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PedroPinto_TVI_FCPorto.jpg

 

Há excelentes jornalistas em Portugal, em todos os canais e em todas as áreas, depois há os que como este não se importam de levar os seus ódios pessoais e as suas frustrações para o emprego e não hesitam em os mostrar publicamente.

 

Pedro Pinto por terceira vez se aproveitou de estar a apresentar um telejornal para mostrar que tem um (cada vez mais) indisfarçável ódio pelo Futebol Clube do Porto. Pela terceira vez o senhor se aproveitou estar a apresentar noticias sobre este clube para mostrar o que lhe vai na alma.

 

Das vezes anteriores o trocadilho insultuoso tinha sido com o nome do clube, esta vez foi com o nome do treinador Julien Lopetegui que foi trocado para Lopetoqui.

 

À primeira podemos até achar que foi gafe, e até se pode tentar desculpar, mas à segunda e à terceira só podemos mesmo achar que é mesmo uma uma enorme falta de respeito para com o clube, todos os seus sócios e adeptos.

 

Este senhor não tem o mínimo respeito pela sua profissão, a empresa que lhe paga o salário e todos os espectadores que estão do lado de cá do ecrã.

 

Gostava de saber o que acha a TVI do profissionalismo deste senhor e porque insistem em ter na apresentação das noticias alguém que não tem respeito pelos espectadores e que insiste em insultar repetidamente uma boa parte destes.

 

Para quem quiser, dois dos vídeos estão aqui e aqui

 

Jorge Soares

publicado às 22:22

Alguém ouviu falar de educação gratuita?

por Jorge Soares, em 27.07.15

manuais escolares.jpg

 

Imagem de aqui

 

De modo a aproveitar as vantagens da compra pela net, a minha meia laranja esteve a encomendar os manuais escolares dos miúdos, uma no 11º, um no 9º e a mais nova no terceiro ano, o preço dos livros dos três ficou na módica quantia de quase 600 Euros... isto já com bónus e descontos....

 

Felizmente não é o caso por cá, mas imagino que para muitas famílias isto será o valor do subsidio de férias... pelo menos para aqueles que não tenham optado (obrigados ou não) pelos duodécimos.

 

Apesar de só terem passado dois anos desde que a mais velha passou pelo 9º ano, não há um livro dela que se aproveite para o irmão... isto faz algum sentido? Porque é que não há uma lei que garanta que os manuais são iguais para todas as escolas e tem que durar pelo menos  5 anos? Porque é que durante todo o percurso escolar dos meus filhos, apesar de só terem um ano escolar pelo meio, NUNCA foi possível aproveitar um manual que fosse?

Estamos em época de eleições, se alguém prometer colocar ordem nisto, juro que tem o meu voto.

 

É a isto que chamam educação gratuita?

 

Jorge Soares

publicado às 22:28

 

letra

 

Com um olhar de soslaio

não me vêem como eu sou

atracados na memória

com quem ando e ou me vou

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

não tem o que dizer

não tem o que dizer

não tem o que dizer

 

não sabem da minha vida

quem morreu e quem ficou

são doenças que descuram

que ninguém lhes segredou

 

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

nem sei que lhes dizer

nem sei que lhes dizer

nem sei que lhes dizer

 

Entre dentes especulam

onde vou e o que faço

não passam de vis criaturas

a quem nego o meu enlaço

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

nunca hão de saber

nunca hão de saber

nunca hão de saber

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

não tem o que dizer

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

nem sei que lhes dizer

 

e falam sobre mim

sem me conhecer

dizem que é assim

nunca hão de saber

nunca hão de saber

nunca hão de saber

nunca hão de saber

 

Vídeo da música "Prosas Mordazes", dos Lacre, numa parceria com a ASCUDT- Associação Sócio - Cultural Dos Deficientes De Trás -Os- Montes, Bragança.

 

Mais dos Lacre, aqui

publicado às 11:39

Conto - A boneca de Sal

por Jorge Soares, em 25.07.15

abonecadesal.jpg

era uma vez uma boneca de sal. após peregrinar por terras áridas, descobriu o mar e não conseguiu comprendê-lo. perguntou ao mar: “quem é você?”

e o mar respondeu: “sou o mar.”

“mas o que é o mar?”

e o mar respondeu: “o mar sou eu.”

