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Quem quer calar o Tintin e o Tom Sawyer?

por Jorge Soares, em 18.04.11

Quem quer censurar o Tintin?

 

É uma deficiência enorme da minha personalidade eu sei, devo ser das poucas pessoas da minha geração que passou ao lado do TinTin e do Asterix, eu gosto da Mafalda, serve?  Hergé morreu em 1983, a sua obra perdurará por muito tempo, sobreviveu a muitas gerações e espera-se que sobreviva a algumas mais ... ou não.

 

Hoje uma notícia do Público chamou a minha atenção:  "Tribunal de Bruxelas começa a julgar “Tintin no Congo” por racismo" A minha primeira ideia foi: Estes Belgas são muito à frente, vão levar um boneco de banda desenhada a tribunal... por cá nem os criminosos a sério conseguem condenar.  É claro que não é isso, alguém se sentiu ofendido com a forma mais ou menos racista em que são apresentados os nativos do Congo no livro impresso por primeira vez em 1931 e decidiu apresentar queixa, não contra o Hergé que a esta altura não se consegue levantar para ir falar com o juiz, e sim contra a editora para que o livro seja retirado de circulação.

 

Não é nada de novo, algures li que nos Estados Unidos vão mudar as falas do Tom Sawyer no clásico  Huckleberry Finn do Mark Twain, segundo os americanos a palavra Niger é muito forte e deverá ser substituída por slave. São os mesmos americanos que há uns anos substituíram as armas nas mãos dos polícias que perseguem o ET por telemóveis.. que quando o filme foi realizado ainda nem existiam. 

 

É claro que entramos no mundo do politicamente correcto, a televisão americana passa em horário nobre filmes e séries em que o crime é uma presença nua e crua, mas eles ficam indignados porque o Tom Sawyer chamava negro aos seus amigos... e alguém me explica em que é que negro é menos ofensivo para a dignidade das pessoas que escravo?

 

Não há nada pior para a humanidade que tentarmos mudar a história, só conseguimos lutar contra aquilo que conhecemos, se decidirmos ignorar que o racismo, o esclavagismo e muitos outros ismos existiram, o mais certo é que quando eles voltem a aflorar não os consigamos enfrentar. Há coisas que fazem parte do nosso passado como sociedade, elas aconteceram e devemos ter noção disso. Se vamos começar a cortar nos clássicos que até há pouco tempo víamos como inocentes, o que vai restar da arte e literatura depois de passarem pelo crivo desta censura disfarçada de bons costumes?

 

Jorge Soares

publicado às 22:05


10 comentários

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De xana a 18.04.2011 às 22:59

Eu chamaria a isso, uma das inúmeras tentativas de tapar o sol com a peneira, tão frequentes nos nossos dias, para desculpa de tudo e mais alguma coisa.
bjks
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De António Manuel Dias a 18.04.2011 às 23:17

O que mais me chateia é conotarem autores declaradamente anti-racistas, como Mark Twain, com atitudes racistas, em vez de informar os leitores sobre o tempo em que as suas histórias foram escritas e, portanto, colocá-los dentro do contexto certo para o perceber. Enfim...
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De João Almeida a 12.08.2011 às 05:28

Melhor solução sem dúvida !
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De Ivete a 18.04.2011 às 23:31

Pois concordo plenamente contigo Jorge.Do jeito que vai tudo o que se consegue é respeito de faz de conta e a custa de deturpar a verdade histórica!

Um abraço
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De Jorge Soares a 25.04.2011 às 23:33

Olá

Nem mais, tudo isto só serve para deturpar e até piorar a realidade.

Jorge
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De sentaqui a 18.04.2011 às 23:44

Tenho a certeza que se os Belgas tivessem os tribunais atolhados com processos por resolver, como nós os portugueses, não se debruçavam sobre um assunto tão descontextualizado, que chega a raiar o ridículo.
Se as pessoas se chocam quando se chama negro a quem o é, será que não nos deveríamos chocar quando nos chamam brancos?
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De Jorge Soares a 25.04.2011 às 23:33

Brancos não.. cor de rosa... que é o que somos.

É o sinal dos tempos, os belgas e muita gente no mundo quer ser mais papista que o papa, querem ser tão politicamente correctos que terminam por cair no ridículo.

Boa semana
Jorge
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De Oficinas RANHA a 19.04.2011 às 13:53

Estes Belgas são doidos, como diria o Asterix.
E quanto aos Americanos, até parece anedota essa de substituir a expressão negro por escravo e achar que se está a combater o racismo. Num país onde a igualdade ainda é uma miragem...
Ana Cristina
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De Jorge Soares a 25.04.2011 às 23:31

Olá

É a ditadura do politicamente correcto... que no fim termina por ser pior que aquilo que tenta combater
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De João Almeida a 12.08.2011 às 05:26

Ora bem, o Tintin é uma livro que tem como público alvo as crianças, as próximas gerações, e um livro de banda desenhada ou um livro em si é um livro que elas leêm sozinhas ou mesmo acompanhadas por alguém, a questão nao está no ocultar nada e não está no medo de falar de racismo está sim no ensinar e para uma criança ler um livro tão inocente como Tintin com ideias racistas vindas do próprio protagonista está errado mas elas não vão saber ver isso, vocês gozam de uma forma ignóbil o politicamente correcto quando é o que se deve fazer e faz-se, nao têm esse exemplo de Portugal, pois vocês acham que só em medidas drásticas é que se deve actuar mas isto trata-se de passar valores a outras gerações, e acho bem que sejam retirados ou pelo menos como se pensar fazer, deixar um prefácio para explicar o contexto da história, vocês nao levam tanto a sério por ser um livro e então de banda desenhada é pura e mera banalidade para vocês é triste mas ainda bem que na Bélgica se actua.

Beijinhos e Abraços

João Almeida

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