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Casamento entre pessoas do mesmo sexo

 

 

O Presidente da República anunciou hoje ao início da noite que decidiu promulgar o diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas lamentou que não tenha sido encontrado um consenso no Parlamento.

 

 

De vez em quando apetece-me repetir-me, foi em Setembro de 2008 que escrevi neste post, o seguinte:

 

Sobre orientações sexuais e casamento... discriminação!

 

Para mim o facto de viver em sociedade significa que os meus direitos terminam exactamente onde começam os das pessoas que me rodeiam e evidentemente  espero que o resto do mundo se comporte assim quando olha para mim. Dito isto, a mim faz-me alguma confusão que a discussão da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo levante tanta poeira. Do meu ponto de vista, a pessoa com quem nos queremos casar é algo do foro pessoal, quando eu me casei com a P. só lhe perguntei a ela se  queria casar comigo, porque só  ela e a mim nos interessava o assunto, não me passou pela cabeça perguntar a mais ninguém e muito menos que haveria uma lei que permitiria ou não o casamento.

 

A orientação sexual das pessoas é algo pessoal, algo que só diz respeito a ela e aos seus parceiros, até porque quando falamos de sexo é muito difícil falar do que é ou não normal, basta uma simples pesquisa no google para encontrarmos muitos exemplos de orientações sexuais que incluem pessoas de sexos diferentes e que para a maioria  são completas aberrações.

 

Cada um deveria poder casar com quem bem entender, independentemente de sexo, raça ou religião, desde que ambos estejam de acordo e o façam de livre vontade, o que é que temos a ver com isso? O que estamos a discutir não é o casamento, é a discriminação, o facto de discriminarmos ou não alguém pelo simples facto de ter gostos diferentes dos nossos.

 

Somos um país com uma mentalidade mesquinha, um país de virtudes publicas vícios privados e sabem que mais, há muita gente por aí que deveria ter vergonha.

 

Bom, esta barreira já caiu... agora faltam todas as outras... a luta continua.

 

Jorge Soares

publicado às 21:18

 

 

Miguel Sousa Tavares no Programa Sinais de Fogo

 

Finalmente terminou o circo, sim, porque para mim tudo isto não passou de um circo, imagino que haverá por aí quem se sinta muito feliz porque o homem cá esteve, a mim custa-me a entender. Entretanto houve quem tivesse feito as contas, a coisa ficou-nos por 75 milhões de Euros. Muito dinheiro que nos vai sair do bolso a todos, sejamos católicos, agnósticos, ateus, judeus, muçulmanos, todos e cada um de nós iremos pagar.

 

O mais incrível da questão é que a visita foi patrocinada pelo governo e ocorreu na mesma semana em que ficamos a saber que a crise finalmente chegou até nós em força e vamos todos pagar mais IVA e mais IRS. Não sou economista nem politico, não vou aqui discutir se estas medidas são as únicas ou as mais apropriadas, o que sei é que o aumento do IVA vai-se traduzir num aumento imediato do custo de vida, as coisas vão aumentar, tudo vai aumentar e no fim do mês o salário vai diminuir.

 

O governo aproveitou a passagem do circo para apresentar as medidas, é preciso ter falta de vergonha para no dia em que foi dada uma tolerância de ponto que custou ao país 74 milhões de Euros, vir dizer que vamos aumentar os impostos, porque a crise é para ser paga por todos.

 

Nestas coisas o exemplo deve ir de cima.... e que exemplo foi este?

 

Jorge Soares

publicado às 21:49

Conto: As Moiras

por Jorge Soares, em 15.05.10

Luna de Abril

 

Imagem minha do Momentos e olhares

 

Este caso contava-se na minha terra, terra de mar. Havia quem nele acreditasse. A minha terra é banhada por um rio, a que ninguém dá nome, e pelo mar. Creio que já se lhe não conhece a origem: é muito antiga. Tanto que as ruas velhas, quase todas elas o são, cobertas de areia, aos altos e aos baixos, quando sofrem conserto mostram buracas que antes abriam para subterrâneos, caminhos escondidos, do tempo dos moiros, a que chamam fojos...

