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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Estava destinado que hoje se ia falar aqui de futebol, mas era do Leiria e da vergonha de dirigentes que temos que eu ia falar (fica para amanhã), apesar de saber que era uma hipótese, não me passava pela cabeça que o Benfica não ganhasse o jogo de hoje.
Apesar de ter jogado ontem, só hoje foi matematicamente confirmado, o Porto ganhou o seu vigésimo sexto campeonato, o oitavo nos últimos dez anos, é obra.
Haverá muita gente a dizer que o Porto foi campeão apesar do seu treinador, para mim fomos campeões graças ao treinador, sou um admirador dos jogadores e dos treinadores portugueses e é claro que a minha opinião vale o que vale, mas tenho sérias duvidas que nas condições em que se iniciou o campeonato, com este conjunto de jogadores e nas condições em que vários dos mais preponderantes iniciaram a época, alguém tivesse feito melhor que Vitor Pereira.
Digam o que digam e apesar daquele golo em fora de jogo na Luz, acho que temos um justo campeão, porque um campeonato não se decide num jogo, decide-se em trinta jornadas e a verdade é que apesar das manias de grandeza de muita gente e principalmente de Jorge Jesus, o Porto foi mais consistente, só perdeu um jogo, marcou mais golos, sofreu menos e sobretudo, ao contrário dos outros, não falhou nos momentos cruciais.
Parabéns a Vitor Pereira, parabéns aos jogadores, parabéns a todos os portistas.. somos campeões.
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Pertenço-me, finalmente. Está em minhas mãos passar pelos dias e noites sem tormentos ou permissões. Não há mais ondas de viver insensatas impingindo-me vontades, comichões. Nem criaturas atormentando meu desejo, obrigando meus sonhos. Tudo está sob controle. Meu controle. Sinto falta, é bem verdade, de algum ontem. Talvez das pernas que se entrelaçavam às minhas, ou das mãos que esculpiam arrepios em minha pele branca. Não sei... Mas o desconforto é breve.
Fartei-me de gente. Gente que encontrei em muitas camas onde amassei lençóis e cometi pecados por ardor, por vício. Entreguei meu corpo à pilhagem. Rapinei também. Deitei fora, sem remorso, as almas que teimaram em germinar dentro de mim. Sem nenhuma culpa. Devorei o que me serviram. Dispensei os ossos e as cruzes. Apenas isso.
De início, houve um tanto de dor, quando me desnudei das pessoas. Dor gotejada. Mas nenhum medo, nenhum choro, nenhum grito. Eram somente pessoas que partiam de mim. Depois que não restou nenhuma dor é que aprendi a sentir solidão. No espaço vazio do meu peito, lutamos por mim. Eu a deixei vencer. Ela, em troca, me tomou por companhia.
Moramos as duas nesta casa quase sem móveis. Prefiro um lar assim, desprovido. E gosto das paredes brancas, sem adornos, que impedem o dia de entrar. Por mim, não haveria janelas. Nem portas. Nada que eu queira está lá fora.
Aqui, o silêncio me escuta e digo em voz alta as palavras que guardei para quem nunca as quis. Ora converso com as plantas que mantenho viçosas, ora com os dois cães que me lambem os pés enquanto lido na cozinha. Guardo, ainda, alguns segredos, como as conversas com o espelho, ou com o céu. Mas, sobre isso, prefiro não falar, porque tenho vergonha.
Retirado de Concursos literários
Imagem de Tutu Project
Há coisas que só se fazem por amor, o senhor ali da fotografia chama-se Bob, em 2003 ele decidiu tirar umas fotografias vestindo apenas um Tutu cor de rosa. Passado algum tempo a Linda, sua mulher, foi diagnosticado um cancro de mama, no meio da desgraça a única coisa que realmente a fazia sorrir eram aquelas fotografias do seu marido vestido com um Tutu e as mirabolantes histórias que se teciam à volta de cada fotografia.
Desde então Bob tem dedicado uma boa parte da sua vida e dos seus parcos recursos financeiros a imaginar e concretizar os cenários mais estranhos e mirabolantes para as suas sessões de fotografia em que aparece sempre vestido unicamente com um Tutu cor de rosa.
