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Imagem do Público

 

É curioso, Renato Sanches terá sido a menos consensual escolha de Fernando Santos entre os 23 eleitos para o Euro 2016. Do que me lembro foi a única critica que escutei, havia gente a torcer o nariz principalmente pela sua juventude.

 

Hoje foi de novo o Homem do Jogo e esta vez foi mesmo merecida, sem esquecer o feito enorme de Rui Patrício, a defesa do penalty foi decisiva para colocar Portugal nos quartos, Renato Sanches fez um jogo enorme, marcou um golo e apesar da sua juventude, avançou decidido para a marcação do segundo penalty da tanda... Não acredito que nesta altura ainda haja quem duvide da super acertada escolha de Fernando Santos.

 

Se ainda há alguém com dúvidas  de que nasceu uma nova estrela, basta passar pelo facebook do Bayern de Munique e ver o que por lá vai, também lá joga um tal de Lewandoski que até marcou um golo hoje... mas reparem bem para quem vai o destaque todo... 

 

Quinto jogo, quinto empate, continuamos sem vencer, e segundo a generalidade dos comentadores, sem jogar grande coisa. A realidade é que também continuamos sem perder e seguimos em França ao contrário de muito boa gente que já ganhou e até terá jogado bonito.

 

Durante muito tempo fomos o país das vitórias morais, se calhar está na altura das derrotas morais, da Croácia dizem que foram melhores que nós, eles acham-se com direito à vitória moral  mas a verdade é que  já voltaram para Zagreb.

 

Acho que hoje, tirando um período inicial de desnorte, fomos superiores à Polónia, mesmo não jogando muito, merecíamos mais que os polacos. No fim a sorte sorriu-nos, os cinco penalties foram marcados de forma irrepreensível, Rui Patrício lançou-se uma vez para o lado certo e chegou lá... os Polacos voltam para casa e nós continuamos por França.

 

Todos estávamos fartos das contas e das vitórias morais, por mim podem continuar a empatar e não precisam de jogar para o espectáculo, basta-me com que continuem a passar à  fase seguinte.

 

Claro que tinha que ser Quaresma a marcar o último penaltie, ele tem que ser a alegria do povo....

 

Jorge Soares

publicado às 23:37

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Imagem de Lusopt

 

"Pelo artigo 5.º da Lei n.º 7/2007, de 5 de Fevereiro, é proibida a reprodução do cartão de cidadão em fotocópia ou qualquer outro meio sem consentimento do titular, salvo nos casos expressamente previstos na lei ou mediante decisão de autoridade judiciária. Não é permitida a retenção ou conservação do cartão de cidadão, para verificação de identidade que se mostre necessária por qualquer entidade pública ou privada, salvo nos casos expressamente previstos na lei ou mediante decisão de autoridade judiciária." (de lusopt)

 

Hoje foi noticia que para além de ser ilegal, vai passar a dar direito a multa de até 750 Euros para quem tirar ou pedir a fotocópia.

 

Por volta da hora do almoço tive que ligar para a empresa do cartão de crédito para confirmar que não estava a ser roubado por uma empresa de telecomunicações (estava!). Depois de me darem a informação pretendida fui confrontado com o seguinte:

 

-Tenho aqui a indicação de que a fotocópia do seu cartão de cidadão que temos connosco está desactualizada, pode enviar-nos uma actualizada?

-Eu acabo de ler algures que tirar fotocópias do cartão do cidadão é ilegal e até pode dar direito a multa.

-Mas eu tenho aqui a indicação para pedir outra.

-Mas isso é ilegal!

-Eu tenho indicação para pedir, e de certeza que lhe vai chegar uma carta a pedir para enviar.

-Mas como é que vocês pedem uma coisa ilegal?

-Vai receber uma carta a pedir, quando puder envie!

-Mas é ilegal

-Pois, mas se puder mande na  mesma!

