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Conto - A Constituição de Tal

por Jorge Soares, em 24.11.18

ovos.JPG

Foto: Faces em ovos de galinha, série criada por kozyrev-vjacheslav 

 

Domingo, oito da noite. Rua pequena, cidade grande. O tropel de cinco ou seis pares de botas não tem testemunhas senão a própria vítima. Socos, pontapés, massacre. Um grito de medo, muitos de impotência. 
 
Mais tarde, no leito de um hospital público, não é a dor que enlouquece o paciente, mas as palavras que estacionaram em seus ouvidos, como mantras do mal: Viado! Viado aidético!
 
João José Manuel Raimundo de Tal tem a cabeça rachada em três lugares. Ou, para falar no jargão médico, sofreu traumatismo craniano. Sofre, ainda, da incredulidade de que tudo tenha mesmo acontecido. 
 
Esse cenário de violência homofóbica repete-se dia sim outro também nas cidades, nos jornais e na história dos que apanham por serem diferentes do que lhes tenta impor a massa obtusa. Apanham por serem o que são. Pessoas. Como a bailarina cujos dedos do pé são feios e tortos. Como o mecânico cujas unhas estão sempre negras de graxa. Como a freira cuja fé repele os homens da Terra para se entregar à Trindade dos céus. Vontades libertadas por prazer, hábito ou fé. Escolhas. 
 
Enquanto isso, no hospital público, João José Manuel Raimundo de Tal, cidadão trabalhador, filho de alguém, irmão de alguém apalpa a cicatriz que desce pela face. Vidro cortado; enterrado com sadismo em sua bochecha. Quer entender também a cusparada que levou antes do corte. Porque cuspe é mais que dor de corte. É humilhação. E compreender a dor de desespero que arde e coça dentro do peito. Mais que a cicatriz.
 
O policial de plantão cumpre o seu papel. Anota nome, endereço, detalhes e dá a queixa como prestada. Segue para o próximo caso. Um travesti de programa. Estupro seguido de esfaqueamento. Ninguém responde por ele. O traveeti foi morto e o policial com a prancheta se aborrece porque acredita que preencher a papelada é tarefa menor. Ele pega bandido. Papel é coisa de babaca. Mas tem muito crime e poucos homens para cobrir a megalópole, cada vez mais inchada. 
 
João José Manuel Raimundo de Tal consegue um advogado. Um doutor que lhe conta a que leis vai recorrer para colocar atrás das grades os agressores, capturados em razão de novos ataques a homossexuais. De Tal presta atenção às palavras bonitas da Constituição brasileira. E acredita que, perante a lei, é igual a qualquer outro homem, protegido do preconceito, da surra, do cuspe na cara. Não sabe ainda que, no Brasil, a incoerência, o deboche e o ódio não acontecem pelo texto ilibado da lei, mas pela prática diária da impunidade, pelo abrandamento das penas, pela vilania disfarçada em bons modos. 
 
No tribunal, os skinheads são julgados. Seis meses depois. E condenados a prestar serviços à comunidade. Mas João José Manuel Raimundo de Tal não se impressiona com a morosidade da Justiça. Nem com o número de crimes similares de que são acusados os nazistas de cabeças-raspadas. Nem a pena branda. O que mais lhe chama a atenção é o juiz que profere a sentença sem olhar na sua direção ao menos uma vez. O juiz que repudia a homossexualidade de João José Manuel Raimundo de Tal. Mas que se faz de imparcial, porque é um homem de leis. 
 
A dor do traumatismo passou. A da cicatriz de dentro continua. Sem previsão de passar. É dor de preconceito. 
 
Cinthia Kriemler

publicado às 19:42

precarios.jpeg

Imagem da RTP

"Os trabalhadores eventuais são contratados ao turno e, quando fazem mais do que um ou dois turnos, podem ser contratados e despedidos duas e três vezes no mesmo dia” (retirado de aqui)

 

Segundo a mesma noticia esta situação mantém-se desde há pelo menos 25 anos, 25 anos? Há pessoas que se sujeitam a isto durante anos e anos?  

 

Eu consigo perceber que alguém se sujeite a algo assim por necessidade durante uns meses até arranjar um emprego a sério, mas durante anos e anos? Porquê? Estas pessoas pagam segurança social? Tem direito a férias, a subsídios de natal e de férias? Será que um dia terão direito a reforma? São muitas perguntas... 

