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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
É uma deficiência enorme da minha personalidade eu sei, devo ser das poucas pessoas da minha geração que passou ao lado do TinTin e do Asterix, eu gosto da Mafalda, serve? Hergé morreu em 1983, a sua obra perdurará por muito tempo, sobreviveu a muitas gerações e espera-se que sobreviva a algumas mais ... ou não.
Hoje uma notícia do Público chamou a minha atenção: "Tribunal de Bruxelas começa a julgar “Tintin no Congo” por racismo" A minha primeira ideia foi: Estes Belgas são muito à frente, vão levar um boneco de banda desenhada a tribunal... por cá nem os criminosos a sério conseguem condenar. É claro que não é isso, alguém se sentiu ofendido com a forma mais ou menos racista em que são apresentados os nativos do Congo no livro impresso por primeira vez em 1931 e decidiu apresentar queixa, não contra o Hergé que a esta altura não se consegue levantar para ir falar com o juiz, e sim contra a editora para que o livro seja retirado de circulação.
Não é nada de novo, algures li que nos Estados Unidos vão mudar as falas do Tom Sawyer no clásico Huckleberry Finn do Mark Twain, segundo os americanos a palavra Niger é muito forte e deverá ser substituída por slave. São os mesmos americanos que há uns anos substituíram as armas nas mãos dos polícias que perseguem o ET por telemóveis.. que quando o filme foi realizado ainda nem existiam.
É claro que entramos no mundo do politicamente correcto, a televisão americana passa em horário nobre filmes e séries em que o crime é uma presença nua e crua, mas eles ficam indignados porque o Tom Sawyer chamava negro aos seus amigos... e alguém me explica em que é que negro é menos ofensivo para a dignidade das pessoas que escravo?
Não há nada pior para a humanidade que tentarmos mudar a história, só conseguimos lutar contra aquilo que conhecemos, se decidirmos ignorar que o racismo, o esclavagismo e muitos outros ismos existiram, o mais certo é que quando eles voltem a aflorar não os consigamos enfrentar. Há coisas que fazem parte do nosso passado como sociedade, elas aconteceram e devemos ter noção disso. Se vamos começar a cortar nos clássicos que até há pouco tempo víamos como inocentes, o que vai restar da arte e literatura depois de passarem pelo crivo desta censura disfarçada de bons costumes?
Jorge Soares