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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Mais valia deixarem aquilo assim, afinal prá semana voltam a vandalizar, sempre se poupavam uns trocos dos nossos impostos... e que tal obrigarem o Benfica a pagar a limpeza?, não?
Jorge Soares
Imagem do Público
“Daqui a 18 meses, verificarei se as reformas chegam a bom porto. Se, pelo contrário, vir que são travadas, tirarei as consequências”, convenhamos que ouvir um politico dar um prazo às suas políticas não é mesmo o habitual. Na Itália, como por cá, como em todo lado, as promessas não costumam passar de palavras, coisas que se esquecem a seguir às eleições.
Num país em que os partidos políticos há muito que passaram à historia e onde as maiorias costumam ser feitas de frágeis equilíbrios formados ao sabor dos interesses, Enrico Letta veio atirar uma pedrada no charco, as suas promessas não vem de antes das eleições, são promessas feitas após a eleição como primeiro ministro e são palavras fortes.
“A Itália morre só com austeridade. As políticas de crescimento não podem esperar mais”, alguém devia gravar e enviar o discurso a Passos Coelho e a Gaspar.
É preciso tê-los no sitio e ter muito valor para se dar um prazo às politicas económicas, sobretudo porque 18 meses é muito pouco tempo, e a situação económica não depende só de um país... era bom que no resto da Europa ouvissem estas palavras e seguissem os exemplos...
Enquanto por cá se insiste nos cortes e na austeridade ou por outro lado se pedem maiorias com palavras vagas, há quem trace metas verdadeiramente ambiciosas e prometa luta à austeridade.
Jorge Soares
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21/10/1935
Todas as cartas do Governo são rídiculas
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Aquele homem cabia inteiro dentro dos olhos dela. Cabia dentro de suas mãos macias ansiosas por acarinhar. Seria capaz de envolvê-lo todo com mãos e olhares. Não, os olhos não vêem nada quando as mãos agarram feito heras pelos muros.
Aquele homem cabia dentro de seus desejos. Desnudo sob lençóis de seda, ela o queimaria com a grande labareda de sua vida. Como seria o toque de suas mãos? seu cheiro... sua voz ao ouvido?
Por ele seria capaz de cama, mesa e banho. Mais que isso, comida e roupa lavada. Seria capaz de passar e engomar aquelas camisas brancas uma por uma, enquanto ele lhe beijasse a nuca achando sensual seu jeito despojado de dona de casa e lhe perguntasse em sussurros "está vestida assim pra mim?" Claro que sim. Vestida e desvestida, sempre para ele. Aí, ele se aproveitaria da fragilidade dela e realizaria suas fantasias de macho atrás das portas e janelas. Será que aquele homem de metro e oitenta fantasiava mulheres frágeis e carentes? Por supuesto que no. Parecia mais com uma rocha inabalável. Um homem de alma gelada e impenetrável. Individualista, cheio de si... um verdadeiro narciso.
Bem, não podia reclamar tanto, até que ele demonstrou interesses. E ainda perguntou se ela estava compreendendo seu ponto de vista. "Sim! Não!" Ela atrapalhou-se toda ao dizer o que pensava sobre relações. Mulheres especiais se atrapalham. Entretanto os homens demoram muito para fazer essa descoberta. Homens, tão diretos e objetivos! Considerou-a tensa. Tensa? Que idéia! Só queria as coisas formalizadas. Era romântica, uai... "Romântico eu também sou, querida". Sentiu-se ingênua. Não, sentiu-se infantil mesmo. Nem sabia mais o que era referencial de romantismo. Como poderia pensar em compromissos e formalidades depois da virada do século? Agora as coisas aconteciam espontaneamente ao seu tempo. "Compreende?" perguntou ele sem muito interesse na resposta. Mas ela sentia a ansiedade pulsando na pele e precisava responder para manter o equilíbrio da conversa e deixar clara sua reputação. E falou. Seus argumentos jamais haveriam de convencê-lo, todavia foi autêntica. Não iria para cama com ele sem se estabelecer vínculos de intenções futuras. Ir para cama? Não, ele falou em noite de amor. Assim sem muitos rodeios, do mesmo modo que a convidou para o jantar.