 

Imagino que nada disto seja ilegal, mas como é que o estado permite tal coisa? Como é que uma empresa que é tão importante para o porto de Setúbal, para as empresas que o utilizam e até para a economia do país, pode funcionar há anos e anos sem ter o mínimo de funcionários para garantir o seu funcionamento?

 

Todos ouvimos falar dos funcionários em greve, mas será que realmente isto é uma greve? Afinal nenhuma daquelas pessoas tem emprego, para todos os efeitos são desempregados, se o contrato é feito e desfeito todos os dias, se não se apresentam ao trabalho não estão em greve, estão desempregados. É válido um pré-aviso de greve que se refere a pessoas que não são empregadas da empresa?

 

Tudo isto é no mínimo bizarro, pode ser legal, mas não é de certeza ético, não pode ser ético contratar e despedir dezenas de pessoas todos os dias e por um único dia. Se as leis o permitem então as leis estão erradas e alguém as devia mudar.

 

Hoje havia deputados do bloco de esquerda e do PCP entre os manifestantes que foram retirados pela policia da entrada do porto, percebo o objectivo de lá estarem, mas espero sinceramente que esse apoio se continue a manifestar sobre a forma de projectos de alteração à lei de modo a que no futuro nada disto seja permitido. Se não o fizerem então só lá estiveram para tirar vantagem política da luta dos trabalhadores.

Jorge Soares

publicado às 22:05

Em Borba não há consciência

por Jorge Soares, em 20.11.18

pedreira borba.jpeg

Imagem da TSF

Nas minhas idas e vindas diárias tenho sempre a Antena 1 sintonizada no rádio do carro, nos dois últimos dias ouvi vários depoimentos sobre o passado recente da estrada que liga Borba a Vila Viçosa. Pelos microfones da rádio passaram populares, empresários das pedreiras, ex-autarcas e autarcas.

 

Desde o primeiro momento em que ocorreu o demoronamento ficou claro, para mim e acho que para o resto do país, que havia muita gente a achar que a estrada devia estar encerrada. Alguém disse que tinha estado numa reunião em que se discutiu a segurança e o futuro da mesma, até porque já existe uma variante. Reunião essa inconclusiva porque não teria havido o acordo entre a câmara, dona da estrada, e alguns dos empresários das pedreiras.

 

Acho que não restam dúvidas que havia conhecimento sobre o perigo latente e a noção de que mais tarde ou mais cedo isto poderia acontecer.

 

Hoje nas noticias da manhã entrevistaram o presidente da câmara de Borba que ante a tragédia que todos conhecemos, com a maior das calmas dizia que tem a consciência tranquila... 

 

Vejamos, a estrada é municipal logo da responsabilidade da câmara, ou seja, dele. A câmara, ou seja, ELE, sabia que a havia um perigo latente e  apesar desse conhecimento e até de alguns avisos, nada fez para evitar a derrocada e a  tragédia que agora aconteceu. Sabemos que há pelo menos duas vitimas mortais e suspeita-se que possam ser 5 ou 6...  E o senhor tem a consciência tranquila.... será que ele sabe o que é a consciência?

 

Jorge Soares

publicado às 22:36

Eu e o meu mau feitio, promoções do Continente

por Jorge Soares, em 18.11.18

continene.jpgImagem de aqui

Já cá faltava o meu mau feitio, eu não mudo e reclamar faz parte, sobretudo quando me deparo com erros e abusos.

 

Se calhar sou eu que tenho azar, a primeira vez aceitamos o erro, à segunda desconfiamos, à terceira achamos que há algo de errado com o sistema.

 

Há coisa de um ano abriu um Continente Bom Dia aqui na esquina, por uma questão de comodidade passei a ser cliente, especialmente das promoções. Com o tempo percebi que apesar de que se pode aproveitar muito, convém termos atenção, porque há coisas que falham .. e que se não estamos atentos o barato pode ser mesmo caro.

 

A primeira vez foi com um detergente para a loiça, era a caixa maior da marca topo de gama, o preço normal era acima de 19 Euros e estava em promoção por pouco mais de 4 .... a diferença era tão grande que não havia como não notar na conta, apanhei um susto. Tive que ir ao sitio com a menina na caixa porque ela insistia que o produto não estava em promoção .... depois de ver na prateleira lá se convenceu.