Mas não é dos moiros que ainda hoje lá se fala. É das moiras. Há tanta memória delas! Ditos e receios... Até os pescadores quando traziam do mar os covos vazios se queixavam delas: não fossem as moiras! Marfadas! Condenadas!

Quem vinha a desoras para o povo também espalhava medos:

À meia-noite é que elas aparecem. Põem-se a pentear e a cantar, têm uns cabelos muito compridos! sentadas nas rochas... Vê-las é a nossa perdição.

Mas vossemecê viu? - perguntavam.

Ninguém tinha visto, porém todos sabiam que era verdade. E que em certas ocasiões as badaladas da meia-noite soavam por toda a banda, por cima das alfarrobeiras e das amendoeiras, no chão e no ar. Alguma estava para acontecer! E por culpa das moiras. À meia-noite era certo...ah! lá isso era! virem elas de corrida pelo rio abaixo até o mar. E até havia quem dissesse que ao dar do meio-dia era o mesmo. E acre ditavam, mas ninguém vira. Sabia-se apenas que elas eram muito belas e que cantavam. Quem lhes quebrasse o encanto ficava a poder mais que um rei. Que elas ainda possuíam riquezas fabulosas! Ou então... ficaria um seu escravo.

Isto era o que se dizia. Até que de uma vez aparece um rapaz desconhecido a correr pela praia fora, com os cabelos muito bastos e soltos, o olhar vago e a sorrir. Quem seria quem não seria... Foi-se juntando povo à roda dele e as perguntas a chover. Mas ele só dava às mãos, abanava a cabeça e sorria. Por fim deixaram-no fugir e ficaram murmurando: é um desgraçado.

No outro dia e nos mais que se seguiram aconteceu o mesmo. O rapaz aparecia do lado do rio, a correr, com aqueles cabelos tão compridos e lisos como uma seda, de mãos no ar, com um ar de riso... Nada pedia, nada aceitava...

É um aventureiro! É mas é um infeliz! As opiniões dividiam-se. O povo andava alvoroçado.

É um louco, é um zorro, é um perdido!

As mãos tremem-lhe, aventavam algumas mulheres, vê-se que quer falar e não pode. E foi, afinal, um carvoeiro da serra que veio a deslindar o caso. Aquele rapaz era rico. Tinha noiva, uma grande casa, cavalos e prédios como poucos. Mas tudo abandonara por causa delas. Numa certa noite, fazia uma lua como um sol, ao darem as doze badaladas... ele viu-as e foi atrás delas... Perdeu-se. Mas não lhes pôde quebrar o encanto. Elas é que lhe tiraram a fala. Deixou tudo e agora era certo, na verga do dia e ao dar a meia-noite, passar a correr do rio para o mar. Podia o sol tornar a areia em brasa, podia a lua gelar, podia a maré varrer tudo, que ele nunca parava, e sempre com aquele ar de riso.

Alguns homens lembraram-se de levar ao encontro dele as moças mais bonitas da terra, mas ele dava às mãos, sem as ver sequer, e continuava na sua carreira. Houve quem lhe oferecesse figos secos e papas, que era o comer da terra. Mas ele tudo recusava...

Pudera, se as moiras o sustentavam...

Até que um dia, já toda a gente se habituara a ele, um dia muito triste, muito escuro, com os pássaros do mar em terra e um levante de fazer arrepiar os mortos, se viu o mais triste espectáculo... quem terá forças para o contar?

Começaram a estalar as faíscas, que até pareciam um fogo de vistas, e os trovões a ribombar. O mar subia. As mulheres vinham às portas clamar que era o fim do mundo. Um frio, como nunca se sentira assim, picava-as na boca, mas elas não se calavam. As crianças choravam.

Nisto passa o louco, de estoiro.

