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A guerra dos (aos) cartazes políticos

por Jorge Soares, em 13.08.15

cartazes.jpg

 

Imagem de aqui

 

Foi há cinco anos  que dei por mim um dia estupefacto a olhar para um cartaz de campanha à presidência da república com uma das minhas fotografias ao lado do nome do candidato, (ver este post), por isso consigo entender o que terão sentido as pessoas que apareciam nos cartazes do PS ao lado das frases sobre emigração ou desemprego em Portugal, que não tinham nada a ver com elas

 

Entretanto ficamos a saber que a coligação de governo recorre a fotografias compradas em bancos de imagens destinadas à publicidade para fazer os seus cartazes, a probabilidade de alguma das pessoas que aparecem nos cartazes ser portuguesa é mínima e evidentemente não tem nada a ver com as frases que as acompanham.

 

Os cartazes das campanhas políticas não passam de publicidade, para as agências de publicidade a politica não passa de um produto mais que se tenta vender, e tal como sabemos que as pessoas que aparecem nos outros anúncios muitas vezes nem gostam do que estão a vender, deveríamos saber que quem aparece nos cartazes dos políticos, nem sempre tem que acreditar no que vem lá escrito.

 

O que está errado nos cartazes do PS não é o facto de as pessoas não serem mesmo desempregadas ou emigrantes, é o facto de terem tirado as fotografias e não terem explicado às pessoas a que fim se destinavam.  Se eles tivessem ido buscar as fotografias ao banco de imagens onde foram os outros partidos, não tinha havido polémica, isto apesar de  as histórias continuarem a não ser reais.

 

Será que alguém que está desempregado à cinco anos estaria disposto a associar a sua cara e a sua história de vida a uma campanha politica de um partido sem ser a troco de nada? E acharíamos bem que um partido pagasse por histórias reais para colocar nos cartazes de campanha? O escândalo não seria o mesmo ou maior?

 

Entretanto as redes sociais tem estado a ser inundadas de imagens como as do topo do post que por acaso até retirei do site de um jornal, será que alguém pediu a Paulo Portas, ou a alguma das figuras públicas que aparece nas imagens, autorização para usarem a sua imagem nos "cartazes"?, É claro que não! 

 

Porque é que o que não é permitido aos partidos parece ser licito para o resto dos mortais que gosta de brincar com a situação? E se Paulo Portas decidisse cobrar direitos de imagem a cada pessoa que partilhou o cartaz acima?  (sim eu sei, também tinha que pagar a minha parte!)

 

Jorge Soares

publicado às 22:27

A lua

por Jorge Soares, em 10.08.15

A lua de Fernando Pessoa

 

A LUA (dizem os ingleses) 
É feita de queijo verde. 
Por mais que pense mil vezes 
Sempre uma idéia se perde.

 

E era essa, era,  era essa, 
Que haveria de salvar 
Minha alma da dor da pressa 
De... não sei se é desejar.

 

Sim, todos os meus reveses 
São de estar sentir pensando... 
A Lua (dizem os ingleses) 
É azul de quando em quando.

 

Fernando Pessoa

 

Parque Urbano de Albarquel, Setúbal

Julho de 2011

Jorge Soares

publicado às 22:06

ABANDONO.jpg

 

Ainda na infância, aqueles amigos umbilicais descobriram-se apaixonados. Juraram-se, acreditaram-se, o relógio adiantou ponteiros, anelaram-se, casaram-se.

 

Os anos passaram apressados: o desejo queimou o primeiro; a sede bebeu o segundo; a fome comeu o terceiro. Quatro anos e as bocas frias ruminavam; os corpos gritavam em silêncio pelo pequeno corpo que não lhes chegava. À  parteira, menos um  luz para mostrar; ao padre, uma falta na pia batismal no domingo; ao Mundo, uma ideia negada; ao casal, uma chupeta e dois pesinhos para medir os limites da casa.

 

Não queriam adquirir choro que não lhe fosse proveniente dos próprios olhos. Acreditavam que, com isso, teriam de se acostumar à vereda que o pequeno desconhecido traria desenhada. Todos os planos davam para um filho; todos os meses davam para o fracasso.

