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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Facebook
Democracia é a forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo.
"um tribunal de Luanda condenou a penas entre dois anos e três meses e oito anos e seis meses de prisão efectiva 17 activistas angolanos" os jovens activistas foram detidos a 20 de Junho do ano passado, rejeitaram sempre as acusações que lhes foram imputadas e declararam em tribunal que os encontros semanais promoviam a discussão política e não qualquer acção violenta para derrubar o regime.
Hoje na assembleia da República o PS e o Bloco de esquerda apresentaram a votação moções que condenavam a prisão dos 17 jovens. Ambas foram chumbadas com os votos contra do PCP, do PSD e do CDS, os três partidos consideraram estas moções uma ingerência na vida interna daquele país.
Não deixa de ser curioso ouvir falar de ingerência na vida interna de um país aos deputados de dois partidos que nos últimos 4 anos governaram Portugal, seguindo à risca e sem desvios, um guião que para além de ser ditado por instituições estrangeiras era rigorosamente controlado de três em três meses por funcionários menores dessas instituições.
Acho que não restam dúvidas a ninguém que estes 17 jovens agora condenados a penas que vão até aos 8 anos, são para todos os efeitos presos políticos. O ano passado estes mesmos partidos votaram a favor da condenação da Arábia Saudita pela prisão e as chicotadas ao bloguer Raif Badawi. Alguém consegue ver a diferença entre os presos políticos da Arábia Saudita e os de Angola? Condenar a Arábia Saudita não era ingerência e condenar Angola é? Em 2003, num caso idêntico ao angolano, o PSD condenou a prisão de 12 opositores ao regime cubano.Onde está a coerência?
Sabemos que o PCP é próximo do partido que governa Angola e a forma como costumam pensar, mas será que haverá mesmo no PSD e no CDS algum deputado que acredite na mensagem que passaram hoje no parlamento? Não me parece que seja assim tão difícil entender a diferença entre condenação e ingerência... será que os senhores deputados tem consciência? E vergonha, terão?
Jorge Soares
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O título é plagiado do livro da Sónia (Ver aqui) mas assenta que nem uma luva a Marcelo Rebelo de Sousa, temos mesmo um presidente diferente.
Hoje, à hora do chá e não no prime time como era costume, o Presidente falou ao país e de uma forma simples e sem muitos rodeios, explicou aos portugueses que o governo apresentou um orçamento que para além de ser de consensos e agradar a gregos (Europa) e troianos (governo e partidos que o apoiam), é constitucional, tem um forte cariz social e assim seja o governo rigoroso na sua implementação, é perfeitamente factível.
Assim, sem grandes dramas ou lições de moral, simples, directo e numa linguagem acessível a quem quiser entender.
O homem pode ser hiperactivo e até um cata-vento, mas não há dúvida que sabe ao que vai e como chegar ao povo.
Jorge Soares
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Reza a lenda que o ditado tem origem na antiga Roma, Pompeia, a bela e jovem Mulher do imperador Júlio César, tinha um admirador chamado Clódio, um dia, para conseguir ludibriar a vigilância e chegar perto de Pompeia, Clódio disfarçou-se de mulher para entrar no palácio e chegar perto da sua admirada, aparentemente antes de conseguir os seus propósitos foi descoberto, levado a tribunal, julgado e absolvido.
Durante o processo Júlio César em público sempre apoiou a sua mulher, defendendo a sua inocência, mas em privado repudiou-a. Quando questionado sobre o motivo do repudio apesar da absolvição, ele terá dito:
"À mulher de César não lhe basta ser honesta, tem de parecer honesta"
A semana Passada Lula da Silva foi levado a tribunal para investigação num alegado envolvimento no Caso Lava Jacto e será suspeito de corrupção e favorecimentos. Após o interrogatório e ante a perspectiva da possível prisão preventiva, Dilma Russef terá sugerido a hipótese de nomear Lula membro do governo de forma a forçar a mudança de jurisdição do tribunal que investiga o caso para um tribunal superior federal, o que na prática se traduz quase em imunidade. Hoje ficamos a saber que Lula terá aceite entrar para o governo.
Não faço ideia se Lula será inocente ou não, mas convenhamos que ao aceitar este cargo no mínimo fica mal na fotografia, à distância e lendo as noticias nos vários jornais, a ideia que passa é que ele só entra para o governo para fugir à investigação e usufruir do privilégio de ser investigado por um tribunal que será mais amigável.