 

Portugal no seu melhor, é ilegal, mas mande na mesma

 

Jorge Soares

 

publicado às 19:01

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Imagem da internet 

 

"Em Londres, Fátima Lourenço ainda está abalada com o que aconteceu na passada sexta-feira, quando um grupo de jovens com idades entre os 18 e os 20 anos lhe cuspiu na cara e agrediu na rua com uma bandeira inglesa" 

 

O texto acima foi retirado do Observador, de uma noticia que fala de insultos e até agressões racistas a imigrantes portugueses na Gran Bretanha, mas há noticias como estas nos jornais de todo o mundo. De repente parece que o Brexit abriu a caixa dos horrores e muitos idiotas ingleses se sentem com direito a deitar cá para fora o ódio a tudo o que é estrangeiro e/ou diferente.

 

Polacos, portugueses, espanhóis, hindus, passaram a ser alvo de quem evidentemente andava ressabiado e a esconder o ódio contra quem chegou à Gran Bretanha para procurar trabalho e um modo de vida que dificilmente seria possível nos seus países de origem..

 

Se havia dúvidas sobre o que levou mais de metade dos ingleses a votar sim ao Brexit, estas começam a dissipar-se... estas coisas tem nomes: racismo, xenofobia, ódio aos estrangeiros e a quem é diferente.

 

Vejam os vídeos abaixo, são por demais esclarecedores.

 

 

 

 

 

Jorge Soares

publicado às 22:51

Brexit: sair pela porta entrar pela janela?

por Jorge Soares, em 26.06.16

brexit-3.jpg

 

Imagem de aqui

 

Hoje durante o dia na Antena 1 ouvi um jovem inglês dizer que o Brexit tinha sido uma vitória dos trabalhadores ingleses, a única vitória dos trabalhadores ingleses nos últimos tempos, e ele nem percebia porque é que o partido trabalhista não estava a festejar com os trabalhadores.

 

Na sexta um dos meus colegas de trabalho, por sinal também ele jovem mas português, dizia que finalmente havia um povo que tinha decidido bater o pé e não fazer o que a Europa diz... Quando lhe perguntei se ele tinha ideia do porquê dos ingleses quererem sair da união europeia, ele não foi capaz de explicar... infelizmente a enviada especial da Antena 1 não perguntou ao jovem inglês qual o motivo dele para querer sair da união Europeia.

 

Curiosamente uma das primeiras declarações que ouvi dos senhores do Ukip, acérrimos defensores do Brexit, foi que iriam rapidamente pedir um acordo de livre comercio com a união europeia... Engraçados estes senhores, querem deixar de ter as obrigações, fechar a ilha a sete chaves, e fazer o que lhes apetece.... mas sem deixar de ter os benefícios de ter o acesso a um mercado gigante que significa mais de metade das suas exportações.

 

Tenho dúvidas se a grande maioria dos que votaram a favor da saída da União Europeia tem a noção da forma em que isso irá afectar o país. Outras das entrevistadas pela Antena 1 referia o facto de irem voltar a ter fronteira com a Irlanda... não consigo perceber em que é que isso os irá afectar, mas deu para perceber por onde vão as coisas. 

 

Parece que o  grande problema da maioria das pessoas que votaram a favor da saída são os emigrantes e o medo a que estes fiquem com os benefícios sociais que deveriam ser para eles... Quem já esteve em Londres viu como a cidade é uma metrópole multicultural, sendo que a maioria dos estrangeiros provêm de países de fora da união Europeia... Não foi o facto de a Gran Bretanha ter ficado fora do Espaço Chengen e de ser um ilha que impediu a entrada de todos estes estrangeiros, não estou a ver como é que o Brexit e o retorno da fronteira com a Irlanda o irá impedir... mas pelos vistos há quem ache que assim irá ser.

 

Para já a Libra caiu para valores dos anos 80 e de um aumento da inflação não se livram... a menos claro que tal como os senhores do Ukip parecem sugerir, tudo isto não passe de uma forma de fechar uma porta  para abrir uma janela à União Europeia.

