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Em Portugal até os VIP são poucos!

por Jorge Soares, em 26.03.15

vip.jpg

 

Imagem de aqui

 

Pouco a pouco vamos sabendo mais da já famosa lista VIP, hoje para além de ficarmos a saber que há até um relatório de uma auditoria que confirma preto no branco que a lista existe mesmo. Será que podemos voltar a chamar à comissão do parlamento aqueles senhores todos que estes dias juraram a pés juntos que não existia lista nenhuma? 

 

Todos ouvimos vários dos responsáveis da AT a dizer no parlamento que não havia lista nenhuma, a dúvida será, são só ignorantes e incompetentes ou simplesmente mentirosos? 

 

Entretanto o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, veio hoje garantir que “segundo as informações recolhidas pelo sindicato, a lista possuía quatro nomes”, a saber: Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva, Paulo Portas e Paulo Núncio.

 

Não deixa de ser curiosa a inclusão de Paulo Núncio na lista, porquê a inclusão de um secretário de estado de quem nunca ninguém tinha ouvido falar, eu pelo menos não tinha, e não a da ministra das finanças por exemplo? Será que ele se mandou colocar a si mesmo na lista e esqueceu a chefe?

 

Disto tudo concluímos que em Portugal somos pequeninos até nos VIPs, para o fisco eles quanto muito são quatro... vá lá, três e meio.

 

Jorge Soares

publicado às 22:05

Este senhor não estava na lista VIP...

por Jorge Soares, em 24.03.15

josevalente.jpg

 

Imagem do DN

 

O senhor ali da fotografia chama-se José Valente, tem 56 anos, está desempregado e agora ficou também sem casa.

 

José devia 800 Euros ao estado, como está desempregado não conseguiu pagar o IMI e portanto foi penhorado e a sua casa foi vendida em hasta pública.

 

É curioso, há umas semanas todos ouvimos falar das dívidas do senhor primeiro ministro à segurança social, que eram de uns milhares de Euros e não só prescreveram como nem sequer tiveram direito a aviso para o devedor. José não teve tanta sorte, no seu caso bastaram oitocentos euros para que a agora cega máquina do estado, levasse o pouco que restava da sua vida.

 

É claro que eu me congratulo com a eficiência do estado, sempre achei que um dos maiores problemas do país é a enorme quantidade de gente que apesar de poder, insiste em não cumprir com os seus deveres. Mas não percebo como é que o mesmo estado que parece ser  tão eficiente a cobrar a quem não tem (ver este outro caso), deixa depois passar fugas de milhões que terminam em contas da Suíça , ou como vimos no caso do primeiro ministro, deixa prescrever dívidas de milhares de Euros a políticos e representantes do estado que claramente podem pagar porque  gozam de todas as ajudas e prerrogativas inerentes aos cargos que ocupam ou ocuparam no passado.

 

A imagem com que ficamos de tudo isto é que cada vez mais somos um país de listas VIP de privilegiados  e dois pesos e duas medidas, um estado leve e suave para quem mais pode, um estado cego, pesado e implacável para quem menos pode.

 

A isto tudo devemos ainda juntar o ridículo de o estado, depois de pagar ao Banco o que faltava da casa, cobrar O IMI, as multas e as custas,  ter feito um lucro de mais de 17 000 Euros com a venda, lucro  que não se sabe muito bem para quem vai, sendo que pelos vistos para o seu legitimo dono não parece ir.

 

Será que um estado com os cofres cheios não será capaz de arranjar forma de evitar que se destruam vidas de pessoas por umas poucas centenas de Euros? 

 

Alguém me explica o que penhoraram aos senhores do BPN ou do BES que lesaram o estado em milhares de milhões de Euros.

 

Jorge Soares

publicado às 22:28

Qual é o verdadeiro problema da lista VIP?

por Jorge Soares, em 22.03.15

lista+VIP_bartoon.jpg

 

Imagem de aqui

 

Ouvi hoje algures que  o caso das lista de contribuintes VIP já chegou à procuradoria geral da república, o PS achou que havia ali matéria criminal e o PSD não se opôs... é bom saber que de vez em quando eles estão de acordo... veremos quanto tempo demora o caso a ser arquivado...

