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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Henricartoon
Eu não gosto de funerais, não gosto do que significam, o fim do caminho, e não gosto daquilo em que se converteram, há muito que acho que devemos mostrar apreço e carinho pelas pessoas enquanto elas estão vivas, se realmente gostamos de alguém, devemos mostrar esse apreço enquanto a pessoa nos pode ouvir, ver e entender, depois da morte é tarde, não vale a pena.. não está lá nada nem ninguém....
Goste-se ou não, Saramago foi um grande, enorme mesmo, escritor, levou o nome do país muito longe, era uma pessoa de convicções fortes e que não se prendia em detalhes para mostrar ao mundo a sua obra. Pelo caminho mexeu com muitas sensibilidades, criou ódios de estimação.
No inicio dos anos 90 escreveu a sua obra mais polémica, o Evangelho segundo Jesus Cristo. Em Portugal vivia-se a época do cavaquistão e rezam as crónicas que um secretário de estado de Cavaco, impediu a candidatura da obra ao Prémio Literário Europeu porque supostamente o livro atacava "O património religioso dos portugueses"
Terá sido esta decisão, um inadmissível acto de censura por parte do governo, a gota de água que levou o escritor a emigrar para Lanzarote onde viveria até morrer na passada sexta-feira.
Sempre achei Cavaco Silva, para além de um politico desprezível, um homem com sorte, essa sorte foi uma vez mais bem patente, Saramago morreu precisamente no fim de semana que ele tinha escolhido para estar de férias nos Açores, bem longe de Lisboa e de tudo o que rodeou a morte do escritor. Era claro para todos nós que Cavaco e Saramago não morriam de amores um pelo outro, que não eram amigos e que os separavam enormes diferenças ideológicas e de pensamento.. mas um presidente da República é alguém que por definição não tem amigos. O presidente da República é alguém que antes de mais tem obrigações de estado e obrigações ante os cidadãos do estado.
Por muito que a mim me pareça que todas estas homenagens deveriam ter sido prestadas antes, a verdade é que o país decidiu prestar homenagem a um dos seus cidadãos mais ilustres. Quando decidiu não comparecer e dar uma desculpa esfarrapada , Cavaco Silva mostrou que coloca os seus sentimentos pessoais e a sua ideologia politica à frente dos seus deveres de estado, e como muito bem diz Daniel Oliveira no Expresso: "É incoerente decretar dois dias de luto nacional e depois estar ausente da cerimónia oficial."
É claro que se atendermos à posição oficial da igreja através do Jornal do Vaticano e às últimas notícias que dão conta das reacções da direita mais conservadora à promulgação do casamento Homossexual, poderíamos sempre concluir que tudo isto já faz parte da campanha politica.... mas isto já sou eu e o meu mau feitio a pensar alto.
Jorge Soares