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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Que 2014 seja o ano de todos vós
Jorge Soares
Imagem do Facebook
O calendário em que aparecem alguns bombeiros de Setúbal, para além de se ter tornado num dos principais assuntos das redes sociais, está-se a tornar um sucesso de vendas e até já virou noticia de telejornal. À partida o objectivo está cumprido e está garantida uma verba apreciável para solidariedade, objectivo final da iniciativa.
A ideia, muito bem conseguida, era angariar fundos para numa época em que todas as ajudas são poucas, doar algum dinheiro à Cáritas diocesana de Setúbal. Acontece que esta instituição decidiu que não aceita o dinheiro, pelos vistos alguém achou que as fotografias não são decentes e portanto o dinheiro não é bom.
Os valores e princípios das pessoas não se discutem, pelos vistos para os responsáveis da Cáritas Diocesana bombeiros em tronco nu representam uma indecência, mas touros a serem perseguidos por cavalos, a serem massacrados com ferros e em sofrimento para deleite de uns quantos, já não representam problema nenhum.
Para mim é ao contrário, os bombeiros são sem dúvida nenhuma das pessoas que merecem mais respeito e admiração neste país, já as touradas representam o que de mais arcaico e bárbaro existe em Portugal.
Haverá de certeza muitas instituições em Setúbal e no país menos hipócritas e puritanas que a Cáritas, instituições que pensem em primeiro lugar nas necessidades das pessoas que pretendem ajudar e só depois nos preconceitos e puritanismos de quem as dirige, esperemos que o exemplo destes bombeiros seja seguido pelas restantes corporações do país e isso resulte em muito dinheiro para ajudar quem realmente precisa.
Para quem estiver interessado em comprar o calendário, fica o link para a Página do Facebook dos bombeiros de Setúbal
Jorge Soares
Imagem do Público
Estava a ler a reportagem no Público Online, o relato era o de Dário, um Romeno que veio parar à apanha da Azeitona algures perto de Serpa, há medida que ia lendo só me conseguia lembrar do romance de Ferreira de Castro, A Selva, trocávamos a Azeitona pela Borracha e o Alentejo pela Amazónia e podíamos a estar a ler a mesma história. A diferença é que a Selva foi produto da imaginação do escritor de Ossela e a história de Dário é bem real e passou-se não no Brasil do século XIX e sim no Portugal da comunidade Europeia e em pleno século XXI.
Mas a história de Dário não é a única, há também a da Paulo Brito, um jovem Português de Penafiel que em 2008 foi levado para Espanha e obrigado a trabalhar durante meses a troco de ameaças e agressões.
E haverá de certeza muitas mais histórias como estas, vivemos na época da informação, na época da comunicação, mas também numa época em que a necessidade e o desespero fazem muita gente partir à procura de melhores condições e cada vez mais, nem tudo o que luz é ouro.
Portugal foi pioneiro na abolição da escravatura, foi a 12 de Fevereiro de 1761, mas pelos vistos ainda não passou o tempo suficiente e estas coisas continuam a acontecer.
A noticia não diz, mas era bom que se soubesse quem está por trás de tudo isto, quem são os patrões das herdades onde em Portugal em pleno século XXI se tratam seres humanos desta forma e já agora qual a marca ou marcas de azeite que por lá são produzidas... ainda que isso pouco signifique, afinal é nestas condições que na China, no Bangladesh e noutros locais, são produzidas muitas das roupas e gadgets que tanto se venderam neste natal e não me parece que o mundo as deixe de comprar por isso.
Deixo aqui as palavras de Dário, para reflexão de todos nós:
“Se virmos num dicionário, o escravo existiu sempre e hoje existe. O escravo não tem nenhum direito, tem direito a viver e a trabalhar. Não tem nada mesmo. ‘Escravatura’ é uma palavra feia mas está na moda. Agora que já fui vítima, percebi o que é ser escravo. Hoje pratica-se escravatura em todo o mundo, pratica-se escravatura dos velhos tempos. Estamos em 2013, no século XXI, dizemos que somos europeus mas uma parte de nós são escravos.”