Ele aí vai! Ele aí vai! - gritavam elas. É um perdido! Vai ter com as moiras.

O triste, mais pálido que uma rosa branca, com os cabelos a voar, corria como o vento ou como os raios trémulos. Chega à orla do mar e estaca. Abre os braços. Abre-os tanto que parece abranger a massa toda da água, e mete-se nela, desaparece.

O povo, que o estava vendo de longe, dá um grande soluço. E não faltou depois quem afirmasse que do mar outros soluços lhe responderam. O pobre perdera a sua alma! E tudo por causa das moiras.

Sabido é que o temporal abrandou.

Era um infeliz. Cumpria o seu fadário. Marfadas, condenadas...

Estas vozes e outras corriam depois acerca do louco e das moiras. E aos serões, enquanto os rolos da empreita tremiam e reviravam suspensos dos dedos activos das mulheres, sentadas nas capachinhas, repassavam-se as graças do suicida: era tão delgado como um junco, como um junco novo... e o olhar dele? mas nunca via ninguém! pudera, se ele as tinha visto a elas... formosura igual? nunca houve! e os cabelos, e as mãos dele, tão finas? sempre a virar, sempre a virar... tinha o rosto moreno... pois tinha, mas já fora mais claro que a água, o sol e o vento é que o haviam crestado, e o que ele corria, léguas, sempre no mesmo passo? aquilo nem era correr, era voar, como os pássaros, nunca se soube de onde vinha, que era louco, que era louco? andava mas era a cumprir um fado! agora acabaram-se os perigos do mar, agora está ele enterrado com elas, lá bem no fundo...

Mas quando os homens tornavam a vir da pesca, de ombros derreados e a praguejar, nunca deixavam de intercalar nas suas queixas: marfadas, condenadas, não fossem elas!

 

Irene Lisboa, Uma Mão Cheia de Nada Outra de Coisa Nenhuma

 

Retirado de Contos de Aula

publicado às 19:55


Bruna, a professora de Mirandela na Playboy

 

 

Hoje foi o dia dos professores, a meio da tarde o tema do facebook era a anedota da vaca... uma anedota parva, é verdade, tão parva que me levou a ir procurar o livro, porque tenho a certeza que haverá por lá algumas mais parvas e mais ofensivas de que ninguém se queixou, ainda não o encontrei... mas já lá iremos.

 

Ao fim do dia, este post da Suspeita chamou-me a atenção para esta noticia:

 

Posar para a Playboy pode ser motivo de despedimento. Que o diga a professora Bruna, de Mirandela, que vê agora a sua carreira ameaçada depois de ter ocupado oito páginas da edição de Maio da revista portuguesa numa sessão ousada com outra mulher.

 

Por acaso a noticia passou no telejornal, vê-se logo que já não há papa, e aproveitei para falar do assunto com a R., que com a sapiência dos seus 10 anos, não viu mal nenhum no assunto... "ela não prejudicou ninguém com isso, logo, qual é o problema?" .... agora vou ser pai babado... gosto da minha filha!

 

A Bruna é professora de actividades extracurriculares.. bom era, porque segundo a vereadora Maria Gentil na reportagem da RTP, ".. um dos critérios será o da boa conduta".... desculpe?

 

Onde é que está a má conduta da professora?, Ela foi despida para a escola?, despiu-se para os alunos?... teve alguma atitude menos própria durante as aulas?... não sabemos, mas imaginamos que não, caso contrário e com tanto zelo por parte da autarquia já teria sido despedida antes.

 

Alguém me explique o que de mal veio a mundo, ou aos alunos da Bruna, pelo facto de ela se ter despido para a playboy!!!, qual é o problema?, as criancinhas compram e lêem a playboy?... pelos visto em Mirandela sim.. vêem e digitalizam as imagens, e passam-nas para os telemóveis.. e até tiram fotocópias da revista... fantástico. Tudo isto será culpa de quem? Da professora? Será dos pais que não controlam? Alguém me explica porque é que os alunos menores de idade tem acesso a uma revista para maiores de idade?