Enquanto ela falava, ele distraiu-se várias vezes a olhar os transeuntes. Que tédio! Perdera a noite investindo numa mulher com conceitos antiquados e ultrapassados. Reputação! Como é que ele iria adivinhar? Julgava não mais existir essa espécie de mulher.... E pensar que ele a escolhera a dedo. A mais bela mulher da noite, e como dançava! Esperou uma semana para o encontro, estava cheio de expectativas.... Pensou em todas as possibilidades! Seria capaz de a enlouquecer entre quatro paredes. Beijaria de leve seu pescoço esguio, a orelha, a boca... faria massagens, carícias e surpresas das quais ela jamais se esqueceria. Ela iria queimar de febre e devolveria a ele os olhos esverdeados acesos, emoldurados pelo castanho avermelhado do cabelo. Seria capaz de carregá-la no colo para cama, ou simplesmente apreciaria seu andar de bailarina, que não é mais bailarina mas continua com a graça de quem nunca perdeu o gingado. Gingado? Não, deveria ser vocação. Vocação para a leveza como uma borboleta que movimenta as asas pousando de flor em flor. Seria capaz de enviar a ela uma dúzia de rosas vermelhas no dia posterior. Talvez fossem melhor rosas brancas... não, vermelhas mesmo. Mulheres adoram rosas vermelhas. E por que não? Só não daria o número do telefone, isso não. Ela poderia ligar e insistir num domingo no parque, ou quem sabe num jantar íntimo preparado por ela. A Segunda opção poderia ser irresistível. Ela num tubinho preto tomara-que-caia... jantar à luz de vela... Mas, e se ela inventasse de apresentar os filhos, mostrar o cachorro , o gato... fotos antigas, ela dançando no Municipal... Não! Não queria perder tempo com isso. Depois ainda poderia pensar que ele era seu namorado. Coisa mais antiga, uma mulher ligando para seu trabalho, perguntando onde ele havia jantado, passado a noite... isso não! Sabia quanto custava a liberdade. Não teria mais paciência para marido, namorado ou qualquer papel semelhante. Num gesto sutil chamou o garçom e pediu a conta.
Ela baixou os olhos tristemente. Sobre a mesa, esculturas que havia feito com miolos de pão. Esmagou com o dedo uma formiga ruiva e solitária que surgiu rastejante sobre a mesa como a implorar uma migalha. Oh Deus! Migalhas, era isso. Na toalha branca o rastro nojento. Era o corpo. Pão partido, vinho derramado. Jamais teriam essa comunhão. Veio a indignação. Retirou-se sem esperar qualquer gentileza. Apenas algumas palavras jogadas ao vento, como "obrigada pelo convite" e "obrigado pela companhia". Poderia ter resistido um pouco mais, mas era muito delicada. Os delicados têm pouca resistência. De resto, sei apenas que ela passou o dia seguinte arrumando a casa. Cortando, delicadamente, com uma tesourinha de unhas, os caules de um bouquet de rosas vermelhas. Fazia isso com extremado prazer. Depois, colocava-as uma após outra dentro de um jarro de água. Todas com o mesmo corte oblíquo e o mesmo tamanho. Obrigou-se a compreender também que as rosas não falam, jamais. Nem mesmo as vermelhas.
Lucilene Machado
Retirado de Releituras
Imagem do HenriCartoon
Não sou de bater muito nos árbitros, aliás, das poucas vezes que aqui falei do assunto foi para os defender ou para os elogiar nos casos em que a nível internacional mostram que são tão bons ou melhores que os do resto do mundo. Sempre achei que estes são parte do futebol e tal como os jogadores, os treinadores ou os dirigentes, eles tem direito a errar.
Parece que no último Benfica-Sporting João Capela não teve um dos seus melhores dias, tirando Jorge Jesus, mesmo os Benfiquistas mais ferrenhos aceitam que se ele tivesse apontado um ou dois penalties em contra do Benfica, não tinha sido escândalo nenhum, mas não apitou, e portanto não aplicou os devidos castigos aos jogadores do Benfica envolvidos nos lances. Todos temos dias maus, João Capela teve um dia mau.