 

A segunda vez foi com uma garrafa de vinho rosé alentejano, preço normal 12 Euros, preço em promoção 3 e qualquer coisa, de novo tive que lá ir com a menina, que inicialmente me levou a um local onde o vinho estava a 12 Euros, mas eu levei-a onde estava com preço de 3... eles tinham o vinho em dois locais da loja com dois preços diferentes.

 

A última vez foi no dia de halloween, latas de sidra marcadas a 90 cêntimos que na caixa apareceram a 1.6... esta vez eu não fui lá, disse à menina que faltava a promoção da sidra,  ela foi lá sozinha e voltou com a etiqueta na mão, a dizer que a promoção tinha terminado no dia 29.. dois dias antes,. Pois, mas eu não tenho culpa que não troquem as etiquetas ... a contragosto e depois de uma reposta não vou dizer torta, mas dada de uma forma que eu não chamaria conveniente, lá veio a supervisora que desceu o preço para mim. Em dois dias quantas pessoas terão sido levadas ao engano?

 

Eu percebo que haja enganos, mas três vezes em poucos meses é abuso, e sinal de que temos que estar atentos, porque pelos vistos o rigor é coisa que não abunda, pelo menos nesta loja.

 

Jorge Soares

publicado às 21:19

Conto - A câmara pornográfica

por Jorge Soares, em 17.11.18

pornográfica.jpg

Quando Lobato faleceu ninguém tinha ou sabia da chave do escritório, e evitando a janela lateral, pois situava-se o apartamento no oitavo andar, viúva e neto recorreram a um chaveiro com a finalidade de ordenar o seu espólio. Sendo ele investigador de polícia, adentraram o recinto na expectativa de relatórios, inquéritos e documentos, mas ali debateram-se com outro espetáculo: era o crepúsculo de uma quarta, e nem o sol moribundo como fonte de iluminação deixou de projetar nas muralhas daquele covil um sem número de silhuetas lascivas, concebidas a partir dos periódicos estocados em caixas e armários, tantas as revistas eróticas quanto as categorias de depravação.

A viúva, mulher franzina e apagada, cheia de hesitações, se não foi molestada pelas protuberâncias e quinas o foi pela simples existência, pelo que viu e sentiu ao defrontar-se com as obsessões do falecido. Colocou uma das mãos na testa e a segunda no peito, e acudida pelo neto, que antes enxotou o animado chaveiro, sentou-se de cócoras.
 
Ai, ciciou Helena, como dói.
 
Tamanho susto resultou no cancelamento da missa de sétimo dia e no silêncio dos familiares, e já então, graças à faxineira, conhecidos e desconhecidos discutiam o evento e os mal-intencionados atribuíam tais indecências à viúva e não ao velho. Roger, o neto, desdenhando as fofocas e servindo-se do sono barbitúrico de sua avó, com interesse técnico folheou uma ou duas, ou três ou trinta, e ao decidir livrar-se delas recorreu a um terceiro, desembolsando o triplo do acertado quando o mesmo viu as gravuras e recusou-se a trabalhar.
 
Ante o sorriso do porteiro levaram-nas dentro de caixas e despejaram-nas numa carroça, e depois de seis viagens o aposento enfim cintilava, em harmonia com o crucifixo acima da janela. Por ela ingressavam os raios da tarde silenciosa, destacando-se nos móveis um suor endurecido como cera de vela, estrias feitas à unha e, no chão, entre os ladrilhos de madeira, fios de musgo, e isso viu Helena da última leva sair. À noite sua ínfima compleição assumiu outra estatura sobre a cama, onde esparramou-se alegre, satisfeita, joelhos escancarados e ventre arejado, dir-se-ia uma vítima de atropelamento. De manhã acordou com os automóveis, e após saborear o café armou-se de esfregão e balde, decidida a tornar o escritório habitável. Para lá foi assoviando, e sua felicidade excedia, e muito, o luto, não mais expresso na escuridão dos trajes ou no cansaço do rosto, resultando esse sentimento de uma ingenuidade e devoção animalesca ao presente. Saltitante, largou os utensílios ante a porta, e de abrir a fechadura esmoreceu: o quarto, novamente, estava atulhado de revistas pornográficas.
 