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:44

Quaresma é a alegria do povo

por Jorge Soares, em 25.06.16

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Imagem do Twitter

 

Foi um jogo diferente, com uma equipa inicial diferente e um resultado diferente. A Croácia entrou a tomar conta do jogo, e por primeira vez neste Euro a equipa portuguesa não teve mais posse de bola.

 

Com as duas equipas a tentarem lutar pelo controlo do jogo, foi uma batalha de meios campos, quase sempre longe das duas áreas e ao contrário de novo ao contrário do que tinha acontecido nos jogos anteriores, quase sem remates.

 

Sem bola perto da área houve muito poucas oportunidades para Cristiano Ronaldo e Nani. Felizmente no único remate de Cristiano Ronaldo em todo o jogo, a passe de Quaresma, que ante a defesa do guarda  redes Croata, estava no sitio certo e a quatro minutos do fim do prolongamento marcou o golo que carimbou a passagem aos quartos de final.

 

Fernando Santos hoje esteve muito bem, tanto nas escolhas para a equipa inicial como nas substituições, Renato Sanches entrou para dominar o meio campo e Quaresma para fazer o golo. 

 

Pepe hoje fez um jogo enorme, foi uma autêntica muralha àfrente da área que manteve sempre os croatas longe da baliza de Rui Patricia, sem dúvida o homem do jogo.

 

Está visto que Quaresma está fadado para ser a alegria do povo.

 

Venha a Polónia

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:48

Conto - Onde devem estar os gritos

por Jorge Soares, em 25.06.16

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Sempre guardou segredos. Aprendeu a ser silêncios desde pequena. A ser apenas gritos internos. Quantos anos tinha? Quatro, cinco? Memórias incertas. A babá se perfumando com os frascos caros da penteadeira da mãe. A babá ajeitando os ca- belos no espelho oval do corredor. A babá encostando a língua na língua do moço que entregava as compras. Aquele passear de mãos pelo corpo inteiro; por cima e por dentro do uniforme. Os apertões, os tapas. Gemidos de dor quase não gemidos. Entrecortados, semitonados. E o rosto contorcido, exausto. Coitadinha. Não gostava do moço que fazia a babá gemer. E estranhava aquela dor que não pedia socorro. Quis respostas. Perguntou. Arrependeu-se. Você quer que a babá vá embora? Quer? Você quer ver a babá chorar? Não queria. Calou-se. Descobriu que o nome desse não contar era segredo. E que calar era um jeito de não perder as pessoas. Gostou de ser segredos. Cresceu silêncios.
 
 
Além dos gemidos e gritos, aprendeu como escoar para dentro também os risos de deboche que recebia na escola. A limpar pacientemente a terra jogada nos cabelos longos pelas meninas no recreio. A encapar os livros duas vezes, para protegê-los melhor das poças d’água nas quais eram jogados uma, duas vezes por semana. Silêncios.
 
 
Quando ouviu as meninas falando sobre o príncipe encantado que chegaria no meio da noite para levá-las na garupa de um cavalo branco, pensou em lhes contar que não havia cavalo nenhum. Que o príncipe suado viria do quarto ao lado e se deitaria sobre elas e passearia as mãos sobre seu corpo e lhes cobriria a boca com a mão pesada, repetindo em seus ouvidos: minha princesinha, minha princesinha. Contar-lhes sobre a invasão negociada a promessas de brinquedos e viagens. Sobre a verdade impedida por manipulações traiçoeiras. Se mamãe souber vai ficar triste com você. Você quer que a mamãe vá embora? Quer fazer a mamãe chorar? Mas não disse nada. Ela guardava segredos.
Aprendeu como limpar o sangue escuro que saía do sexo pequeno sem gemer a agonia das feridas. As dores na barriga, os calafrios, a tontura. Tudo fluindo para dentro. Sem voz. Sem alarde. Até que os seios fartos e as ancas redondas lhe disseram que era tempo de basta. Criou coragem de mulher. Contou à mãe sobre as noites de princesa. Arrependeu-se. Mentirosa! Você quer que seu pai vá embora? Que ele me deixe sozinha? Quer? Você sempre teve ciúme do seu pai comigo. Cala essa boca e some daqui.
 