 

A mim não me estranha para nada que a dita lista exista mesmo, num país de doutores  e engenheiros é mais que evidente que para o estado e os seus funcionário, não é o mesmo quem paga milhões e/ou tem rabo de palha,  que quem com o fruto do seu trabalho paga umas centenas ou poucos milhares de Euros .

 

Pelo que percebi, e desde já peço desculpa se percebi mal, o objectivo da ditosa lista seria a de garantir a confidencialidade dos dados dos senhores e senhoras lá incluídas, ora, como informático fiquei com algumas duvidas:

 

Em primeiro lugar, como é que a existência de uma lista garante a confidencialidade do que quer que seja?

 

Em segundo lugar, o sistema informático da AT não deveria garantir a confidencialidade dos dados de todos os contribuintes por igual?

 

De resto, se o sistema não é seguro de que serve uma lista? Colocam os dados dos senhores e senhoras da lista noutro sistema mais seguro? Como é que a simples existência de uma lista de nomes impede o acesso aos dados?

 

O verdadeiro problema da existência da lista  não é a lista em si, o verdadeiro problema está em que pelos vistos o sistema informático onde estão os nossos dados fiscais não garante o controlo da informação e portanto é necessária uma lista de contribuintes VIP para os que existirão cuidados especiais.

 

Um sistema informático bem desenhado e implementado deveria garantir à partida a confidencialidade dos dados, se assim fosse não seria necessária nenhuma lista, bastava que o mesmo registasse quem, em que momento e desde que lugar, acedeu a que dados, para garantir o controle dos mesmos e para se evitar que estes fossem objecto de fugas de informação.

 

De resto o que eu acho que é verdadeiramente urgente não é esta discussão parva sobre se a lista existe ou não, é uma auditoria independente aos sistemas informáticos da AT, e já agora de outros serviços do estado, para esclarecer as muitas dúvidas que neste momento todos temos sobre a segurança e confidencialidade dos nossos dados.

 

Jorge Soares

publicado às 22:35

Conto - Uma conta que não fecha

por Jorge Soares, em 21.03.15

O NASCIMENTO DO MUNDO.jpg

 

O sangue. Esse delator maldito que navega arrogante por veias e artérias. É o sangue que vai lhe contar o que ele não quer saber. Quem ele não é; quem ele nunca foi. Que não é o primogênito de seus pais. Nem o irmão de seus irmãos. As sobrancelhas grossas como as do pai, o nariz alongado da mãe, o sinal sobre o ombro esquerdo: coincidências fabricadas à força do afeto. E ele não será o filho de mais ninguém. Somente um nada sem raízes próprias. Um pastiche.

 

O sangue vai mostrar que ele não serve, que não é compatível. Que num minuto é o provável doador para o seu pai e, no outro, apenas um desconhecido, uma conta que não fecha. E ele, que nunca se afasta dos fatos, não saberá o que fazer com os fatos: se confrontará a mãe ainda ali, no hospital precário, roubando para si uma cena que não é sua; se exigirá com urgência os detalhes da sua história desviada; se apenas perguntará por quê. 

 

Ele ainda não sabe que um estopim será aceso. No instante em que a mãe e os irmãos lhe pedirem que compreenda. Compreender é tudo o que ele não conseguirá. Ao contrário, será tomado por um deboche furioso. Uma vontade insana de chutar as portas frágeis da UTI onde o pai está deitado sem saber de nada. E de sacudir aquele homem que o enganou por tanto tempo. O pai paciente e amigo que o ensinou a assinar seu nome e sobrenome. E lhe mostrou as letras, os números, os mapas, os elementos, as constelações. O pai que lhe mostrou a vida por meio de uma prática respeitosa de atos sem voz. O pai que o levou para nadar, para andar a cavalo, para navegar no mar que ambos tanto amam. A quem entregou seus boletins escolares, suas dúvidas, suas discussões adolescentes, suas broncas com Deus, seus diplomas, suas paixões, seus argumentos. O homem que, ele ainda não sabe, será, brevemente, um estranho.