 

Não será este mais um capítulo da eterna telenovela, os pais não são capazes de controlar os filhos e acham que deve ser o mundo a controlar-se?.. Ou será só mais um caso de falsos moralismos?

 

E não foi em Mirandela que o Leandro se atirou ao rio..  e a escola não sabe de nada?... desta vez foram rápidos a saber!

 

Eu e as minhas perguntas parvas.

 

 

 

 

Jorge Soares

PS:Fotografia retirada do Ionline

publicado às 21:21

Ainda as crianças difíceis e a hiperactividade

por Jorge Soares, em 12.05.10

Hiperactividade e défice de atenção

 

O post de há dois dias em que se falava de crianças e castigos, fez-me recordar algumas coisas... A Anabela é mãe de uma criança hiperactiva e  nos comentários dizia o seguinte:

 

Por norma não há palmadas la em casa (por norma, porque às vezes a paciência falta...), até porque em crianças impulsivas com é o caso das hiperactivas, uma palmada pode levar a um ataque de fúria difícil de controlar. Mas há castigos. Passado 5 minutos de uma birra ou asneira, um hiperactivo esquece o que se passou, os castigos têm que ser imediatos e curtos, de nada adianta dizer "ficas proibido de computador 1 mês, porque passado 2 dias já não sabe porque está proibido, mas retirar algo no imediato, explicar bem o porquê e ir relembrando ajuda muito.

 

Lembro-me que numa das primeiras vezes em que tivemos um episódio com fósforos o N. ficou sem prendas de natal, conseguem imaginar o que significará para uma criança de 5 ou 6 anos passar o natal , ver as crianças receberem prendas e não poder tocar nas dela? Ele passou por isso. Qualquer um de nós ficaria com isso na memória  e demoraria anos a voltar a fazer outra... o Natal é em Dezembro, ele faz anos em Maio.. se não me engano no ano a seguir não teve festa de anos,.. porque já tinha havido um novo episódio.

 

De resto, nem castigos, nem palmadas, nem gritos, a verdade é que nada adianta, como diz a Anabela, estas crianças são impulsivas e acreditem, lidar com elas pode ser desesperante. E se é desesperante para nós que temos consciência que tudo isto é resultado de uma doença, como será para os pais que não tem esta consciência? ... Ou para os que simplesmente se resistem a acreditar que seja mais que mau comportamento?.

 

Lembro-me que durante muito tempo eu achava que o conseguia controlar, que era uma questão de ser autoritário e de impor a minha autoridade de pai... até que  tive que me render à evidência, há coisas que são mais fortes que eles..e que são muito mais fortes que nós.

 

É claro que estas coisas têm tratamento, que se não resolve, pelo menos ajuda a controlar.  Cá em casa e por muito que a mim me custe, a Ritalina há muito que é a nossa melhor aliada, e a diferença entre o N. que toma o comprimido de manhã e o que não toma é tal que nos dias em que por algum motivo nos esquecemos, a professora pergunta logo porque é que ele não tomou o comprimido, tal é a diferença de comportamento nas aulas.

 

Eu sou e serei sempre contra a utilização deste tipo de medicamentos, há uns tempos a professora da R.,  que na altura era professora dos dois, sugeriu que ela também deveria tomar, disse logo que nem pensar.. mas no caso do N. e em casos como o dele, tenho que me render à evidência, se com o tratamento ele é uma criança difícil, sem ele imaginem como será.

 

Para terminar deixo aqui um trecho de este post da Anabela, palavras que todos os pais de crianças hiperactivas deveríamos ler e ter em conta:

 

... um hiperactivo sofre.

Sofre por não saber controlar-se, sofre por ser demasiado impulsivo, sofre por se sentir frequentemente rejeitado, sofre porque sabe que é diferente e é incapaz de controlar essa diferença, porque isso não depende da sua vontade.

