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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
Há uns dias Passos Coelho ficou muito indignado porque Catarina Martins afirmou em pleno debate parlamentar que a palavra de Passos Coelho não vale nada, e apontou uma serie de exemplos de afirmações que depois se viriam a mostrar precisamente ao contrário... hoje foi-nos dado mais um argumento para partilharmos a opinião da Deputado do Bloco de esquerda. Ainda a semana passada Passos Coelho dizia que o caminho para a redução do défice seria pela redução da despesa e não pelo aumento da carga Fiscal. Quantas vezes ouvimos o primeiro ministro e os seus ministros repetir a ideia de que não haveria mais aumentos de impostos?
A ministra das finanças Maria Luís Albuquerque e o ministro O ministro do Emprego e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, apresentaram ao país as medidas inscritas no Documento de Estratégia Orçamental, entre outras coisas ficamos a saber que o Iva passa de 23 para 23,25 % e os descontos para a segurança social passam de 11 para 11,2 %. Sobre o não aumento de impostos, estamos conversados.
Outra das medidas apresentadas é a criação de uma "contribuição de sustentabilidade", que corta entre 2% e 3,5% nas pensões acima de 1000 euros. Isto não é mais que um novo nome e uma nova roupagem para a famosa taxa de solidariedade, medida temporária que agora passa a definitiva.... quantas vezes ouvimos os membros do governo dizer que as medidas de austeridade era temporárias e que não haveria medidas a passar a definitivas?
Há algo que me escapa no meio de tudo isto, segundo o PSD e o governo, a prioridade é o combate ao desemprego, ora, alguém me explica como é que se combate o desemprego sem incentivar o consumo? E como é que se incentiva o consumo se se continuam a aumentar os impostos?
É claro que a devolução de uma parte dos cortes aos funcionários públicos é bem vinda, mas depois de tantas trocas e baldrocas, eu já estou como Santo Tomé, ver para crer, é que de aqui até Janeiro ainda faltam muitos meses e ainda dá para mudar de opinião muitas vezes.
Há algo que me deixa ainda mais confuso, como é que no meio de tantas trapalhadas e de tanto diz e desdiz ainda há quase 30% de portugueses que dizem que vão votar no PSD.... há muita gente que gosta mesmo de ser enganada
Jorge Soares
"Na noite de 19 de abril os meus amigos fizeram me uma surpresa e levaram me para Discoteca "Urban Beach". Éramos um grupo de 16 pessoas com mesas pre reservadas e não é que somos surpreendidos pelos responsáveis daquele espaço público. Porquê?
"Demasiados pretos no grupo!!!"
Retirado do Facebook do Nelson Évora
E há quem diga que em Portugal não há racismo, estamos a falar de um atleta conhecido que já ganhou medalhas de ouro para o país e que ia acompanhado de outros atletas conhecidos (Francis Obikwelu, Naide Gomes, Carla Tavares, Susana Costa e Rasul Dabó) que já ganharam medalhas em jogos olímpicos e em mundiais de atletismo... se é assim com eles, o que terão que passar os comuns mortais?
Infelizmente este é o retrato do que tem que passar todos os dias muita gente neste país, é triste e até revoltante, mas é a pura verdade, há muito racismo neste país e só aceitando que é verdade poderemos melhorar as coisas.
O que aconteceu nesta discoteca é vergonhoso, mas acontece todos os dias em muitos outros lugares a começar pelas escolas, e acontece nas escolas porque as crianças são o espelho do que vêem em casa. O racismo combate-se com educação, somos todos nós que em casa temos que educar os nossos filhos para a igualdade e para que no futuro ninguém, conhecido ou não, tenha que passar por situações como esta.
Jorge Soares
Imagem do El Pais
Não é a primeira vez, não é a segunda, não será de certeza a última, Dani Alves jogador de futebol do Barcelona, foi uma vez mais vitima de um acto de racismo durante o jogo da sua equipa contra o Villareal. Quando o jogador Brasileiro se preparava para chutar um canto, alguém lhe atirou uma banana.
Dani não se deu por entendido, pegou na fruta, descascou-a, deu uma dentada, atirou o resto para fora da linha do campo e continuou o jogo como se nada. Tudo isto aconteceu debaixo do olhar atento do fiscal de linha que estava a meio metro do jogador.
O jogo, continuou e tudo isto só se tornou noticia porque alguém reparou nas imagens na televisão e fez eco das mesmas nas redes sociais, um enorme eco que chegou um pouco a todo o mundo por via de muitos jogadores de futebol principalmente brasileiros, talvez os que mais sofram com actos como este um pouco por toda a Europa.
