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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
Foi há cinco anos que dei por mim um dia estupefacto a olhar para um cartaz de campanha à presidência da república com uma das minhas fotografias ao lado do nome do candidato, (ver este post), por isso consigo entender o que terão sentido as pessoas que apareciam nos cartazes do PS ao lado das frases sobre emigração ou desemprego em Portugal, que não tinham nada a ver com elas
Entretanto ficamos a saber que a coligação de governo recorre a fotografias compradas em bancos de imagens destinadas à publicidade para fazer os seus cartazes, a probabilidade de alguma das pessoas que aparecem nos cartazes ser portuguesa é mínima e evidentemente não tem nada a ver com as frases que as acompanham.
Os cartazes das campanhas políticas não passam de publicidade, para as agências de publicidade a politica não passa de um produto mais que se tenta vender, e tal como sabemos que as pessoas que aparecem nos outros anúncios muitas vezes nem gostam do que estão a vender, deveríamos saber que quem aparece nos cartazes dos políticos, nem sempre tem que acreditar no que vem lá escrito.
O que está errado nos cartazes do PS não é o facto de as pessoas não serem mesmo desempregadas ou emigrantes, é o facto de terem tirado as fotografias e não terem explicado às pessoas a que fim se destinavam. Se eles tivessem ido buscar as fotografias ao banco de imagens onde foram os outros partidos, não tinha havido polémica, isto apesar de as histórias continuarem a não ser reais.
Será que alguém que está desempregado à cinco anos estaria disposto a associar a sua cara e a sua história de vida a uma campanha politica de um partido sem ser a troco de nada? E acharíamos bem que um partido pagasse por histórias reais para colocar nos cartazes de campanha? O escândalo não seria o mesmo ou maior?
Entretanto as redes sociais tem estado a ser inundadas de imagens como as do topo do post que por acaso até retirei do site de um jornal, será que alguém pediu a Paulo Portas, ou a alguma das figuras públicas que aparece nas imagens, autorização para usarem a sua imagem nos "cartazes"?, É claro que não!
Porque é que o que não é permitido aos partidos parece ser licito para o resto dos mortais que gosta de brincar com a situação? E se Paulo Portas decidisse cobrar direitos de imagem a cada pessoa que partilhou o cartaz acima? (sim eu sei, também tinha que pagar a minha parte!)
Jorge Soares
A LUA (dizem os ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma idéia se perde.
E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.
Sim, todos os meus reveses
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando.
Fernando Pessoa
Parque Urbano de Albarquel, Setúbal
Julho de 2011
Jorge Soares
Ainda na infância, aqueles amigos umbilicais descobriram-se apaixonados. Juraram-se, acreditaram-se, o relógio adiantou ponteiros, anelaram-se, casaram-se.
Os anos passaram apressados: o desejo queimou o primeiro; a sede bebeu o segundo; a fome comeu o terceiro. Quatro anos e as bocas frias ruminavam; os corpos gritavam em silêncio pelo pequeno corpo que não lhes chegava. À parteira, menos um luz para mostrar; ao padre, uma falta na pia batismal no domingo; ao Mundo, uma ideia negada; ao casal, uma chupeta e dois pesinhos para medir os limites da casa.
Não queriam adquirir choro que não lhe fosse proveniente dos próprios olhos. Acreditavam que, com isso, teriam de se acostumar à vereda que o pequeno desconhecido traria desenhada. Todos os planos davam para um filho; todos os meses davam para o fracasso.
Uma noite, enquanto viam TV na sala, escutaram um choro primário vindo do jardim. Sufocado entre flores e espinhos, formigas e grama úmida, chegou a casa aquele minúsculo ser de olhos ainda fechados.
E por ali descobriu para que servem os pés, subiu as escadas, dormiu sozinho, espremeu a primeira espinha, dormiu junto a uma estranha sorrateira, desceu para ser calouro, subiu com o diploma, beijou os pais, partiu para longe, encontrou o útero que lhe fermentou, libertou-o da prisão, ofereceu-lhe casa, chama-o carinhosamente de“mãe”.
Longe dali, um par de cabelos brancos, ainda de luto, lamenta o que poderia ter sido, e foi.
Lúcia Costa
Retirado de Conto Outra
Imagem do Expresso
Hoje passaram 70 anos sobre o dia em que o Enola Gay, um avião bombardeiro americano, lançou a bomba atómica sobre Hiroxima. Foi a 6 de Agosto de 1945, calcula-se que naquele dia tenham morrido em Hiroxima perto de 60.000 pessoas e que durante os dois meses seguintes a cifra tenha chegado a mais de 100.000, o mundo nunca voltaria a ser o mesmo.
À bomba sobre Hiroxima seguiu-se poucos dias depois uma segunda sobre Nagazaki, estas bombas para além de forçarem a rendição do Japão e o fim da segunda guerra mundial, ditaram o inicio de uma nova e diferente ordem mundial. Russos e Americanos que se uniram para derrotar alemães e japoneses tornaram-se inimigos viscerais, de uma certa forma dividiram o mundo entre si e entraram numa desenfreada corrida pelo domínio das armas atómicas que por mais que uma vez esteve a ponto de por fim ao mundo tal como o conhecemos.
