Acocoraram-se os dois junto ao lume quase morto. Genghi estendia as mãos para o calor, mas a Dama escondia os dedos, demasiado delicados para uma rapariga do campo.
Quando lerem isto estarei algures a sul... ir para fora cá dentro é mesmo o que está a dar... e como para mim férias é mesmo férias, o unico aparelho electrónico permitido é mesmo a máquina fotográfica, e não há computadores para ninguém.
Este post é pré cozinhado e é cortesia da Sofia (Obrigado!)
Tenham uma boa pascoa e não comam muito chocolate!
**O metro é a décima milionésima parte de um quarto do meridiano terrestre e para o cálculo dar certo arredondaram a Terra! *
(Tá bem... décima millonésima???)
... em risco e institucionalizada.
Para que não aconteçam mais histórias como a que contei neste post, para que os centros de acolhimento não sejam depósitos de crianças esquecidas, para que cada vez existam menos crianças a passar a vida inteira sem conhecerem o amor e o carinho de uma família, para que todas as pessoas e entidades ligadas à protecção, acolhimento e defesa das crianças cumpram o seu papel, para que neste país se façam cumprir as leis, para lutar por tudo isto e muito mais, nasceu a Associação Missão criança.
Por enquanto somos só um grupo de pessoas cheios de vontade de trabalhar em prol das crianças, mas em breve esperamos ser muitos mais e converter as boas vontades em acções concretas.. e claro, espero contar com todos vocês.. porque as crianças devem ser antes de mais uma preocupação de todos nós.
Visitem o blog Missão Criança e leiam os nossos objectivos
Agora, este senhor vai para férias... uma boa e santa Pascoa a todos.
Jorge Soares
PS:Imagem retirada da internet
Não sou dos que passo a vida a insultar o Sócrates, ou a dizer que eles não estão lá a fazer nada e que se deviam ir embora, já vivi o tempo suficiente para já ter sido governado por estes e pelos outros e para saber que ou mudam muitas coisas, ou dificilmente irá para lá alguém melhor... até porque se há pessoa de quem não gosto, essa pessoa é a Manuela Ferreira leite. Mas confesso que hoje ao fim da tarde quando ouvia as notícias na rádio.. me apeteceu insultar alguém.. aliás... insultei mesmo!
"O Serviço Nacional de Saúde não vai pagar às farmácias a comparticipação dos medicamentos que forem substituídos pelo genérico sem autorização do médico. O anúncio foi feito esta manhã pela ministra da Saúde que revelou ainda que todas as receitas substituídas contra a vontade do médico vão ser devolvidas às farmácias."
Isto é em primeiro lugar uma vassalagem ao lóbi dos médicos e dos grandes laboratórios farmacêuticos, e em segundo lugar é um insulto a todos os Portugueses.
Eu trabalho numa empresa que produz substâncias activas para medicamentos, é uma empresa que exporta 100% da sua produção, portanto não me venham acusar de estar a defender o meu emprego, simplesmente sei do que falo. Os genéricos são medicamentos que existem há muito tempo, muito antes de chegarem a Portugal já estavam completamente difundidos em muitos países, sendo que em muitos deles cobrem a maioria do mercado dos medicamentos, nestes países o normal é a pessoa utilizar genéricos e não marcas.
O que é um genérico e de onde surge? A maioria dos princípios activos é descoberto pelas grandes multinacionais que investem muitos anos e muitos milhões em investigação, quando descobrem um produto que tenha aplicação comercial, seguram a patente do processo e garantem que durante alguns anos mais ninguém consegue comercializar o seu produto. Quando está a chegar o fim do o fim do período de protecção, algumas outras empresas, como a que me dá emprego, gastam tempo e recursos para descobrir um processo de fabrico que no final garanta a obtenção do mesmo principio activo a um preço competitivo, dentro das normas de qualidade e segurança exigidas pela lei. Nem sempre se consegue, mas quando isso acontece, nasce mais um medicamento genérico.
Para terem ideia do controlada que é esta indústria, posso dizer que para além de todas as autoridades nacionais de qualidade e saúde, a empresa em que trabalho é auditada pelo FDA americano e pelas autoridades de alguns outros países.. para além dos clientes, que por norma são outras multinacionais. Por norma há duas ou três auditorias por semana.
Como disse, a empresa onde trabalho exporta 100% da produção e não produz medicamentos comerciais, mas imagino que todas as industrias terão os mesmo tipos de controlos... que garantem a qualidade dos medicamentos. Agora, alguém me explique com base em quê um médico pode dizer que eu não posso comprar um genérico e tenho que pagar o dobro por um medicamento de marca que se calhar até foi produzido no mesmo sítio.
Senhora ministra, senhores do governo, senhores médicos, não gozem com as dificuldades do povo, não brinquem connosco.