Jorge Soares
Rui amava Andreia. Declaração feita na noite em que se conheceram e que a deixou encantada. Poderia haver quem não se deixasse amar da noite para o dia. Quem não se empolgasse com uma frase batida e um beijo de discoteca. Quem não se seduzisse pela oferta de uma imperial e de um apalpão indiscreto. Mas não Andreia. Tudo isto lhe pareceu de um grande requinte amoroso. E uma enorme prova de afeto.
Rui amava Andreia. Mesmo nos momentos em que ela falhava. Só não gostava da falha. Numa primeira vez disse-lho. Numa segunda teve que levantar a mão. E à terceira deixou-a estendida no chão. Mas amor também é isto: ajudar o outro a ultrapassar as suas limitações; a olhar-se ao espelho. E ele ajudava-a. Tinha essa consideração amorosa. Esse decoro em lhe dar a mão, quando ela nem o merecia.
Rui amava Andreia. Em cada reconquista que engendrava. Em cada momento que lhe limpava as lágrimas. Que lhe escondia as feridas. Que nela se vinha. Corpo nu e cru: depósito de vontades; de ímpetos de homem que o sabe ser; que ama o imperfeito. E Andreia agradecia-lhe a dedicação de com ela continuar. De nela procriar.
Andreia sentia-se amada por Rui. Mesmo no dia em que vozes se sobrepunham, pessoas a olhavam de cima e lhe mexiam no corpo - frio e repuxado de tanto afeto-. Alguém lhe tentou colocar qualquer coisa na cara mas ela desviou, com a pouca força que ainda lhe restava. Já chegava de máscaras. Quem disse que o oxigénio é a base da vida? Olhou então para o seu filho, sentado numa cadeira a um canto, chorando, reconfortado por uma qualquer mão que de gentil lhe ganhou o coração, e pensou em quão veloz pode uma vida ser. E quão despida de vida. Uma vida despida de vida. Hipóteses perdidas que se esfumaram de cada vez que se achou amada. Fugas idealizadas que terminaram no ponto de partida: invariavelmente.
E já a sombra lhe vai chegando quando o olhar do seu filho se perde. Fica para trás. Ela vai. Esvai-se. Às 23h59m do dia 7 de Setembro de 2013. Daí a uns segundos completaria 36 anos. Até no adeus Rui soube ser refinado.
Maria
Retirado de Monólogos de uma vagina
Não sei se a estas alturas será novidade para alguém, para mim foi uma das descobertas do ano, Gisela João faz parte da nova geração de fadistas, o seu disco "Gisela João" foi considerado quase por unanimidade o disco do ano, considerando que estamos a falar de um disco de fados, é obra sem dúvida.
Não restam dúvidas que o fado está na moda e na moda estão entre outras, as jovens fadistas como: Mariza, Ana Moura, Carminho, Cristina Branco ou Gisela João, todas diferentes, todas irreverentes e com um estilo muito próprio de interpretar o fado à sua maneira e sobretudo, todas excelentes.
Não sei se será possível escolher o melhor disco de 2013, a música portuguesa é feita de muitas coisas, de muitos estilos, de muitas vozes, de muitos tons, haverá de certeza gostos para tudo, o da Gisela é sem dúvida um dos mais conseguidos e surpreendentes.
Do que já ouvi, o disco da Gisela é sem dúvida notável, a sua forma de interpretar o fado é única e ao contrario do que já li e ouvi, não é comparável nem com artistas actuais nem com divas do fado do passado, ela vale por si, pela sua voz e pela sua música, não é melhor nem pior que as outras fadistas, é simplesmente a Gisela João, com a sua voz, a sua música e os seus fados.
Eu gosto especialmente desta música:
Letra
Nem um poema, nem um verso, nem um canto,
Tudo raso de ausência, tudo liso de espanto
Amiga, noiva, mãe, irmã, amante,
Meu amigo está longe
E a distância é tão grande.
Nem um som, nem um grito, nem um ai
Tudo calado, todos sem mãe nem pai
Amiga noiva mãe irmã amante,
Meu amigo esta longe
E a tristeza é tão grande.
Ai esta magoa, ai este pranto, ai esta dor
Dor do amor sozinho, o amor maior
Amiga noiva mãe irmã amante,
Meu amigo esta longe
E a saudade é tão grande.