 

Ninguém devia saber assim, como ele saberá, que foi rejeitado. Por uma mulher quem nunca chamou de mãe. Que o jogou fora ou o entregou sob um pretexto qualquer; talvez, por dinheiro. Por um homem a quem nunca chamou de pai. Que sequer o conheceu ou que provavelmente nem tenha sabido que o fez existir. Ninguém devia se deparar com a própria história de repente. Não para descobrir que é uma história oca. Nem desse jeito, por acaso, por causa de um acidente de carro estúpido. O pai lançado de cabeça no asfalto; a falta de recursos da cidade pequena; a necessidade de uma transfusão; ele se oferecendo para doar, apesar da insistência estranha da mãe em lhe dizer que não precisa, que não precisa... Ele lendo na ficha do pai: sangue tipo A+. E se lembrando de que o sangue da mãe é O+, e de que o sangue dele é B-. Tudo isso antes que a voz apressada da enfermeira sentencie que o doador tem que ser da família ou alguém compatível. 

 

Um homem não devia ser lançado assim ao inferno. Cara ou coroa?, perguntam-lhe as atitudes. Desnorteio; e ele se reconduz, feto, ao útero de uma narrativa não escrita. Pertencimento; e ele volta, inteiro, à UTI onde há muito mais que sangue a ser doado. Porque sangue é uma conta que não fecha.

 

Cinthia Kriemler

Ilustração: O Nascimento do Mundo, Salvador Dalí

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:13

Hiperactividade - Sou um PHDA…

por Jorge Soares, em 19.03.15

 

As coisas não andam nada fáceis por estes lares, tudo o que já aconteceu com o N. desde Setembro até agora, dava para muitos posts... dava para um livro sobre a hiperactividade... a escola... os colégios, ... vai de aí e se calhar dá mesmo, quem sabe e não é desta que o blog passa para o papel e o escrevo ... ainda estamos em Março e tenho a certeza que vão haver mais capítulos... espera-se um final feliz.... talvez.

 

Entretanto hoje encontrei o seguinte texto neste blog, um texto que deveria ser de leitura obrigatória para todas as pessoas que de alguma forma lidam com crianças com PHDA... leiam e reflictam.

 

Sou um PHDA…

Se não sabe o que é, continue a ler…

 

PHDA é Perturbação de Hiperactividade e Deficit de Atenção. Sim, sou um daqueles tipos que não consegue ficar quieto nem estar muito tempo a fazer a mesma coisa. Sabem, um daqueles que passou a porra da infância a levar chapadas porque não se portava bem. Não que as chapadas resolvessem fosse o que fosse, era mais para aliviar quem as dava que para ajudar quem as recebia. No meu tempo, ah a velhice começa com estas palavras, não havia Ritalinas e Concertas e quejandos, não, o que havia e de sobra era palmadas, chapadas e promessas de sovas de cinto. A única real diferença é que as Ritalinas e afins têm uma duração maior.

 

Entretanto lá cresci. Agora, dizem, sou um adulto e as chapadas são outras.

 

Entretanto vou lendo por todo o lado que SE os PHDAs SE mantivessem atentos eram os maiores da cantareira… De uma das vezes deu-me para responder assim:

 

“Ela não é má aluna… se estivesse concentrada na escola seria até excelente…”

 

No meu entender, muito pessoal entenda-se, é este a base do problema da maioria dos pais de PHDAs, o SE.

 

Meus caros/as, não há nenhum SE. A única coisa a fazer é ajustar as expectativas. Pois, eu também vivia melhor SE me saísse o EuroMilhões. Como diz a vox populi, SE a minha avó não tivesse morrido ainda hoje estava viva.