“não entendo”, disse a boneca de sal, “mas gostaria muito de entender. como faço?”

o mar respondeu: “encoste em mim.”

então, a boneca de sal timidamente encostou no mar com as pontas dos dedos do pé. sentiu que começava a entender mas também sentiu que acabara de perder o pé, dissolvido na água.

“mar, o que você fez?!”

e o mar respondeu:

“eu te dei um pouco de entendimento e você me deu um pouco de você. para entender tudo, é necessário dar tudo.”

ansiosa pelo conhecimento, mas também com medo, a boneca de sal começou a entrar no mar. quanto mais entrava, e quanto mais se dissolvia, mais compreendia a enormidade do mar e da natureza, mas ainda faltava alguma coisa:

“afinal, o que é o mar?”

então, foi coberta por uma onda. em seu último momento de consciência individual, antes de diluir-se completamente na água, a boneca ainda conseguiu dizer:

“o mar… o mar sou eu!”

 

Alex Castro

retirado do Blog de Alex Castro

publicado às 21:13

Vem aí a Feira de Santiago ....

por Jorge Soares, em 23.07.15

feiradesantiago.jpg

 

 
A Feira começa amanhã.... e é por lá que me podem encontrar nos próximos dias 
 

O Parque de Santiago, na Avenida Emídio Graça, em Setúbal, recebe, entre os dias 24 de julho e 2 de agosto, mais uma edição da Feira de Sant’Iago. Ana Moura, Diogo Piçarra, Master Jake, Expensive Soul, Toy, GNR, Capicua e Amor Electro são os artistas principais dos dez dias de festa.

 

Cartaz completo da Feira de Sant’Iago 2015:

 

24 de julho

  • Susana Almeida
  • Mickael Salgado
  • Ana Moura

25 de julho

  • Cante Alentejano
  • Orquestra Filarmónica de Setúbal

26 de julho (Dia das Famílias)

  • Espetáculo de SID, Dudu e Winx
  • Radiophone

27 de julho

  • Low Budget
  • Diogo Piçarra

28 de julho

  • Master Jake

29 de julho

  • Expensive Soul

30 de julho

  • Toy

31 de julho

  • Loosense
  • Capicua

1 de agosto

  • GNR

2 de agosto

  • Conjuntoevinte
  • Amor Electro

Fonte A música Portuguesa

 

publicado às 22:23

facebook.jpg

 

Imagem do Público

 

Relação de Évora proíbe pais de publicarem fotos de filhos no Facebook

 

É o titulo da notícia no Público, mas poderia ser de outro jornal qualquer, porque foi assim que ela foi apresentada na maior parte dos jornais online. Um titulo que no mínimo podemos chamar de enganador, quando lemos a noticia percebemos que o tribunal proibiu aquela mãe de publicar fotografias da sua filha de 12 anos nas redes sociais, não os pais em geral de publicarem fotografias no Facebook.

 

Os tribunais não fazem as leis, quando muito tentam fazer com que elas se apliquem, e neste caso os juízes tentaram defender o direito à privacidade da menor ao impedir que a sua mãe publique imagens dela nas redes sociais, nada mais que isso.

 

Evidentemente não existem, nem faz sentido que existam, leis que impeçam os pais de mostrar fotografias dos seus filhos, já seja nas redes sociais ou de outra forma qualquer, se existissem, pelo menos metade dos pais que eu conheço estariam presos, porque o que mais se vê no Facebook, no instagram, nos blogs, etc., etc., é fotografias de crianças.

 

A maior parte das pessoas não tem ideia do alcance de uma fotografia publicada na net, nem faz ideia de que uma vez publicada foge completamente do seu controlo, além de que é quase impossível saber o que acontecerá com ela a seguir, é completamente impossível seguir o seu rasto ou simplesmente tentar apagá-la.

 

A maioria das pessoas acha que não há problema porque só publicam para os seus amigos, esquecem-se que qualquer um dos seus amigos a pode partilhar e a partir de ai qualquer amigo dos amigos, ou qualquer um no caso de essa pessoa não ter settings de privacidade activos, passa a ter acesso total à fotografia.

 

Além disso, o que é realmente um amigo no Facebook? Eu tenho 292 contactos no Facebook, a grande maioria são pessoas que conheço dos blogs ou das redes sociais e que nunca vi, muitas delas publicam fotografias dos seus filhos quase todos os dias, confiam em mim porque leram o meu blog ou eu sou amigo de um amigo deles no Facebook? Será que tem a noção que eu e muitos outros  como eu, que não fazem a menor ideia de quem são, temos acesso a essas fotografias e a todos os dados da vida delas que publicam?.. será isso bom senso?