 

Uma noite, enquanto viam TV na sala, escutaram um choro primário vindo do jardim. Sufocado entre flores e espinhos, formigas e grama úmida, chegou a casa aquele minúsculo ser de olhos ainda fechados.

 

E por ali descobriu para que servem os pés, subiu as escadas, dormiu sozinho, espremeu a primeira espinha, dormiu junto a uma estranha sorrateira, desceu para ser calouro, subiu com o diploma, beijou os pais, partiu para longe, encontrou o útero que lhe fermentou, libertou-o da prisão, ofereceu-lhe casa, chama-o carinhosamente de“mãe”.

 

Longe dali, um par de cabelos brancos, ainda de luto, lamenta o que poderia ter sido, e foi.

 

Lúcia Costa

Retirado de Conto Outra

publicado às 21:13

Não queremos esquecer Hiroxima

por Jorge Soares, em 06.08.15

hiroshima.jpg

 

Imagem do Expresso

 

Hoje passaram 70 anos sobre o dia em que o Enola Gay, um avião bombardeiro americano, lançou a bomba atómica sobre Hiroxima. Foi a 6 de Agosto de 1945, calcula-se que naquele dia tenham morrido em Hiroxima perto de 60.000 pessoas e que durante os dois meses seguintes a cifra tenha chegado a mais de 100.000, o mundo nunca voltaria a ser o mesmo.

 

À bomba sobre Hiroxima seguiu-se poucos dias depois uma segunda sobre Nagazaki, estas bombas para além de forçarem a rendição do Japão e o fim da segunda guerra mundial, ditaram o inicio de uma nova e diferente ordem mundial. Russos e Americanos que   se uniram para derrotar alemães e japoneses tornaram-se inimigos viscerais, de uma certa forma dividiram o mundo entre si e entraram numa desenfreada corrida pelo domínio das armas atómicas que por mais que uma vez esteve a ponto de por fim ao mundo tal como o conhecemos.

 

Apesar da queda do muro Berlim que dividia o mundo entre Americanos e Soviéticos e dos vários tratados que levaram à diminuição dos arsenais atómicos, hoje em dia continuam a existir milhares de bombas atómicas de vários tipos, cada uma de elas com um poder de destruição várias vezes maior que as de Hiroxima e Nagazaki. Um arsenal mais que suficiente para destruir por completo a humanidade.

 

Com a queda do muro de Berlim a nossa percepção sobre este assunto mudou e tudo isto parece distante, mas nem sempre foi assim, lembro-me de ser criança e ter a percepção do perigo que significava o equilíbrio precário que se vivia na guerra fria, passados todos estes anos ainda recordo o medo que tinha, e que não sei bem como começou, a que alguém simplesmente carregasse no botão errado e desatassem a chover bombas atómicas.

 

O ser humano tem a memória curta e tem a tendência a repetir os erros do passado, hoje ainda foi possível ver e ouvir algumas pessoas que testemunharam ao vivo o que aconteceu em Hiroxima, mas não tardará muito a que não reste ninguém para contar, com o tempo será só uma página na história... era bom que não voltasse a passar disso, era bom que a humanidade não esquecesse  Hiroxima.

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:25

A vida é tão simples que ninguém a entende

por Jorge Soares, em 05.08.15

Simples

 

Imagem minha do Momentos e Olhares

  

- Mas você, Zeca: é que nem faz ideia da vida.
- A vida, Dona Luarmina? A vida é tão simples que ninguém a entende. É como dizia meu avô Celestiano sobre pensarmos Deus ou não-Deus...
 
Além disso, pensar traz muita pedra e pouco caminho. Por isso eu, um reformado do mar o que me resta fazer? Dispensado de pescar, me dispenso de pensar. Aprendi nos muitos anos de pescaria: o tempo anda por onda. A gente tem é que ficar levezinho e sempre apanha boleia numa dessas ondeações.
 