Há mais no A Música Portuguesa, vão lá, vale a pena
Jorge Soares
Imagem retirada de Pontos de Vista
Lyndon Johnson foi o presidente dos Estados Unidos que sucedeu ao assassinado JFK , não sei o que teria em mente quando proferiu a frase acima, mas de certeza que se fosse vivo e pudesse ver o que por cá se passa em pleno século XXI, não teria duvidas em a voltar a repetir.
Era um velho desejo do PSD: uma maioria, um governo e um presidente, infelizmente o povo fez-lhe a vontade e é isso que temos actualmente. Uma maioria, com a muleta e algumas birras do Portas, mas é uma maioria, um governo chefiado por aquele que será de certeza o mais cinzento e menos preparado primeiro ministro de que há memória, e um presidente... que voltando aos velhos tempos em que não lia jornais nem via noticias do que por cá se passa, insiste em olhar para o lado e fazer de conta que tudo vai bem, sem se dar por entendido que afinal, o rei vai nu.
Como prenda de natal para todos os portugueses, o presidente da República decidiu que apesar de todo o historial dos anos anteriores, contra todas as opiniões da oposição e mesmo de algumas dentro do PSD, o orçamento de estado não é para enviar para o tribunal constitucional.
Primeira consequência desta prenda do senhor presidente, a partir de Janeiro os funcionários públicos verão ainda mais diminuídos os seus salários, e atrevo-me a apostar que lá para Março ou Abril essa diminuição de poder de compra de uma enorme fatia da população terá consequências na economia, menos dinheiro significa menos consumo, menos consumo significa menos empregos e menos impostos ... voltaremos a falar de recessão.
Mas entretanto os senhores da Troika ficam contentes, podem encerrar a avaliação e todos fingimos que não se passa nada.. pelo menos até que os salários de Janeiro cheguem ao Banco e o dinheiro ainda chegue para menos dias.
Sei que me vou repetir, mas custa-me a entender que isto aconteça, das duas uma: ou não há no governo quem seja capaz de ler e interpretar correctamente a constituição, ou só tentam fazer passar leis que se sabe à partida são ilegais, para calar a Troika e os credores... não sei qual das duas opções será pior, mas nenhuma delas mostra competência e/ou seriedade.
Mas sou capaz de concordar com o Lyndon Johnson, temos os governantes que elegemos...
Jorge Soares
Este post da Manu deixou-me a pensar, o post e os comentários, assim como este da Rita. Ao contrario da maioria das pessoas, eu não tenho grandes recordações do natal da minha infância, por muito que tente não me consigo lembrar de nenhuma prenda... mentira, lembro-me que havia sempre um chapéu de chuva de chocolate... curiosamente lembro-me dos carrinhos e camiões, dos legos e demais brinquedos de moda que os meus primos recebiam.. e que invariavelmente eu invejava quando no dia 25 nos encontrávamos em casa da minha avó.
Quer isto dizer que os meus natais eram tristes? não, claro que não, eram simplesmente os natais humildes das pessoas humildes, em minha casa havia árvore de natal, presépio e luzinhas, e havia batatas e bacalhau e bolo rei... mas o facto de haver menos consumismo, menos prendas, menos coisas, fazia do meu natal de então um natal melhor que o de hoje? É que por vezes fico com a sensação que assim é, que o natal de hoje como tem muitas coisas, muitas prendas, muita comida, muito consumismo, é mau.
Lendo os comentários ao post da Manu ficamos com a sensação que as pessoas resistem a ser felizes, a aceitar que um natal cheio de coisas, cheio de prendas, cheio de consumismo é um natal mau... não é natal, porquê? O que tem de mal que as pessoas possam comprar, dar prendas, partilhar?
Eu olho para trás e resisto-me a pensar que o natal dos meus filhos seja pior que os meus, não, resisto a acreditar que o facto de que os meus filhos tenham tudo aquilo que eu sonhava e não podia ter seja mau... eu sou muito feliz porque ao contrário dos meus pais, eu posso dar-me ao luxo de comprar para os meus filhos muitas coisas.