Ao vir em seu auxílio, o neto, impaciente, questionou-a, indagou se não era ela quem servia-se da ocasião com o intuito de jogar fora as suas, e só suas, imundícies, mas a velha, usando de argumentos lógicos e lúcidos, demonstrou que não teria a força exigida para movimentar tanto peso, ou mesmo que as dimensões do apartamento não comportariam tal volume.
E, de noite, não ouvi nada, assegurou.
Ríspido e nervoso Roger chamou o papeleiro, que ao ir embora em sua carroça era acompanhado por um séquito de bêbados alvoroçados, malucos desnudos e crianças peçonhentas, todos enfrentando as chicotadas do condutor e disputando as brochuras que porventura caíam. Essa madrugada Helena enfrentou desperta, virando-se e explorando os limites da cama, ouvindo os roncos do neto que, desconfiado da avó, pernoitou na sala e com a aurora redescobriu pela terceira vez o aposento atulhado de publicações, um pôster orgiástico exibindo-se num dos armarinhos.
 
Mas isso é o cúmulo, ralhou ele, e Helena lacrimejava ao seu lado.
 
Desconsolados, neto e avó sentaram-se e discutiram a ocorrência. Bebericando água com açúcar, chegaram à conclusão de que nenhuma hipótese verossímil explicaria o fenômeno, e por fim reputaram o mesmo a uma assombração. Helena prontificou-se a convocar o pastor local, Benício, e feita a ligação telefônica no mesmo dia o religioso adentrava a sala e alisava as revistas com o cuidado de quem maneja explosivos. Era um homem de noventa anos, forçado à pequena estatura pelo tempo, mas outrossim enérgico, com mãos translúcidas e compridas, desproporcionais ao corpo. Disse ele que não era aquele um caso de assombração ou possessão, era sim a mítica figura da câmara erótica, descrita no evangelho apócrifo de Rocco e nas crônicas de Zabed, o sábio, além de mencionada em numerosos episódios da história ocidental e oriental.
 
Essa câmara, essa distinção arquitetônica, disse ele, é a manifestação sexo-espacial do universo, um local destinado às múltiplas variantes carnais existentes. Secando o canto da boca com seu lencinho, também disse que alguns eruditos inferiam a possibilidade de tais recintos serem expurgados via liturgias heréticas, e a terminar seu discurso trancou-se no aposento e enfrentou a madrugada e sabe-se lá quais e quantos demônios, com as últimas estrelas assomando dali abatido, o braço direito caído e sem forças.
 
O rito falhou, confessou ele à viúva enquanto Roger encaminhava-se ao escritório. O rito falhou. Envolvia seus olhos avermelhados uma bolsa de escuridão, e trêmulo e fora de si quis tascar um beijo sulfuroso, final, em Helena. Lutaram os dois, e arranhando-o de cima a baixo, chutando-o na canela, conseguiu expulsá-lo dali. Roger, retornando do quarto, ao ver a avó perguntou se Benício fora embora, pois nada ouvira do embate. Ela nada falou, abatida, somente abraçou o neto e entreviu, no bolso de sua calça, uma revista enrolada.
 
Vou descansar, disse, soltando-o, e evitou seu rosto. 
 
Mas e a senhora não sair um pouco, esquecer esse lugar, indagou ele.
 
Helena recusou a oferta. Queria dormir, descansar, e de Roger sair, convencido, agarrou ela um frasco de álcool e uma caixa de fósforos e dirigiu-se ao escritório. Sentou-se na cadeira do falecido, rota e rasgada mas nunca rangente, e dali observou o local. Premiam-lhe os lábios a infeliz musculatura da boca e uma maçaroca de rugas acinzentadas. Suspirou a viúva, avó e mulher, e pegando do chão uma publicação intitulada ‘Colegiais Japonesas Albinas e Tentáculos de Outro Mundo’, massageou os seios combalidos e deu-se por vencida.
 
As de copas
 
Retirado de Samizdat

publicado às 20:47

Livro - O Heroi Discreto - Mário Vargas Llosa

por Jorge Soares, em 13.11.18

O-Heroi-Discreto.jpg

Terminei de ler há bocadinho, no fim dei por mim a olhar para  a capa e a pensar:

 

-O Herói discreto??, raio de coisa, li o livro até ao fim e não fazia ideia do nome.

