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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Foi o tema do último post do Vila Forte (Pedro, é para quando o teu regresso aos blogs?), na altura ficou-me a ideia para um post, hoje e a propósito do que tem sido as férias dos dois mais velhos, a minha meia laranja fez um comentário que me lembrou o assunto.
A minha filha faz 11 anos em Outubro, precisamente a idade com que comecei a trabalhar, começou por ser uma ocupação para os tempos livres das férias escolares e terminou por ser a ocupação dos meus tempos fora da escola. Eram tempos difíceis, os meus pais estavam há pouco mais de um ano na Venezuela e no início as coisas não correram lá muito bem, de repente o pouco que eu podia ganhar era uma enorme ajuda para a economia familiar e quando terminaram as férias escolares, eu fui ficando. Tinha aulas de manhã e trabalhava à tarde.
No ano seguinte entrei para o liceu, mais tempo de aulas.. menos tempo de trabalho.. mas trabalhava na mesma... fazia os trabalhos de casa ao fim do dia... nunca estudava... mas havia algo que me levava, mesmo assim, a ser um aluno razoável... tinha a certeza de que no dia em que chumbasse um ano seria o ultimo e o trabalho passaria a tempo inteiro.
Olhando para trás sei que começar a trabalhar tão cedo foi importante para a pessoa que sou, mas nem tudo é positivo, por vezes dou por mim a pensar que há imensas coisas que não vivi, enquanto os meus colegas jogavam à bola, passeavam juntos pelos jardins da cidade, iam ao cinema ou à praia, namoriscavam, viviam a adolescência, eu trabalhava, era adulto à força... Há coisas que tem uma idade certa para se viverem ... e acreditem ou não, há coisas das quais tenho saudades porque não as vivi... por muito que isso possa soar estranho para a maioria.
Com 11 anos eu passava 12 horas atrás de um balcão de uma pastelaria, atendia as pessoas como qualquer outro empregado, fazia as contas de cabeça muito mais rápido que os meus colegas adultos e nunca me enganava. Hoje olho para os meus filhos com 10 anos e vejo duas crianças, super protegidas, não vão a lado nenhum sozinhas. Não os consigo imaginar a assumir alguma responsabilidade e muito menos a trabalhar.... mas para ser sincero, e ainda que algumas vezes me esqueça de tudo isto e ache que eles deveriam passar as férias a estudar e a preparar-se para serem melhores alunos.. a verdade é que não desejo para eles o que eu passei... eles não passam de crianças e devem ter vida de crianças, brincar, fazer amigos, tropelias em grupo....
A vida são dois dias e há que vivê-la no tempo certo, a responsabilidade e os valores são algo importante, mas virão com o tempo e na altura certa.. acreditem em mim, o único que ninguém nos pode roubar é aquilo que já vivemos... a mim roubaram-me uma parte da minha vida, não quero isso para os meus filhos.
Jorge Soares