 

Vejo este problema continuamente, seja aqui, em conversas no café, nas reuniões com os professores, em todo o lado. Sempre o malfadado SE. Os nossos filhotes não têm culpa das expectativas que colocámos neles. Não têm a obrigação de cumprir os sonhos de ninguém a não ser os deles, não têm de ser melhores que ninguém a não ser eles mesmos. No entanto, avaliamo-los segundo critérios que não são justos para eles. SE estivesse atento era o melhor aluno, SE escrevesse de forma que se lesse copiava tudo do quadro, SE decorasse a tabuada tinha boas notas, SE estivesse quieto não incomodava ninguém. Já todos dissémos e pensámos isto, somos TODOS culpados.

 

O facto é só um, eles não vão ficar mais atentos, eles não vão escrever melhor, não vão decorar e não vão ficar quietos. E não vão porque não querem, apenas porque não podem. É o mesmo que agora alguém vos exigisse que mudassem a cor dos olhos ou a altura das pernas.

 

Ajustem as vossas expectativas ao que os vossos adorados “diabinhos” SÃO, não o que alguém desejaria que ele/a fosse, seja quem for esse alguém.

 

Entendam que eles têm limites, entendam que eles têm capacidades, respeitem ambas.

 

Vamos por os “peixes” a nadar e deixar as árvores para os “macaquinhos”, tá bem?

 

Sempre a mesma treta, sempre a mesma conversa… SE o meu gato fosse um cão, ladrava.

 

Vamos lá a ver se a gente se entende, é muito bonito dizer, ah e tal SE fosses mais alto não eras tão baixo, pois como SE fosse eu que mandasse no crescimento das pernas. É exactamente o mesmo com os PHDA, nós não fazemos como os outros, PORQUE não somos como os outros. Não se trata de educação, não se trata sequer de medicação, os nossos cérebros, excelentes diga-se, trabalham de maneira diferente. Não, não servimos para tarefas repetitivas, não, não somos bons para decorar resmas de papel (se fosse para decorar eram de uso único), não, não somos capazes de estar anos a fazer o mesmo. Mas, dêm-nos uma tarefa criativa, dêm-nos espaço e liberdade para melhorar os processos repetitivos, dêm-nos liberdade de consulta em vez de nos pedirem que decoremos, e vão ver a diferença.

 

Em vez de nos exigirem que sejamos o que nunca seremos, dêm-nos antes espaço para sermos o que somos e adoramos ser.

publicado às 22:03

Carta de uma portuguesa Vip

por Jorge Soares, em 18.03.15

hinoaosócrates.jpg

 

Imagem de aqui

 

CARTA DE UMA PORTUGUESA VIP

 

Não contem comigo para deitar abaixo este pedacinho de céu. Não contem.

 

Há muito que reflito sobre esta matéria e parece-me que somos dos povos mais injustos que existem à face da terra. Desgraçadamente tontinhos, sem visão, e sem sabermos dar o devido valor aos valentes compatriotas que se chegaram à frente na condução deste país.


Falta perspetiva à nossa gente. Demasiado agarrada a pormenores.

 

Sofro com Cavaco. Estou desejosa que ele se reforme para, enfim, gozar o descanso que tão bem merece. Ele e a sua Maria, os dois, na marquise, a apanhar sol o dia todo, que dizem que faz muito bem à psoríase. Livre deste povo que nunca há-de reconhecer nem metade do que este santo homem fez pelo país. Nem metade!

 

Já para não falar do Portas, que tem uma mãe que é um amor, e que eu gostava muito de ver na paródia com o Mário Zambujal, naquilo do “ela diz e ele não” nas tardes da Júlia ou nas manhãs do Goucha, já nem sei. Mas mãe assim só podia parir filhos decentes e o Portas ainda vai aparecer, numa manhã de nevoeiro, montado num submarino, com uma velha às costas, a cantar a "garagem da vizinha". Aí é que lhe vão dar o devido valor.

 

Não gostaria de terminar este desabafo sem uma palavra de força ao senhor das finanças que criou a bolsa vip para nossa proteção. Porque isto é uma cambada de invejosos, toda a gente inveja o dinheiro de toda a gente, e ele agiu de boa-fé. Bem-haja.