Já dizia a minha avó, "Quem não deve não teme", se realmente Lula está inocente porque precisa destes estratagemas para fugir à investigação? Eu percebo que Dilma esteja solidária com o seu antecessor e correligionário, e até que lhe dê apoio moral, mas qual a imagem que fica de uma presidente da República quando ela sugere dar guarida desta forma a alguém que está a ser investigado por corrupção?
Pelos vistos nem Lula nem Dilma conhecem o ditado sobre a mulher de César,
Jorge Soares
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A primeira imagem de Nicolau Breyner que guardo na memória é dele a gritar "Ó Mário, pisca para a esquerda" num anuncio da prevenção rodoviária portuguesa que algures pouco tempo depois do 25 de Abril pretendia ensinar a facilitar as ultrapassagens na estrada.
Durante os dez anos que estive fora de portugal perdi-lhe o rastro, mas quando a meio da década dos oitenta ouvi falar da primeira telenovela portuguesa, lá estava ele, como não podia deixar de ser.
Diz-se que morreu hoje, não é verdade, Nicolau Breyner faz parte do imaginário de todos os portugueses, o seu nome é sinónimo de cultura e uma parte muito importante da mesma nos últimos 50 anos.... está ligado ao teatro, à música, ao humor, à televisão, ao cinema.
A sua academia de formação é uma escola por onde passa muito do futuro da nossa cultura e faz parte do seu legado
Nicolau Breyner é um mito da cultura portuguesa e os mitos não morrem, vivem para sempre na sua obra e no seu legado.
Sem si o país fica triste senhor contente.
Jorge Soares
Retirado de Samizdat
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“Agora temos o homem certo no local certo”
Segundo o Expresso, terá sido esta a frase utilizada por Jean-Claude Juncker, Presidente da União Europeia, ao referir-se a Marcelo Rebelo de Sousa no final de um encontro entre ambos.
Gosto do detalhe do "agora temos", pelos vistos não sou eu o único a embirrar com o ex morador do Palácio de Belém, pelos vistos lá para os lados de Bruxelas também não gostam muito dele.... vá lá a gente a perceber porquê...
Mas será mesmo Marcelo o homem certo no lugar certo? À primeira vista nota-se a vontade de marcar a diferença, de arejar e tentar desanuviar o ambiente... gostei muito do detalhe de mandar o carro com o motorista para cumprir o protocolo e chegar a pé, descontraidamente e sem aparato, pelo lado contrário... uma coisa mesmo à Marcelo e que nunca seria possivel com o senhor de Boliqueime... Imagino a cara dos seguranças quando ele disse que ia descer até ao parlamento, a pé!
Como sabe quem costuma cá passar, não votei nele, a minha candidata nas presidenciais era a Marisa Matias, mas confesso que gostei deste primeiro dia, do discurso conciliador, sem ressabiamentos nem recados nas entrelinhas, um discurso positivo, cheio de esperança. Em suma, louva-se que vá haver em Belém uma nova forma de estar, leve e descontraída... .
Só o tempo e as condições sociais e políticas do país dirão se Juncker tem razão e ele é ou não o homem certo no local certo, para bem do país e de todos nós, esperemos que o saiba ser, o país agradece.
Jorge Soares
-O que é que se festeja no dia internacional da Mulher?
-Há muitos anos umas mulheres morreram queimadas numa greve nos Estados Unidos
A conversa foi cá em casa e envolveu duas das três mulheres que cá moram, não consegui evitar intervir e esclarecer:
-Não é nada disso, o dia Internacional da mulher foi instituído para chamar a atenção para a enorme desigualdade de géneros que existia a meio da década de 70 do século passado.
Na realidade ninguém tem a certeza que tenha acontecido mesmo nos Estados Unidos uma greve em que centenas de mulheres terminaram por morrer queimadas dentro da fábrica em que trabalhavam, mas por incrível que pareça, há muito mais gente a associar o dia 8 de Março a este facto que ao verdadeiro motivo da sua instituição.
O dia internacional da mulher está no calendário porque durante muito tempo o papel da mulher na sociedade era menosprezado pelo homem, durante séculos a mulher estava condenada a ter um papel secundário que a remetia para a cozinha e os fundos da casa. Durante a revolução industrial a mulher foi incorporada na mão de obra activa nas grandes fábricas, mas quase sempre em condições insalubres com jornadas de trabalho intermináveis e salários de miséria.
