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Adopção, Gritos Mudos

por Jorge Soares, em 18.07.11

adopção, gritos mudos

Imagem de Fátima Carvalho

 

"Tenho um marido maravilhoso e uma filha de 5 anos maravilhosa, mas .....Há 4 anos iniciamos o processo de adopção, e a seg. social exigiu-nos um quarto e foi feito um quarto com duas camas. A minha filha diz ás amigas que a irmã "morreu", sem nunca lhe falarmos nisso, pede a deus na sua oração "Jesus dá-me uma mana". E andamos nisto há quase 4 anos. Só queremos uma criança dos 3 aos 6 anos. A seg. Social diz que não há. Será possível? Isto é um desespero!"

 

O Texto acima chegou-me via email, é de facto um despero, eu sei, passei por isso duas vezes. Será possivel?, sim, é possivel,  a verdade é que não há em Portugal crianças para adoptar, não há, e não vai haver...e as pessoas, o país todo tem que interiorizar essa ideia.

 

A ideia de que o problema da adopção é a muita burocracia é uma enorme mentira, a espera dos candidatos tem muito pouco a ver com a burocracia ou com a morosidade dos processos, tem sim a ver com  o facto de haver de quatro mil candidatos à adopção e umas poucas centenas de crianças para adoptar.

 

No outro dia uma noticia fazia referência a que metade dos candidatos desiste do processo após a primeira sessão de formação, sempre tive alguma desconfiança sobre a formação para a adopção, é difícil entender que seja necessária formação para se ser pai, agora fiquei a pensar que se calhar esta faz mesmo sentido, mais não seja porque esclarece as pessoas sobre a realidade das coisas... e separará o trigo do joio, quem quer mesmo ser pai não desiste só porque tem que esperar muito tempo.

 

Falta à nossa sociedade esclarecimento a  todos os niveis, há dezenas de programas sobre adopção, muitas tardes, muitas manhãs, muita lágrima fácil, muito coitadinho, muitas coisas, mas o esclarecimento é zero....  está na altura que a seguramça social, os jornalistas, os responsáveis dos programas, olhem para este assunto com olhos de ver... e que façam o seu papel de informadores, já é tempo de que terminem os gritos mudos e o desepero de tantas famílias.

 

Jorge Soares

 

publicado às 22:14


15 comentários

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De lagoa_azul a 18.07.2011 às 23:04

Com o “lixo” televisivo que crassa nos canais generalistas de tv , achas mesmo que alguém se digna de produzir informação?!...

O que dá audiência são os programas dos coitadinhos e desgraçadinhos, e honestamente penso que uma grande parte das pessoas vivem alienadas e usam a cabeça só para enfeitar o pescoço.

Estar informado e esclarecido implica ter opinião e tomar posições sobre os assuntos, e isso dá uma trabalheira.

Contudo insista-se sempre, quanto mais não seja podemos vence-los pelo cansaço da nossa insistência.

Cpms
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 00:48

Eu tento...mas confesso que quem já começa a ficar cansado sou eu.

Jorge
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De Kok a 19.07.2011 às 00:49

Num país onde tanta coisa está mal (e outras ainda pior) não é de estranhar que nesta área hajam tantas dificuldades a superar.
Não "estou por dentro" a por isso pouco posso acrescentar.
Somente o meu juízo baseado nas notícias que não são tão fiáveis como deveriam.
Dizes que há mais adoptantes do que adoptáveis. Ainda assim não deveriam/poderiam ser mais rápidas as conclusões dos processos?

1 abraço.
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 00:47

O Kok... é claro que deveria ser mais rápido... mas se não há crianças, se as crianças que estão institucionalizadas não vão para adopção porque os pais acham giro que o estado as crie, mas não abrem mão delas, se os juízes dão sempre as oportunidades aos pais e nunca às crianças, como se pode abreviar?.. sem crianças não há adopção, se não há crianças como se podem entregar aos candidatos?