Há quem ache o gesto de Dani Alves a melhor forma de combater o sucedido e o racismo no futebol, talvez seja verdade, a questão é que este tipo de situações acontece com muita frequência na maioria dos campeonatos europeus. Já vimos situações como estas ou parecidas nos campeonatos na Espanha, na Itália, na França, na Inglaterra, um pouco por todo o lado e a verdade é que raramente vemos ou ouvimos falar das consequências para adeptos ou clubes.
Já vimos jogadores destroçados a querer abandonar o campo lavados em lágrimas, jogadores que se insurgem, jogadores que simplesmente ignoram, o que não vimos foram as consequências para quem assim se comporta e para os clubes que mais não seja com o seu silêncio, as patrocinam.
Não fossem as imagens da televisão e uma vez mais nada teria acontecido, Dani Alves tentou seguir em frente, como de certeza o terá feito em muitas outras ocasiões, o problema é que muitas vezes há muita gente que tenta ignorar estas coisas e elas ficam sempre impunes... como o teria ficado esta se a televisão não estivesse lá.
De resto as palavras de Dani Alves são elucidativas sobre o que se passa no campeonato espanhol:
Ignorar o assunto não vai resolver a questão, Dani Alves teve uma resposta rápida e talvez irreflectida, mas o que dizer do árbitro assistente que assistiu a tudo impávido e sereno e nada fez? Eu acho que o jogo deveria ter sido interrompido, deveria ter ficado por ali e o Villareal punido com uma pena a sério.
Esta vez foi uma banana, muitas vezes são cânticos ou gritos racistas entoados por dezenas ou centenas de aficionados, como já aconteceu em Milão ou no Santiago Bernabéu do Real Madrid, ou no Vicente Calderón do Atlético de Madrid, na Inglaterra já aconteceu que há quem insulte os jogadores da sua própria equipa... já alguém ouviu falar de algum clube derrotado devido a uma situação destas?
É preciso mais que campanhas de marketing e bandeirinhas contra o racismo, são precisas acções sérias e um verdadeiro empenho por parte de clubes e instituições oficiais, está mais que visto que o que se tem feito até agora não serviu de nada.
Antes. Para os brasileiros e mesmo para os meus compatriotas mais novos é praticamente impossível fornecer uma ideia clara de como se vivia em Portugal durante o Estado Novo – o regime que vigorou entre 1926 e 1974, sensivelmente com os mesmos valores: Deus, Pátria, Família. Ainda pensei fazer uma lista de situações que contextualizassem a vida de então, mas desisti de o fazer, tão descomunal me parece a tarefa.
Então, a 25 de abril de 1974, faz hoje 40 anos, na sequência de uma reivindicação corporativa, os oficiais menos graduados das Forças Armadas, capitães e majores, sobretudo, lideraram uma ação militar que derrubou o regime, ato que foi imediata, entusiástica e maciçamente apoiado pela população. Com tal unanimidade, durante os meses seguintes, nem o céu parecia o limite.
25 de abril, quinta-feira, 9 horas. O jovem atravessa o parque Eduardo VII em diagonal. Está dez minutos atrasado para o emprego, como habitualmente. À vista da rua onde trabalha percebe que o trânsito para o bairro está cortado por militares. Inquirido, um deles diz-lhe que não pode passar, sem mais explicações. O jovem volta para casa, conjeturando que tem uma boa desculpa para dar ao patrão, se ele o questionar nesse sentido.
Pelas dez e meia ou onze, o jovem rejubila ao ouvir pela rádio que está em curso um movimento militar que parece querer derrubar o governo. O jovem lia frequentemente jornais que insinuavam, nas entrelinhas, mudanças políticas iminentes – um que vinha dos Açores impresso em papel cor-de-rosa e o Diário de Lisboa –, mas o governo representava para ele, sobretudo, a asfixiante ordem eterna, parada em conceitos desatualizados. Toda a gente dizia mal, numa impotência cómoda, porque havia a certeza de que o regime nunca mudaria. A prová-lo, estava o tosco “golpe das Caldas”, um mês antes.
E da manhã, da tarde e da noite se faz o dia primeiro. Na tarde soalheira do dia 25 de Abril de 74, um casal estrangeiro, de língua inglesa, passeia pelo parque Eduardo VII, misturado com os outros passeantes portugueses que desfrutam o feriado inesperado. Dos lados da Baixa chegam, de quando em quando, sons de alvoroço popular. Não sei se o casal sabe o que se está a passar no país, mas o homem comenta, sorridente, para a mulher: “Deve ser por causa do Benfica!” Como está enganado!