Eu posso aceitar que João Capela tenha um dia mau, todo o mundo tem, o que já não consigo aceitar é que depois de uma arbitragem muito infeliz, o observador da liga no seu relatório sobre a arbitragem faça eco das palavras de Jorge Jesus e além de considerar a arbitragem de João Capela, limpinha, a considere uma das melhores da liga.
Segundo um ex-árbitro que ouvi na Antena 1, os 3,7 pontos atribuídos a João Capela pelo jogo da Luz será uma das melhores notas do ano, ou seja, uma arbitragem de luxo.... ao árbitro a gente desculpa, errar é humano e só se engana quem lá anda dentro, mas o que dizer das palas do observador?
É caso para dizer que depois disto e dada a sincronia entre as palavras de Jorge Jesus e a nota do observador, está instituído o "roubo de capela".
Meus senhores, não havia necessidade de tanta falta de vergonha.
Jorge Soares
Imagem do Público
É verdade que todos temos direito à presunção da inocência, ninguém é culpado até que a sentença transite em julgado, é e deve ser esse o espírito da lei... e em caso de duvida beneficia-se o réu... terá sido isso o que fez com que Isaltino Morais saísse em liberdade após pouco mais de 24 horas.
Escrevi a frase acima neste post no dia 2 de Outubro de 2011, na altura Isaltino esteve "preso" durante umas horas, tempo suficiente para que os seus advogados conseguissem provar que ainda havia mais uns recursos e subterfúgios legais que permitiam não provar que ele era inocente, mas que havia motivos para seguir em liberdade.
Segundo o Público, "em Março deste ano, o Tribunal Constitucional recusou um último recurso do autarca que suspendia a pena na sua execução, o que deixou nas mãos do Tribunal de Oeiras a decisão de ordenar o cumprimento da pena de dois anos de prisão efectiva a que foi condenado."
Diz a mesma noticia que existem ainda pendentes mais dois recursos e outras reclamações sobre a suposta prescrição das penas.
Veremos se daqui a nada não tenho que voltar a escrever a mesma frase, pelo que todos sabemos a sentença que condenou este senhor já transitou em julgado há muito tempo, já não é uma questão de inocência ou não, é muito difícil para mim e para o resto dos comuns mortais perceber como é que passado tanto tempo, tantos recursos perdidos, tantos tribunais e tanto dinheiro gasto já seja por ele ou pelo estado, este senhor não só continuava livre, como continuava a ser presidente da câmara.
É sobretudo por casos como este que a maioria da população portuguesa olha de lado para a justiça que temos, era bom que finalmente fosse dado um sinal de que ainda há algo de positivo.... veremos.
Jorge Soares
Imagem do Ionline
Eu tinha lido algures que logo após a saída do Relvas do governo, o Gaspar tinha decretado que não havia mais dinheiro para o Impulso Jovem, por um lado achei mal, todos os programas de incentivo ao emprego são necessários, por outro lado tinha esperança que a falta de dinheiro fizesse o cromo do Miguel Gonçalves sair de cena ... pelos vistos ainda não se acabou o dinheiro.
Bom, o Miguel voltou à carga e como seria de esperar, voltou em grande, está visto que com ele não há meias medidas, senão vejamos:
“Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo”
E não, a frase não foi tirada do contexto, toda a entrevista é neste tom. Para o Miguel a falta de emprego é um mito, a falta de oportunidades de trabalho para uma grande parte dos jovens licenciados, um mito. Há neste momento empresas que se aproveitam da situação e exploram os jovens?, outro mito..
Para o Miguel o problema do país não é a falta de emprego, é a falta de vontade e iniciativa das pessoas, que não arranjam emprego porque não são o suficientemente persistentes, não aceitam mudar de ramo, não aceitam fazer ou aprender outras coisas, em suma.. a solução para o desemprego é dos desempregados. Essa é que é a grande diferença. E, se calhar, pode chocar dizer isto, mas muitos dos que estão desempregados, estão desempregados porque, ponto número um, não querem trabalhar e, ponto número dois, são maus a fazê-lo.
Outra pérola:
Nas universidades, o que vês é que as pessoas estão com muito medo, porque vêem demasiada televisão.
O que significa isso?
Que as pessoas estão com medo porque pensam que não há trabalho. É mentira, há muito trabalho disponível.
