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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Valência é uma cidade muito bonita, a P. tinha lá estado num congresso e achou que era um local que merecia ser visitado pela família, assim que depois de dois dias de viagem e de mais dois para aclimatação, lá fomos conhecer a grande cidade. Ficava a uns 70 Kms de Oliva, onde estávamos acampados, pelo que levamos o almoço e depois de encontrar um raro lugar de estacionamento, à sombra e tudo, fizemos um belo piquenique no Jardim del Turia, e procedemos a visitar a cidade das artes e das Ciências, onde para além da arquitectura espectacular de Santiago Calatrava vimos o museu e um filme no L'Hemisfèric, um cinema Imax.
Saímos do filme perto das 21 horas, pelo que decidimos passar a deixar algumas coisas no carro e depois ir comer umas tapas e visitar El casco antiguo da cidade.
Chegados ao carro, vimos que tinham partido um dos vidros e remexido toda a parte de trás, não demos porque tenham levado nada, inclusivamente o GPS que estava guardado na parte da frente, seguia no seu sítio.
Liguei para a policia, depois de me tentarem mandar para a comissaria mais próxima, lá enviaram um carro, dois policias que nem se dignaram a sair do carro, mandaram-me ir atrás deles e por vielas e travessas lá nos levaram à comissaria, onde me entregaram a outro policia, que depois de perguntar ao que ia, não me ligou nenhuma, mandou-me seguir por um corredor e entrar na segunda porta, alguém me haveria de atender. Com isto eram 10 da noite e ninguém tinha jantado.
Lá segui o corredor e entrei na porta. Era uma sala de dois por três metros, não tinha janelas, só 3 ou 4 cadeiras encostadas à parede e uma outra porta, que tinha um letreiro que dizia o seguinte:
-Por favor não bata à porta, nós já o atenderemos!
O meu primeiro instinto foi olhar à volta, haveria uma câmara e eles viam as pessoas por ela? Se havia estava muito bem escondida. Fiquei ali feito parvo a olhar para a porta um minuto ou dois sem acreditar naquilo... e decidi que tinha fome, pelo que voltei à entrada onde os dois polícias viam televisão e conversavam animadamente. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:
-Perdone, pero ai no hay nadie, sera que me van atender?
-Pero yo no he dicho que vaya y espere????!!!! - O tom do espere foi já assim para o elevado..e eu já me estava a ver preso e maltratado.
Ali estava eu, assaltado, com fome, chateado.... o meu mau feitio esteve por um triz por aparecer... no ultimo segundo, decidi que Valência era muito longe...e o homem tinha ar de ter pior feitio que eu..além disso o meu castelhano da América do Sul não abonava muito a meu favor.. pelo que lá me contive, falei dos miúdos com fome no carro cheio de vidros , da viagem até ao parque de campismo a 70 Kms... e afinal até podia colocar a denuncia pela internet... Alguém me tinha dito que havia sítios onde colocavam vidros nos carros que funcionavam as 24 horas, será que ele me poderia indicar onde? Não, claro que não, madaram-me ligar para o 118 lá do sitio e que desse comida aos miúdos.
Do 118 nada, aliás, duvido que me entendessem, eu queria um vidro para o carro, Na Espanha os carros não tem vidros, tem cristais, ou lunas, aliás, não são carros, são coches...é claro que só percebi isto no dia a seguir, quando comecei a perceber que ninguém sabia do que eu estava a falar.... apesar de carro e vidrio, serem duas palavras espanholas.... detalhes.
No dia a seguir passei a manhã às voltas numa cidade chamada Gandia, era a caça ao tesouro, aliás, ao Cristal.... até que finalmente na Carglass, pela que havia passado 3 vezes e não a tinha visto, lá me colocaram um Cristal temporário... e me mandaram ligar na semana a seguir.... mas pelo menos foram simpáticos... é claro que uma semana depois, o Cristal não tinha vindo.... e ainda não veio, está marcado para amanhã aqui em Setúbal.... a ver vamos..