Jorge
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De Sandra Novais a 19.07.2011 às 12:33

De facto existe muito programa de lágrima facil, mas também há muita informação.
Eu candidatei-me á adopção, e passado 4 anos vou ter o meu filhote. Já não apanhei esta formação que agora fazem aos candidatos á adopção, mas lembro-me da primeira entrevista que me fizeram na segurança social, na qual me diziam que não havia muitas crianças com a situação legal resolvida, e por muito que visse as instituições cheias de crianças, a maioria não era para adopção. Já li também por várias vezes em jornais, que os numeros de candidatos a adopção são muito superior ao numero de crianças prontas para adoptar. Não penso que haja assim tão pouca informação como isso. Quem realmente quer saber, facilmente encontra as respostas ás suas perguntas. Também por vezes os candidatos querem os bebés "perfeitinhos", branquinhos, alguns só querem meninas, etc... O meu afilhado foi adoptado. o processo demorou um ano, mas é de raça negra e tem Sindrome de Down. Como devem calcular, não há crianças por catalogo. Alarguem os horizontes, aceitem mais... Vejam a adopção como a ajuda a uma criança e não o desejo egoista que nós temos de conseguir-mos o nosso bebé perfeito. Como é possivel celeridade se os critérios de escolha são tão estreitos? Uma coisa é certa, se procurarem ajuda, encontra-la-ão. Eu sempre que tive duvidas, recorria á minha equipa de adopção. Sempre me elucidaram. Eu esperei 4 anos... não acho que tenha sido uma espera desmedida... já sabia ao que ia. Custa-me mais a passar este mês, que só vou buscar o meu principe em Agosto ;)
Espero que não levem a mal o meu testemunho, mas só estou a dar a opinião de quem está dentro deste mundo.
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 00:56

Sandra, é verdade que há mais informação, quando eu passei pelo primeiro processo há 10 anos não havia nenhuma, agora vai havendo, mas a verdade é que a maioria das pessoas não quer saber... eu sinto isso todos os dias, cada vez que falo sobre o assunto, cada vez que alguém sabe que eu adoptei, sinto, que as pessoas não vêem mais além do obvio....

Mesmo quando falo com jornalistas sinto isso, a maioria não sabe.. e nem está interessado em saber.

Quando fui convidado para aquele programa da SIC Esperança passei muito tempo *a conversa com uma jornalista, a esclarecer, a responder a questões... só aceitei ir ao programa porque pensei que ia ser diferente, que se ia falar do assunto, esclarecer.. depois cheguei lá e nem a jornalista era a que falou comigo, nem o programa tinha nada a ver com o que ela me tinha falado, nem a convidada era a que lá esteve.. nada... para que serviu aquele programa?, esclareceu alguém?, nada, zero, uma hora de tempo perdido ..e quele nem foi dos piores.

Quanto à questão dos bebes, perfeitos, branquinhos, Sandra, eu queria uma criança até aos seis anos, sem discriminação de raça, podia ter problemas de saúde.... estive dois anos à espera, e a perspectiva era pelo menos mais 3 anos... esse é outro mito que deve ser combatido, a culpa não é só dos candidatos e das suas escolhas, eu conheço alguém no Algarve que aceita crianças até aos 10 anos.. está há uns cinco anos à espera, porquê?

É claro que há muito mais a dizer.. eu só quiz abordar um ponto do assunto.

Jorge
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 00:58

Faltou dizer que só estive dois anos porque decidi ir adoptar a Cabo Verde.. caso contrário ainda estaria à espera.

Jorge
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De Cristina a 19.07.2011 às 16:39

Já passei a fase dos 'gritos mudos'. Agora já só consigo olhar para estas coisas e ler estes testemunhos com algum cinismo (com todo o respeito por quem mandou a mensagem, não tem nada a ver com eles). E sinto que já estou a desistir.

Acho que já houve uma melhoria na qualidade da informação prestada. Recordo-me de há uns anos atrás ouvir uma jornalista a perguntar se se escolhia a criança. E mesmo quando se falava na dificuldade de adopção, os casos apresentados eram casos de sucesso (rápidos e crianças pequeninas). Hoje, apesar da ´lágrima fácil' e de alguma desinformação intencional, há muito mais informação. Já não percebo como há ainda quem pense que há muitas crianças para adoptar e que não perceba a diferenças entre crianças institucionalizadas e crianças em situação de adoptabilidade.

Não percebo como se inicia um processo de adopção sem informação alguma, razão pela qual não vejo mal algum nas formações.

E não percebo também como se exige um quarto com anos de antecedência!

Cristina
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 22:17

Olá Cristina

A verdade é que tudo isto cansa, cansa ouvir sempre as mesmas perguntas, os mesmos comentários, as mesmas ideias erradas... cansa.

Jorge
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De Avelino Anonimus a 19.07.2011 às 21:10

Chega tanto a ser uma frase já feita " A dificuldade da adopção está na burocracia" como a " Á mais adoptantes que crianças a adoptar".