Mas ser diferente também é ser especial e ser especial também é bom.

 

Não queria terminar sem deixar um apelo a todos os pais de crianças difíceis, a hiperactividade é uma doença, as crianças devem ser seguidas e tratadas, por muito que nos achemos pais capazes e com autoridade para os controlar, a verdade é que não o conseguimos, porque há coisas nesta doença que estão mais além deles e de nós... se suspeita que o seu filho possa ter esta doença, fale com o pediatra... quanto mais tempo passar sem ser diagnosticado e tratado, mais sofre ele e mais sofrem os pais.

 

E não deixem de passar pelo blog da Anabela.. é o Abigai

 

Jorge Soares

publicado às 21:52

Fátima, futebol e to

Imagem do público

 

 

Os zun zuns já andavam pela blogosfera desde há umas duas semanas, o governo estava-se a preparar para mexer nos impostos e no subsídio de natal. Quando escrevi o post sobre a tolerância de ponto da vinda do papa, já tinha lido mais de um blog onde se ventilava o assunto, na altura falava-se no subsidio de férias dos funcionários públicos, os mesmo que tem direito a tolerância de ponto e a dias de férias extra, mas não, não era disso que se tratava, é mesmo no subsidio de natal de todos nós, no Público podemos ler o seguinte:

 

Nova subida de IVA e tributação extraordinária do subsídio de Natal de toda a população, duas medidas ponderadas pelo Governo para garantir o novo objectivo do défice, têm o potencial para, este ano, gerar uma receita adicional para o Estado de mais de 3000 milhões de euros.

 

Antes de mais, devo dizer que eu entendo a necessidade destas medidas, a crise financeira e o custo do dinheiro está a afectar duramente   a nossa economia e se não forem tomadas medidas não demorará muito a estarmos na mesma situação da Grécia com tudo o que isso significa. Mas assim como entendo que é necessário que se tomem as medidas necessárias, não entendo que se gastem milhões em todo este circo montado à volta da vinda do papa e muito menos que um governo que se  prepara para mexer assim no bolso de todos nós, dê dois dias de tolerância de ponto a todos os funcionários públicos.. afinal, o exemplo deve vir de cima.. ou não?

 

Já o disse no outro post e volto a dizer, esta tolerância de ponto é uma vergonha, que se pare o país dois dias para as pessoas irem ver o papa é uma vergonha e é uma falta de respeito por todos nós que com os nossos impostos estamos a pagar todo este circo e que aparentemente com o nosso subsidio de natal vamos pagar a crise.

 

Eu sou pouco de deitar pedras ao governo, este ou outro qualquer,  mas terem escolhido o intervalo entre a vitória do Benfica no Futebol e a vinda do papa para falarem destas medidas, é no mínimo gozarem com a nossa cara, o tempo do Fátima, fado e  futebol  já lá vai, mas este governo prepara-se para nos lixar com F. grande e entretanto dá-nos circo... pena que ao mesmo  tempo se prepare para nos tirar parte do pão.

 

Jorge Soares

publicado às 21:52

Diário de um pai de licença parental

 

Hoje foi dia da segunda dose da vacina, da primeira vez a coisa não tinha corrido lá muito bem e consta que o berreiro foi de deixar as enfermeiras surdas, lá me preparei mentalmente para a coisa e depois de pagar os 75 Euros (!!!!!!!???????)  na farmácia,  fui para o centro de saúde com a criancinha.

 

Depois de tirar a senha esperei uns 15 minutos e fomos chamados, no gabinete estavam duas senhoras de bata branca, uma sentada ao computador e outra de serviço às vacinas... foi a primeira vez que vi uma enfermeira com secretária privada...

 

- Que miúda tão gira, quantos meses tem?

- Ela vai fazer 3 anos

 

Uma miúda que entra pelo gabinete dentro pelo próprio pé, toda sorridente, a dançaricar e a deitar charme fora.. está-se mesmo a ver que tem meses...