Um dos problemas do Miguel, é que ele ainda não percebeu a diferença entre um nicho, que é onde está o mercado da sua empresa e a vida dele, e o resto do mundo. Outro grande problema do Miguel é que ele ainda não percebeu que quando estamos a falar da população de um país e da economia de mercado, não se pode generalizar.
É evidente que há uma ponta de verdade em tudo o que ele diz, é claro que todos conhecemos desempregados que não abdicam de receber o subsidio de desemprego para irem trabalhar. Todos conhecemos pessoas que não trabalham porque não querem ou não lhes apetece, todos conhecemos pessoas que se acomodam e não são o suficientemente pró-activas na procura do emprego... mas em Portugal a taxa de desemprego vai a caminho dos 20%, e dizer que 20% da população activa não trabalha porque não quer, não é só uma generalização absurda, é uma falta de respeito para as milhares de pessoas que querem alimentar os seus filhos e por mais que se esforcem, não conseguem encontrar um emprego nem a vender pipocas.
O desemprego entre os jovens licenciados anda perto dos 40%, o Miguel diz que isso acontece porque todos esses milhares de jovens são preguiçosos e não batem às portas suficientes... era bom que alguém explicasse ao Miguel que não há neste momento portas suficientes neste pais para que tantos jovens possam bater, porque a austeridade não sabe abrir portas, só sabe encerrar empresas.
Com tudo isto, com tanta conversa e autoconfiança o Miguel só me faz lembrar aqueles pregadores das igrejas americanas, aqueles que se os deixassem seriam capaz de convencer a mãe de deus a mudar de religião e claro, a pagar o dizimo. Não sei se ele será ou não religioso, mas de algo não há dúvida, para vender banha da cobra ele tem jeito... não é à toa que o Relvas o contratou.
O maior problema do Miguel é que ele acredita no que diz... e portanto não há forma de se convencer que este país não está para conversas destas.
Jorge Soares
Peguei neste livro ao acaso, estava no monte dos lidos da minha filha mais velha, nunca tinha ouvido falar nem do autor, nem do livro, nem do filme que descobri depois, também existe.
Está visto que o estilo dos escritores orientais não me cativa por aí além, tal como não fiquei fã do Haruki Murakami nem do seu Em busca do carneiro salvagem, não me consegui sentir minimamente cativado pela escrita muito leve e simplista do Ishiguro.
Este é um daqueles livros que não deixa muito à imaginação, a meio do primeiro capitulo conseguimos discernir a história completa, apesar de aparentemente esta nos ir sendo servida pouco a pouco ao longo dos vários capítulos...e há quem abandone a leitura mal se apercebe do que realmente se passa.
O tema em si é forte, algures no meio do campo inglês fica Hailsham, um colégio interno onde vivem e crescem crianças. Crianças que nunca conheceram outra casa ou outra família que os colegas e professores da escola. São educados com esmero e sempre protegidos do mundo que existe para além das portas do colégio, mundo do que vão tendo vislumbres mas nunca a noção completa.
Kathy, Ruth e Tommy são 3 destas crianças que à medida que vão crescendo e apesar de estarem isoladas do mundo exterior, não deixam de ser jovens e de como qualquer jovem, passar pelas inquietudes da adolescência e juventude.
À medida que vão crescendo eles vão-se apercebendo do verdadeiro motivo da sua existência e vão aprendendo a viver com isso. O assunto vai aparecendo pouco a pouco ao longo de todo o livro sem nunca ser verdadeiramente abordado, tal como o leitor, também os protagonistas o vão absorvendo, quase sem falar dele directamente e chega a um ponto em tácitamente é aceite por estes como mais uma inevitabilidade da vida
Confesso que cheguei até ao fim com a esperança de que existisse um desenlace diferente, que no último momento Kathy e Tommy fizessem aquilo que faria sentido e que qualquer um de nós faria... mas não, no fim tudo é como deveria ser e o livro termina como começou, com tudo a acontecer como tem que acontecer e como tinha sido planeado não se sabe bem por quem.
Tal como já disse, este é um livro fácil de ler, é extremamente simplista e muito directo, tão simplista e directo que termina por ser irritante, principalmente quando nos irritamos com o tema e com a forma como os protagonistas aceitam que o único motivo para existirem é porque foram concebidos e criados para servirem de peças para outras pessoas e nem por amor são capazes de enfrentar e mudar essa realidade.