Apesar da queda do muro Berlim que dividia o mundo entre Americanos e Soviéticos e dos vários tratados que levaram à diminuição dos arsenais atómicos, hoje em dia continuam a existir milhares de bombas atómicas de vários tipos, cada uma de elas com um poder de destruição várias vezes maior que as de Hiroxima e Nagazaki. Um arsenal mais que suficiente para destruir por completo a humanidade.
Com a queda do muro de Berlim a nossa percepção sobre este assunto mudou e tudo isto parece distante, mas nem sempre foi assim, lembro-me de ser criança e ter a percepção do perigo que significava o equilíbrio precário que se vivia na guerra fria, passados todos estes anos ainda recordo o medo que tinha, e que não sei bem como começou, a que alguém simplesmente carregasse no botão errado e desatassem a chover bombas atómicas.
O ser humano tem a memória curta e tem a tendência a repetir os erros do passado, hoje ainda foi possível ver e ouvir algumas pessoas que testemunharam ao vivo o que aconteceu em Hiroxima, mas não tardará muito a que não reste ninguém para contar, com o tempo será só uma página na história... era bom que não voltasse a passar disso, era bom que a humanidade não esquecesse Hiroxima.
Jorge Soares
Imagem minha do Momentos e Olhares
Imagem de aqui
Está aberta a Silly Season (é assim que isto se escreve?) , estamos no verão, o futebol ainda não começou, São Bento está fechado e os políticos estão a banhos, imagino a dor de cabeça que isto deve ser para os chefes de redacção dos meios de comunicação... pelo menos para aqueles (poucos) que ainda não vivem das exclusivas do paparazzis.
A noticia do fim de semana foi o casamento do senhor "dono do futebol todo" (este não é banqueiro!), Jorge Mendes casou-se e como bom português que é, escolheu a sua terra para o fazer, e como não presume de ser pobre, decidiu fazer a coisa mesmo em grande.
Dizem os senhores jornalistas que a boda terá saído pele módica quantia de 500 mil Euros, mais coisa menos coisa, Só para alugar Serralves terão sido 100 000 Euros.
Entretanto passei os dois últimos dias a ler criticas, há muita gente escandalizada porque em tempo de crise se gaste rios de dinheiro num casamento, e muita gente escandalizada porque Cristiano Ronaldo deu de presente ao homem que de forma tão brilhante tem gerido a sua carreira, uma ilha grega. Muita gente escandalizada porque se fechou Serralves, e muita gente escandalizada porque naquele dia não pode ir à missa... e muita gente escandalizada porque... fartei-me de ler epítetos como: "saloio", "provinciano", "parolos" ...cá para mim há muita gente com inveja....
Eu gostava de perceber a mentalidade do povo português, o homem tem um enorme sucesso, é o melhor naquilo que faz e por isso ganha montes de dinheiro, queriam o quê? Que se escondesse para se casar?
A maior parte do povinho que não tem 1% do dinheiro que ele tem, quando se casa leva pelo menos metade dos convidados que ele levou, há quem convide os primos até ao 5 grau mais o cão e o gato e leve mais que ele... quem é que é que é mesmo parolo? Ele, ou quem gasta o que não tem só para mostrar?
Li algures que todo o dinheiro recebido em presentes pelo Jorge Mendes seria distribuído por instituições sociais do norte do país, a maioria dos noivos da classe média e pobre, passa a cerimónia a rezar por envelopes recheados para poder ir de lua de mel para o México ou a Republica Dominicana... e mesmo assim há quem fique a dever parte da viagem... e ele é que é saloio?
O homem tem milhões e gastou cem mil Euros em Serralves, há muito boa gente que deixa os pais empenhados para pagar a boda na quinta de moda... e ele é que é parolo?
O homem escolheu o seu país para se casar, contribuiu e de que forma para a economia nacional, deu uma enorme ajuda ao orçamento de Serralves e no fim é criticado? Mas o que é que o resto do mundo tem a ver com o que ele gasta ou não no casamento?
E já agora, não é por estarmos em crise que ele deve deixar de gastar, é ao contrário, este dinheiro todo que ele gastou é muito bom para a economia do Porto.. e ter dinheiro não é vergonha nenhuma, vergonha é não ter e fingir que se tem, que é o que acontece numa grande parte dos milhares de casamentos que se celebram todos os fins de semana por esse país fora.
Malta, quem trabalha e de forma honesta ganha dinheiro, não tem porque ter vergonha de se mostrar, isso é para quem tem problemas de consciência ou coisas a esconder e sabem uma coisa? Os ricos também se casam!
Jorge Soares
PS:Não, eu quando me casei não levei centenas de convidados, foi assim mais para as duas dezenas, e nem foi só porque a coisa saía cara , foi porque eu detesto mesmo festas de casamento, mas não invejo quem gosta...
Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de uma amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.
Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seu amores. Experimentávamos ficar calados – mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos.
Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes.
Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.
Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto – eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.
Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.
Clarice Lispector
Retirado de Conti Outra