Voltamos a Valência uns dias depois, é claro que deixei o caro num parque de estacionamento e por mais ou menos 5 horas, paguei..... 12 Euros, o parque era pago ao minuto.. mas pelo menos quando voltei, os cristais estavam intactos!
Portanto já sabem,se forem a Valência, vejam lá onde estacionam!.
Jorge Soares
PS:imagens minhas
O que é bom acaba cedo... neste caso, muito cedo, que amanhã já é dia de voltar à triste realidade.
Este ano as férias foram de novo a acampar e apesar de um ou outro pequeno percalço, esta vez voltei para casa com os ossos todos intactos. Mas também é verdade que férias sem coisas para contar... não seriam férias minhas.. esta vez até deu para passar pela policia... pensando bem, já não é a primeira vez... mas já falarei disso.
Desde há mais de 10 anos e porque acampar no verão em Portugal é algo que não nos passa pela cabeça, que vamos 15 dias acampar para Espanha, tirando o ano que tínhamos ido para Barcelona, sempre fomos para o norte, Galiza, Astúrias, Cantábria, Pais Vasco.. este ano decidimos variar e ir para o Sul, Oliva, uma pequena localidade entre Valência e Benidorm, um parque de campismo 5 estrelas, que ficava numa praia 5 estrelas com km de areias douradas e aguas cristalinas e com uma temperatura bem perto dos 30 graus... não fosse os sempre mais de 30 graus de temperatura ambiente.... mas não se pode ter tudo.
Há muito para contar e já irei falando disso noutros posts, hoje quero falar da Espanha, cada vez que se passa uma fronteira é inevitável que comecem as comparações, durante muito tempo inevitavelmente Portugal saia a perder em qualquer comparação com outros países, o que cada vez mais constato é que isso vai mudando, e quando comparamos com a Espanha..... começa a ser gritante, começamos a parecer um país do primeiro mundo ao lado de outro que em muitos aspectos tem bastante para recuperar.
A primeira coisa que salta à vista para quem vai de carro são as áreas de serviço nas auto-estradas, não sei se será azar meu ou falta de jeito para a escolha, mas a verdade é que exceptuando uma já bem perto de Badajoz, o panorama é assustador, lixo e sujidade pelo chão e por todos os locais, invariavelmente é permitido fumar,..e os espanhóis fumam, muito.... em Portugal sentimos que somos assaltados sempre que paramos numa área de serviço, mas pelo menos somos assaltados num sitio limpo.
Depois o serviço, no norte nunca tinha sentido isso, mas no Sul as pessoas são antipáticas e pouco prestáveis, os terminais de multibanco para pagamentos nas lojas que por cá são comuns, por lá são coisas mais ou menos desconhecidas, e mais que uma vez me apeteceu mandar os empregados para um sitio feio..... e até a policia...
A sensação com que fiquei é que de Madrid para baixo os Espanhóis tem menos civismo, ver coisas atiradas dos carros em andamento é mais ou menos comum, nos cafés o lixo vai mesmo para o chão que alguma vez haverá de ser barrido, (bendita ASAE) as auto-estradas que são pagas são mesmo caras, estacionar custa os dois olhos da cara...e estacionar na rua pode sair muito mais caro ..... e atender portugueses é uma chatice... deve ser por sermos pelintras..
E por hoje fico-me por aqui.... agora vou ali ler os mais de 500 Posts que tenho atrasados no reader.
Jorge Soares
PS:Ainda não tirei as mais de 600 Fotografias dos cartões, esta não é minha.. mas tenho várias parecidas... já verão, é a praia do Parque de campismo
Fotografia minha de Momentos e olhares
DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
Alberto Caeiro, em "O Guardador de rebanhos"
Parque Moilinológico de Ul, Ul, Oliveira de Azemeis, Aveiro
Apr 4, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100 Exposição: 1/125 seg. Abertura: 11.0 Extensão focal: 26mm
Imagem Minha retirada de Momentos e olhares
Com um lindo salto
Lento e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pisa e passa
Cuidadoso, de mansinho
Pega e corre, silencioso
Atrás de um pobre passarinho
E logo pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
Se num novelo
Fica enroscado
Ouriça o pêlo
Mal humorado
Um preguiçoso
É o que ele é
E gosta muito
De cafuné
E quando à noite
Vem a fadiga
Toma seu banho
Passando a língua pela barriga.