Com o tempo as imagens de Bob correram o mundo, o que fazia sorrir Linda podia fazer sorrir muitas outras pessoas que tal como ela lutam pela vida e aquela ideia de Bob que de inicio parecia ridicula e maluca, converteu-se numa forma de lutar pela causa da luta contra o cancro.
Com o sucesso surgiu a ideia das fotografias virarem livro e o projecto de com ele se recolherem fundos ... a ideia é chegar pelo menos aos 75000 Euros que serão doados a hospitais e instituições que lutam contra a doença.
Convém recordar que tudo isto começou por amor, Bob não se importa do ridiculo que possa parecer ou do que possam dizer ou pensar as outras pessoas, desde que Linda sorria e tenha pelo menos um pouco de felicidade... e tu, o que serias capaz de fazer por amor?
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Governo vai arrecadar não sei quantos milhões com a nova taxa alimentar.... aposto que o senhor ali da fotografia não se importa nada com isso.
Quando alguém perguntou à senhora ministra se não éramos todos nós quem ia terminar por pagar a bendita taxa, ela respondeu:
-Espero sinceramente que não!.
Senhora ministra, arranje uma cadeira.
Eu não tenho opinião formada sobre a nova taxa, sou dos que acham que a ASAE e outras autoridades alimentares fazem mesmo falta neste país, mas não tenho a menor duvida, não é o Belmiro, os franceses da Auchan, ou os restantes donos do hipermercados quem vai pagar a porra do imposto, somos todos nós.
Jorge Soares
Imagem do El País
Ontem antes do início do Barcelona-Chelsea, os comentadores da Rádio nacional de Espanha estavam a combinar a festa que seria relatar a final da liga dos campeões entre duas equipas espanholas, todos davam por certo que a final seria Barcelona - Real Madrid, nem o Chelsea nem o Bayern de Munique teriam pedalada para eliminar as duas melhores equipas do mundo
Há pouco, no fim do jogo e após o Real Madrid ter sido eliminado pelo Bayern de Munique, os mesmos comentadores ainda incrédulos com o desfecho dos dois jogos, tentavam em vão, explicar como é que as duas melhores equipas do mundo não iam estar na final e a festa ia ser de outros.
A verdade é que o futebol é mesmo isto, este desporto só existe, só movimenta multidões e muitos milhões, porque vive destas situações, da bola que entra ou não, dos remates ao poste, das grandes defesas dos guarda redes, dos enormes falhanços dos predestinados. A verdadeira magia do futebol está na incerteza do resultado e nem todos os milhões do mundo, nem todas as grandes estrelas são garantia de nada, a única verdadeira certeza é aquela que temos quando o jogo termina e o resultado está feito.
Desde há muito que todo o mundo dava por certo que no dia 19 de Maio em Munique estariam o Barcelona e o Real Madrid, Cristiano Ronaldo e Messi. Ontem o Barcelona teve 75% de pose de bola, no conjunto dos dois jogos enviaram quatro ou cinco bolas aos postes, mais que os golos marcados pelo Chelsea nas poucas vezes que chegaram à baliza do Barcelona, mas nada disso serviu de nada, porque no fim o que conta são as bolas que entram... e não, não basta ter Messi, porque há dias em que até os deuses erram e aquela imagem do pequeno génio a chutar o penalty para fora da baliza ficará para sempre como o momento que decidiu tudo.
Hoje foi Cristiano Ronaldo que falhou um penalty após uma serie impressionante de 19 seguidos sem falhar, hoje falhou, como já tinha falhado outro numa final da Liga dos campeões, a verdade é que só falha quem marca... hoje calhou ao Cr7.
Mas está visto que não aprendemos nada, porque mesmo no fim de dois jogos em que a lógica virou uma batata, todos davam o Bayern de Munique como vencedor da final... veremos o que tem o Chelsea a dizer.
É esta a verdadeira magía do futebol, glória aos vencedores, honra aos vencidos e viva o futebol espectáculo.
Jorge Soares
Imagem do Público
Miguel Portas, eurodeputado pelo Bloco de Esquerda, morreu esta terça-feira, aos 53 anos, de cancro no pulmão, em Bruxelas.
Sempre foi para mim a imagem do bloco de Esquerda, um homem de principios e uma pessoa de causas, a nossa politica perdeu muito hoje, o nosso país perdeu um dos seus melhores politicos, estamos muito mais pobres.
