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adopção, pais angustiados

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Há uns tempos dois episódios com filhos de amigos do mundo da adopção tinham trazido à baila o assunto, era algo em que queria pegar, mas é muito complicado, até porque a maioria das pessoas que eu conheço e que adoptou, tem filhos pequenos e está longe de chegar a essa etapa.

 

Hoje um comentário no nós adoptamos acordou-me definitivamente para o assunto, foi deixado por alguém que assinou Marta e diz o seguinte:

"ola, sou adoptada e gostava de conhecer os meus paie biologicos, como e que eu faço"

 

O A. e a M. adoptaram crianças mais velhas, o A. era daqueles que dizia que quando o filho chegasse à idade adulta e caso ele quisesse, o ajudaria a encontrar a sua família biológica, sei que eram palavras que lhe saiam do coração, mas mesmo assim acho que ele não estava preparado quando o filho já adolescente e após um período complicado em casa e na escola, se virou para ele e lhe disse que queria ir procurar a família.

 

No caso da M. aconteceu mesmo e aquele filho que ela tinha adoptado já quase adolescente, deixou a família que o amava e foi em busca daquela outra parte da sua vida de onde em tempos tinha sido resgatado.

 

A maioria das crianças que sabe que foi adoptada tem fases por volta dos  4 ou 5 anos em que quando é castigada ou contrariada diz que vai sair de casa e vai procurar a sua outra família, cá em casa aconteceu mais que uma vez, é a fase do interiorizar a situação e do testar, esticar a corda a ver até onde vai a segurança dos pais. Não é fácil, mas crianças de 5 anos educam-se, elas aprendem que é algo que não as leva a lado nenhum e a coisa passa. Quando estamos a falar de adolescentes é mais complicado, porque por muito que o A. queira ajudar o filho, ele sabe os antecedentes, sabe o porquê de ele ter sido retirado à família biológica e no intimo tem terror do que se possa encontrar, que a vida das pessoas muda, mas nem sempre para melhor.

 

É dos livros que a maioria das pessoas adoptadas mais tarde ou mais cedo que saber de onde vem, o Yo Soy adoptado é um livro que conta as historias de vida de 11 pessoas que foram adoptadas, das 11 só uma não quis saber do seu passado, as restantes quiseram e a maioria foi mesmo à procura desse passado, quem encontrou descobriu que era só isso, passado, não eram dali e para além da curiosidade, não queriam ser, mas só descansaram quando souberam.

 

Eu sou um acérrimo defensor que não se deve mentir às crianças adoptadas, faz parte da vida delas e devem aprender a viver com isso, mas depois de ouvir o A. e a M, as suas angústias e medos, fiquei com sérias dúvidas sobre como e quando deveremos libertar da nossa asa os nossos filhos para que procurem esse outro ninho de onde saíram. Porque o mundo lá fora é duro e até cruel e uma coisa é deixar que alguém encontre as suas origens e o seu caminho, outra muito diferente é deixar que os nossos filhos voltem a um mundo de onde tiveram que ser arrancados muitas vezes  a ferros.

 

Marta, se por acaso alguma vez leres isto, a minha resposta para ti é fala com os teus pais, as pessoas que te adoptaram e te deram o seu amor, são quem em primeiro lugar te podem dar essas respostas e ajudar-te na tua procura.

 

Jorge Soares

publicado às 21:53


2 comentários

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De Existe um Olhar a 04.01.2011 às 16:06

Apesar de não ter adoptado nenhuma criança, penso muitas vezes nas questões que aqui levantaste... dúvidas, receios, angústias dos pais que adoptam e que se vêem perante o facto dos seus filhos um dia virem a querer conhecer a sua família biológica.
Mentir ou impedir que isso aconteça é fazer com que fique mais atiçada essa vontade, portanto, nada melhor que a verdade e já agora espero que um dia nunca venhas a passar por momentos desses, mas se eles acontecerem, tenho a certeza que com o amor e carinho que vocês dedicam aos vossos filhos, eles nunca se atreverão a trocar-vos.

Beijos
Manu
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De P. a 04.01.2011 às 22:23

Nos grandes amores não há trocas...nem ciúmes.
A existencia de uma familia de origem, não implica uma troca, ou ter que optar por uma delas...ou trair alguma das duas.
E é essa a mensagem que quero passar aos meus filhos. Eu serei sempre, sempre a mãe deles, mas isso não implica a não possivel existencia de uma outra mãe...Eu quero que eles sintam sempre, que não tem que passar pelo dilema da escolha, pois o meu lugar dentro deles deverá estar bem definido e definitivamente conquistado.

P.

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