Vinicius de morais
Um gato na Baixa de Setúbal
Jorge Soares
Mar 28, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 200,Exposição: 1/1600 seg.,Abertura: 5.6,Extensão focal: 200mm, Flash: Não
Fotografia minha de Momentos e olhares
Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou
Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
Nov 9, 2008, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 320, Exposição: 1/320 seg.,Abertura: 5.6,Extensão focal: 200mm
Fim de tarde de Novembro na praia do Meco,
Sesimbra, Setúbal
Novembro de 2008
Fotografia minha de Momentos e olhares
Praia do Esquecimento
Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.
Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.
E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.
David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"
Câmara: OLYMPUS IMAGING CORP., Modelo: FE-140,X-725, ISO: 80, Exposição: 1/250 seg., Abertura: 8.5, Extensão focal: 18.9mm
Praia do Carvalhal, Junho de 2008
Fotografia minha de Momentos e olhares
URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
Alguns lamentos,
Muitas espadas.
É urgente inventar a alegria,
Multiplicar as searas,
É urgente descobrir rosas e rios
E manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
Impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
Permanecer.
Eugénio de Andrade, Antologia Breve
Moinho das marés das Mouriscas, Setúbal,
Março de 2008
Jorge Soares
Câmara: OLYMPUS IMAGING CORP.FE-140,X-725, ISO: 80, Exposição: 1/800 seg.,Abertura: 4.6, Extensão focal: 6.3mm
Fotografia minha de Momentos e olhares
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
Ricardo Reis
Num dos meus passeios do fim de tarde pela arrábida, a luz já era pouca mas a flor era muito bonita
Arrábida, Setúbal, Junho de 2009
Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 100,Exposição: 1/250 seg.,Abertura: 5.6,Extensão focal: 70mm
Fotografia minha de Momentos e olhares
BALADA DE UM BANCO DE JARDIM
Num repente de emoção
Disparou meu coração
Vi que o teu recado era para mim
É de ti que eu gosto
Não falto ao teu rendez-vous
Seis da tarde, banco de jardim
Pus-me logo a sonhar
Corei só de imaginar
Nós os dois no banco de jardim
Decorei o que dizer
Vesti roupa a condizer
Roubei flores do jardim
A solidão num instante foi a breve ilusão de um amor
Como se esse amor de repente fosse também um bem ao meu dispor
Quantos destinos de cruzam assim
Quantos romances se acendem assim
Ao cair da tarde num banco de jardim
A lua subiu de tom e anoiteceu
Ela nem apareceu
Mais um sonho se desfaz assim
Desfiz a minha ilusão
E gravei um coração
A canivete no banco de jardim
A solidão de repente era a minha canção de langor
Como se o amor, novamente, fosse um estranho, um desertor
Quantos destinos se cruzam assim
Quantos romances chegam ao fim
Ao cair de um sonho num banco de jardim
Retirada do Blog Os Azeitonas, Se puderem vão lá e ouçam, eu adorei
Fotografia tirada no Parque Urbano do Rio Ul, São João da Madeira
Dec 25, 2008, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100, Exposição: 1/80 seg. Abertura: 9.0 Extensão focal: 18mm
Fotografia minha de Momentos e olhares
A quem me deu perfume,
A quem me deu sentido.
A quem só me fez bem.
Ofereço uma rosa,
Àqueles que sorriram
Àqueles que comigo
partilharam lágrimas,
Àqueles que souberam
da minha existência.
Ofereço uma rosa...
(autor desconhecido)
(cortesia da Paola)
Ainda as rosas do quintal da minha mãe
Alviães,Palmaz, Oliveira de Azemeis, Aveiro
Abril de 2009
Jorge Soares
Apr 4, 2009,Câmara: SONY ,Modelo: DSLR-A350,ISO: 100,Exposição: 1/160 seg.,Abertura: 4.5,Extensão focal: 100mm