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Conto - nem todo o dia é Domingo

por Jorge Soares, em 06.09.14
NEM TODO DIA É DOMINGO, de Cida Pedrosa
Naquela quarta-feira, Bruna cumpriu o ritual. Chegou meia hora antes do expediente começar. O dia já ia longe. Farda passada café da manhã bolsa escolar lancheira camisa do marido marmita e até uma oração apressada antes de sair da cama. O dia já ia longe. Caminho da escola bolsa cheia de livros mãos de crianças pasta executiva biscoito preferido do chefe saia de secretária apertada e o sapato scarpin salto fino comprado na ponta de estoque da fábrica local. O dia já ia longe. Parada de ônibus motorista sem sexo cobradora com sono e passageiros em pé. O dia já ia longe.
Naquela quarta-feira, Bruna cumpriu o ritual. Chegou meia hora antes do expediente começar. Silêncio no escritório uma voz no andar de baixo e o barulho da CPU engrenando para a execução do Windows.
Naquela quarta-feira, Bruna cumpriu o ritual. Acendeu um incenso e entregou-se à cadeira giratória para acessar a caixa postal. Reconheceu o login de uma velha amiga da escola e entre curiosa e alegre, abriu o e-mail de Evânia. Enquanto espera o download do arquivo, deleta várias mensagens sacanas e pensa: — Por que a Karina continua mandando esses e-mails de sexo?
(O postcard de Evânia enche a tela de cores, paisagens longínquas, mensagens de paz e a voz de Louis Armstrong cantando: What a wonderful world se instala na sala. Um dois três quatro cinco slides... Quebre as amarras, esqueça os muros, se entregue às estrelas, em algum lugar existe alguém esperando você. Malásia Albânia China Nigéria e luzes de Paris. Letras que brilham bailam entram e saem da tela.)
— São cinco para as oito horas e o elevador se aproxima do décimo nono andar, carregando os trabalhadores pontuais —.
Naquela quarta-feira, Bruna cumpriu o ritual. Levantou-se, tirou o sapato e andou para a sala contígua. No computador Louis gorjeia o último verso: Sim, eu penso comigo... que mundo maravilhoso. A janela convida, a saia se rasga, o corpo se parte e Bruna não ouve o grito do chefe: — Está demitida. Já lhe disse várias vezes, que aqui não é sua casa para acender incenso e deixar o sapato rolando na sala. A vida já ia longe.
Cida Pedrosa
Retirado de Trapiche dos outros

publicado às 21:02

Receita - Creme de cogumelos

por Jorge Soares, em 04.09.14

Creme de cogumelos com courgete

Imagem de aqui

 

Há muito tempo que não coloco aqui uma das minhas receitas,.. também é verdade que não tem havido muitas oportunidades para inventar..

 

Ontem cheguei a casa antes da minha meia laranja, o jantar estava mais ou menos pensado, havia bifes de cogumelos enrolados com massa de alho e queijo... já foram comprados assim no talho e era só colocar no forno... faltava a sopa.

 

Lembrei-me que no congelador havia um pacote de cogumelos frescos que tínhamos comprado a mais e que congelamos para não se estragarem... os vegetais não se podem descongelar pelo que só serviam mesmo para sopa... e foi isso que fiz.

 

Comecei por ir à net ver receitas de creme de cogumelo para a Bimby... há duas ou três, mas todas levam duas coisas que eu me nego a colocar na sopa, leite e natas....  como nada do que encontrei me agradava e/ou eu não tinha os ingredientes todos, decidi inventar com o que tinha à mão.. e o que tinha era o seguinte:

 

Ingredientes

 

125 gramas de cogumelos frescos (estavam congelados)

2 courgettes

2 cebolas

um quarto de chouriço (aproximadamente 50 gramas)

50 gramas de azeite

3 dentes de alho

600 Gramas de agua

1 caldo knorr

 

Coloquei as cebolas no copo da bimby junto com o chouriço, o azeite, os dentes de alho e um caldo knorr. Piquei tudo na velocidade 5 durante 5 segundos.

 

A seguir pus a refogar, 5 minutos varoma (para quem não tem Bimby, isto é o equivalente a lume forte)

Enquanto refogava descasquei  as duas courgettes e cortei-as em pedaços.

 

Coloquei as courgettes e os cogumelos congelados dentro do copo da bimby e juntei a água.

Programei 30 minutos a velocidade 1  e temperatura 100.