 

Mário Vargas LLosa é um dos meus escritores preferidos, desde "A cidade e os cachorros" que li e me marcou ainda adolescente, passando por o fantástico "A tia Júlia e o escrevedor"  até "Travessuras de uma menina má" de que falei aqui nos primórdios do Blog, se não li todos, li a maioria dos seus livros.

 

Hoje percebi que comprei o livro não pelo nome mas sim pelo autor, aliás, se olharmos para a capa percebemos que o objectivo será mesmo esse, o nome quase que se perde no meio do nome do autor.

 

O autor tem uma forma de escrita característica, as várias histórias vão-se contando entre capítulos numa linha desconexa que algures se há-de encontrar lá para o fim. A sensação com que ficamos é que não estamos a ler uma história, mas sim duas ou três.. ou várias.

 

Neste livro é ainda mais estranho,  há histórias e até diálogos que se misturam no meio dos capítulos, sem que isso nos faça perder o fio à meada ou o interesse pela história

 

Podemos gostar mais ou menos dos livros, mas Vargas Llosa não perde o jeito, eu não tinha gostado nada de um dos últimos que li e que supostamente até o levou ao prémio Nobel, e de que falei neste post, este fez-me reconciliar com o autor. As histórias de cada uma das personagens vão-se compondo pouco a pouco até nos deixarem uma imagem forte da sociedade e das formas de vida do Peru e do seu povo.

 

Um excelente livro, que aconselho vivamente

 

Sinopse:

"Felícito Yanaqué é um homem de cinquenta anos, respeitado pela comunidade e proprietário de uma empresa de transportes que fundou e fez prosperar na cidade de Piura, no noroeste do Peru. Sem instrução, oriundo de uma família pobre e gestor cuidadoso dos seus bens, Felícito conquistou tudo a pulso, de uma forma tranquila, discreta e constante, atributos que se poderiam também aplicar à sua personalidade. Casado, com filhos já adultos, Felícito Yanaqué mantém uma amante de longa data, exuberante beleza da cidade. E também outra relação - não de natureza sexual - com Adelaida, uma vidente cujo conselho Felícito segue quase sempre, quer se trate de negócios ou de matéria puramente pessoal ou, mesmo, íntima.

Tudo corre bem na sua cidade; tudo normal. Só que Felícito Yanaqué começa a receber cartas anónimas de extorsão; e quando a ameaça de represálias passa à concretização, Yanaqué decide resistir a tudo isto sem apoio, estoica e discretamente. Como um herói.

publicado às 22:55

Conto - A Selva

por Jorge Soares, em 10.11.18

aselva.jpg

 

Há muito que os homens saíram da selva. Não lhes servia tanta incerteza, tanto perigo de vida. Aos poucos, com avanços e recuos, organizaram-se para autodefesa, assistência mútua, caça. Criaram normas de funcionamento coletivo do grupo, muitas vezes tácitas, outras bem expressas. Para evitar aproveitamentos egoístas. Para que o grupo fosse o lar de cada um. E afastaram-se da selva e das suas práticas ferozes.
 
 
Sem que o percebessem, os animais observavam-nos, curiosos, e acabaram por conseguir copiar o Conselho da Tribo. Pelo menos em alguns dos seus aspetos formais. Chamaram-lhe o Conselho da Selva e funciona desde então. Reúne-se uma vez por ano, ou a qualquer momento, em sessão extraordinária, a pedido de algum grupo. Geralmente, é apresentado um problema, levantada uma questão, feita uma queixa ou uma reivindicação. Segue-se alguma troca de ideias, muita algazarra, mas por fim o Conselho costuma concluir com uma declaração por maioria absoluta.
 
 
 
 
Joaquim Bispo
 
*
Imagem: Henri Rousseau (o alfandegário), Cavalo atacado por um jaguar, 1910.
 
Retirado de Samizdat

publicado às 21:13

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Imagem do Observador

 

Eu tinha pensado escrever um post sobre a ética de José Silvano e a mulher de César, aquela declaração aos jornalistas foi mais que anedótica. Isto depois do senhor deputado ter dito que não tinha dado a password a ninguém mas que era fácil de descobrir.