 

Eu não sou dos que ache que há um sequestrador ou um pedófilo atrás de cada perfil do Facebook, mas nunca publico imagens dos meus filhos nas redes sociais, por uma questão de bom senso e, lá está, porque prezo e respeito a privacidade deles.

 

Como em tudo na vida, tem que haver bom senso, e era bom que os pais tivessem a noção real de que publicar uma fotografia na internet é como pegar nela e a atirar ao vento, pode cair ali aos nossos pés ou ser levada para muito longe e quem sabe às mãos e às motivações de quem.

 

Jorge Soares

 

PS:é claro que tudo isto é muito mais complicado quando falamos de crianças adoptadas, e aí o assunto pode ser mesmo muito sério.

publicado às 23:13

clifebarbosa.jpg

 

Imagem do Facebook de Clife Barbosa

 

Ser diferente não é um problema,

o problema é ser tratado de forma diferente

 

 

Eu não gosto de tatuagens, tal como não gosto de piercings, não gosto, logo não uso, mas isso não quer dizer que não entenda que existam pessoas que gostam e usam, infelizmente há neste mundo muita gente que mede os outros por si mesmo e não é capaz de entender que há lugar no mundo para todos e não há pior defeito que a intolerância.

 

O trecho seguinte foi retirado do Facebook de Clife Barbosa, que é senhor ali da fotografia acima, que como podemos ver, gosta de tatuagens.

 

"É com alguma tristeza que partilho isto com vocês, ou seja nós demos a inscrição da Mel num colégio para o próximo ano lectivo e asseguraram-nos que tínhamos vaga numa IPSS, o problema veio depois quando chegou aos ouvidos da directora que eu tatuava. Fomos contactados para uma reunião com a suposta educadora, afinal qual não foi o nosso espanto que a reunião era com a directora que fez logo cara de nojo quando viu os meus braços. Durante a reunião sempre com a mesma expressão a olhar para mim, e até comentou "pois essas tatuagens...", e perguntou se no primeiro ano não tínhamos ninguém para ficar com ela, por exemplo os avós, a qual pergunta à minha mulher respondeu que não, e a directora perguntou logo a seguir como não? " então? Não aceitaram o casamento foi?", ficamos chocados e sem fala praticamente para não dizer que nos deu uma proposta de mensalidade acima dos rendimentos que apresentamos porque era intenção não podermos pagar, para a Mel não ficar lá por eu estar tatuado!!"

 

Infelizmente, pelo menos que eu visse, ele não divulgou o nome da senhora ou da instituição, deveria, porque mais não seja para que mais ninguém seja sujeito a atitudes destas, estas coisas devem ser denunciadas com nome e apelido. Se virmos bem, a "senhora" inclusivamente cometeu pelo menos uma ilegalidade já que nas IPSS as mensalidades tem de ser calculadas com base nos rendimentos e evidentemente não podem variar de acordo com o número de tatuagens dos pais das crianças.

 

Há quem ache que somos um povo tolerante, depois acontecem estas coisas, e quando não é com as tatuagens é com as pessoas de cor, ou com os ciganos, ou com os emigrantes de leste, ou.... a verdade é que há muita gente que continua a viver noutro mundo, num mundo em que cada um julga os outros por si mesmo e em que quem as diferenças não existem... 

 

Quando é que as pessoas vão perceber não há problema nenhum na diferença, que o problema é tratarmos os outros  de forma diferente?

 

Jorge Soares

publicado às 21:59

mafaldaparemomundo.jpg

 

"De todo o exposto resumindo e concluindo, estar caído/inanimado a porta de um hospital ou de um cemitério e a mesma coisa se o caso for serio. A única diferença e que num caso já chegou ao destino.

De tudo isto só me deixa uma grande náusea, o resto e a vida que temos sem precisar de muitos comentários."

 

Comentário de um anónimo ao post (auto link) sobre a senhora caída na porta do hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro

 

De repente apetecia-me ficar por aqui, mas não sou de deixar coisas por dizer.

 

Talvez seja defeito meu, mas para mim se alguém está a precisar de ajuda, eu pelo menos tento ajudar, se esse alguém está caído no chão, então o mais certo é que  precisa mesmo de ajuda e aí não interessam as regras ou as normas, o meu dever como pessoa e cidadão é ajudar.