Mia Couto, in Mar me quer, Caminho, 2013
 
 
Fotografia tirada algures nos caminhos da minha infância
Alviães, Oliveira de Azemeis
Junho de 2014
Jorge Soares

publicado às 22:37

Os ricos também se casam!

por Jorge Soares, em 04.08.15

jorgemendesecristianoronaldo.jpg

 

Imagem de aqui

 

Está aberta a Silly Season (é assim que isto se escreve?) , estamos no verão, o futebol ainda não começou, São Bento está fechado e os políticos estão a banhos, imagino a dor de cabeça que isto deve ser para os chefes de redacção dos meios de comunicação... pelo menos para aqueles (poucos) que ainda não vivem das exclusivas do paparazzis.

 

A noticia do fim de semana foi o casamento do senhor "dono do futebol todo" (este não é banqueiro!), Jorge Mendes casou-se e como bom português que é, escolheu a sua terra para o fazer,  e como não presume de ser pobre, decidiu fazer a coisa mesmo em grande.

 

Dizem os senhores jornalistas que a boda terá saído pele módica quantia de 500 mil Euros, mais coisa menos coisa, Só para alugar Serralves terão sido 100 000 Euros.

 

Entretanto passei os dois últimos dias a ler criticas, há muita gente escandalizada porque em tempo de crise se gaste rios de dinheiro num casamento, e muita gente escandalizada porque Cristiano Ronaldo deu de presente ao homem que de forma tão brilhante tem gerido a sua carreira, uma ilha grega. Muita gente escandalizada porque se fechou Serralves, e muita gente escandalizada porque naquele dia não pode ir à missa... e muita gente escandalizada porque...  fartei-me de ler epítetos como: "saloio", "provinciano", "parolos" ...cá para mim há muita gente com inveja....

 

Eu gostava de perceber a mentalidade do povo português, o homem tem um enorme sucesso, é o melhor naquilo que faz e por isso ganha montes de dinheiro, queriam o quê? Que se escondesse para se casar?

 

A maior parte do povinho que não tem 1% do dinheiro que ele tem, quando se casa leva  pelo menos metade dos convidados que ele levou, há quem convide os primos até ao 5 grau mais o cão e o gato e leve mais que ele... quem é que é que é mesmo  parolo? Ele, ou quem gasta o que não tem só para mostrar?

 

Li algures que todo o dinheiro recebido em presentes pelo Jorge Mendes seria distribuído por instituições sociais do norte do país, a maioria dos noivos da classe média e pobre, passa a cerimónia a rezar por envelopes recheados para poder ir de lua de mel para o México ou a Republica Dominicana... e mesmo assim há quem fique a dever parte da viagem... e ele é que é saloio?

 

O homem tem milhões e gastou cem mil Euros em Serralves, há muito boa gente que deixa os pais empenhados para pagar a boda na quinta de moda... e ele é que é parolo?

 

O homem escolheu o seu país para se casar, contribuiu e de que forma para a economia nacional, deu uma enorme ajuda ao orçamento de Serralves e no fim é criticado? Mas o que é que o resto do mundo tem a ver com o que ele gasta ou não no casamento?

 

E já agora, não é por estarmos em crise que ele deve deixar de gastar, é ao contrário, este dinheiro todo que ele gastou é muito bom para a economia do Porto.. e ter dinheiro não é vergonha nenhuma, vergonha é não ter e fingir que se tem, que é o que acontece numa grande parte dos milhares de casamentos que se celebram todos os fins de semana por esse país fora.

 

Malta, quem trabalha e de forma honesta ganha dinheiro, não tem porque ter vergonha de se mostrar, isso é para quem tem problemas de consciência ou coisas a esconder e sabem uma coisa? Os ricos também se casam!

 

Jorge Soares

 

PS:Não, eu quando me casei não levei centenas de convidados, foi assim mais para as duas dezenas, e nem foi só porque a coisa saía cara , foi porque eu detesto mesmo festas de casamento, mas não invejo quem gosta... 

publicado às 23:10

Conto - Uma amizade sincera

por Jorge Soares, em 01.08.15

AMIGOS.jpg

 

Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de uma amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.

 

Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seu amores. Experimentávamos ficar calados – mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos.

 

Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes.

 

Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.

 

Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto – eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.

 

Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.

 

 

 

Clarice Lispector

Retirado de Conti Outra

publicado às 21:13


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