Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem do Público
Hoje à hora do almoço enquanto lia algumas das reportagens do enviado do El Mundo a Fukushima, dei por mim a lembrar-me de uma fase da minha vida em que tinha terror às bombas atómicas. Convém recordar que eu comecei a tomar consciência do mundo que me rodeava no fim dos 70's início dos 80's, quando o mundo ainda estava dividido entre os bons e os maus e a ameaça do holocausto nuclear era ainda bem real.
A queda do muro afastou esta realidade, pelo menos aparentemente e com o tempo, não só deixei de ter esse terror ao nuclear, como até há uns dias atrás eu estava convencido que a energia do futuro seria mesmo esta. Mais limpa, mais barata e esperava eu que num futuro não muito longínquo, até mais segura.
Por vezes a realidade é maior que todas as certezas, hoje sabemos que com a tecnología actual não se conseguem construir centrais nucleares realmente seguras, e à medida que vou lendo mais e mais noticias vou percebendo que muito do que eu pensava sobre a segurança deste tipo de energia estava construído sobre mentiras e meias verdades.
Noticias como esta do Público vão saindo a pouco e pouco e mostram como os interesses se sobrepõem muitas vezes à verdade e na ânsia de não matar a galinha dos ovos de ouro, há muita gente que mente, esconde factos e até acidentes. O pior é que isto é válido para as centrais japonesas e para muitas das de outros países, basta recordar que na vizinha Espanha já ocorreram acidentes que só vieram a público quando desde cá se começaram a medir níveis anormais de radiação.
Será difícil medir quanto do poderio económico do Japão se deve ao facto de ter apostado neste tipo de energia que fez diminuir a sua dependência do petróleo e do exterior, assim como será difícil saber qual o preço que terá que pagar agora em recursos e em vidas humanas pelo desastre que aconteceu em Fukushima.
Neste momento há muitos países a repensar e até a cancelar projectos de energia atómica, é difícil aceitar que algo de positivo possa sair de uma tragédia como a que aconteceu no Japão, mas quando leio que a Alemanha mandou encerrar uma série de reactores cuja vida útil estava esgotada e que se queriam manter a funcionar por mais umas décadas, que a India cancelou o seu programa de energia Atómica, ou que a Espanha decidiu testar a segurança de todas as centrais do país... eu só posso pensar que a natureza é mesmo sábia e que muitas vezes se escreve direito por linhas muito tortas.
Jorge Soares