Hoje em dia a mulher tem um papel muito mais activo na nossa sociedade, mas falta ainda um longo caminho por percorrer para uma igualdade plena de direitos e sobretudo para uma efectiva protecção das mulheres contra a violência doméstica e de género...
Que o dia das mulheres seja todos os dias e não uma vez por ano....
Jorge Soares
Imagem do Público
Foi há um ano que Maria Luís Albuquerque, na altura ministra das finanças do Governo de Passos Coelho, confessou que ganhava 6000 Euros e não lhe chegava para nada (ver aqui). Ora, em Portugal um deputado tem um salário bruto de €3683,42, muito menos que os 6000 Euros que há um ano não chegavam para nada, não é portanto de estranhar que a senhora tenha arranjado um segundo emprego
Pessoalmente acho que os deputados deveriam ser obrigados a ter dedicação exclusiva, eles estão na assembleia da república em representação de quem neles votou e isso deveria ser algo importante, não um emprego que se possa acumular com part-times em escritórios de advogado, empresas de consultadoria, bancos, construtoras ou empresas que vivem dos créditos mal parados de outras empresas e até países.
Governar e legislar são assuntos muito sérios e que não me parece possam ser levados de ânimo leve ou algo que se faça nos tempos livres, afinal, ninguém é obrigado a ser político e muito menos a ser deputado... Se calhar, porque há muita gente que como Maria Albuquerque, acha que são assuntos em part-time, é que o país está como está e tem os governantes que tem.
A Ex. ministra das finanças decidiu que precisava de mais salário e de dar mais utilidade aos seus conhecimentos, consigo entender isso, segundo consta irá juntar qualquer coisa como 5000 Euros brutos ao salário de deputado.... Confesso que fiquei admirado com estes números, em Portugal qualquer director de segunda numa empresa média, ganha mais que isso... mas também é verdade que é só um Part-time.
Imagino que alguém que foi durante anos ministro das finanças não tenha dificuldade em arranjar emprego, por isso custa-me entender que a senhora entre as muitas propostas que lhe terão de certeza chegado, tenha escolhido logo uma que para além de pagar mal, deixa muitas dúvidas sobre algumas questões éticas...
Ou seja, é um daqueles casos em que a mulher de César deveria parecer mais séria, ter mais bom senso, mais respeito por quem a elegeu... e ainda por cima, quanto a mim, é mal paga.
Jorge Soares
Imagem de aqui
Dizem que há imagens que valem por mil palavras, bom, hoje vi um vídeo que vale por todas as palavras do mundo.
Confesso, eu fui dos que achou a nova lei contra o assédio um enorme exagero, até falei sobre o assunto... duas vezes (aqui) no último post alguns comentários de senhoras deixaram-me a pensar:
"Certamente não será o ponto de vista de adolescentes e jovens mulheres que, como eu, andaram anos de transportes públicos e ouviram sussurrar ao ouvido ordinarices do pior.
Faça um exercício, coloque-se na posição de quem ouve coisas como "mandava-te três sem tirar" ou da sua filha, se a tiver e depois volte a escrever"
Ou este:
"A visão masculina sobre os piropos é muito engraçada, porque nunca se viram violados na sua essência. Começamos a ouvir piropos com 12 anos, e não venham dizer que as meninas se vestem como mulheres e se põem a jeito. Lembro me de ser menina, de ainda gostar de brincar com bonecas e evitar passar perto de obras, oficinas, esplanadas de cafés, porque sabia que iria ouvir algum piropo, que com 12 anos apenas servia para me ofender, melindrar, envergonhar. Hoje com 33 anos continuo a não gostar de ouvir um piropo apenas porque os homens acham graça. Sou gira, gostos de me vestir bem, não sou provocante, mas nada disso vos dá o direito de invadirem o meu direito, ou será que afinal temos a mentalidade da Arábia Saudita em que as mulheres tem de usar burka para não atiçar as mentes masculinas. Vamos evoluir um pouco, porque um dia vão ouvir esses mesmos piropos ditos às vossas filhas, irmãs, namoradas e aí cuidado que afinal já não tem piada. Tenham vergonha."