 
Descobriu que falar era um jeito de afastar as pessoas. As piores pessoas. Que falar tinha sabor de alívio. Transbordou. Vomitou segredos e silêncios. Jogou tudo para fora. Para fora, onde devem estar os gritos.
 
Cinthia Kriemler
 
Retirado de Samizdat

publicado às 21:13

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Imagem do Facebook de António Sampaio

 

Para a rubrica "coisas que eu poderia dizer se conseguisse escrever assim", um texto fantástico a propósito do microfone atirado ao lago por Cristiano Ronaldo, escrito por António Sampaio,  alguém que penso seja  jornalista  e que fala sobre jornalistas, jornalismo e meios de comunicação social... para ler e reflectir

 

Há uma ideia errada de que só por ser jornalista posso fazer tudo. Esta ideia de que a minha profissão pode escrutinar todas mas que não aceita escrutínio dos outros.


De que a coberto da dita “liberdade de imprensa” tenho o direito de fazer tudo, de violar os direitos de outros, incluindo crianças, de me focinhar na vida privada de outros, de escrever o que quero, como quero e quando quero.


De que posso usar um jornal para fazer campanhas políticas, para promover grupos económicos ou para destruir vidas, carreiras, empresas.


Há uma ideia errada de que como jornalista posso apontar os erros a todos, usando gafes, parvoíces, deslizes, para fazer manchetes. Mas que depois não aceita que nada lhe seja apontado. Que não aceita que os seus jornalistas sejam, eles próprios e o seu trabalho, escrutinado.


Que usa o poder das suas páginas para escrever o que quer e quando alguém reage mal, diz o que não deve ou faz o que não deve - por irritação, frustração ou autodefesa - é logo mal tratado pela dita classe.


Uma classe que, diga-se de passagem, se odeia mutuamente. Se critica nas costas - ou na frente - e que infelizmente demasiado poucas vezes atua mesmo com classe.


E isto serve para microfones, para gráficos e infografias manhosas, para ameaças de bofetadas, para processos, ou para respostas menos adequadas a ‘coisas’ publicadas em ditos ‘jornais’ que não passam de lixo.


Uma profissão cheia de gente ‘pública’, do estrelato, mas onde os públicos e os escrutináveis são apenas os outros.


Há grandes jornalistas em Portugal. Há gente que trabalha na minha profissão que honra o que faz e a profissão que representa. Mas também há gente nojenta, OCS nojentos e que desonram o jornalismo. Gente que do alto do seu pedestal de justiceiro se mostra como o garante das leis, da legalidade e afins e depois viola as regras todas, de justiça, de deontologia, de respeito pelos direitos dos outros e até de senso comum.


E nós, jornalistas, temos que deixar de achar que há montes de coisas que não são defensáveis nas outras profissões todas mas que tudo é defensável na imprensa e no jornalismo. Não é. Há coisas que podem ser liberdade de expressão mas não são jornalismo. São lixo humano.


Deixem lá de ser madalenas ofendidas quando alguém reage - muitas vezes depois de um acumular de abusos, maus tratos às mãos das páginas de jornais ou outros OCS ou de campanhas nojentas - de uma forma menos bonita.


E um banhinho num lago não é um grande ataque à classe, um crime, como disse um gajo que eu, jornalista há montes de anos e que pago a carteira de dois em dois anos, nem sabia que existia. Aliás, esta é a mesma classe, por exemplo, que permite que clubes de futebol façam boicotes a alguns OCS - porque estamos a falar de desporto - mas depois se sente ofendidíssima por coisas destas. E não é, sabem, o único exemplo.