De resto, agora mesmo estava a pensar que nem sequer vejo o menor sentido ao titulo, porque na realidade todo o livro é feito de partidas e de abandonos e isso é aceite de uma forma quase cruel por parte de todos os protagonistas.
Sinopse:
Kathy, Ruth e Tommy cresceram em Hailsham – um colégio interno idílico situado algures na província inglesa. Foram educados com esmero, cuidadosamente protegidos do mundo exterior e levados a crer que eram especiais. Mas o que os espera para além dos muros de Hailsham? Qual é, de facto, a sua razão de ser?
Só vários anos mais tarde, Kathy, agora uma jovem mulher de 31 anos, se permite ceder aos apelos da memória. O que se segue é a perturbadora história de como Kathy, Ruth e Tommy enfrentam aos poucos a verdade sobre uma infância aparentemente feliz — e sobre o futuro que lhes está destinado...
Jorge Soares
PS: Para quem não sabe amanhã dia 23 de Abril é o dia mundial do livro, aproveitem e comecem a ler, não tem que ser este, pode ser um qualquer.. mas leiam.
Imagem do Público
O senhor ali da fotografia é um dos supostos autores dos atentados de Boston, está neste momento internado num hospital da cidade, foi capturado após um cerco policial que envolveu mais de 9000 mil homens e de uma caça ao homem que levou as autoridades americanas de porta em porta durante quase 24 horas.
Na realidade não foi nada disto que levou à sua captura e à morte do seu irmão, o suposto cúmplice no atentado que causou 3 mortes e muitas dezenas de feridos. Não sei se repararam mas não demorou mais de uma ou duas horas desde o momento em que foram divulgadas as imagens captadas pela câmara de vigilância de uma loja em que se podiam ver os dois rapazes com as mochilas às costas, e o momento em que a policia os cercou e capturou o mais velho dos irmãos.
O que realmente permitiu o deslindar do caso foi a existência da câmara de vigilância a apontar para a rua, o resto foi fácil e no dia a seguir a meio da manhã na maioria dos jornais do mundo tínhamos não só os nomes de ambos os jovens, como toda a sua história de vida e até fotografias do mais velho na companhia de amigos e da sua bonita namorada e até já sabíamos que esta era meia portuguesa. Ainda estou para perceber como é que um terrorista mantém assim a sua vida nas redes sociais.
A existência de câmaras de segurança a apontar para os espaços públicos há muito que gera discussões, mas curiosamente neste tipo de coisas a sociedade americana é muito mais permissiva que a nossa. Em Portugal há até algumas Câmaras Municipais com o investimento feito e até com os aparelhos montados, mas sem permissão para a sua utilização.
Nos Estados Unidos as autoridades utilizaram as imagens para capturar os dois culpados dos atentados, em Portugal não se podem utilizar imagens nem gravações como meios de prova a menos que a sua captação tenha sido autorizada por um juiz.. ou seja, do pouco que eu percebo de leis, por cá aquelas filmagens eram ilegais.
Toda a discussão sobre a utilização de videovigilância em espaços públicos se tem centrado em volta dos direitos fundamentais dos cidadãos, mas será que neste momento alguém nos Estados Unidos e até no resto do mundo, acha que ao serem filmados a colocar as bombas que mataram e feriram muitas pessoas em Boston se atentou no que quer que fosse contra os direitos dos dois criminosos?
Há países como a Inglaterra ou a Espanha em que a videovigilância nos espaços públicos é uma realidade e até tem sido dada como responsável pela diminuição da criminalidade. Até agora não li em lado nenhum que os cidadãos destes países sintam diminuídas as suas liberdades, não estará na altura de em Portugal repensarmos este assunto?
Vivemos numa era tecnológica em que com um simples telemóvel se consegue fotografar ou filmar e no mesmo segundo colocar online para o mundo inteiro ver o que quer que seja, estamos sempre a ser fotografados ou filmados, nem é preciso o cenário descrito por Orwell no seu 1984 em que o estado era omnipresente e via tudo, neste momento todo o mundo vê tudo e basicamente estamos sempre a ser filmados.
Jorge Soares