No supermercado o jovem repara admirado que as pessoas estão a comprar quantidades anormais de víveres, sobretudo enlatados. Acha aquela atitude desproporcionada. Além de meia dúzia de polícias com cães, cosidos nos portais da António Augusto de Aguiar, com ar furtivo e preocupado, nada parece indicar qualquer ameaça de resposta da “situação”.
À noite, na televisão, o jornalista apresenta a Junta de Salvação Nacional – uma mesa atestada de generais soturnos e mal-encarados.
Mas então? Onde estão os capitães de que falam as notícias? Não é que o jovem tenha, desde a tropa, uma grande consideração por capitães do quadro, mas generais? Spínola? Escreveu um livro crítico, e então? É do regime… Para que o poder “não caia na rua”, já vai ao beija-mão?
E quem são os outros emproados?
Alívio! As dificuldades do regime em conseguir quadros militares suficientes para sustentar a guerra do Ultramar obriga a certos estratagemas. Os oficiais milicianos que não tenham ido ao Ultramar, durante o tempo normal de tropa, podem ser novamente chamados, após alguns anos de dispensa. É-lhes dado um curso de capitães em Mafra e seguem para um dos teatros de guerra no Ultramar: Guiné, Angola ou Moçambique. Alguns preferem oferecer-se para ir a África durante o tempo normal e despacharem a questão, do que ficarem em risco de fazer tropa duas vezes.
O jovem tinha feito três anos e três meses de tropa, mas sempre na Metrópole. Por duas vezes esteve prestes a ser mobilizado para o Ultramar. Sempre as circunstâncias o salvaram. Numa delas, outro se ofereceu para ir em seu lugar. Pelo 25 de abril, faltarão uns dois anos para ser eventualmente chamado de novo. De tempos a tempos, já tem sonhos onde se vê outra vez na tropa, o que não é muito agradável. Quando o discurso dos revoltosos de abril dá indicações de que a política ultramarina se irá alterar, o jovem sente um alívio enorme, enorme. [Vocês não veem, mas, apesar de o texto ser meu, ao relê-lo emociono-me.]
Comunistas. Antes do 25 de abril havia certos assuntos que se evitavam naturalmente. Um deles era comunismo. Os funcionários públicos tinham que jurar rejeitar a ideologia comunista. Sabia-se que o poder não gostava do conceito nem dos seus praticantes. A autocensura levou o jovem, certa vez, numa entrevista, a ficar atrapalhado por ter dito que gostava de ser útil à comunidade. Seria que isso poderia ser lido como proximidade de outras palavras com a mesma raiz?
Três ou quatro dias depois do 25 de abril, as capas dos jornais anunciam a chegada de Álvaro Cunhal, líder máximo do Partido Comunista Português, nome que o jovem nunca tinha ouvido. O condicionamento fá-lo ter um momento de apreensão? O quê, os comunistas vêm aí, às claras, confiantes e aceites? Nesse momento, o jovem começa a tomar consciência de que estão a chegar tempos muito diferentes, não pelos comunistas em si, mas pela previsível abertura a múltiplas e variadas realidades até aí interditas.
O primeiro 1º de Maio. O 1º de maio de 1974 é inesquecível. Ou antes, as manifestações. A manifestação de Lisboa começa na Baixa e dirige-se para o estádio do Inatel, já próximo do aeroporto. São muitos os milhares de pessoas a desfilar. Entre os primeiros a chegar e os últimos, talvez medeiem duas horas. Toda a tarde se desfila pela Almirante Reis acima. É um rio de gente a caminhar com um sentimento bom de reencontro, de partilha, de comunhão, de vitória sem raiva. Há um estado de graça nos sorrisos, no convite aos que estão pelos passeios, nas saudações a quem não se conhece. Não há ainda divisões. Estamos felizes. Estamos todos finalmente livres. Simplesmente. [Emoção.]
«Uma gaivota voava…» A sensação de liberdade, a convicção de que o destino de cada um passa agora pelas suas mãos, leva a que muitas pessoas quebrem as cadeias sociais ou rotineiras que as prendem. Há que levar a verdade não só ao político como ao social, à vida de cada um. Os divórcios saltam em flecha. A contestação nas empresas leva mais facilmente ao rompimento dos laços contratuais. A fuga de alguns empresários mais comprometidos, associada à convicção de que os patrões não têm função produtiva, logo são parasitas, leva a tentativas de controlo das empresas pelos trabalhadores. Pelo menos, tentar uma cogestão que devolva alguma verdade às relações de produção. O Estado é chamado a intervir em inúmeras situações, quer para legitimar a continuação da produção de empresas cujo proprietário fugira, quer para assegurar a gestão de empresas onde o conflito patrões/empregados ameaça paralisá-las. Desde grandes empresas até padarias, por exemplo.
