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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
O apadrinhamento civil nasceu há um ano atrás, ante a impossibilidade de fazer a justiça, a segurança social e o acolhimento funcionar a uma só voz e em prol dos benefícios das crianças, o Estado decidiu tirar um coelho da cartola, uma solução que fica a meio entre o acolhimento familiar e a adopção, que não é nem carne nem peixe e que supostamente deveria funcionar como a solução milagrosa para esvaziar os centros de acolhimento.
Vamos lá esclarecer umas coisas, em primeiro lugar e ao contrario daquilo que podemos ler na comunicação social, isto não é adopção, adoptar é ter um filho, nosso..e só nosso, um filho que leva os nossos apelidos, que é criado por nós segundo os nossos princípios, as nossas ideias, as nossas crenças. Apadrinhar não é isso, nem tem nada a ver com isso. Acreditem em mim, quem adopta é egoísta e não quer partilhar os seus filhos com ninguém, muito menos com famílias biológicas. Conheço muita gente que já adoptou ou que quer adoptar, até hoje, não encontrei uma única dessas pessoas que estivesse disposta a apadrinhar uma criança nestas condições.
Depois há muitas coisas por explicar, é suposto ser uma medida definitiva, a criança é entregue a alguém que passa a ser a nova família, mas o que acontece se um dia a família biológica decidir que quer o seu filho de volta?, como se vai gerir o conflito?, o que acontece se simplesmente a nova família decide ir viver para outra cidade, ou para outro país, não pode?, como se garante o acesso da família biológica à criança? colocam um processo em tribunal a exigir que o filho fique?.. mais processos em tribunal? Há muitas perguntas sem resposta, além disso devemos recordar que estamos a falar de crianças que foram retiradas muitas vezes à força a famílias disfuncionais... não precisamente de pessoas normais e cumpridoras da lei..se o fossem as crianças não estariam entregues ao estado.
Curiosamente esta semana o apadrinhamento foi noticia em toda a comunicação social, será que o foi porque alguém se fez estas perguntas?, algum jornalista leu a lei e decidiu questionar sobre tudo isto? Claro que não, foi noticia porque alguém se lembrou de que a lei não diz explicitamente que os casais de pessoas do mesmo sexo não podem apadrinhar. E claro, apareceram logo os arautos da defesa da moral e dos bons costumes a iniciar uma nova cruzada em favor das pobres crianças que vão ser obrigadas a levar com dois pais ou duas mães... É o país que temos, com tantos buracos na lei.. eles só viram o mais pequeno de todos. Raio de gente.
No meio de tudo isto achei engraçado que há quem pense que isto só funcionaria se o estado pagasse o serviço aos padrinhos... então e porque não pagar a quem adopta?... e a todos os pais? ou ser padrinho é mais difícil que ser pai?
Jorge Soares