 

Ele queria que para o comum mortal fosse natural que não só alguém lhe tenha apanhado a password, como a estava a usar para picar o ponto na vez dele nos dias em que ele faltava. Normalmente os roubos de password tem uns fins menos amigáveis.

 

Talvez ele não saiba mas apanhar a password de alguém corresponde a roubo de identidade e está penado por lei..... 

 

Hoje descobriu-se que o pirata informático tem nome e apelido, chama-se Emília Cerqueira, também é deputada do PSD e segundo o Observador, "faz parte do círculo mais próximo de José Silvano no Parlamento".

 

Ora, a acreditar em José Silvano, a sua colega de bancada, que por acaso é sua amiga, roubou-lhe a password sem ele saber e por vontade própria cada vez que via que o amigo tinha outras coisas que fazer e portanto não ia trabalhar, ligava-se ao sistema com utilizador e password dele e picava o ponto.

 

Na empresa em que eu trabalho isto dava direito a despedimento imediato, todos assinamos um termo de responsabilidade em como usamos utilizadores e passwords de forma segura e responsável.

 

E eles querem que nós acreditemos na conversa deles .. a seguir algum deles vai dizer que o pai natal existe mesmo e vão querer que acreditemos .... o pior é que se calhar alguns por pura cor política vão fingir que acreditam

 

São estes os políticos portugueses .... depois estranhamos que apareçam Trumps e Bolsonaros.

 

Jorge Soares

publicado às 19:32

Às vezes somos um país tão à frente

por Jorge Soares, em 06.11.18

bohemian.PNG

 

Imagem retirada do Twitter

 

Definitivamente vivem-se momentos estranhos no Brasil, o twitt da imagem é sobre o que se está a passar nos cinemas deste país nas sessões do filme Bohemian Rapssody de que falei no post de sexta, pelo que tenho lido não é um acto isolado (ver aqui), em muitas sessões o filme é vaiado e os actores são insultados quando o público se apercebe das cenas gays, que diga-se de passagem são bem soft e insinuam muito mais do que mostram.

 

A orientação sexual de Freddie Mercury é conhecida pelo menos desde a sua morte, pelos vistos o público brasileiro não tinha essa noção e só conhecia o génio musical do líder dos Queen.

 

Nestas alturas percebemos porque é que 56% votou em alguém como Bolsonaro... e para eles nós é que somos os atrasados.

 

Prevejo tempos conturbados para quem no Brasil  tem mente aberta e já saiu das trevas da idade média.

 

Jorge Soares

publicado às 22:57

sabio3.png

Imagem da net

 

Imagino que muitos já terão visto o vídeo, mas achei tão estúpida a falta de humildade e de inteligência de quem por lá passa, que não resisti a colocar aqui.

 

Fez-me lembrar uma situação que se passou comigo há muito muito tempo, quando fui à entrevista para o emprego que ainda mantenho.

 

A entrevista foi com um senhor que para além de que na altura era director da informática, é um dos donos da empresa, e que eu soube depois, tinha por hábito lançar perguntas estranhas a meio das entrevistas ... e houve quem se desse mesmo mal com isso.

 

A meio da entrevista e do nada saiu a seguinte pergunta:

-Então o que acha da vitória do Deep Blue?

-Desculpe, eu tenho andado um bocado fora do mundo, o que é o Deep Blue? 

-Não sabe o que é o Deep Blue?

-Como estava a explicar o meu emprego anterior não me deixava vida nem para ver as noticias, logo, não, não sei.

-O deep Blue é um computador e ganhou um jogo de xadrez ao Kasparov.

 

Eu quando não sei assumo, ninguém sabe tudo. A entrevista continuou comigo a falar de Heurísticas de jogos para computador e a explicar porque é que eu achava que se calhar o computador não ia ganhar mais nenhum jogo. Na altura assumi que não sabia do que ele estava a falar, aproveitei a situação para mostrar que apesar disso sabia algo sobre o assunto e ainda hoje trabalho na mesma empresa.

 

Ninguém sabe tudo, por vezes temos que ter a humildade para o admitir, perguntar e aprender mais um pouco.

 

Ora, eu tenho pena das alminhas que aparecem no vídeo a seguir:

 

 

Jorge Soares 

publicado às 21:17

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