«… Como ela somos livres de voar.» A contestação, a reclamação de direitos nunca reconhecidos, faz surgir lutas nunca vistas. Uma que surge logo nas primeiras três semanas e que causa celeuma é uma luta das prostitutas, já não sei por que direito. A televisão – dois canais públicos a preto e branco – abre-se ao discurso popular, à queixa debitada pelo homem da rua. As pessoas têm finalmente acesso a divulgar os seus problemas. Os telejornais estão repletos de queixas, de afirmação de direitos, de cobertura das lutas laborais. Um dos programas mais populares trata de desmascarar práticas desonestas de comércio, com produtos fora de prazo, defeituosos, queixas de consumo, em suma.
Tomar café na associação. A luta laboral vai levando a que o trabalho seja melhor pago, quanto mais penalizante seja para o trabalhador. O trabalho noturno pago por valores mais altos, leva a que a vida noturna da capital se altere, pelo menos ao nível das cervejarias e outro pequeno comércio de restauração. Algum deste comércio que fechava por vezes às 2 da manhã, passa a fechar muito mais cedo, devido aos novos valores do trabalho noturno, acho eu. A noite lisboeta fica mais triste, com menos oferta.
Os novos conceitos de “endinheirado igual a fascista”, levam a uma fachada contida e à retirada para núcleos mais restritos, uns, ou para os inúmeros núcleos associativos – cooperativas, sindicatos ou partidos –, outros. Aí são agora os novos locais de eleição para os encontros e os namoros.
«O que se passa aqui, que tudo está tão diferente…?» De repente as coisas estão diferentes. Interessa mais o “ser” que o “ter”, há que ser solidário e não competitivo, há que participar ativamente nas tarefas que são de todos, a alfabetizar, a esclarecer, a ajudar em qualquer aspeto da vida coletiva da sociedade, nem que seja só colar cartazes, gerir a pequena associação cultural ou participar nas manifestações.
De repente, o que se tinha aprendido está desatualizado. As relações políticas, sociais, familiares e até pessoais pautam-se por outras normas. Há a sensação de que é preciso desaprender tudo e aprender tudo de novo. Lê-se Engels, Lenine, Marx, Mao, Wilhelm Reich. Livros com títulos como “O que é a consciência de classe?”, “A conquista do pão” ou “A origem da família da propriedade e do Estado”, andam por algumas mesas-de-cabeceira. Aprender, aprender, recuperar o tempo perdido, é preciso.
«A cantiga é uma arma.» Entretanto, os militares, cuja consciência política, na maioria, parece advir das mensagens emocionais contidas nas canções de intervenção, começam a absorver as ideologias dos partidos e a dividir-se. O ano que se segue é um carrocel de factos políticos, com os partidos a tentarem controlar as diversas tendências que os militares vão manifestando, em osmose de ideias políticas.
O jovem passa a noite a ler e a ouvir rádio – o horário de trabalho permite –, na esperança de notícias condizentes com as suas aspirações, mas sobretudo a absorver as mensagens e as emoções contidas nas inúmeras canções revolucionárias que vão surgindo em catadupa. Quando a luz do dia enche a rua, descansa finalmente.
Há duas tentativas falhadas de controlo do processo pela direita. A seguir, o bloco central pressiona a extrema-esquerda, que está muito aguerrida por ver fugir-lhe espaço de manobra. A 25 de novembro de 1975 é derrotada e o país inicia um processo de estabilização política em moldes tradicionais.
Adeus! O jovem sente que a cinza de novembro regressa. Ou pensa que sim. Não fora alfabetizar as populações do interior, não ocupara casas devolutas para famílias carenciadas, não participara em atividades das cooperativas agrícolas ou outras. Quase não “mexera uma palha”. Tivera uma adesão intelectual, pequeno-burguesa e romântica. Ainda assim, está muito abatido. Só lhe apetece emigrar. Mas, falta-lhe coragem.
Joaquim Bispo
Retirado de Samizdat
Edgar é uma criança muito desejada e esperada, por motivos que nunca ninguém consegue explicar nem justificar, nunca consegue falar. Numa família que tem como actividade principal a criação de cães, ele rapidamente aprende a linguagem gestual e dispõe-se a enfrentar a vida de uma forma o mais normal possível.
Mesmo sem conseguir falar, Edgar consegue tornar-se um bom treinador para os cães e vive tão feliz como o pode ser uma criança que cresce num mundo rural idílico.
Já adolescente, a chegada à sua vida do seu tio paterno Claude e a morte do seu pai de uma forma que para ele é algo estranha, deixam de pantanas o mundo de Edgar que não voltará a ser igual.
