Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do El Pais
Até ontem era tudo confiança, hoje após o primeiro caso de transmissão na Europa tudo é desconfiança, a meio da tarde era noticia nos principais meios de comunicação espanhóis um apelo do marido da enfermeira infectada com ébola para que se impedisse o sacrifício de Excalibur, o cãozinho ali da fotografia.
As autoridades espanholas agora jogam pelo seguro, com a enfermeira e o seu marido colocados de quarentena, o cão está sozinho no apartamento em que ambos viviam, antes de ir para o hospital, Javier o marido da enfermeira, assegurou-se de que o cão tivesse água e comida suficientes para vários dias, mas a comunidade de Madrid não está pelos ajustes, a casa está selada pela polícia e será em breve descontaminada, tal como as áreas comuns do edifício.
Entretanto pediram a Javier autorização para abater Excalibur, ninguém sabe se o cão está ou não infectado, também não há certezas sobre se o animal poderá ou não transmitir a doença, mas na dúvida não estão com meias medidas, se Javier não autoriza o abate, será obtida uma ordem judicial e o cão será abatido em nome da saúde pública, e quer-me parecer não haverá apelos que o salvem
Entretanto ninguém faz ideia de quantas pessoas terão contactado com a doente, sabe-se sim que apesar de esta ter informado mal chegou ao hospital que poderia estar contaminada com ébola, passou várias horas nas urgências com fitas e biombos a fazer a separação das outras dezenas ou centenas de pessoas que por ali passavam.
Só após a confirmação das análises se tomaram medidas de protecção e terá mesmo sido atendida por pessoal médico sem nenhuma protecção. E mesmo depois de se ter confirmado a doença, o marido andou horas livremente pelo hospital.
Com tudo isto e tendo em conta que a enfermeira já tinha alguns dos sintomas há dois ou três dias, será quase um milagre se não houver mais casos de infectados.
O que se percebe de tudo isto é que em Espanha, apesar dos dois falecidos com a doença e de todo o aparato montado quando da chegada de ambos, na realidade nas unidades de saúde não se terá dado a atenção necessária ao caso e o resultado está à vista.
Agora, em Espanha e no resto do mundo, corre-se contra o prejuízo, e nem o pobre cão irá escapar, pena que o mal já está feito, resta saber se ainda se irá a tempo de parar a doença.
Custava alguma coisa colocar o cão de quarentena?
Por certo, hoje já ouvi dizer que nos Estados Unidos já há quem peça a interdição dos voos de e para países com infectados... veremos quanto tempo irá demorar a que se ponha em prática
Jorge Soares
Letra
Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender —
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Imagem do Público
E de repente tudo passa a ser relativo, li e ouvi muitas vezes que na Europa o ébola seria uma doença relativamente fácil de controlar, ao contrário do que acontece em África, o sistema de saúde europeu estaria preparado para conter a doença de uma forma relativamente fácil.
Quando há pouco no telejornal ouvi um senhor espanhol a dizer que uma auxiliar de enfermagem entrou duas vezes no quarto onde esteve um doente com ébola, uma para medir a tensão e outra para buscar equipamento médico após a morte do doente, e isso foi suficiente para ficar contagiada, todas as certezas simplesmente desapareceram.
O primeiro que me veio à cabeça foi: "Se calhar eles não percebem assim tanto sobre as formas de contágio como querem fazer parecer". Se no ambiente controlado de um hospital europeu um profissional de saúde que se supõe estar equipado e preparado para se proteger é contagiado após ter entrado no quarto duas vezes, o que dizer do resto do mundo?
Evidentemente agora baralham-se todas as hipóteses, desde ter sido um erro humano até ao pormenor dos fatos utilizados para proteger o pessoal sanitário não serem os mais adequados.
Quer-me parecer que havia na Europa um excesso de confiança, li ou ouvi algures que após este caso, em Espanha foi convocado de urgência o gabinete de crise, li também que em Portugal vão ser tomadas medidas para tentar conter a entrada da doença no país, aplica-se o velho ditado, "quando vires as barbas do teu vizinho a arder" ...