 

E, como não podia deixar de ser, o meu coração está com Sócrates. Sempre Sócrates. O único. O Tal. O nosso. Estou agora a caminho de Évora, onde vou fazer greve de fome durante a noite, sentadinha num banco a ler a “Confiança no Mundo” e a rezar por ele. Para quem não conhece, deixo o hino. Eu fiz segunda voz e refrão. Modéstia à parte: acho que podíamos concorrer à eurovisão.

 

Grândola Vila Morena SEMPRE.

Maria da Silva

 

Vídeo do Hino ao José Sócrates: 

 

 

 

Retirado do Facebook da Carla 

publicado às 21:59

Fortunas de "Bordel"

por Jorge Soares, em 17.03.15

filomenabacelar.jpg

 

Imagem do DN

 

Os esquecimentos do Passos Coelho nas contas com a segurança social e o fisco, tinham vindo fazer esquecer o Swissleaks e os muitos milhões guardados na Suíça a bom recato das finanças portuguesas e dos seus cobradores de impostos. É claro que mais cedo que tarde teria que  que aparecer  outro caso qualquer que nos fizesse esquecer as más contas do primeiro ministro.

 

A senhora ali na fotografia chama-se Filomena Bacelar e segundo o seu perfil do Facebook é Inspectora das finanças desde 1990. Descobriu-se agora que entre ela e dois familiares, conseguiram acumular no HSBC a módica quantia de dois milhões e meio de dólares... sendo que destes 1,5 milhões correspondem à Filomena e o restante aos seus dois familiares.

 

Segundo o DN, O dinheiro em nome de Filomena Bacelar e dos seus familiares está ligado a duas offshores, a Pernell Enterprises Limited e a Bordel Investments Holdings Limited.

 

Gostava de perceber quem terá escolhido para uma empresa offshore o nome de Bordel Investiments.... também gostava de saber como é que uma inspectora das finanças consegue acumular 1,6 milhões de dólares, mesmo tendo entretanto passado por algumas empresas públicas....

 

Não faço ideia de quanto ganhará uma inspectora das finanças, mas tenho algumas duvidas que seja com o seu salário que ela tenha conseguido acumular uma fortuna deste tamanho.

 

É claro que ter-se (muito) dinheiro na Suíça não significa que este não seja legal, a senhora pode por exemplo ter ganho o totoloto, ou ter uma tia rica que lhe deixou uma herança, (também pode ter mesmo um bordel.... mas aí acho que já não seria legal) desde que exista uma explicação e o Bordel tenha pago os impostos correspondentes... todo o mundo é inocente até prova em contrário.

 

Já dizia o Bocage

 

O bordel Português

 

A vida é filha da puta

A puta, é filha da vida

Nunca vi tanto filho da puta

Na puta da minha vida

 

Manuel Maria Barbosa du Bocage

 

Jorge Soares

publicado às 22:36

 

Letra

 

Letra e música Rodrigo Guedes de Carvalho

Estou cansada -  ainda agora chorei tanto
Outra noite -  o terror andou à solta
Vai e volta e promete que não volta
Vai e volta e promete que não volta

Estou cansada  - chorei tanto outra vez
Outra vez a pensar que hoje talvez
Haja paz -  que o terror só vai não volta
Que a tua mão não se fecha contra mim

Estou cansada - não há fim nesta demência
Ou ciência que preveja que me mates
E quem bate depois chora e promete
Que não mais a mão se levanta fechada

Estou cansada - acho que não quero nada
Que não seja uma noite descansada
Sem ter medo ou chorar na almofada
Sem pensar no amor como uma espada

Tão cansada de remar contra a maré
O amor não é andar a pé na noite escura
Sempre segura que a tortura me espera
Insegura tão desfeita humilhada

Tão cansada de não dar luta à matança
À dança negra que me dizes que é amor
Que não concebes a tua vida sem mim
E que isto assim é normal numa paixão

E eu cansada nem sequer digo que não
Já não consigo que uma palavra te trave
Não tenho nada que não seja só pavor
Talvez o amor me espere noutra estrada
Mas tão cansada não consigo procurá-la
Já tão sem força de tentar não ser escrava
Já sei que hoje fico suspensa outra vez
Outra vez a pensar que hoje talvez…

 

 

Vozes: Aldina Duarte, Ana Bacalhau, Cuca Roseta, Gisela João, Manuela Azevedo, Marta Hugon, Rita Redshoes e Selma Uamusse.

