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adopção.jpg

 Imagem de aqui

 

Hoje lembrei-me da Dália!. A Dália foi minha colega no meu primeiro emprego em Portugal, era chefe de secção e responsável pelas caixas, era sempre a última a sair. A Dália casou-se e nada mudou, continuava a ser a última a sair, ficou grávida e ainda não sei como é que a criança não nasceu no supermercado, acho que ela só foi para o Hospital ter a filha depois das caixas fechadas e das contas feitas.

 

Não passou muito tempo, estava de volta e a ser a última a sair.. começámos a achar aquilo estranho, até que um dia alguém esclareceu: A Dália não gosta da filha, felizmente a criança tem um pai babado que é quem no dia a dia trata dela com uma dose de amor que vale pelos dois.

 

A maioria achará estranho, mas não é, acontece muitas vezes, apesar de uma mãe trazer nove meses uma criança dentro de si, não é garantido que seja um amor imediato, há mães que tem que ser conquistadas pelos filhos, que precisam de tempo para gostarem daquele ser pequenino que se fez dentro de si.

 

Eu lembrei-me da Dália quando li o seguinte comentário que alguém deixou no Nos adoptamos:

 

"Lamento vos dizer mas estão errados.
E falo com toda a experiência. Também já tive do vosso lado, tb critiquei essas 80 devoluções, e dp, mto tristemente, aconteceu comigo.
Estive 7 anos à espera de uma criança, tive de convencer o meu marido para a ideia da adopção (e como foi dificil!), e depois fui eu que não consegui sentir a 'tal' ligação. 
E foram as proprias assistentes sociais que me aconselharam a desistir, pois se esse 'clic' não acontece logo, nunca acontecerá, disseram. .......

 

Clic?, um clic? o que é um clic? é triste que as pessoas passem anos à espera para adoptar sem no fundo perceberem do que se trata, e é muito triste que as assistentes sociais apoiem este tipo de conversa. Há uma diferença enorme entre adoptar e ter um filho biológico, na adopção não há clics... na vida não há clics. Um filho biológico demora 9 meses a aparecer, são 9 meses em que preparamos o mundo e a nós próprios para a sua chegada.

 

Adoptar uma criança é construir pontes. De repente um dia entra-nos um estranho pela casa dentro e descobrimos que veio para ficar. Há casos em que se forma uma ligação imediata, cá em casa aconteceu entre o N e a minha meia laranja, há outros casos em que é preciso dar tempo ao tempo para que as ligações se formem e para que se construam as pontes.. foi o que aconteceu entre mim e o N.

 

Lamento, mas quem está errada é a senhora, adoptar é aprender a conhecer, aceitar, estender a mão e esperar que do outro lado alguém a agarre, muitas vezes demora tempo até que a criança, que sabe deus o que já terá passado na vida, ganhe confiança, se adapte e nos adopte.

 

Adoptar é ser perseverante e é sobretudo ser-se  suficientemente humilde e paciente para dar tempo ao tempo.. não há clics, há amor e paciência. Se não consegue entender isso, se está à espera de um clic, desista, não está preparada e não faz a menor ideia no que se está a querer meter.

 

Voltando à Dália, ela também não ouviu nenhum clic, mas é evidente que ninguém devolve filhos biológicos, ao contrário das assistentes sociais que ficam por ali a ver no que dá, a cegonha deixa a criança e vai logo embora, não aceita devoluções... com o tempo todas as Dálias deste mundo que não ouviram o clic no momento do nascimento, aprendem a gostar e a amar os seus filhos, porque o tempo e o sorriso de uma criança fazem todos os milagres do mundo.... basta acreditar e dar tempo ao tempo.

 

Jorge Soares

publicado às 22:06


22 comentários

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De Anónimo a 26.04.2011 às 23:53

“Mundo possível”

A liberdade foi conquistada
Numa empolgante madrugada
Mas depois seria assassinada
Restando pouco ou quase nada

Resta apenas a própria liberdade
Liberdade, igualdade, fraternidade
Não são lemas da nossa sociedade
Mas apresentados com teatralidade

No nosso tempo parecem verdade
Aquela que advém da repetitividade
Que confere à mentira legitimidade

E saciados com tanta musicalidade
Sequer reparamos na mediocridade
De quem nos guia com propriedade.
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De geriatriaaminhavida a 27.04.2011 às 07:44

Essa historia do "clic"...nunca tinha pensado nisso e quando ouvia falar de pessoas que maltratavam os filhos, ou quando ouvia dizer "aquela mãe parece que não gosta do filho" eu achava que eram mães que não queriam engravidar e que por "azar" tinha acontecido.
Bom provavelmente há muitas Dalias , por esse mundo fora.
Mas também deve ser um sofrimento para uma mãe, saber que o normal é ela gostar do filho e não conseguir sentir amor.
Este post , fez-me reflectir ...
Boa semana
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 22:15

Maus pais sempre existiram e sempre existirão, há muitos casos como os que conto, não nos parece habitual porque é algo que não é fácil de confessar.. mas acontece... assim como acontece com o tempo esse amor nascer.. sim, o amor de mãe também se conquista.

Concordo que não deve ser uma situação fácil... mas como digo no post, o amor também se constrói.

Jorge

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De Leamar a 27.04.2011 às 10:26

Jorge, não podia estar mais de acordo contigo!!!! Qual clic, qual carapuça...não está é preparada para ser mãe, tal qual a Dália!
Eu tenho uma filha que amo mais do que tudo na minha vida, esteja ela tranquila, reguila, mal educada até!!! As vezes que ela me diz "és feia, má, não gosto de ti" geralmente quando ralho, são mais que muitas! Pois a minha resposta sempre será a mesma: "A mamã ama-te sempre...mesmo que não gostes ou não queiras...mesmo quando é mázinha para a mamã...mesmo quando ralho contigo". A minha filha pode ser uma peste (que não é), mas amá-la-ei sempre infinitamente. Nem nunca a palavra "devolução" se poria em questão...adoptada ou não!
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 22:30

Olá

Não sei se alguém estará alguma vez preparado, mas sei que uma criança é um ser humano.. e deve ser tratado com tal, não é uma mascote que se escolha...