Jorge Soares
Imagem do Publico
Não tem sido fácil manter a promessa de ter pelo menos um post positivo por semana, primeiro porque nem sempre é fácil encontrar o assunto certo, segundo porque ao tentar manter o hábito de só escrever um post por dia, há sempre muitas coisas de que falar... bom, hoje é dia.
No público encontrei o seguinte:
Uma das coisas que costumo dizer é que ao contrário do que muita gente insiste em pensar, a solução para o futuro do nosso país não pode nem deve passar por tentar que o tempo volte para trás. Raramente tivemos, não temos e dificilmente teremos capacidade de competir com países com muitos mais recursos e com muita mais mão de obra que o nosso. E isto é válido para a industria, para a agricultura e para muitas outras áreas.
A solução terá sempre que passar por olhar em volta, ver quais as nossas capacidades e recursos e tentar tirar o melhor proveito deles, ver em que podemos ser tão bons ou melhores que os outros e apostar nisso.
É claro que quando falo de recursos, estou a incluir as pessoas. Estes dois jovens de Viana do Castelo conseguiram transformar uma ideia num projecto de sucesso e mostraram ao mundo que no nosso país existem ideias e pessoas com a capacidade de produzir coisas úteis. É claro que terem sido premiados com o Building of the Year do site de arquitectura ArchDaily ajudou, mas sem ideias e sem trabalho não há prémios.
Quem diz que não há futuro para o nosso país?, o futuro somos nós que o construímos.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Eu era chofer de caminhão e ganhava uma nota alta com um cara que fazia contrabando. Até hoje não entendo direito por que fui parar na pensão da tal madame, uma polaca que quando moça fazia a vida e depois que ficou velha inventou de abrir aquele frege-mosca. Foi o que me contou o James, um tipo que engolia giletes e que foi o meu companheiro de mesa nos dias em que trancei por lá. Tinha os pensionistas e tinha os volantes, uma corja que entrava e saía palitando os dentes, coisa que nunca suportei na minha frente. Teve até uma vez uma dona que mandei andar só porque no nosso primeiro encontro, depois de comer um sanduíche, enfiou um palitão entre os dentes e ficou de boca arreganhada de tal jeito que eu podia ver até o que o palito ia cavucando. Bom, mas eu dizia que no tal frege-mosca eu era volante. A comida, uma bela porcaria e como se não bastasse ter que engolir aquelas lavagens, tinha ainda os malditos anões se enroscando nas pernas da gente. E tinha a música do saxofone.
Não que não gostasse de música, sempre gostei de ouvir tudo quanto é charanga no meu rádio de pilha de noite na estrada, enquanto vou dando conta do recado. Mas aquele saxofone era mesmo de entortar qualquer um. Tocava bem, não discuto. O que me punha doente era o jeito, um jeito assim triste como o diabo, acho que nunca mais vou ouvir ninguém tocar saxofone como aquele cara tocava.
— O que é isso? — eu perguntei ao tipo das giletes. Era o meu primeiro dia de pensão e ainda não sabia de nada. Apontei para o teto que parecia de papelão, tão forte chegava a música até nossa mesa. Quem é que está tocando?
— É o moço do saxofone.
Mastiguei mais devagar. Já tinha ouvido antes saxofone, mas aquele da pensão eu não podia mesmo reconhecer nem aqui nem na China.
— E o quarto dele fica aqui em cima?
James meteu uma batata inteira na boca. Sacudiu a cabeça e abriu mais a boca que fumegava como um vulcão com a batata quente lá no fundo. Soprou um bocado de tempo a fumaça antes de responder.
— Aqui em cima.
Bom camarada esse James. Trabalhava numa feira de diversões, mas como já estivesse ficando velho, queria ver se firmava num negócio de bilhetes. Esperei que ele desse cabo da batata, enquanto ia enchendo meu garfo.
— É uma música desgraçada de triste — fui dizendo.
— A mulher engana ele até com o periquito — respondeu James, passando o miolo de pão no fundo do prato para aproveitar o molho. — O pobre fica o dia inteiro trancado, ensaiando. Não desce nem para comer. Enquanto isso, a cabra se deita com tudo quanto é cristão que aparece.
— Deitou com você?
Lygia Fagundes Telles
Retirado de Releituras