Canção de sensibilização sobre violência doméstica, assinalando o 25º aniversário da APAV - Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

 

publicado às 23:44

Conto - De mãe para Filho

por Jorge Soares, em 14.03.15

demaeparafilho.jpg

 

Hoje é com você que quero falar, meu filho, e é pra você que escrevo.
 
Casei-me aos vinte e dois anos, você sabe, mas o que não sabe é que tinha mentalidade de quinze. Como à época era o que se esperava, queria filhos. Engravidei logo, mas quis o destino que o feto não vingasse e, por motivos que agora não vêm ao caso, não engravidei mais. Seis anos depois, meu casamento com seu pai por um fio, uma relação sexual esporádica e... Olha aí, eu grávida! Não era mais o que eu esperava ou queria. Pensava em me separar, outros sonhos, outros planos, tudo adiado.  E a gravidez não foi fácil. Passei nove meses enjoando. Enjoava de tudo e de todos. Comidas, rostos, cheiros, cigarros, cores, pastas de dente, escovas de cabelos, até do enxoval do bebê enjoava. Pra você ter uma ideia, fui para a sala de parto enjoando. Masquei montanhas de chicletes e li montanhas de livros sobre como cuidar de recém-nascido. Quanto mais eu lia, mais me apavorava. Tinha certeza absoluta que não daria conta. E é sobre isso que quero lhe falar, de como uma mãe sem vocação conseguiu, afinal, ser mãe. 
 
Há 42 anos, o dia cinco de março caiu numa segunda-feira de carnaval. Nesse dia, às 18h50, colocaram em meu colo um rebento forte, cabeludo, que mexia e se remexia, parecendo não saber como se acomodar e, confesso, ao olhar pra você, meu primeiro, décimo, centésimo, milésimo e milionésimo sentimento foi de pânico. Eu era, então, uma jovem confusa e despreparada, mas tive a exata noção da imensa responsabilidade que depositavam em minhas mãos, tão desastradas esses minhas mãos! Nem preciso dizer o que foram os primeiros meses, um verdadeiro “deus nos acuda” e, não fosse minha mãe, aquela santa da sua avó, sei lá se nos primeiros banhos você não teria se afogado, ou engasgado com as primeiras mamadeiras. Mas você, meu filho, era forte e resistiu bravamente a todas trapalhadas de sua mãe, transformando-se num lindo bebê que parava as pessoas na rua, admiradas com sua formosura. Certo que meu excesso de medo gerou um excesso de zelo que, por sua vez, gerou uma criança excessivamente limpa e bem cuidada. Contudo eu me questionava: por que aquela sensação de perda? Cadê aquele amor na minha incondicional dedicação? Eu não deveria estar padecendo num paraíso? Que paraíso era aquele que mais parecia um suplício? Que tipo de mãe eu era? Acho que nem preciso falar daquele sentimento antipático e irritante chamado “culpa” que tomou conta de mim, né? Eu continuava lendo, agora tudo o que existia sobre psicologia infantil. E, de novo, quanto mais lia, mais culpa e responsabilidade sentia. Rezei para todas as Madonas que conhecia e olha que são muitas. Nenhuma delas me deu qualquer resposta imediata. Até que um dia... Um “insight”, finalmente uma luz! Descobri que, desde a gestação, havia estabelecido com você um laço de, de... Obrigação talvez? Um encargo? Qualquer coisa que queira, mas não de naturalidade, não de amor. Então resolvi seguir minha intuição, chutar o balde e mudar tudo. Comecei, transferindo a culpa que sentia para toda a literatura que os entendidos no assunto me fizeram engolir e doei toda aquela porcaria. Deixei que o amor encolhido sob a carga de responsabilidade e culpa aflorasse, e vi que era bom.
 