Quer-me parecer que já vamos tarde, se havia hipótese de controlar a doença era algures há uns meses em África, agora quando começaram a aparecer os primeiros casos na Europa e nos Estados Unidos, não sei se iremos a tempo. E para mais quando me quer parecer que as formas de contágio nem estavam bem explicadas...
Já o disse aqui antes e agora volto a dizer, tudo isto é mesmo assustador e só me faz lembrar que há umas poucas centenas de anos, outra doença que veio de longe dizimou qualquer coisa como um terço da população europeia... sim, eu sei, os tempo são outros, mas isso não está a fazer grande diferença para melhor, bem pelo contrário.
Jorge Soares
Imagem retirada de aqui
Eu para além de ter mau feitio, tenho um tom de voz elevado, muitas vezes a meio de uma conversa ou de uma discussão basta subir um bocadinho o tom para as pessoas acharem que eu estou chateado ou a gritar, na maioria das vezes não é o caso, mas já me senti prejudicado mais que uma vez por isso.
Ora tendo uma voz alta e três filhos que felizmente não primam pela perfeição, não é raro dar por mim a gritar com eles, e também já dei por mim mais que uma vez a pensar: "Como é que as pessoas conseguem não gritar?".
A primeira resposta é inevitavelmente uma pergunta: porque é que os os meus filhos não são normais? Eu gostava tanto de ter filhos com os que não fosse necessário gritar....
Evidentemente o assunto já foi tema de conversa mais de uma vez com a minha meia laranja, que também grita, principalmente quando se trata das desarrumações da R.
Por vezes tento conter-me e consigo durante dois ou três dias, mas quando temos um hiperactivo, uma cabeça no ar e uma teimosa, damos muitas vezes por nós a repetir as mesmas repreensões dia trás dia, e há um dia em que perdemos a cabeça e inevitavelmente terminamos aos gritos.
Pior mesmo é quando chegamos àquela fase em que eles já pensam e no meio da repreensão nos dizem: "Não é preciso gritar!!"... aí é quando eu me passo mesmo, tomo aquilo como um desafio à autoridade e elevando ainda mais a voz lhes respondo com um : "Eu falo contigo da maneira que entender e tu tens que me ouvir sem reclamar!"
Resta-me o consolo de saber que pelo menos cá no prédio não somos os únicos e quem tem filhos da idade dos nossos grita tanto como nós.. o que não quer dizer que seja correcto.
Há muitas teorias sobre o efeito dos gritos nas crianças, a mais comum diz que as crianças repetem na escola o comportamento que temos com eles e filhos de pais que gritam terminam a gritar com colegas e professores... se calhar é verdade... ou não! Comigo gritaram muito quando eu era pequeno, eu não gritava com os meus colegas e professores, mas agora grito com os meus filhos ... vale o que vale.
Este fim de semana no meio de uma enorme crise com os efeitos da hiperactividade do N. na escola, dei por mim a pensar que tenho que mudar, para começar não volto a gritar e se possível e eles me deixarem, quando for necessária alguma repreensão, vou tentar que em lugar de gritos as coisas se resolvam com conversas cordiais, educadas e construtivas.
Não faço ideia quanto tempo é que vou conseguir manter o desafio, isto vai ter que ser mesmo dia a dia, cá em casa há matéria prima suficiente para levar à loucura qualquer santo, será portanto um dia e um assunto de cada vez.
Ontem e hoje consegui, portanto: Número de dias sem gritar - 2
Jorge Soares
PS: No outro dia a Joana perguntava aqui como farão os outros pais para se controlarem, eu também me pergunto o mesmo.
Caros circunjacentes:
A minha preleção de hoje versa o palavrão em todas as suas aceções, o qual, segundo o dicionário Houaiss, pode ser considerado em três aspetos semânticos.