Enfim. Isto não é sobre um microfone. Aliás, quem devia ter mandado o microfone do CM ao lago eram os outros jornalistas. Porque uma vez mais houve um chico esperto que achou que era mais que os outros, que ia violar o acordado com o resto da imprensa e deixar os moços passear em paz sem perguntas anormais.


Mas sim. O mauzão é a ‘figura pública’. É sempre a figura pública. E nunca quem o achincalha em público.


Acreditem. A minha profissão anda a meter água há um tempo. Não é apenas desde o ‘incidente’ do lago.

 

Antonio Sampaio

 

Retirado do Facebook

publicado às 18:02

Este povo nunca está contente!

por Jorge Soares, em 22.06.16

CristianoRonaldo.jpg

 

Imagem do Público

 

É engraçado como são as coisas, Cristiano Ronaldo marcou dois golos, fartou-se de correr, de jogar,  não diria que levou a equipa ao colo, mas não há dúvida que como quase sempre, marcou golos importantes e contribuiu para a passagem à próxima fase.

 

Acontece que três golos não foram suficientes para vencer, porque Portugal não joga sozinho e a Estónia não estava entre os classificados para este Euro. Do outro lado estava uma Hungria muito mais descontraída que Portugal, com raça e muita vontade de mostrar serviço.

 

A meio do jogo um dos comentadores da RTP dizia que era a lei de Murphy aplicada ao futebol, tudo o mau que podia acontecer acontecia.. Portugal atacava e como é costume rematava mais, muito mais que a Hungria, mas os magiares além da pontaria tinham a sorte do seu lado, havia sempre um ressalto que enganava o Rui Patrício e a bola lá terminava no fundo da baliza... uma, duas, três vezes...

 

E de cada vez que os húngaros marcavam lá estava o realizador francês a mostrar um Cristiano Ronaldo irritado e que cerrava os dentes... Não acontece muitas vezes uma equipa estar a perder três vezes, das três vezes fazer das tripas coração e voltar a empatar.

 

No fim do jogo não faltava gente a criticar e a pedir mais, não jogaram nada, não eram aqueles  os que deviam jogar mas outros (de preferência os do nosso clube), o treinador não percebe nada disto e para além de que colocou os errados a jogar, fez as substituições erradas, tarde e a más horas.

 

Não há volta a dar, tivemos a selecção que mais remates fez no Euro, não ganhamos nem perdemos jogo nenhum, estamos na fase seguinte e continua tudo a ser possível, mas para a grande maioria dos portugueses, está tudo mal.... incluindo o Cristiano Ronaldo, que bateu mais uns recordes, mas apesar de ter marcado dois golos decisivos, para muita gente não jogou nada!

 

Não consigo entender, queriam o quê? Campeões europeus e mundiais? Já pensaram em mudar de nacionalidade?

 

Não foi um passeio, não ficamos em primeiro lugar, mas para mim fomos superiores nos três jogos e tivesse havido um bocadinho de sorte, em vez de bestas, hoje seriam todos bestiais... talvez tirando o Ronaldo, que este povo nunca está contente!

 

Venha a Croácia...

 

Jorge Soares

publicado às 22:55

O microfone do mundo... ou dos peixinhos.

por Jorge Soares, em 22.06.16

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Imagem do Facebook

 

Convenhamos, não é um gesto bonito, para mais quando o Cristiano Ronaldo e o resto dos jogadores estão ali em representação do país, gostemos ou não do Correio da Manhã e da sua versão televisiva, o repórter estava ali a fazer o seu trabalho e por isso merece todo o respeito.

 

Dito isto, estamos a falar de Cristiano Ronaldo e da CMTV, a CMTV é a versão televisiva de um Jornal (?) que tem como modo de sobrevivência a devassa da vida privada das figuras públicas em geral e em especial a do Cristiano Ronaldo (ver este post), é o exemplo acabado do pior jornalismo de sarjeta que se faz em Portugal.