Já o disse várias vezes, não sou um grande fã dos escritores americanos e ainda não foi desta que me converti.
O livro até começa muito bem, a história desenrola-se na América rural e profunda e o autor consegue situar-nos muito bem no espaço temporal e físico, começa por nos contar a história da casa que de certo modo será o centro da acção e a dos personagens principais. Depois, à medida que a historia se vai desenrolando, o livro tem algumas partes chatas e enfadonhas, a certa altura melhora, para voltar a decair ... e termina de uma forma estranha e que a mim pelo menos me decepciona completamente.... não era definitivamente aquele o fim que eu escreveria para esta história... mas o autor não sou eu.
Não deixa de ser um bom livro, que está bem escrito, quem gosta ou se interessa por cães de certeza que pode aprender muitas coisas com ele, a historia podia ser mais fluida, podia ter outro fim... mas não deixa de ser uma boa historia... um livro a ler.
Sinopse:
Mudo desde o nascimento, Edgar Sawtelle se comunica apenas por sinais e bilhetes. Leva uma vida serena com os pais na fazenda da família, em um lugar remoto dos Estados Unidos. Ao longo de gerações, os Sawtelles criaram e treinaram uma raça de cães cujo dedicado companheirismo tem sua síntese em Almondine, a amiga e eterna aliada de Edgar. A volta inesperada de Claude, o tio paterno, leva o caos ao então pacífico lar dos Sawtelles. Após a morte repentina do pai de Edgar, Claude se insinua na vida da fazenda e conquista o afecto da mãe do menino.
Confuso e dominado pelo sofrimento, o rapaz tenta provar que Claude teve algum papel naquela morte, mas esse plano fracassa e se volta contra Edgar, resultando em novas tragédias. Ao fugir para a área florestal nos limites da fazenda, Edgar amadurece em contacto com a vida selvagem, ao lutar pela própria sobrevivência e a dos três jovens cães que o acompanharam. Contudo, a necessidade de apontar e de enfrentar o assassino do pai e a devoção aos cachorros sawtelle fazem o menino voltar para casa.
Jorge Soares
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Azar é uma palavra sem sentido,
nada pode acontecer sem uma causa
Voltaire
Quem me costuma ler sabe que para além de ateu sou um céptico convicto, não há deus, não há destino e sorte e azar são só palavras que servem para explicar os acasos da vida... desde que tenho uso de razão que vivo de acordo com estes princípios e nunca vi motivos para os trocar por outros.
Tudo isto é muito bonito, mas juro que por vezes me pergunto se não estarei completamente errado, principalmente quando os diversos acasos teimam em se juntar todos para o mesmo lado que só por acaso, é o mais chato... o último mês foi claramente uma destas ocasiões e juro que a estas alturas já me pergunto se tanto acaso junto já não será azar. Vejamos:
13 de Março - Numa rotunda à saída de Setúbal, um senhor com uma carrinha resolveu cortar a direito e invadiu a faixa de rodagem onde por mero acaso ia a circular a minha meia laranja, o resultado foi chapa batida e um prejuízo evidente no carro, que por acaso até já estava quase vendido.
Também por acaso o senhor só parou uns cinquenta metros mais à frente e porque viu que ia a ser seguido, já vamos perceber porquê, e claro, não assumiu responsabilidade nenhuma, só não se foi embora sem sequer esperar a GNR nem agrediu a P. porque foi impedido.
Dois ou três dias depois, estava eu a fazer uma receita complicada quando despejei para dentro do copo da Bimby uma boa quantidade de azeite, não reparei que a parte inferior não estava fechada e o azeite foi parar directamente ao motor.. que literalmente se afogou... a reparação ficou em 200 Euros.
Na semana a seguir, quando já eu tinha começado as minhas discussões com a companhia de seguros ZURICH, a do senhor que bateu no carro, uma manhã cheguei ao meu carro e reparei que este estava aberto, durante a noite tinham voado o computador portátil e o GPS...
Com isto tudo estávamos no inicio de Abril e não havia maneira de eu saber quando iria ter o carro, que até já estava vendido, reparado, a esta altura do campeonato no call center da Zurich já não me podiam ouvir... mas não me servia de nada, eles estavam a estudar o assunto e eu só tinha que esperar.
Entretanto meteram-se as férias da Páscoa e rumamos ao Alentejo.
A 13 de Abril, estava eu em Vila Nova de Milfontes, entrei para o meu carro, não reparei que entre o eu entrar e o arrancar, alguém estacionou do outro lado da rua, quando dei por mim já tinha batido, os estragos eram evidentes e de certeza caros.