 

Se um profissional de saúde é avisado de que alguém está caído no chão e precisa de assistência, independentemente das regras, das normas ou das condições, esse profissional deve ajudar, pelo menos para se inteirar da gravidade do assunto e poder tomar decisões. Se não o faz, se antes de pensar no bem estar da pessoa em questão coloca o seu bem estar ou as regras do hospital, para mim esse profissional não cumpriu o seu dever principal nem como profissional de saúde nem como cidadão.

 

Pelos vistos há noticias que dizem que afinal a senhora não estaria assim tão grave, mesmo que seja verdade, médicos e enfermeiros só saberiam isso depois de lá irem.. e ainda não vi noticia nenhuma que diga que eles lá foram, numa coisa são unânimes todas as noticias, eles não foram lá, porque tinha que ser o 112 e/ou o INEM a resolver o assunto.

 

De resto como disse antes, regras ou não regras, normas ou não normas, a vida das pessoas deve estar sempre em primeiro lugar e não me parece que alguém tirar uns minutos para se inteirar do que passava lá fora, fosse fazer assim tanta diferença no funcionamento do hospital, até porque nas urgências costumam trabalhar várias pessoas ao mesmo tempo, e não me consta que tenha acontecido nenhuma catástrofe nesse dia no Barreiro como para estarem todas a salvar vidas ao mesmo tempo e sem poderem parar uns minutos. Por outro lado, neste caso ou noutro qualquer, esses minutos podiam fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém.

 

Não, não queremos que alguém estar caído/inanimado a porta de um hospital ou de um cemitério seja a mesma coisa.

 

É claro que a minha opinião vale tanto como outra qualquer e todas merecem respeito.

 

Jorge Soares

publicado às 22:35

Conto - Para impedir os Corvos

por Jorge Soares, em 18.07.15

corvos.JPG

 

 
No equipamento de som antigo, a valsa continua. Acompanha grotescamente o mergulho do corpo no ar. Os gritos histéricos das pessoas misturam-se à música que sai das caixas, criando um caos em tons agudos. A queda se acelera e, por um instante, ela sente medo. Mas volta depressa a confiar na rede que vai jogá-la para o alto e para o alto, até que não haja mais perigo. Para isso aquela rede velha e ressecada está lá, logo mais abaixo. Para impedir que ela desabe como uma boneca de pano. Em pouco tempo, vai sentir as cordas trançadas aparando as suas costas, empurrando-a para cima, salvando o seu corpo miúdo e treinado. E assim que passar o susto, aqueles gritos infernais se tornarão aplausos. Mas não. Há agora, também, choro e correria. Ela ouve. Mas só consegue enxergar uma névoa vermelha. 
 
Por que é que vocês não calam a boca? Eu estou bem. Não estou sentindo nada. Só não consigo me levantar. Por favor, por favor, sem gritos. A minha cabeça está doendo. Vai passar. Eu preciso me levantar para vocês verem como está tudo bem. Eu sei que consigo. Se não fosse esta dor insuportável nas costas, me tirando o ar, eu já estaria em pé. Já sei. Vou rolar o corpo na rede e... De quem é esse sangue? Eu não gosto de sangue! Eu quero sair daqui! Vamos, vamos! Só um esforço... Mas por que é que as minhas pernas estão assim, jogadas para o lado, tortas como as pernas de uma contorcionista? Eu tenho que fazer alguma coisa! Preciso me levantar desta rede cheia de... areia? Areia? Meu Deus, eu estou no chão!
 
O corpo dela desarticulado. A rede arrebentada como um ninho podre. Os olhos recusando a luz exagerada. E um sonho engraçado. Uma cama de areia escura, molhada, com cheiro adocicado. E ela sendo sugada por aquela gosma úmida. Ao redor do leito traiçoeiro, corvos de várias cores voando em todas as direções, excitados, gralhando fino. E, de repente, ela voando. Os corvos resgatando-a, com seus bicos fortes, da cama de areia molhada, puxando-a pelos braços, pelas pernas. E os sentidos se apagando em dor.
 