As pessoas dirão que se perdeu o significado do natal... pois a isso eu respondo que o natal, para além de ser quando o homem quiser, também significa o que quisermos. Eu sou ateu, evidentemente não festejo o nascimento de um menino numa manjedoura, mas festejo o momento, a presença da família, se quiserem, festejo a alegria de poder ter um natal, de poder comer, comprar, gastar.... porque o natal já era natal antes de supostamente ter nascido um menino algures a Oriente... e como vão as coisas, daqui a 3 ou 4 gerações já poucos pensarão nesse menino, mas aposto que o natal continuará a ser festejado.. e espero que com muito mais luz, muito mais festa... muito mais alegria...
Jorge Soares
Retirado de Samizdat
Imagem de Precários inflexíveis
A noticia foi-nos servida à hora do Jantar, mas desde o meio da tarde que se sabia, uma vez mais este governo foi chumbado, o Tribunal constitucional chumbou por unanimidade o corte de 10% nas pensões.
Já perdi a conta às medidas deste governo que foram chumbadas pelo Tribunal constitucional, e custa-me a entender que isto aconteça, das duas uma: ou não há no governo quem seja capaz de ler e interpretar correctamente a constituição, ou só tentam fazer passar leis que se sabe à partida são ilegais, para calar a Troika e os credores... não sei qual das duas opções será pior, mas nenhuma delas mostra competência e/ou seriedade.
Louve-se o valor e a isenção de quem julga e faz cumprir a constituição, desde há muito que o governo, os partidos da maioria, a Troika, os credores e mais meio mundo, se empenharam em empurrar para cima dos juizes todas as desgraças actuais e futuras que irão resultar destes chumbos.
Era bom que o governo em lugar de fazer pressão e deitar a culpa para os outros, se empenhasse em fazer o trabalho de casa convenientemente de modo a não ter que passar por estes vexames, a constituição existe para defesa de todos nós, não para ser utilizada quando dá jeito e ao sabor das conveniências de quem governa.
O governo pode ou não estar de acordo com as normas constitucionais, mas foi esta constituição que Passos Coelho e Paulo Portas juraram quando tomaram posse, foram estas leis que eles juraram cumprir e neste momento só tem duas opções, ou governam de acordo com o que lá está escrito ou metem o rabinho entre as pernas e demitem-se, não podem é estar o tempo todo a jogar ao gato e ao rato com as leis e a tentar influenciar com ameaças e cataclismos quem tem que julgar a validade das leis.
Podemos todos achar que esta constituição é melhor ou pior, os mecanismos para a sua mudança estão previstos na lei e são claras as regras necessárias para que isso aconteça, mas enquanto não mudar, é por estas leis que todos nos temos que reger.
Não me parece que Passos Coelho não estivesse preparado para isto, eles são incompetentes mas não assim tanto, não demorará muito a aparecer o plano B, que vai de certeza doer tanto ou mais que o que acaba de ser chumbado, esperemos que pelo menos seja legal.
Jorge Soares
Hoje vou dar uma de Cocó na Fralda... bom, quase, além de que eu não tenho o jeito da senhora para escrever, eu escrevo este post pelo puro gosto e pela divulgação do que de muito bom se faz na nossa cultura ...
Os senhores ali na fotografia são os Planeta Fluffen e tiveram a gentileza de, na qualidade de blogguer, me enviarem um convite para estar presente no Teatro Villaret na antestreia do seu espectáculo.
O grupo é formado pelo David Cristina, o Hugo Marques, o Luís Coelho e Joaquim Teixeira, e eles próprios se definem como "um quarteto musical cómico, cujo espectáculo mistura musicalidade com stand-up comedy e exercícios de improvisação com o público."
Eu fui com a R. e há muito, muito tempo que não me divertia tanto, para além de excelentes músicos, são muito divertidos e fazem um humor que está além do óbvio. Numa altura em que seria muito fácil gozar com a crise e a situação do país eles não vão por aí. Gozam com tudo e com todos, incluindo com o público se este se puser a jeito, mas durante as mais de duas horas que durou o espectáculo, simplesmente esquecemos o mundo e centramo-nos no que se passa no palco.
Eles para além de mais são excelentes músicos, tocam, cantam, dançam, e sobretudo fazem-nos rir até às lágrimas com as letras das músicas e com as suas tiradas únicas.
O espectáculo vai estar em cena no teatro Villaret a partir de Janeiro, não deixem de ir, numa altura em que poucas coisas nos fazem rir, eles conseguem de certeza absoluta.
Página do Facebook dos Planeta Fluffen
Jorge Soares