Finalmente durante a semana passada a Zurich tinha uma decisão, como as descrições do acidente não coincidiam e o segurado deles só tinha parado muito longe do local (o crime compensa), não conseguiam atribuir a culpa, eles só assumem 50%... e ainda por cima, enviaram-me uma carta onde dizem que vão pagar o valor... sem o IVA!!!! (viva a fuga aos impostos)
Agora digam-me lá, independentemente do que diga o Voltaire, isto é ou não azar a mais para uma pessoa só?
Alguém conhece uma bruxa de jeito? (de preferência como a da fotografia) .. es que you no creo em brujas, pero empiezo a pensar que, de que vuelan, vuelan!
Jorge Soares
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O Rui foi um dos participantes do único destes concursos a que assisti desde o inicio até ao fim, a Operação Triunfo, desde o inicio que se destacou pela voz e pela enorme versatilidade, sempre achei que se havia entre todos aqueles concorrentes alguém com voz e talento para singrar no panorama musical português, seria ele.
Infelizmente estava errado, que eu saiba nenhum dos outros concorrentes, daquele ou de todas as outras versões dos mais variados programas que se lhes seguiram, conseguiu chegar mais longe que aqueles cinco minutos de fama, há quem tenha conseguido gravar discos é verdade, mas nenhum conseguiu aproveitar o embalo para cimentar uma carreira musical.
Ontem o Rui foi um dos concorrentes no The Voice Portugal, e como seria de esperar para alguém que apesar de ser mais ou menos na sombra, anda nisto há anos, passou com distinção à fase seguinte. Foi evidente o enorme contraste entre a sua actuação e a dos restantes participantes que na sua maioria eram jovens entre os 16 e os 18 anos.
Há uns dias a propósito da participação do Carlos Costa no mesmo programa e fazendo a Ponte com o caso de Berg que venceu o Factor X, Paulo Pinto Ribeiro questionava no Facebook (não encontrei o link) se seria justa a presença de artistas profissionais nestes programas a competir com completos amadores.
A questão não deixa de ser válida, Carlos Costa aparte, tanto Berg como Rui Drumond estão num patamar muito diferente dos restantes concorrentes, Berg ganhou com inteira justiça o Factor X e não é muito difícil perspectivar que o Rui é o principal candidato a ganhar esta versão do The Voice ... e tenho até sérias duvidas se ele terá assim tanto a aprender com qualquer um dos mentores.
É claro que nos podemos questionar se não lhes deveria ser vedado o acesso a participar, afinal a ideia com que ficamos é que o programa é para amadores... o problema é que se impedíssemos o Rui de participar só ontem teríamos que ter impedido pelo menos mais três concorrentes, todos eles já músicos, incluindo uma miúda de 18 anos que tem uma banda há anos e que até já cantou na Galiza.....
Não é dificil entender porque pessoas como o Berg e o Rui Drumond se sujeitam a participar e até a serem exluídos à primeira, o Carlos Costa foi por muito pouco, em Portugal só um pequeno grupo de artistas consagrados conseguem viver da música e construir uma carreira sólida, o resto, e o resto são centenas de músicos, grupos e bandas, e basta dar uma olhada neste blog para ver que é verdade, ou tem outra fonte de rendimentos e a música é pouco mais que um hoby, ou simplesmente desiste, não há como viver da música neste país.
O problema é que o talento não é suficiente, o Rui tem 34 anos, a sua primeira participação foi há mais de 10 anos, continua à procura de algo que dê um impulso à sua carreira e faça dele um músico consagrado... tenho dúvidas que esse algo esteja num destes programas, mas acho lícito que ele acredite e portanto se sujeite a ser escrutinado.
Há algo de muito errado com a cultura portuguesa, quando pensamos que os Azeitonas só ficaram mesmo conhecidos quando um miúdo foi cantar uma das suas músicas nos Ídolos, ou que a maioria dos portugueses só ficou a saber que existe um grupo chamado Dead Combo quando um americano qualquer veio fazer um programa de culinária a Lisboa, só podemos concluir que há algo de muito errado com a forma como tratamos a nossa cultura.
A actuação do Rui:
Jorge Soares
Bárbara ama seu esposo. Mas deseja muito mais.
Nem ela sabe o que sente. Filhos e esposo não desconfiam da languidez dos pensamentos. O companheiro não usa como ela os porões da alma. Seu fascínio é arranhado pelas forças externas e por ela mesma, que não se desvenda.
Bárbara aclama São Jorge. Não há manifestação em que acredite mais, em que confie tanta profundeza e pele. As vizinhas foram se aproximando pelas respostas que nutriam alguma coisa, elas não sabiam o quê. Bárbara nunca soube de sua importância e assim foi melhor.