Sou Pai de uma criança que veio encher a nossa casa com o seu carinho aos 4 anos de idade. Esperamos 4 longos anos para conseguirmos ter a benesse de receber uma criança.
Foram anos que mais pareciam séculos? Verdade.
Situações que nos levaram a questionar métodos e vias para adopção? Verdade
Perguntas que e informação que ficaram por chegar? Verdade

Mas nunca nos questionamos da verdadeira acção que é adoptar uma criança.
Porque simplesmente não andamos atrás de uma criança tipificada para adopção.
O problema está mais na maneira como muitos adoptantes encaram o processo de adopção. E pensam que as crianças estão num mostruário de onde se pode retirar a criança desejada e esperar que ela apareça em casa através da via postal...

O conceito de adopção e tudo o que o envolve é que está inquinado até pelos próprios proponentes a adopção.
Enquanto as mentalidades não mudarem, como poderá mudar o sistema em si?

Ter por adquirido que as crianças para adoptar em Portugal são em numero que faz com que todo o processo seja desesperante?
Não.
Acho que o maior problema é pensarem que quando partem para adopção, vão buscar uma encomenda com o tamanho certo para caber lá em casa...

Veja tanta treta á volta do processo.Que em vez de ajudarem só prejudicam as próprias crianças.
Isto para todos os intervenientes na adopção.

Cada vez eu e a minha cara metade estamos mais certo do caminho que tomamos.

Avelino Anonimus
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De Jorge Soares a 20.07.2011 às 22:19

Desculpa mas não percebi o inicio do teu comentário, tu achas que não há mais candidatos que crianças?... não, explica lá isso.

Jorge
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De Avelino Anonimus a 20.07.2011 às 22:51

No inicio o que refiro é que já se considera um cliché uma frase e outra.
O que quero referir e essencial em tudo o que enlaça o processo de adopção. Pois que quem parte para um processo de adopção, não pode querer dar por adquirido que escolhe faz e desfaz...
Temos mais crianças institucionalizadas do que para adopção?
Não fales disso.
O processo do meu filho foi literalmente encravado ou inquinado por uma ordem de um juiz com uma das leis mais estúpidas que já vi serem aplicadas.
Acho que existe é leis complexas demais para as necessidades que as crianças institucionalizadas precisam...
E além disso também existem pessoas que querem adoptar o que lhes convém.

Essas são as duas questões mais importantes. Não o facto de querermos fazer bode expiação o facto de termos crianças á tempo demais institucionalizadas.
Ainda vamos chegar a conclusão que são as próprias crianças que têm culpa, só porque não agradam ao estereotipo de crianças escolhida por adoptantes.

Estivemos 4 anos e alguns largos meses á espera. Não escolhemos raça, credo ou afastaríamos irmãos.
Procuramos saber a realidade de todo o processo e sabíamos que teríamos de esperar. E assim o fizemos para esta bênção que recebemos.

Avelino Anonimus
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De Cristina a 21.07.2011 às 09:55

Pois, o facto é que ninguém tem informação precisa sobre as crianças para adoptar e seu perfil.

Há candidatos que escolhem demais, é verdade, mas há outros com critérios muito mais alargados que também esperam. Também já estou cansada desse argumento do candidato selectivo. E poderia dar-lhe alguns exemplos de como as coisas não funcionam bem na seg. social ou de como a Seg. Social parece também ser muito selectiva nos candidatos já aprovados, mas não vale a pena.
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De Joana Mendonça a 29.07.2011 às 16:04

Percebo os vossos comentários, mas fico sempre a pensar nas crianças que estão em instituições. Esse processo deve ser assim? As crianças estão lé bem? Têm condições para crescer e ser felizes? Deveriam passar mais rapidamente para adopção? Como decorre esse processo desde a instituicionalização até uma possivel adopção e em quanto tempo? porque não se fala dele e se fala apenas da adopção?
Um excelente post, como sempre.
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De Anónimo a 09.08.2011 às 10:46

Eu já aprendi uma coisa hoje e só venho dar razão a quem diz que há pouca informação. Eu não fazia ideia que há mais candidatos que crianças... Nunca tal me passou pela cabeça, sempre julguei que fosse o contrário e que as demoras de que sempre ouvi falar se devessem unicamente à burocracia. Também tenho que referir que não estou em nenhum processo de adopção e como tal a "informação" que tenho é muito num óptica de "conhecimento generalizado". Mas fiquei bastante surpreendida com este facto. De certa forma não deixa de ser positivo que não hajam afinal tantas crianças como isso à espera. Já é pior se há crianças que devessem ser adoptáveis e não o são por outras razões.

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