Sou o suficientemente humilde para reconhecer que estava errado, já não tenho idade para ter a visão tonta e quase adolescente sobre este assunto que estava a mostrar, se seguirmos o conselho da senhora que me deixou o primeiro comentário e nos colocarmos no lugar das mulheres, se calhar ficamos com uma visão diferente sobre o assunto.
Imagino que para a maioria dos homens não será fácil colocar-se do outro lado.... bom, o seguinte vídeo ajuda, meus senhores, imaginem que era com vocês e pensem como reagiriam.
Um trabalho brilhante e sobretudo, esclarecedor!
Nunca é tarde para aprendermos e revermos os nosso conceitos.. .e sim, a senhora do segundo comentário tem razão, devíamos ter vergonha.. eu tenho!,
Jorge Soares
Quando eu era criança, minha mãe adotou um velho. Ele não era diferente das bruxas que assombravam meus sonhos e muito menos de como eu imaginava o homem que havia ― em minhas inventivas crenças pueris ― carregado em um saco os amigos dos amigos de meus amigos.
Conviver com ele, ao menos nos primeiros dias, foi como dividir a casa com um defunto. De carnes engelhadas e estrutura óssea comprometida, o homem não apresentava nenhuma ameaça, e mesmo assim eu o temia. Vê-lo dormir de olhos semiabertos e boca enviesada era como assistir sozinho a um filme de assombração. Sob a pele sem viço de meu assustador irmão adotivo moravam todos os lobisomens, vampiros e fantasmas que passeavam por minha imaginação de menino do interior, nascido em uma cidade que levava o mesmo nome de seu único cemitério: Assunção.
Eu nunca havia convivido com alguém tão parecido com a morte até mamãe recolhê-lo da rua, depois de encontrá-lo perdido na praça, sem saber quem era ou de onde vinha. Ninguém o conhecia ou sabia dizer como ele havia chegado ali. De roupa alinhada e aspecto bem cuidado, não parecia um mendigo. Surgira da noite para o dia, como uma aparição. Não trazia bagagem, identidade ou lembrança capaz de revelar sua origem.
Mamãe resolveu levá-lo à nossa casa para livrá-lo do assédio dos curiosos e oferecer-lhe o desjejum.
― Eu não quero ser comido! ― orei, sob a máquina de costura, agarrado ao burrinho de gesso do presépio. ― Só te devolvo pra Jesus quando esse papão for embora.
Mas o velho tudo recusou. Não quis mingau de farinha de milho e muito menos roer meus frágeis ossinhos. Apenas chorava e queixava-se de saudades, sem saber do quê ou de quem.
Os dias passaram. Papai e mamãe, órfãos desde muito jovens, afeiçoaram-se àquele senhor que havia roubado minha paz de menino. O velho, apesar de quase não falar, procurava a companhia dos adultos e recusava a minha. Já parecia acostumado à rotina da casa, sempre tão silenciosa e estagnada, submersa na ausência do tempo. Enquanto mamãe bordava toalhas e papai cuidava da lavoura, eu me distraía fugindo do velho que se arrastava da sala à cozinha feito um caramujo. Lentidão. Viscosidade.
Com o tempo, meu temor transformou-se em curiosidade. Gostava de vê-lo mastigar fumo, enquanto espiava pela janela do quintal como se buscasse a mais completa cegueira. O velho esvaziava-se através dos olhos compridos e, como suas lembranças, aos poucos deixava de existir.
Uma tarde, tomei coragem e dele me aproximei com meu burrico de gesso, que ofereci em um gesto de paz. O velho esfregou os dedos calejados sobre a imagem e arregalou os olhos como se algo em sua alma se iluminasse. Perguntei:
― O senhor se lembrou de alguma coisa? Sabe de onde veio?
― Não. E você? Sabe de onde veio? ― respondeu-me com a mesma pergunta, enquanto cavalgava o burrinho sobre meus cabelos.
Não. Eu não sabia.
Enfim, percebi que não éramos tão diferentes. Sem pedir licença, sentei-me em seu colo e dormimos juntos a tarde inteira, no balanço da cadeira que ia e vinha, mas que não nos levava a lugar algum, preguiçosa. Creio que foi naquele mesmo dia que o velho se esqueceu de se esquecer e também se tornou menino.
Emerson Braga
Retirdo de Samizdat