Acordou cedo, as pálpebras se abriram para o branco do teto, nem eram seis da manhã. Os ombros ajeitaram a cabeça dando a visão das samambaias que choravam do vaso ao chão. Levantou. Banhou o corpo com água quente. Passou um café forte acordando pelo cheiro a família. O chefe da casa saiu para o trabalho vestindo duas tonalidades de azul, cores que a empresa exigia de seus motoristas. Com cinco salários não era possível saciar os desejos de uma mulher e dois filhos. Por isso, Bárbara vende bijuteria e lingerie para as vaidades. Rendas beges, correntes e pingentes de bonequinhos representando a prole.
Sabia-se o sexo da ninhada pelo colar folheado a ouro. Bastava uma delas usar algo diferente para que desencadeasse uma uniformização no bairro. Unidas as mulheres. Quarentonas, dissolviam as tensões na calçada mesmo, debaixo do sol quente, conversando sobre violência, orixás e homens.
Desde a infância, Bárbara segue procissão pelo Santo Guerreiro. Caminha surda para os batimentos cardíacos do mundo. Caminha como sangue nas veias daquele que entrega a própria espada.
A chapa delgada e fria estanca a fome dos demônios.
O Guerreiro recebe glórias numa mesinha, baseada no corredor entre quarto e banheiro, é iluminada por grossas e brilhantes colunas de cera. Bárbara bate os joelhos em frente ao altar todos os dias, o cavaleiro de gesso repousa num tecido urdido por suas mãos.
A fé é seu pilar central.
Não teme a morte do corpo, mas as necessárias para se encaixar na órbita dos elétrons, no eterno.
O filho mais velho sugeriu ao pai que levasse a mãe ao médico, assustado que estava com o olhar longo e fixo que Bárbara dirigia durante horas para o altar.
Não havia nada de estranho na família, aliás, uma família exemplar com as conveniências sociais. Nenhuma doença que entregasse alguém para a morte, nenhum acidente, nenhuma ruptura. Nada que justificasse tal isolamento intenso e estranho.
Algo faz retorcer seu corpo nas oito horas em que dorme, assim igual só o parto. Quando não se lembra dos sonhos, amanhece preenchida de amor.
Quando se recorda, fica desperta, assombrada. Com medo do esposo, sente que o traiu deitada ao seu lado durante aquelas oito horas. Padece com a distância entre o sonho e o marido. Olha para o companheiro e vê em si a mãe virgem e idolatrada, a culpa seca seus fluidos corporais. Mas só quando olha para ele.
Por onde andará sua alma nas oito horas em que dorme o corpo?
Plena ou assombrada isola-se naquele corredor estreito para orar sem se importar com a passagem de quem quer que seja.
Na noite deste dia em que o filho se preocupava com a mãe, Bárbara sonhou mais uma vez, passou seu corpo de sonho por entre as grades do inconsciente. Lá, nas temidas delícias, Bárbara vestiu um longo azul. O cabelo era de negro mistério e macio de veludo toque. Sentou-se na perfeita arquitetura, no banco de uma capela.
Sua respiração se ordenou em palavras cantadas. Pontos cantados. Orava hipnótica melodia. As mãos espelhavam um lago, podia fertilizar com a pupila, irradiava. A capela a guardava da maldade não natural das coisas, daqueles que queriam entrar nem que fosse à machadada em seu paraíso.
Deslizando, saiu do templo para fazer as curvas do jardim. Mas um estrondo a interrompeu, na linha que destoa céu e terra, o dragão. A cauda réptil podia cortar até o nunca mais, sem chance de coagulação, de uma conciliação entre glóbulos brancos e vermelhos.
Aproximou-se de Bárbara.
E então, homem e cavalo cruzaram o caminho do irascível.
Vestindo metal, São Jorge dava a sua misericórdia. A lança afiada perfurou as asas do dragão, sem o domínio dos ares, o diabo desistiu de beber no cálice de Bárbara.
São Jorge seguia a brisa vinda dos cabelos dela, perfume. Estava embriagado pelo fermento das uvas de Salomão.
Abraçada pela emanação, ela sabia que era seguida. Não fazia ideia de que aquele homem romperia o resto dos seus himens, membranas que a botavam em cápsula. O leste soprou as mechas negras da devota, São Jorge contemplava vestido e cabelos ondulando como o mar.
Entraram e fecharam as portas da capela.
Abrigaram-se no santo ninho e materializaram a completa união. Quando se tocaram os corpos, nada foi capaz de estagnar as forças. Acenderam a fornalha para a mistura das divinas substâncias.