Jorge Soares
Retirada do Publico
Desde há uns anos a esta parte, a adopção tornou-se uma espécie de moda entre os ricos e famosos, não vou tecer juízos de valor, sempre e quando as crianças sejam bem tratadas e lhes seja dada uma família em todos os sentidos da palavra...
É claro que no meu espírito ficam sempre dúvidas, como pai e candidato à adopção já ouvi muitas histórias e sei que em muitos paises mais que um acto de amor e coragem, já é de um negócio que se trata.
Estes dias o tema veio de novo à ribalta, a Madonna que já tinha adoptado uma criança no Malawi em 2006, decidiu que estava na hora de arranjar um irmão para o seu filho, para isto dirigiu-se de novo ao Malawi e colocou um pedido ao tribunal para adoptar uma criança que está num orfanato desde que nasceu.
Existe o detalhe de que no Malawi só pode adoptar quem tem mais de 18 meses de residência no país, coisa que já era válida em 2006 e que deixa algumas questões no ar sobre a forma como ela conseguiu essa primeira adopção. Esta vez o tribunal não foi em histórias de ricos e famosos e negou à cantante a hipótese de saltar a lei.... o que para mim, que sempre defendi que as leis são para se cumprirem, faz todo os sentido. Se eu tenho que passar por um processo de avaliação e tenho que cumprir todos os requisitos... porque raio é que a Madonna deve ser a excepção?
Pensava assim até que dei por mim a ler esta noticia do Publico e a ouvir a noticia na RTP, fiquei na duvida, nem sempre as coisas são a preto e branco, por vezes há muitos tons de cinzento pelo meio. Acredito que o Malawi tenha adoptado esta lei para evitar abusos e até o tráfico de crianças, mas quando ouvi na noticia que a criança está num orfanato desde que nasceu e que já tem 4 anos fiquei a pensar.... quais serão as probabilidade de que alguém que vive no Malawi vir a adoptar esta criança com 4 anos? quais serão as probabilidade de que esta criança saia alguma vez daquele orfanato onde está desde que nasceu? Como será a vida de uma criança num orfanato no Malawi? Será que esta lei faz mesmo sentido?
Na duvida.... pense-se na criança!.... não?
Jorge
Conto O Ultimo amor do Principe - Marguerite Yourcenar
Quando Genghi, o resplandecente, o maior sedutor que jamais surpreendeu a Asia, atingiu os cinquenta anos, deu-se conta de que tinha de começar a morrer. A sua segunda mulher, Murasaki, a princesa Violeta, que ele tanto amara através de tantas infidelidades contraditórias, precedera-o num desses Paraísos aonde vão os mortos que conquistaram algum mérito durante esta vida inconstante e difícil, e Genghi atormentava-se por não conseguir recordar exactamente o seu sorriso ou o esgar que esboçava antes de chorar. A sua terceira esposa, a Princesa do Palácio do Poente, enganara-o com o genro, tal como ele enganara o pai nos seus tempos de juventude com uma imperatriz adolescente. Representava-se a mesma peça no palco do mundo, mas desta vez sabia que lhe estava apenas reservado o papel de velho, e a semelhante personagem preferia a de fantasma. Por isso mesmo distribuiu os seus bens, reformou os seus servos e preparou-se para acabar os seus dias num eremitério que tivera o cuidado de mandar construir na encosta da montanha. Atravessou pela última vez a cidade, seguido apenas por dois ou três companheiros dedicados que não se resignavam a despedir-se, nele, da sua própria juventude. Não obstante a hora matinal, havia mulheres com o rosto encostado às delgadas ripas das persianas. Murmuravam em voz alta que Genghi era ainda muito belo, o que provou uma vez mais ao príncipe que chegara a hora de partir.
Levaram três dias a alcançar o eremitério, situado em pleno campo silvestre. A casita erguia-se à sombra de um bordo centenário; como era Outono, as folhas daquela bela árvore revestiam-Ihe o telhado de colmo com uma coberta de oiro. A vida nesta solidão revelou-se ainda mais simples e mais dura do que nos longos exílios que na sua turbulenta juventude Genghi suportara no estrangeiro, e aquele homem requintado pôde finalmente saborear à saciedade o luxo supremo que consiste em abdicar de tudo. Breve se anunciaram os primeiros frios; as encostas da montanha cobriram-se de neve como amplas pregas das vestes acolchoadas que se usam no Inverno, e o nevoeiro abafou o sol. Da aurora ao crepúsculo, à parca luz de um braseiro avaro, Genghi lia as Escrituras e achava naqueles austeros versículos certo sabor de que eram doravante falhos os mais patéticos versos de amor.