 

- Mostre lá o bracinho direito

 

Peguei nela ao colo e puxei a manga para cima, quando apareceu a agulha a D. percebeu o que vinha, mas já era tarde, movimento rápido e já está.. práticamente nem chorou e passado um minuto já estava a dançaricar cá fora....

 

E com isto já passou mais de um mês... sabem uma coisa, era capaz de me habituar a esta vida... a miúda vai lindamente, sempre sorridente e feliz... cada vez mais teimosa é verdade, mas imagino que isso  faz parte.

 

Antes do almoço passamos pelo parque infantil, duas mães falavam sobre as diabruras das suas criancinhas. .e sobre as palmadas e os castigos. A D. não é uma criança nada problemática, ultimamente tem a tendência para tentar fazer birras, comigo não vai a lado nenhum, normalmente deixo-a chorar até que ela percebe que não é assim que consegue o que quer, outras vezes a coisa resolve-se com uma palmada, como quando ela decide esticar o corpo como um carapau para evitar que eu a prenda na cadeirinha do carro.

 

As duas mães estavam de acordo em que não se devia bater nas criancinhas, deve-se sempre utilizar os castigos, estou de acordo, mas há crianças e crianças. Cá em casa durante muito tempo tentamos utilizar o método da pausa, colocávamos uma cadeira no corredor e o castigo era ir-se sentar para a cadeira durante um bocado para acalmar... a coisa deixou de funcionar quando passaram a ser necessárias duas cadeiras uma em cada ponta do corredor e eles implicavam um com o outro quando estavam ambos de castigo... e principalmente quando o N. passou a estar mais tempo na cadeira que a brincar.

 

Os castigos são sem dúvida importantes e acredito que com muitas crianças funcionem, ... com as nossas não funcionaram lá grande coisa...

 

Jorge Soares

publicado às 21:20

Coisas pequenas.... belas!

por Jorge Soares, em 09.05.10

Hoje não me apetece pensar muito.. deixo a palavra às imagens.

 

O mundo é feito de coisas pequenas, coisas belas e pequenas

 

 

 

 

 

Imagems do Momentos e olhares

 

A natureza é maravilhosa... mesmo....

 

Jorge Soares

publicado às 22:13

Conto: A fogueira

por Jorge Soares, em 08.05.10
Vozes Anoitecidas - A Fogueira - Óleo S/ Tela - 80x80

