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Adoptar é dar e receber

Foi há pouco na RTP no programa Mudar de Vida, a jornalista Rosário Salgueiro foi ver por dentro como é a vida num centro de acolhimento, um programa muito bem feito que abordou os vários problemas do acolhimento e das crianças institucionalizadas.

 

Chamou-me a atenção uma parte em que falam de duas crianças, dois irmãos, que após 3 meses com uma família que as iría adoptar, são devolvidas à instituição.  Quando ouvi a assistente social do centro de acolhimento falar da falta de química senti-me triste, química? como pode uma relação entre país e filhos basear-se na química ou na falta dela?

 

Há algo que sempre digo a quem me questiona, o mais importante na adopção é não criarmos expectativas, as crianças nunca são como as imaginamos, cada caso é uma caso e cada criança diferente da outra. A grande maioria das crianças que vão para a adopção tem histórias de vida complicadas, mesmo as que foram abandonadas à nascença mais tarde ou mais cedo vão sentir esse abandono e vão reagir à sua maneira.

 

Há crianças com histórias de vida terriveis que depois de adoptadas passam a ser crianças completamente normais, bons estudantes e excelentes filhos, há outras que são adoptadas ainda bebés e que vivem toda a vida com o estigma do abandono, não nos podemos esquecer que na maioria destes casos elas foram abandonadas muito antes do nascimento e isso deixa marcas de muitos tipos.

 

O pior que pode acontecer a quem quer adoptar ou a quem simplesmente tem filhos, é ter expectativas, os filhos perfeitos não existem, e não são eles que se tem que adaptar às nossas expectativas, somos nós que nos temos que adaptar à sua realidade....Eles não são os coitadinhos que estão na instituição à espera que alguém os vá buscar, são seres humanos com personalidade e vontades próprias e não é por de repente passarem a ter uns pais e uma casa que as vão mudar de um dia para o outro.

 

Já aqui disse muitas vezes, não há desculpa nenhuma para que alguém devolva crianças, adoptar não é simplesmente receber crianças em casa é estender a mão e esperar que alguém a receba, não é comprar amor e vender carinho é construir pontes.

 

Adoptar é ser perseverante e é sobretudo ser-se  suficientemente humilde e paciente para dar tempo ao tempo.. não há clics, há amor e paciência. De repente um dia entra-nos um estranho pela casa dentro e descobrimos que veio para ficar, há casos em que se forma uma ligação imediata, há outros casos em que é necessário muito tempo e paciência para que as coisas funcionem e para que pais e crianças se adaptem... os laços não se impõem, constroim-se ..de parte a parte. 

 

Química, clic, expectativas.. são só palavras .... na verdade só há uma coisa que conta, a nossa capacidade de aceitarmos os nossos filhos como eles são e de os amarmos.

 

Jorge Soares

 

PS: Pena que a RTP não coloque logo online os programas, quando estiver disponivel coloco aqui o link

publicado às 21:42


7 comentários

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De Maria a 27.09.2011 às 00:05

Ainda temos que evoluir um pouco, ao nível da mentalidade, para que situações como as descritas não se repitam. Não sei é se estes factos são recorrentes em Portugal e noutros países culturalmente semelhantes, ou se acaba por ser problemática da adopção, independentemente do país...
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De Jorge Soares a 28.09.2011 às 22:31

Olá

Temos que evoluir muito e sobretudo, passar a olhar para a vida em lugar de a ver como achamos que ela é.

Mesmo assim acho que Portugal nem é dos piores locas, quando olhamos para o que se passa nos Estados Unidos por exemplo, é assustador.

Jorge
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De lagoa_azul a 27.09.2011 às 09:30

Olá Jorge,

Parece-me que adoptar deveria ser o mesmo que os 9 meses de gravidez. Fazemos exames médicos para ver se está tudo bem, mas quando nasce o nosso filho nunca sabemos bem como irá correr. E acima de tudo também não sabemos se irá haver a tal “química”. E se o empenho é total na gestão da vida dessa criança, penso que também deveria ser no caso em que se adopta uma.

Tantas vezes que as crianças não sendo adoptadas são birrentas por natureza, e não são devolvidas não é?! Até porque não há ninguém a quem as devolver. Assim deveria ser no caso da adopção.

Isto é uma mera opinião minha, vale enquanto isso, opinião, até porque não estou por dentro das problemáticas da adopção.


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De Jorge Soares a 28.09.2011 às 22:34

Olá

Uma opinião válida, é assim que eu penso, ninguém devolve filhos biológicos, porque os filhos não se devolvem, o problema é que estas pessoas começam por olhar para as crianças da forma errada, se olhassem para eles desde o primeiro dia como seus filhos, estas coisas não aconteciam

Jorge
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De sentaqui a 27.09.2011 às 12:01

Quando escreves sobre a adopção, penso sempre que só quem está preparado para adoptar é quem consegue amar
incondicionalmente,independentemente da cor, da raça e do aspecto.
Quando há pessoas que devolvem que crianças, só provam que são seres egoístas e que de forma alguma estão em condições de as acolher.
Amar não é pedir nada em troca, é simplesmente dar e dar-se.
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De Jorge Soares a 28.09.2011 às 22:37

Olá

Tocaste um ponto sensível... há que estar preparado para amar.... adorei o teu comentário.

Jorge
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De Ricardo Sant'Anna a 29.09.2011 às 06:44

Também assisti com curiosidade ao programa pois é um tema que me diz bastante. Não quero ser o mau da fita, mas muitas questões ficaram por esclarecer em dito caso. Percebo e concordo com a sua opinião, e naturalmente com a dos comentários anteriores, mas não devemos esquecer-nos que todas as histórias têm dois lados.

Compreendo também que talvez não seria aquele o melhor lugar para tratar com mais cuidado aquele caso em particular, mas a imagem com que eu fiquei foi a de que os pais adoptivos tinham sido uns monstros horríveis e que aquelas crianças estavam isentas de qualquer mácula. Não se estarão a esquecer que aqueles pais são também seres humanos e poderão ter tido razões bastante fortes para proceder daquela maneira?

Não terá existido uma falha (ou várias) durante o processo de adopção que permitiu que as crianças (certas ou erradas) fossem colocadas com os pais (certos ou errados)?
As palavras das assistentes, das auxiliares e das responsáveis da instituição pareceram-me tremendamente duras, e pela forma como a reportagem estava a ser conduzida, sem qualquer conhecimento profundo das causas da rejeição.

Tendo trabalhado de perto com situações similares conheço a realidade o suficiente para perceber que devemos analisar com calma todos os factores antes de crucificar alguém. As crianças, tal como os adultos transportam um passado, uma bagagem, que não pode ser deixada à porta no começo duma nova vida. Ambos tem expectativas, ambos tem medos, ambos tem sonhos. A adopção, principalmente quando se trata de duas crianças com a idade dos dois rapazes, não se pode comparar a uma adopção de um bebé ou uma criança de tenra idade. Muito menos comparar a "devolver" um filho biológico que não corresponda aos nossos sonhos e expectativas.

Pessoalmente, gostaria de ter tentado conhecer um pouco mais do que levou estes pais a tomar esta atitude. Não é de animo leve que se adoptam crianças com esta idade, e muitíssimo menos, se "devolvem"... Desculpem lá o desabafo.

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