Mas breve se deu conta de que estava a perder a vista, como se todas as lágrimas que vertera sobre as suas frágeis amantes lhe houvessem queimado os olhos, e teve de reconhecer que, para ele, as trevas começariam antes da morte. De quando em vez, um correio transido chegava da capital, arrastando os pés inchados de cansaço e de frieiras, e apresentava-Ihe respeitosamente mensagens de parentes ou amigos que desejavam visitá-Io uma derradeira vez neste mundo, antes dos encontros infinitos e incertos da outra vida. Mas Genghi receava inspirar aos seus hóspedes mera compaixão ou respeito, dois sentimentos a que tinha horror e aos quais preferia o esquecimento. Sacudia tristemente a cabeça, e aquele príncipe outrora famoso pelo seu talento de poeta e calígrafo mandava o carteiro de volta com uma folha em branco. Pouco a pouco, os contactos com a capital abrandaram; o ciclo das festas sazonais continuava a girar longe do príncipe, que em tempos as dirigia com um aceno do leque, e Genghi, abandonado sem pejo às tristezas da solidão, agravava sem cessar o mal que lhe afligia os olhos, pois já não se envergonhava de chorar.
Duas ou três das suas antigas amantes haviam-lhe proposto virem partilhar o seu isolamento cheio de recordações. Chegavam-lhe as mais ternas cartas da Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem: era uma antiga concubina de casta meã e de beleza medíocre; servira fielmente Genghi e durante dezoito anos amara o príncipe sem nunca se cansar de sofrer. Ele fazia-lhe de vez em quando umas visitas nocturnas, e esses encontros, embora raros como estrelas em noite de chuva, haviam sido o bastante para alumiar a pobre vida da Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem. Pois que não alimentava ilusões acerca da sua beleza, nem do seu espírito, nem do seu nascimento, a Dama, única entre tantas amantes, tributava a Genghi uma terna gratidão, porquanto não achava nada natural que ele a tivesse amado.
Como as suas cartas continuavam sem resposta, alugou uma modesta carruagem e fez-se conduzir à cabana do príncipe solitário. Empurrou timidamente a porta feita de ramos entrançados; ajoelhou-se com um risinho humilde, para se desculpar de estar ali; Foi na época em que Genghi reconhecia ainda o rosto dos que o visitavam, quando se aproximavam de muito perto.
Uma raiva amarga o tomou frente àquela mulher que despertava nele as mais dolorosas recordações dos dias mortos, não tanto pelo efeito da sua própria presença, mas porque as suas mangas continuavam impregnadas do perfume que usavam as suas defuntas mulheres.
Suplicou-lhe tristemente que a retivesse pelo menos como criada. Implacável pela primeira vez, expulsou-a; mas ela guardara amigos entre os poucos velhotes que asseguravam o serviço do príncipe, e estes davam-lhe notícias de quando em quando. Cruel também pela primeira vez na vida, ela vigiava de longe a progressão da cegueira de Genghi, como uma mulher impaciente de juntar-se ao amante espera que a noite caia por completo.
Quando o soube quase totalmente cego, despiu a sua indumentária da cidade e cobriu-se com um vestido curto e grosseiro, como os que usam as jovens camponesas; entrançou os cabelos à maneira das raparigas do campo; e armou-se de um fardo de tecidos e de louças, como os que se vendem nas feiras de província. Assim enfarpelada, deixou-se conduzir ao sítio em que o exilado voluntário vivia na companhia dos corços e dos pavões da floresta; percorreu a pé a última parte do percurso, para que a lama e o cansaço a ajudassem a desempenhar o seu papel. A chuva miúda da Primavera caía do céu sobre a terra mole, afogando os derradeiros lampejos do crepúsculo: era a hora em que Genghi, envolto no rigor das suas vestes de monge, passeava lentamente pelo carreiro donde os seus velhos servos haviam cuidadosamente afastado o menor seixo, não fosse ele tropeçar. O seu rosto ausente, esvaziado, embaciado pela cegueira e as investidas da idade parecia um espelho plúmbeo que em tempos reflectira beleza, e a Dama-da-aldeia-das-flores-que-caem não precisou de fingir para começar a chorar.
Aquele som de soluços femininos Genghi sobressaltou-se e dirigiu-se lentamente para o lado donde vinham as lágrimas.
-Quem és tu, mulher ? -perguntou inquieto.
- Sou Ukifune, a filha do rendeiro So-Hei -disse a Dama, sem se esquecer de adoptar a pronúncia da aldeia. - Fui à cidade com minha mãe, para comprar tecidos e tachos, porque me casam para a próxima lua. E eis que me perdi nos caminhos da montanha, e choro porque tenho medo dos javalis, dos demónios, do desejo dos homens e dos fantasmas dos mortos.
-Estás encharcada, menina -disse o príncipe pousando-lhe a mão no ombro.
Estava realmente ensopada até aos ossos.
O contacto daquela mão que tão bem conhecia fê-la estremecer da ponta dos cabelos aos dedos dos pés descalços, mas Genghi pensou porventura que ela tremia de frio.
-Vem para a minha cabana -retomou o príncipe com voz calorosa. - Poderás aquecer-te à minha lareira, muito embora tenha menos brasas do que cinzas.
Continua ....
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