A velha estava sentada na esteira, parada na espera do homem sadio no mato. As pernas sofriam o cansaço de duas vezes: dos caminhos idosos e dos tempos caminhados.
A fortuna dela estava espalhada pelo chão: tigelas, cestas, pilão. Em volta era o nada, mesmo o vento estava sozinho.
O velho foi chegando, vagaroso como era seu costume. Pastoreava suas tristezas desde que os filhos mais novos foram na estrada sem regresso.
“Meu marido está diminuir”, pensou ela. “É uma sombra”.
Sombra, sim. Mas só da alma porque o corpo quase que não tinha. O velho chegou mais perto e arrumou a sua magreza na esteira vizinha. Levantou o rosto e, sem olhar a mulher, disse:
- Estou a pensar.
- E o quê, marido?
- Se tu morres como que eu, sozinho, doente e sem as foras, como que eu vou-lhe enterrar?
Passou os dedos magros pela palha do assento e continuou:
- Somos pobres, só temos nadas. Nem ninguém não temos. E melhor começar já a abrir a tua cova, mulher.
A mulher, comovida, sorriu:
- Como és bom marido! Tive sorte no homem da minha vida.
O velho ficou calado, pensativo. Só mais tarde a sua boca teve ocasião:
- Vou ver se encontro uma pá.
- Onde podes levar uma pá?
- Vou ver na cantina.
- Vais daqui até na cantina? É uma distância.
- Hei-de vir da parte da noite.
Todo o silêncio ficou calado para ela escutar o regresso do marido. Farrapos de poeira demoravam o último sol, quando ele voltou.
- Então, marido?
- Foi muito caríssima - e levantou a pá para melhor a acusar.
- Amanhã de manhã começo o serviço de covar.
E deitaram-se, afastados. Ela, com suavidade, interrompeu-lhe o adormecer:
- Mas, marido...
- Diz lá.
- Eu nem estou doente.
- Deve ser que estás. Você és muito velha.
- Pode ser - concordou ela. E adormeceram.
Ao outro dia, de manhã, ele olhava-a intensamente.
- Estou a medir o seu tamanho. Afinal, você é maior que eu pensava.
- Nada, sou pequena.
Ela foi lenha e arrancou alguns toros.
- A lenha está para acabar, marido. Vou no mato levar mais.
- Vai, mulher. Eu vou ficar covar seu cemitério.
Ela já se afastava quando um gesto a prendeu à capulana e, assim como estava, de costas para ele, disse:
- Olha, velho. Estou pedir uma coisa...
- Queres o quê?
- Cova pouco fundo. Quero ficar em cima, perto do chão, tocar a vida quase um bocadinho.
- Está certo. Não lhe vou pisar com muita terra.
Durante duas semanas o velho dedicou-se ao buraco. Quanto mais perto do fim mais se demorava. Foi de repente, vieram as chuvas. A campa ficou cheia de água, parecia um charco sem respeito. O velho amaldiçoou as nuvens e os céus que as trouxeram.
- Não fala asneiras, vai ser dado o castigo - aconselhou ela. Choveram mais dias e as paredes da cova ruíram. O velho atravessou o seu chão e olhou o estrago. Ali mesmo decidiu continuar. Molhado, sob o rio da chuva, o velho descia e subia, levantando cada vez mais gemidos e menos terra.
- Sai da chuva, marido. Você não aguenta, assim.
- Não barulha, mulher - ordenou o velho. De quando em quando parava para olhar o cinzento do céu. Queria saber quem teria mais serviço, se ele se a chuva.
No dia seguinte, o velho foi acordado pelos seus próprios ossos que o puxavam para dentro do corpo dorido.
- Estou a doer-me, mulher. Já não aguento levantar.
A mulher virou-se para ele e limpou-lhe o suor do rosto.
- Você está cheio com a febre. Foi a chuva que apanhaste.
- Não mulher. Foi que dormi perto da fogueira.
- Qual fogueira?
Ele respondeu um gemido. A velha assustou-se: qual o fogo que o homem vira? Se nenhum não haviam acendido?
Levantou-se para lhe chegar a tigela com a papa de milho. Quando se virou já ele estava de pé, procurando a pá. Pegou nela e arrastou-se para fora de casa. De dois em dois passos parava para se apoiar.
- Marido, não vai assim. Come primeiro.
Ele acenou um gesto bêbado. A velha insistiu:
- Você está esquerdear, direitar. Descansa lá um bocado.
Ele estava já dentro do buraco e preparava-se para retomar a obra. A febre castigava-lhe a teimosia, as tonturas danando com os lados do mundo. De repente, gritou-se num desespero:
- Mulher, ajuda-me.
Caiu como um ramo cortado, uma nuvem rasgada. A velha acorreu para o socorrer.
- Estás muito doente.
Puxando-o pelos braos ela trouxe-o para a esteira. Ele ficou deitado a respirar. A vida dele estava toda ali, repartida nas costelas que subiam e desciam. Neste deserto solitário, a morte um simples deslizar, um recolher de asas. Não um rasgão violento como nos lugares onde a vida brilha.
- Mulher - disse ele com voz desaparecida. - Não lhe posso deixar assim.
- Estás a pensar o quê?
- Não posso deixar aquela campa sem proveito. Tenho que matar-te.
- É verdade, marido. Você teve tanto trabalho para fazer aquele buraco. E uma pena ficar assim.
- Sim, hei-de matar você; hoje no, falta-me o corpo.
Ela ajudou-o a erguer-se e serviu-lhe uma chávena de chá.
- Bebe, homem. Bebe para ficar bom, amanhã precisas da força.
O velho adormeceu, a mulher sentou-se porta. Na sombra do seu descanso viu o sol vazar, lento rei das luzes. Pensou no dia e riu-se dos contrários: ela, cujo nascimento faltara nas datas, tinha já o seu fim marcado. Quando a lua começou a acender as árvores do mato ela inclinou-se e adormeceu. Sonhou dali para muito longe: vieram os filhos, os mortos e os vivos, a machamba encheu-se de produtos, os olhos a escorregarem no verde. O velho estava no centro, gravatado, contando as histórias, mentira quase todas. Estavam ali os todos, os filhos e os netos. Estava ali a vida a continuar-se, grávida de promessas. Naquela roda feliz, todos acreditavam na verdade dos velhos, todos tinham sempre razão, nenhuma mãe abria a sua carne para a morte. Os ruídos da manhã foram-na chamando para fora de si, ela negando abandonar aquele sonho. Pediu à noite que ficasse para demorar o sonho, pediu com tanta devoção como pedira vida que não lhe roubasse os filhos.
Procurou na penumbra o braço do marido para acrescentar fora naquela tremura que sentia. Quando a sua mão encontrou o corpo do companheiro viu que ele estava frio, tão frio que parecia que, desta vez, ele adormecera longe dessa fogueira que ninguém nunca acendera.