 

Podemos gostar mais ou menos do Cristiano Ronaldo, mas quantos de nós passaríamos por tudo o que ele já passou com este jornal sem ter uma reacção pelo menos parecida com a dele? Para ser sincero gabo-lhe a paciência, no lugar dele eu não sei se junto com o microfone não teria ido também a câmara.... 

 

Logo mais há jogo com a Hungria, espero que Ronaldo marque e que ganhemos por muitos... ou que ganhemos por um e que seja outro qualquer a marcar, mas para já, o Cristiano já me fez, a mim e a muito boa gente, ganhar o dia.

 

Força Cristiano, Força Portugal.

 

Jorge Soares

publicado às 13:19

Conto - viúva

por Jorge Soares, em 18.06.16

viuva.jpg

 

Gertrudes Patrício costuma dizer: enviuvei de dois maridos. Mas ela sabe que, com bênção da igreja, assim mesmo casados, foi apenas com Juvenal, o pai da mais nova.
 
Tinham combinado dar o nó mal terminassem as ceifas, e seria boda com o senhor Prior abençoando e as alianças e o véu rojando a pedra vermelha do chão da capela da Senhora das Dores.
 
Mas o destino tem linhas que a gente treslê e, nesse entretanto, ao rapaz deu-lhe um mal de peito. Uma coisa de repente e ainda assim tão grave, que o médico achou por bem enviá-lo para o sanatório. Que o rapaz se tratasse. Que tomasse os ares da serra e depois de curado voltasse.
 
Ficou Gertrudes Patrício, nem casada, mas presa de um descuido ao despedirem-se. Saber-se-ia prenha, já Matias andava por terras de frios e de gelos, e haviam de casar pelo registo por via de uma procuração que Gertrudes pediu. Cartas demoradas na ida e na vinda, mas ficaram casados.
 
E no entretanto de já serem mulher e marido, vieram, entremeadas, outras cartas. Escrevia-as Matias numa caligrafia perra, que a escola dele tinha sido a cuidar dos rebanhos, e o mais fora o senhor padre Honório aos domingos à tarde, a seguir à catequese.
 
Dizia ele, em caracteres a cheirarem a remédio: isto aqui é o inferno. E pedia, numa letra tremida: manda-me umas meias, pela tua saúde, que por estas bandas faz um frio do demo. Gertrudes Patrício teceu-lhas, no esmero das cinco agulhas, de um fio de lã de ter desfeito um casaco que lhe tinha minguado. Junto, havia de enviar-lhe uns figos secos. Nunca os roeria o pai da criança que lhe crescia no ventre, e nem nunca meteria os pés naquelas meias, que quando chegou a encomenda, já os senhores da secretaria tinham dado ao Senhor Director um papel escrito e que o assinasse. No envelope, que seria lacrado, alguém escreveria o nome da aldeia e o nome dela, e colocaria dentro a carta onde o Senhor Director rabiscasse uma assinatura. A carta que Gertrudes receberia uma semana depois, demorada de vir de lá tão longe.
 
Um envelope a cheirar cheiros que não eram dali e nem dos arredores, percebeu o moço que distribuía o correio, e pasmou-se na porta de Gertrudes Patrício, mas ela demorou a abrir o subscrito, e Felisberto pisgou-se que tinha ainda correio na sacola. Teria andado o que valesse a duas moradias, e já ele ouvia o alarido que era Gertrudes clamando. Tinha decerto rasgado o envelope e lá dentro estariam más notícias. Mas Felisberto apressou o passo a sentir assim uma espécie de culpa e nem sabendo que, num papel muito lisinho e muito bem escrito, Gertrudes Patrício tinha lido: faleceu às presumíveis seis horas e trinta e cinco minutos do dia vinte e cinco de Outubro. E ainda mal ela lia o nome completo de Matias e mais o número de inscrição que lhe tinham atribuído no sanatório, e já aquele urro imenso lhe saía, assim como que num alívio que ela fizesse ao peito que lhe tinha ficado num aperto mal lera o remetente.
 
Não acorreu Felisberto, mas acorreu meio mundo aos gritos de Gertrudes.
 