No fim piquei durante 20 segundos a velocidade 7,  para ficar cremoso.

 

Como os cogumelos eram dos castanhos, ficou um creme acastanhado e aveludado e até a mais pequena cá da casa que costuma torcer o nariz à sopa, concordou que estava realmente delicioso e comeu sem reclamar.

 

Jorge Soares

publicado às 22:38

Angela ... ou Umm

 

Imagem do Expresso 

 

Hoje, para além de um novo vídeo em que um jovem que já foi identificado como sendo inglês, decapita barbaramente mais um jornalista americano, há uma reportagem no Expresso sobre uma jovem portuguesa que deixou a sua família e a sua vida para ir para a Síria com o único propósito de se casar com um combatente da jihad, o marido também é português e para além do Facebook, eles nunca se tinham visto antes.

 

A jovem, que vivia com a mãe na Bélgica, tinha uma vida perfeitamente normal como qualquer outro jovem ocidental e de um dia para o outro decidiu abraçar o islamismo na sua versão mais ortodoxa, tendo inclusivamente passado a vestir burqha.

 

Tenho lido os mais diversos comentários sobre este fenómeno que leva a que jovens que muitas vezes nem tinham nenhum contacto com a comunidade muçulmana dos países em que vivem, de um dia para o outro não só se convertam, mas abracem a religião de uma forma completamente fanática. Raramente consigo concordar com algum destes comentários.

 

Consigo perceber que jovens que são criados no seio da religião muçulmana olhem para ela de uma forma mais ortodoxa, tal como consigo perceber que haja jovens católicos que aspirem a ser freiras ou padres, ou jovens judeus que decidem converter-se em ortodoxos. Mas como entender que uma jovem católica culta e educada decida de um dia para o outro passar de um estilo de vida ocidental e mundano para uma vida em que a mulher tem um papel completamente secundário e passivo, em que não pode sequer sair à rua sem autorização do marido e sem vestir burqha?

 

O que acontece na Síria e no Iraque actualmente não deve estar muito longe do que aconteceu na idade média europeia em que grupos de jovens católicos europeus iam para o médio oriente para com as armas obrigar a quem por lá vivia a converter-se ao catolicismo, na altura utilizavam-se lanças e espadas, agora utilizam-se ak47 e canhões, mas se pensarmos bem, o fim a que se propunham e a barbárie com que o faziam, não devem andar muito longe.. só que agora as imagens entram-nos pela casa dentro via televisão ou Facebook.... No fundo tudo se resume a fanatismo religioso transvestido de guerra santa.

 

Ou seja, há jovens europeus que estão a repetir a história, só que na idade média estavam do lado dos bons e agora estão do lado dos maus... ou ao contrário.

 

Para mim que abomino qualquer tipo de religião, tudo isto só me deixa a pensar que será que o que leva os jovens europeus à jihad? Religião, fanatismo, loucura?

 

Certo, certo certo é que em algum lado estamos a falhar, porque loucuras  como as que vimos hoje e nos últimos dias não podem estar a ser cometidas pelos nossos filhos sem que a sociedade europeia e ocidental não tenha falhado algures...

 

Pelo sim pelo não, no que de mim dependa os meus filhos irão de certeza estar longe da religião... de qualquer uma delas... só aprendendo a pensar por si mesmos e sem estarem apegados a dogmas ou tabusse podem tornar  em jovens equilibrados.

 

Jorge Soares

publicado às 22:06

Justiça ou demagogia e caça às bruxas'

por Jorge Soares, em 02.09.14

Criança

 

Imagem do Público

 

Hoje levei os meus filhos para Lisboa, manhã cedo ouço sempre a Antena 1 e hoje não foi diferente, por muito que eles preferissem a Antena 3, às 8 as noticias falavam da hipótese de que os dados sobre pedófilos e condenados por crimes sexuais estivessem disponiveis para consuta de qualquer pessoa com filhos menores de 16 anos.

 

Antes mesmo que eu pudesse processar o assunto já a R. a adolescente reivindicativa cá de casa estava a reclamar:

 

- Mas isso é uma estupidez, as pessoas tem os seus direitos, já foram condenadas e já pagaram pela sua culpa, não podem ficar assim expostas a qualquer um que lhes queira fazer a vida impossível, isso é o que acontece nos estados unidos e as pessoas são impedidas de viver.

 

Nestas alturas fico sempre com um sentimento de dever cumprido.