Mesmo assim, foi aos trancos e barrancos que fui desempenhando meu papel de mãe, muitas vezes de maneira equivocada.  Mas você, filho, com sua alma antiga e sábia, parecia compreender minhas limitações e, muito provavelmente, por trás dos meus erros e defeitos, via a sombra gigantesca daquele amor que se mostrava, agora escancarado. O tempo foi passando e eu acompanhando passo a passo suas dificuldades. Sua obstinação e perseverança na busca de seus objetivos. Chorei com você suas derrotas, vibrei com você suas vitórias.
 
Hoje, olhando para trás e revivendo esses anos todos, constato impressionada que você nunca, nunca, mas nunca mesmo, teve qualquer gesto de impaciência, qualquer palavra áspera para comigo ou seu pai. Suas decepções conosco podiam, por vezes, se refletir em seu semblante ou nos seus olhos marejados, mas jamais se traduziram em qualquer atitude minimamente agressiva ou grosseira. Só agora me dou conta, filho, do quanto você me ensinou a ser uma pessoa melhor. Com você, e por você, aprendi o valor da renúncia, o valor da luta honesta e boa. Foi por você que aprendi a ser valente, a encarar as dificuldades de peito aberto, a lutar corajosamente pela nossa sobrevivência material e emocional. Só agora, filho, me dou conta do presente maravilhoso que me deram ao cair da tarde daquela segunda-feira de carnaval. Talvez tanto enjoo fosse o disfarce da espera ansiosa pelo nosso encontro. Talvez eu soubesse, sem saber, que você viria para me transformar, para me ensinar o valor da generosidade, para me mostrar que a vida só vale a pena ser vivida se houver desafios. Filho, você é muito. Você é um ser humano precioso e raro, daqueles que, quando a gente encontra, nos fazem acreditar em nossa natureza divina.
 
Então, hoje, no dia do seu aniversário, quando deveria lhe presentear, concluo que tenho mesmo é que lhe agradecer. Obrigada por sua presença e carinho sempre constantes. Obrigada por sua bondade, pela sua compreensão e tolerância. Obrigada pelo seu belíssimo caráter e integridade. Obrigada por me fazer ter vontade de levantar a cada manhã. Obrigada pelo meu coração dilatado de orgulho e admiração. Obrigada por fazer sentir-me mãe, ainda que sem vocação. Devo a você, a alegria de ser.
 
Quando você nasceu, filho, uma melodia estava prestes a começar. No início a afinação dos instrumentos irritava meus ouvidos. Mas quando - enfim afinados - os primeiros acordes soaram, uma magnífica melodia encheu os ares. Seu compasso tem marcado o ritmo de nossas vidas desde então. Tenho certeza que ela continuará vibrando vida a fora, através de seus filhos, dos filhos de seus filhos e assim por diante, por toda a eternidade. 
 
Deus lhe abençoe.
 
Cecília Maria De Luca
 
Retirado de Samizdat

publicado às 20:26

 

http://peticaopublica.com/?pi=PT76386

 

Há pouco havia mais de 116000 assinaturas na petição, de aquilo que me lembro quando há uns anos fizemos uma petição à assembleia da república, estas só são válidas quando incluem o numero do BI ou cartão do cidadão, o que nem é o caso ... mas também não importa muito. O que importa realmente é que em Portugal há desde há uns meses uma lei que pune quem faz este tipo de coisas, e espero sinceramente que todo o peso dessa lei caia sobre quem matou desta forma um animal que não fez mais que seguir a sua natureza.

 

Segundo o que li por aí, o assassino diz que disparou para o ar, era um tiro de aviso.... gostava de perceber como é que um disparo para o ar ceifa assim a vida de um ser vivo, como é que disparar para o ar faz com que toda a munição vá parar ao corpo do Simba? 

 

Jorge Soares

publicado às 22:32

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