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A Capital, 5 de Outubro de1910

 

«Que escrever quando os olhos ainda se enublam de lágrimas de emoção, e o peito ainda palpita com a vibração da anciedade enorme que o agitou durante estes dias de gloria e de tragedia? Quem viveu esses dias inolvidaveis, unicos da vida, não julga possivel traduzil-os ainda na expressão mais bella e mais sentida da palavra humana.».

 

O texto, tal como a imagem, foi retirado do blog Dias que Voam, e terá sido transcrito de um exemplar do jornal A Capital do dia 5 de Outubro de 1910 que foi hoje distribuído, pela autora do post. A mim chamou-me a atenção a forma escrita das palavras anciedade, enublam e bella... ainda que poderiamos questionar na falta de acentuação de algumas outras.

 

Terá sido coincidência, mas antes de entrar no Dias que Voam, tinha por puro acaso ido parar a um outro blog em que se podia ler: Este Blog Não adopta o acordo ortográfico. Nada de mais, já vi outros blogs com a mesma frase e quer-me parecer que tal como a fitazinha do Piaçaba, também esta irá virar moda. O problema é que depois de tentar ler o post que me levou até lá e mais um ou dois anteriores, a mim pareceu-me que o único que ali estava escrito em português, com ou sem acordo ortográfico, era esta frase, o resto era um monte de palavras abreviadas, meio escritas e com muitos k's pelo meio.. A mim custa-me entender que alguém  faça gala de ser contra o acordo ortográfico e depois não se dê ao trabalho de pelo menos tentar escrever num português decente...  e escreva coisas como esta: "atao tu qe tens uma biblioteca em casa"

 

Voltando ao texto transcrito, a mim deixou-me a pensar, partindo do principio que o jornal não vem com erros ortográficos, quantos acordos terão sido necessários para que anciedade passa-se a ser ansiedade e para que bella seja bela?

 

A maioria das pessoas que conheço é contra o acordo ortográfico e jura a pés juntos que nunca escreverá da nova forma, já se puseram a pensar que se não tivessem existido vários acordos desde 1910 até hoje, ansiedade continuaria a ser anciedade?... e que se não tivessem havido vários  antes desse, quem sabe o que estaríamos a utilzar hoje em dia para escrever? Segundo a Teresa na resposta ao meu comentário, "o primeiro acordo ortográfico (não formalizado enquanto tal) se deu com o pai de D. Dinis, o rei de cognome 'O Bolonhês' e por influência do antigo Provençal ('ñ' passou a ser grafado como 'nh' durante o reinado de Afonso III, um mero exemplo)"

 

Basta olhar para o texto para percebermos como a nossa língua é algo vivo, para vermos a forma como mudou em 100 anos... e para entendermos que não há nada a fazer, ela vai continuar a sua evolução natural

 

Tal como disse noutro Post,  As palavras também morrem ... ... porque nascem, e tudo o que nasce, mais tarde ou mais cedo, morre.

 

Jorge Soares

publicado às 21:22


4 comentários

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De Existe um Olhar a 06.10.2010 às 23:03

Jorge, num aspecto pelo menos concordo contigo, que é o facto de ao longo dos séculos se terem assistido a grandes alterações, basta lermos alguns textos em português arcaico, para verificarmos que muita coisa mudou.
Voltando ao tema do novo acordo, eu ponho em causa muita coisa, não se trata de aderirmos ou não, mas sim em que condições serão aplicadas essas mudanças.
Achas que será fácil para os professores, principalmente os mais velhos alterarem tanta palavra de uma vez só? penso que seria necessária uma reciclagem brutal.
Antes de vir comentar estive a rever o acordo e as alterações nele existentes e fiquei abismada. Não será fácil aplicá-lo e quando for obrigatório vai ser a confusão geral, a maior parte dos professores dificilmente se adaptará e isso trará consequências graves para os alunos. Se já agora se dão tantos erros nem quero imaginar depois.
Parece que já estou a imaginar os meninos a desculparem-se quando derem erros...ah, mas a minha antiga professora ensinou-me assim...
Penso que este acordo peca pelo número exagerado das alterações feitas de uma só vez.
Bjs
Manu
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De Jorge Soares a 12.10.2010 às 21:22

Imagino que sempre que houve alterações as duvidas foram as mesmas, a verdade é que como vimos pelo exemplo, as palavras mudam e as línguas evoluem... não há volta a dar, ou seguimos com o mundo, ou ele segue sem nós.

Jorge
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De Dina a 24.10.2011 às 21:38

O acordo não tem assim tantas modificações, são menos de 2% de um léxico de 180 mil palavras. A polémica no Brasil também foi enorme, porque os brasileiros não entendem porque os portugueses têm esta mania de serem donos da língua, eles que têm um léxico de quase 400 mil palavras.
Mas no Brasil estão aplicá-lo e há por todo o país inúmeras ações de formação e na internet há bons auxiliares para a aprendizagem.
As crianças aprendem das duas maneiras. Cada vez mais temos de ser poliglotas na nossa própria língua e os portugueses não podem fugir a isso. Os meus netos, alunos do ensino básico, distinguem perfeitamente o antes e o depois, e não são nenhuns génios. Os adultos é que os confundem. Quanto aos professores mais velhos, também não os tratem como atrasados mentais. Eu não sou nem fui professora, mas já tenho uma proveta idade e escrevo com o acordo há mais de um ano. O que me faz já confusão é escrever as palavras como antes, porque tenho relações profissionais com Angola e também tenho de redigir documentos com a grafia antiga.
A maior parte dos comentários que leio evidenciam uma grande ignorância sobre a evolução da língua e a gramática. Mesmo o que se acham que têm uma boa prosa dão muitos erros, alguns que se estão a disseminar como ervas daninhas. Refiro, por exemplo, o emprego do plural do verbo haver, quando significa existir; "houveram reuniões" é uma expressão repetida até à exaustão.
É interessante verificar que há pessoas a escrever segundo o novo acordo e que já dão erros, como é o caso de fato, por facto. De facto, não houve qualquer alteração nesta palavra, mas há pessoas que acham que sim. O acordo não altera a fala, altera a escrita somente.
Boa sorte a todos e usem o tempo que lhes sobra para aprender, pois nunca se sabe o suficiente.
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De Jorge Soares a 24.10.2011 às 21:44

Olá

Concordo completamente.. e passo a vida a corrigir as pessoas que utilizam o exemplo do fato.

Obrigado pelo excelente e proveitoso comentário

Jorge Soares

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