Pobrezinha! Viúva sem quase ter sido esposa, comentavam, de umas às outras, as mulheres.
 
Mas Gertrudes Patrício, ainda que gritando, nem sentia assim uma tristeza desmedida. O que ela clamava era o receio, aquele como que fosse mal que caísse sobre a menina por ter sido a morte de Matias no preciso dia, e na mesma hora, em que, há uns escassos dias, a clamar mais alto que o latir dos cães, pusera Iracema neste mundo.
 
Coisas do acaso que ela dava como coisas do demónio, e Gertrudes Patrício soluçava disso, muito mais do que ela chorava a morte do Matias.
 
E no entanto, logo na tarde desse dia, carregou-se de um negro completo até no lenço que colocou sobre o castanho claro dos cabelos. Um tecido opaco e liso que lhe descaia sobre a testa e lhe ensombrava o rosto.
 
Tinha dezoito anos e sentia o sangue a pulsar-lhe intenso a cada vinte e quatro dias, o período certo e ela, despudorada daqueles vermelhos que se espalhavam no corpo e a afogueavam, carregava-se do negro das mulheres sem marido.
 
E passou um inverno chuvoso, e veio Abril. E passaria ainda aquele Agosto de inferno e chegaria outro dia vinte e cinco de Outubro. Nesse dia de a sua menina completar um ano, Gertrudes Patrício levou Iracema a baptizar.
 
De uso, Gertrudes usava o cabelo atado numa trança que deixava dependurada sobre a nuca e, a cobria-la, por inteiro, a ponta estiraçada do lenço negro.
 
Mas, naquele domingo, ela mudou-se.
 
E nem o fez no propósito de aliviar o luto.
 
Sentou-se em frente do espelho e apeteceu-lhe.
 
E foi assim, num descuido, que ela prendeu a trança no alto da cabeça como nem era seu costume e, por cima daquele chinó quase loiro de ser o cabelo dela de um castanho tão claro, deitou um véu rendado: um tule negro e muito fino onde resmalhavam, bordadas num tecido aveludado, umas florinhas miúdas, elas também negríssimas. Do transparente do véu, soltava-se o branco muito alvo que era a sua pele no arqueado elegante do pescoço, e desvendavam-se-lhe as orelhas que ela tinha, maneirinhas, um tudo nada salientes; nelas dependurou, vagarosa, umas arrecadas  pequenas em oiro de lei.
 
Gertrudes Patrício, que apenas na alvura da roupa debaixo se livrava do negrume daquele luto de viúva, ia baptizar a sua filha e não sabia que entraria quase nua na igreja.
 
Os homens cumprimentaram-na no adro: muito bom dia Senhora Dona Gertrudes. E descobriam as cabeças do chapéu ou da boina, mas era como a viam: Gertrudes Patrício a entrar descomposta na igreja.
 
Assim a viam eles e assim também a viam as mulheres. As que ficavam ao fundo da Igreja, e as senhoras de lugar cativo na fila da frente. Umas e outras cochichavam entre si disfarçando as falas como se dissessem mais um Padre-Nosso ou uma Ave-Maria: que vergonha! E benziam-se como que a exorcizarem um mal do demo.
 
Gertrudes Patrício despida da sua condição de viúva por via daquele chinó que trazia no alto da cabeça, descobertas as orelhas, desnudado o alvo do pescoço no transparente daquele véu.
 
Assim a terá visto Juvenal a servir-se de água para o sinal da cruz na pia da entrada: Gertrudes Patrício mais nua que vestida. 
 
Ele a poisar os olhos no tom leitoso do seu pescoço e Gertrudes Patrício a rodar o corpo no banco em que se sentava. 
 
Um gesto sem remédio, dirá ela a recordar o cruzar de olhos que fizeram na Igreja onde estava para baptizar Iracema, a filha do Matias.
 
Maria de Fátima Santos
 
Retirado de Samizdat

publicado às 21:13

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