 

Mia Coutoem Vozes Anoitecidas

 

Retirado de Contos de Aula

publicado às 21:00

 

Afinal não há Messias 3D

Encontrei a noticia na Exame informática, mas também pode ser lida no IOL , no Diario Digital e em vários  sites de noticias internacionais... Básicamente diz o seguinte:

 

"o marido de uma senhora norte-americana descobriu que a esposa tinha tido um filho quando regressou da guerra do Iraque, uma ausência que durou um ano. O pai da criança? Aparentemente, um filme pornográfico em 3D.

"Os filmes em 3D são muito realistas. Com a tecnologia de hoje, tudo é possível", disse o Erick Jhonson, o marido."

Esta é uma daquelas noticias que deixa qualquer bloguer em pulgas, afinal, a ultima vez que alguém ouviu falar de um caso parecido foi há dois mil anos... na altura não havia televisão 3D, mas havia o espírito santo... e o resultado foi o mesmo.... até na parte em que o marido acreditou... e já todos sabemos no que deu.

 

Mas a noticia é tão estranha, que antes de escrever decidi dar uma olhadela na internet... felizmente houve quem fizesse o trabalho de casa antes de fazer mais um copy past para colocar online, vejam o que diz o Ionline:

 

Grávida americana do 3D fez sucesso nas redes sociais mas é falsa

 

"Fomos alertados pelos nossos leitores sobre a veracidade desta notícia. Foram usadas várias fontes, não só brasileiras, como também inglesas. Depois de investigarmos, concluímos que os vários sites tiveram como base um jornal brasileiro que publica notícias falsas. A notícia gerou bastantes comentários nas redes sociais. Agradecemos, desde já, a atenção e alerta dos leitores."

 

Tudo isto fala muito mal do jornalismo actual, com o online as noticias passam a estar disponíveis quase de imediato, mas infelizmente o Copy Past está cada vez mais generalizado, vemos as mesmas noticias em quase todos os jornais, escritas da mesma maneira e até com os mesmos erros ortográficas, para quê estar a investigar ou a escrever algo, se já alguém o fez algures?

 

Eu tinha a Exame informática como uma revista séria, pelos vistos não é mais séria que qualquer site de noticias falsas brasileiro.. vá lá que entretanto deram pelo erro e retiraram a noticia, mas a internet é tramada.. e não se livram do cache...e do ridículo...

 

Jorge Soares

publicado às 21:16



Ó pra mim!

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