Um cavalo relincha irritado. É tudo o que ela precisa para voltar a estar no agora. Os olhos abertos no escuro do picadeiro vazio. Vazio como suas pernas. Ela desiste de lutar com os pensamentos. São os mesmos, há 20 anos. A cada vez que as lembranças se impõem, a cada vez que a febre, a ânsia e a dor no peito desafiam o esquecimento, ela revê o seu túmulo de areia. 
 
Foram os corvos que não a deixaram dormir naquela noite. E ela aceitou. E fingiu. E morreu sem se deitar. Mas não bastou. A pior morte quebra sem levar. Minando, humilhando o sentido do bom. E já é tão pouco o que há de bom. Apenas um bebê com as mãozinhas para o ar. Uma menina brincando de roda. Uma jovem recebendo o primeiro beijo. E ela acreditando que tem um pacto com a morte. Por 20 anos. Pagando cada tributo sem gemer, sem blasfemar. Uma troca justa. Ela, personagem do chão ensanguentado, da rede podre, deformada, inválida, tendo sido capaz de gerar descendência. Guardiã do bom. Mas o destino insiste em novamente aparecer. E as trilhas que deveriam se afastar retornam à arena. Carma obsceno.
 
Hoje, os corvos estão alertas. E os gritos histéricos querem voltar. Ensurdecedores. Há uma intenção de tudo outra vez. Por isso ela veio. Não que aguente olhar o picadeiro iluminado. Nem que consiga controlar a memória da dor. Ela veio se entender com a morte. Para livrar sua cria de uma sina imerecida. E quando o pé escorregar na barra, e quando a mão do parceiro falhar, e quando a malha colorida despencar em voo de serpentina, a rede firme se fará de útero. Haverá aplausos para a jovem trapezista. Flores entregues por um amante também jovem. E olhos de mãe. Guardiã.
 
Agora que o circo foi dormir, ela cumpre seu pacto. Entrega-se sem medo. Na cama de areia molhada, a morte se deita ao seu lado. E vigia. Para impedir os corvos. 
 
(este conto integra a antologia Respeitável Público — Histórias de circo e outras tragédias, Editora Penalux, 2015).

 

Cinthia Kriemler

 

Retirado de Samizdat

publicado às 21:13

mulherhospitaldobarreiro.gif

 Imagem da TVI 

 

"Caiu a cerca de 15 metros da porta do hospital do Barreiro e ficou ali à espera de assistência durante uma hora até que chegou o INEM"

 

É assim que começa a noticia da TVI, uma senhora de 64 anos caiu numa das rampas de acesso ao hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro,  e esteve uma hora no chão à espera de assistência,  nas urgências do Hospital recusaram sair a ajudar e disseram a quem tentou pedir ajuda que ligasse para o 112.

 

Não, não estamos em Abril e isto não aconteceu no dia das mentiras, é que se alguém me contasse uma coisa destas eu dizia que era mentira, até porque já todos ouvimos mais que uma vez que por lei todos somos obrigados a prestar assistência se passarmos por um acidente, se não o fizermos podemos ser julgados e condenados... se isso é válido para qualquer cidadão português, não deveria ser muito mais válido para profissionais da saúde?

 

Normas ou não normas, regras ou não regras, e de certeza que há uma norma ou uma regra que explica isto, como é que um médico ou um enfermeiro consegue justificar que foi informado da existência de alguém a necessitar de socorro ali mesmo ao lado e se negou a prestar auxilio?

 

O certo é que segundo a noticia, a assistência demorou quase uma hora e quando finalmente chegou, os bombeiros tiveram que entrar directamente para a reanimação devido ao estado grave em que já se encontrava a senhora.

 

Note-se no fim a senhora foi assistida nas mesmas urgências e pelas mesmas pessoas que antes se tinham negado a ir à porta ajudar, só que foram levadas pelos bombeiros até às urgências do hospital... Se por acaso a senhora tivesse falecido entretanto, de quem seria a responsabilidade? De ninguém? 

 

Mais que mostrar a situação em que se encontra o nosso sistema de saúde, isto fala da falta de consciência, de ética e de moral de alguns dos  profissionais de saúde que trabalham nos nossos hospitais e da falta da humanidade à que chegamos...

 

Que tipo de consciência terá um profissional de saúde que sabe que tem uma pessoa a necessitar de assistência a uma dúzia de  metros e segue a sua vida como se nada acontecesse? Será que esta gente não pode mesmo ser acusada de falta de assistência a pessoa ferida? Há leis neste país para isso... acho eu.

 

Jorge Soares

publicado às 21:55

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