 

Eu sei que o tema é melindroso, concordo que a pedofilia é um crime horrendo e que muitas vezes quem comete esses crimes o volta a fazer, mas, até posso concordar que as autoridades tentem de alguma forma registar e controlar estas pessoas, mas não posso concordar que se tornem públicos dados pessoas de pessoas que se é verdade que cometeram um crime, também é verdade que já pagaram por ele e após o cumprimento das penas tem direito à sua vida.

 

Qual a diferença entre um pedófilo e um assassino? Quem matou uma vez pode matar duas vezes, quantas vezes olhamos para o lado quando vemos violência familiar e depois esse olhar para o lado termina em morte de alguém com a cumplicidade de quem diz que "entre marido e mulher ...."?

 

Porque não disponibilizar da mesma forma os dados de quem agride mulheres .. e já agora, porque não divulgar publicamente quem foge aos impostos, quem excede os limites de velocidade, ou quem atravessa a rua fora da passadeira?.... se formos por aí de certeza que não vai ficar ninguém fora da lista.... mas aposto que aí vamos todos ser  muito zelosos da nossa privacidade?

 

Esta proposta de lei é completamente demagógica e mais que tentar controlar, o que tenta promover é uma caça às bruxas, vai haver muito ocioso que vai ir consultar as listas e esquecendo o dever de sigilo, vai tornar a vida de muita gente num inferno, seja ou não a pessoa culpada, tenha ou não pago a factura dos seus crimes...

 

Há uma diferença enorme entre controlar e humilhar, ninguém deixa de ter direitos porque cometeu erros na vida e pagou por eles, todo o mundo tem direito a uma segunda oportunidade e recomeçar em paz, não é promovendo a caça às bruxas que se resolve o problema da pedofilia, não se combatem erros com outros erros.

 

Jorge Soares

 

 

publicado às 23:00

A imagem dos tribunais

 

Imagem do Público

 

 

Se há coisa que sempre me impressionou foi ir a um tribunal e ver como os funcionários vivem  em pequenas ilhas rodeadas de papel, são mares e mares de processos que rodeiam tudo o que está à vista e que se acumulam em pilhas num aparente(??) caos organizado.

 

Numa altura em que tudo são bites e bytes, em que a informação se mede em terabytes e se guarda em centros de dados que estão algures no mundo e que tem o nome pomposo de "A nuvem", a justiça portuguesa continua a viver como há 30 anos atrás quando os computadores eram coisas de filmes de ficção cientifica.

 

Muita gente ficou escandalizada ao ver como durante os últimos 15 dias pilhas e pilhas de papel eram transportadas em camiões do exército, em carrinhas de empresas de transporte e até em vulgares carrinhas de caixa aberta sem sequer serem tapados.

 

Não sou dos que acham que não se devem fechar tribunais, não percebo é porque é que se fecham assim, de forma atabalhoada e de olhos fechados. Entendo que deve haver um limite para o numero mínimo de processos por ano, é evidente que não pode haver um tribunal em cada aldeia ou vila, mas também não se pode obrigar as populações a terem que se deslocar mais de 100 kms para irem a um julgamento.

 

Também não percebo porque é que se tem que fechar todos os tribunais no mesmo dia e muito menos porque é que se tem que fechar tribunais para abrir salas de audiência  em contentores obrigando funcionários a terem que se deslocar centenas de kms por dia enquanto terminam obras nos tribunais que no futuro os irão receber.

 

Será que não era de bom senso fazer-se tudo isto por fases, garantir que a aplicação informática que irá suportar tudo isto no futuro e que se espera venha substituir as toneladas e toneladas de papel que se gastam actualmente, esteja pronta e funcional para se fazer a mudança?

 

Será que não era mais inteligente fazer-se a mudança dos tribunais à medida que as obras que ainda decorrem fossem ficando prontas?

 

Porque é que se desloca funcionários centenas de kms para daqui a um ano os voltar a deslocar? Porque é que se gastam milhares e milhares de Euros em mudanças para coisas que se espera sejam provisórias?

 

A ministra da justiça e o governo querem apresentar obra feita, não percebem que o espectáculo está a ser esta reforma só mostra que nada disto foi pensado ou planeado e que em lugar de obra feita o que vai ficar é uma enorme dor de cabeça para todos os que tiverem o azar de ter que recorrer à justiça.

 

Jorge Soares

publicado às 22:31

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