O mais popular, imediato e disseminado é o turpilóquio ou tabuísmo. Nesta forma torpe, explode, geralmente, boca fora, espontâneo e veemente, quando se é vilipendiado de maneira inopinada ou prepotente nas interações sociais. Sobrevém, amiúde, nas acrimónias do trânsito citadino, onde a peleja pelo espaço essencial do asfalto, faz colidir os interesses particulares. Então, nos píncaros da exaltação, aquilo que primeiro acode aos lábios, sem se subordinar a uma triagem nas circunvoluções da racionalidade, são considerações sobre as caraterísticas ou os hábitos excretais ou sexuais do pretenso agressor ou de algum membro da sua família. São expressões belicosas cuja significação pretende provocar algum constrangimento na autoestima do interlocutor acidental. Por exemplo: — Rastilho curto! — o que, como calculam, também achincalha o tamanho do autocontrolo dele.
No entanto, para atingir o adversário de maneira cruenta e implacável, o vitupério, não precisa coincidir, morfologicamente, com um vocábulo de semântica obscena. Para tanto, a entoação deve colmatar a escassez de ignomínia. Recordo aqui a forma irretorquível como concluí uma altercação de trânsito, que deixou o meu antagonista em estupor, como touro lidado: — Ó meu caro amigo: Vodafone!
A forma mais vulgarizada, todavia, é a de aconselhar o contendor a encetar determinada atividade, ou a deslocar-se para determinado local, diferentes dos atuais, e que, na opinião do fustigador, se adequam melhor às caraterísticas do enxovalhado. As notícias da política internacional são um manancial de expressões com sonoridades e construções ortográficas que sugerem conotações soezes e insultuosas. Aquando da guerra na ex-Jugoslávia, ouvi uma feirante verberar outra, nos seguintes termos: — Vai pà Bósnia, sua Herzegovina! Se fosse agora, talvez dissesse: — Vai Bachar al-Assad com ISIL, sua Pechmerga! — o que me parece de uma gravidade inquestionável. Ninguém merece ver-se confrontado com esta alternativa.
Outro significado de “palavrão”, este com alto grau de adequação, é “palavra grande e de pronúncia difícil”. Quando era mancebo, pensava que o maior palavrão da língua portuguesa era “inconstitucionalissimamente”, com 27 letras. Hoje, constato que o palavrão que me enchia de orgulho era apenas um palavrinho, como pénis de menino. O do pai chama-se Paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol, tem 43 letras e é uma substância farmacêutica. O do vizinho africano chama-se Pneumoultramicroscopicosilicovulcanoconiótico, tem 46 letras e significa “portador de uma doença pulmonar aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas”.
O mundo destes palavrões é atroz. Embaraça qualquer estudante de medicina, mas, sobretudo, aterroriza o portador da doença Hipopotomonstrosesquipedaliofobia, a qual — crueldade das crueldades — é a “doença psicológica que se carateriza pelo medo irracional de pronunciar palavras grandes ou complicadas”. Imaginem o pânico do doente de ser inquirido sobre a denominação da sua própria enfermidade!
Estes vocábulos escaganifobéticos parecem-me denunciar o pérfido subterfúgio de arquitetar termos complicados, pela mera acoplagem, numa mesma palavra, de outras muito mais curtas. Por esta técnica, também posso autoqualificar-me como Homemextremamenteatraenteinteligentedivertido, epíteto de que só não faço uso por abominar redundâncias.
A terceira aceção de “palavrão” é “expressão pomposa e empolada”. Não me ocorre, por ora, qualquer exemplo ilustrativo. Locuções grandiloquentes e/ou de sentido ininteligível estão afastadas do meu discurso, o qual, como foi patente, é sempre despretensioso e matizado apenas por vocábulos lhanos e percetíveis por todos.
Tenho dito!
Joaquim Bispo
Retirado de Samizdat
Imagem de aqui
Apesar de ter o tema adopção não ser muito comum por cá ultimamente, a verdade é que de vez em quando continuo a receber alguns emails com questões para as que nem sempre tenho resposta, esta semana recebi um que me pareceu pertinente e portanto decidi partilhar, haverá de certeza mais gente com as mesmas preocupações, então é assim:
Tenho XXX anos, sou solteiro e desde à uns dois anos que penso na adopção, tenho vindo a adiar esta decisão devido a estar a terminar um projecto de vida ... mas estando no final desta etapa da minha vida, comecei a pesquisar e encontrei uns artigos em blogs seus. Achei bastante interessante os artigos que li, até porque na opinião de alguns amigos próximos, é que é praticamente impossível para um Pai solteiro, no meu caso existe uma agravante, sou portador de .........., mas que até ao dia de hoje não tenho qualquer problema de .......