Depois, a amar também se aprende... e devolução não é definitivamente uma palavra que se deva utilizar .. nunca.

Jorge
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De Leamar a 27.04.2011 às 10:30

Tenho a acrescentar que saber se se está preparada para ser mãe/pai é uma questão também muito pertinente e complexa. Há muita gente que não foi mesmo talhada para tal e têm uma carrada de filhos!! Dá que pensar...mas para solucionar é que é mais difícil!!
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 22:51

Há bons e maus pais em todos lados .. e nem sei se é coisa que tenha solução
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De Avelino Nonimus a 27.04.2011 às 14:08

Impressionante como as pessoas conseguem alimentar um espírito egoísta, desvalorizando um ser que esteve afastado involuntariamente dos carinhos de uma família.
De facto o ser humano consegue surpreender-se negativamente a si próprio, quando propõem a si mesmo a Felicidade de um filho como valor primordial á sua Felicidade.
Deixa cá ver?!!!!!
Um filho ( biológico ou adoptado) vem para satisfazer a vontade de um casal só porque o seu ego prevalece em desprimor da criança em si?
O factor principal da maioria dos fracassos na adopção advém do modo como encaram a adopção.

Egoisticamente fazem primeiro da criança um projecto próprio, que deverá obedecer aos critérios que estipularam para o casal, esquecendo-se que a personalidade da criança que vem para ser adoptada já tem parte formada, seja ela boa ou "má".

Eu sempre achei que a adopção era um processo que teria de ser progressiva. Quer ao nível da criança quer do casal.

Eu e a minha cara metade estamos ainda em processo de adaptação ao nosso T.
Tem ele já um ano de convívio e de meiguices e traquinices.
De carinhos e do amuos.
De birras e asneirices loucas, negas na sua partilha de Amor quando lhe convém.

Isso faz do nosso filhote uma criança com má índole?
Não. Pois mesmo um filho biológico teria de passar por todas estas fases.
Agora se seriam mais ou menos intensas, isso é relativo para quem quer um filho.
Nunca podem alterar a personalidade que a criança adoptada já adquiriu. Seria um crime e contra natura faze isso. Mas podem tentar levar uma educação pela vida fora, que o vá ajudando a moldar a sua maneira de estar em familia.

Mas isso não é o que faz aos próprios filhos biológicos?

Deixarem de ser egoístas perante um processo de adopção, é um bom prenuncio de abertura a uma criança que espera um colo que provavelmente nunca soube como era...
Encarariam muito menos dificuldades depois.

Avelino Anonimus.

PS Desculpa o testamento




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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 23:05

Tás desculpado , neste tipo de assuntos as palavras nunca estão a mais

Jorge
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De sentaqui a 27.04.2011 às 20:41

Esta dos clics choca-me imenso, parece que está na moda usar um termos curriqueiro como desculpa para a incapacidade de amar.
Crianças não são cachorrinhos ou gatinhos, para que se possa escolher a raça ou a cor, mas aqui o egoísmo fala mais alto. Estas pessoas nunca deviam pensar em adoptar.
O resto do muito que tinha para dizer já aqui foi dito e muito bem, no que escreveste e no comentário deixado pelo Avelino.

Bjs
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 23:19

Agora estão na moda os clics... como se os sentimentos fossem algo que aparece do nada,,.. é uma tristeza.

Jorge
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De Anónimo a 27.04.2011 às 23:16

“Moral no mural”

Ideologia é fogo que arde
Permitindo-lhes saltitar
Para vários tachos abifar
E o futuro salvaguardar

Há por aí muito ciber nabo
Que escrevinha no mural
E chamar foleiro é normal
Ao presidente de Portugal

Assim vai a nossa política
Com um baixo nível moral,
PR apela à união nacional

Nesta situação muito crítica,
Mas não se vislumbra solução
Com estes políticos de ficção.
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De Maria a 28.04.2011 às 10:26

Mas quem é este anónimo que coloca aqui estas coisas que nada têm a ver com o conteúdo do post? ...
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 23:20

Ora lá está uma pergunta interessante... para a que não sei a resposta... eu simplesmente tento ignorar...
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De entremares a 28.04.2011 às 16:52

Click?

O click é simplesmente... o lado poético da vida. Não é a realidade, pode acontecer ou não... mas não pode ditar a felicidade.

Pensei bastante sobre o que escreveste, antes de comentar. E ocorre-me acrescentar ( porque os comentários anteriores já preenchem bem o que penso ) que só as crianças desejam com toda a força um brinquedo novo... brincam com ele meia dúzia de vezes... e depois o remetem ao pó das prateleiras.
Mas até nisso, as crianças conseguem ser honestas.
Não dizem : " Não houve ligação com o brinquedo".

Dizem simplesmente: " Cansei-me, fartei-me"

É normal. São crianças.
E mais não digo.

Um abraço, Jorge.
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De Jorge Soares a 28.04.2011 às 23:22

Olá amigo

Tens razão.. é o lado poético, clic, amor à primeira vista... só que a vida não é assim.

Sabes, eu costumo dizer que adoptar é um acto de egoísmo... e é, ninguém adopta a pensar nas criancinhas, todos adoptamos a pensar em nós... só que há quem leve este egoísmo longe de mais.

Abraço
Jorge

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