(Minto enquanto posso)
(Ilustração: Anthony Christian - Lucinda)
Retirado de Trapiche dos outros
Tudo começou com "O rastro do teu sangue na neve", um conto que encontrei nas páginas centrais do Diário de Caracas, eu teria 13 ou 14 anos e aquelas duas ou três páginas magistralmente escritas deixaram-me para além de uma enorme angustia pelo desenrolar da história, uma curiosidade ainda maior sobre o autor.
Seguiu-se La Hojarasca (a revoada) e a seguir Cem anos de solidão e depois muitos outros, não tenho a certeza mas acho que li todos os livros publicados por ele, incluindo alguns de contos de que não tinha ouvido falar e que encontrei nas prateleiras da biblioteca da Universidade central da Venezuela.
Morreu um enorme escritor, o expoente máximo do Realismo Mágico, um género literário que caracterizou a literatura da América latina do último quarto do século XX e que levou ao mundo uma visão muito própria do povo e da cultura dos países da América central e do Sul.
Garcia Marquez era um escritor extremamente descritivo que nos conseguia levar até dentro dos seus livros de uma forma em que quase conseguíamos sentir os cheiros e as cores.
Vencedor do prémio Nobel em 1982, morreu hoje na cidade do México aos 87 anos, o mundo em geral e a literatura em particular ficaram hoje muito mais pobres.
Jorge Soares
Eu tenho essa dor funda e molhada, espalhada, ardida, gelada. Que a gente quando fica muito tempo no mar se destempera. Encaranga, mesmo. E eu não sei viver noutro lugar nem doutro jeito. Até sou homem de chão, de areia batida, mas bem antes de raiar sol já arremanguei as calça e empurrei o caíco pra dentro da lagoa atrás de camarão. Todos dia é assim. Tenho uns companheiro de arrasto, é verdade, mas é solito que gosto de ir. Pro mar. Fico sozinho, organizando as ideia, até sentir falta da mulher, da comida da mulher, da cama com a mulher. É bom. É difícil, mas é bom. A gente vai levando a vida. Ou ia.
Faz um tempo, que eu nem sei dizer quanto, que eu ando na volta. Repito tudo, tudinho mesmo, e me acho aqui, parado, descendo do trapiche, tentando chegar em casa, uma saudade medonha. Não sei que acontece, quando a mulher me vê grita que nem condenada, parece que viu assombração. Diz que é impossível, impossível, que não aguenta o meu fedor, que a virgemaria me leve pro céu, que eu descanse em paz. Não minto, esse berreiro me dá uma gastura. Eu consigo chegar bem pertinho da patroa, quase toco os ombro dela, e então ela se sacode de chorar me mandando embora em nome de Deus. Aí, eu sinto uma tontura e quando me dou conta tô de novo deitado de bruço, emborcado no meio do junco, o vento fazendo bater água na minhas costa.
Então, vem alguém de caíco e me desvira no remo, assobia – um curto e dois comprido - para avisar que me achou. O céu por cima é cinza, fumaça, cor da minha alma inchada de tanto molho. Levam o meu corpo para velar, para enterrar, para terminar comigo. Bem rápido para a patroa não me ver assim. Mas eu não sigo. Nem esqueço. Tem muita vida pra viver, peixe pra pescar, a cara do meu filho pra ver, a mulher tá barriguda quase parindo. Preciso ficar. Tento vê ela mais um pouco. Ela me corre. Fico sentado no trapiche de madrugada pensando que acertaram direitinho no nome desse porto: Solidão. Já sei o que isso é. Se não pisasse tanto o peito até que era bonito, as estrela, o vento no nariz, os lampião aceso, ficar sozinho vendo a vida passar sem fazer barulho.
E quieto eu me recordo, uma lembrança dentro da outra, que naquela manhã cedinho a mulher me puxava da camisa aberta e pedia chorosa pra eu ficar, que ela tinha sonhado coisa ruim. Na minha frente já iam os outros cinco, pegando as rede, não quero me atrasar. Beijo ela e peço que me espere com tainha ensopada, não vou me demorar. Só que me enganei. Feio. Umas parte do que teve mesqueci, ficou perdida da memória, acho. Teve uma briga, uns vagabundo querendo se criar, meio que lebrinava, era difícil de ver. Me derrubaram com um soco no cucuruto. Não deu pé. Afundei. Sumi. E pronto. Agora fico fazendo esforço de voltar pra minhas coisa, contar do que foi, sarar dessa ferida descascada, mesquentar. Quase dá. Quase. Daí a mulher foge, agoniada, que não pode com o barrigão e os olho branco que fiquei, que assim não me quer mais. E eu volto de onde parei: descendo do trapiche...
Andreia Pires
Retirado de Samizdat