Trata-se de uma assunto sensível que terei de introduzir junto de alguma família próxima, pois por mais amor que tenha para dar não posso desprezar a opinião dos que me amam. Mas gostaria de saber a sua opinião, como doente crónico acha que é algo que me deve tirar a coragem ou nem por isso? Já ouviu falar de alguns casos de sucesso, onde doentes crónicos conseguiram adoptar?
Pelo que já tinha lido, verifiquei tal como refere num dos seus artigos que o processo burocrático é bastante simples, o que me assusta é a descriminação que poderei estar sujeito, não por mim porque com isso vivo bem, mas sim por poder me ser retirada a possibilidade de adopção.
Eis a minha resposta:
As questões são pertinentes, entre os pais adoptivos que conheço há pelo menos um com uma doença crónica, mas não é adopção singular.
Se a doença lhe deve tirar coragem para adoptar?, Só você pode responder, quanto a mim não é impedimento, se em lugar de adoptar decidisse ser pai biológico a doença seria impedimento para si? Se consegue ter uma vida normal e uma profissão, porque é que não há-de poder ser pai?
Quanto à discriminação, vai haver sempre, primeiro porque é adoptante singular e depois pela doença, os processos são geridos por pessoas e as assistentes sociais não são menos preconceituosas que o resto da sociedade, por vezes são até mais, mas de certeza que está habituado a lidar com isso no dia a dia, não será de certeza por aí que deverá desistir.
Se não me engano entre a papelada a apresentar na segurança social para a candidatura está um certificado médico, o meu conselho é que fale com o seu médico de família e/ou com o médico que o segue na sua doença e lhe coloque a questão directamente, se lhe passarem o certificado em como está apto a adoptar, avance com o processo, sem medo nem hesitações.
Jorge Soares
Letra
Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A Brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one
Hoje é para isto que está
Jorge Soares
Imagem do Público
Já passaram três semanas desde que era suposto começarem as aulas e mais de duas desde que Nuno Crato foi à Assembleia da República pedir desculpa pela trapalhada que foi a colocação dos professores contratados, nesta altura, repito, três semanas depois do inicio das aulas, a minha filha continua sem professor de matemática, e ela está com sorte, no Liceu de Setúbal há turmas do sétimo e oitavo ano onde faltam seis e sete professores.
Crato veio a público pedir desculpas, houve um director geral que se demitiu e afinal, de que serviu isso, de que serviram as desculpas se há escolas onde para além de não haver professores também não há funcionários suficientes e portanto só abrem durante a manhã ou durante a tarde?
Ministros que pedem desculpa é uma novidade, mas para ser sincero eu preferia que não tivesse havido demissões ou pedidos de desculpa e nesta altura todos os professores estivessem colocados e todas as escolas a funcionar, eu não quero saber das desculpas do senhor, quero é que a minha filha tenha aulas, tal como imagino que os professores queiram é estar colocados a tempo e horas e que tudo funcione nas escolas como deve ser.
Desde Junho que a minha filha, que transitou para o secundário, sabia a turma na em que iria ficar, o que me leva a pensar que desde Junho que o Liceu tinha as as turmas formadas e sabia dos professores que iria necessitar, porque é que os concursos são só em Setembro e as colocações saem na véspera ou depois das aulas começarem?
Se as escolas sabem desde meio de Setembro, quando era suposto começarem as aulas, quais as vagas que ficaram por preencher, porque é que só no inicio de Outubro se fazem os segundos concursos?
E como é que se explica que havendo mais de 40 mil professores desempregados, seja tão difícil encontrar um professor de Matemática para um horário completo num Liceu que fica no centro de Setúbal?
Para todas estas questões só pode haver uma resposta, incompetência por parte de quem gere todo este processo, eu não me lembro de um inicio de ano com tanta trapalhada como este.
Senhor ministro, não peça desculpa, reconheça que não consegue fazer o trabalho e dê lugar a quem consiga.
Jorge Soares