De Sandra Cunha a 03.11.2011 às 10:42
Compreendo a ideia de que o povo já teve a sua oportunidade nas eleições e colocou a cruzinha (ou não colocou nenhuma e é igualmente responsável) onde bem entendeu, legitimando assim a actuação do governo. Até acho que nunca é demais recordar isso às pessoas, que enquanto cidadãos que fazem escolhas, também têm a sua quota parte de responsabilidade, A culpa não é só "dos políticos". É também de quem, ano após ano após anos, há 37 anos (!!!!) os pões sucessivamente lá. Chega de sacudir a água do capote!
Por outro lado, este é um assunto gravíssimo. Como tu próprio dizes, uma coisa é decidir entrar num grupo de países que se sabe à partida que vai ser benéfico (pelos menos a curto e médio prazo). Outra é sair desse grupo e em situação de completa desvantagem, de total miséria e com uma tonelada de dividas às costas.
Mas olha que já me passou pela cabeça que isto foi tudo combinado. Uma reviravolta tão repentina do senhor Papandreou cheira-me a esturro. Já pensaram que o referendo na Grécia serve, a fingir para dar voz ao povo, quando na verdade serve para legitimar o saque? Ou seja, com a chantagem de agora congelarem as tranches de ajuda que já estavam em curso e sem dinheiro para salários e pensões, os gregos entram em pânico e claro, como a opção de sair do Euro pode ser ainda pior do que ficar, escolhem a ajuda do FMI, legitimando-a e acabando assim com a contestação social. Pronto. Probleminha resolvido. Toda esta surpresa de Merkel e Sarkozi seria, evidentemente, encenada, já que, neste cenário, eles estariam por dentro de toda a tramóia. Ou eu tenho a mania das teorias da conspiração. Também pode ser.
Bom, de qualquer modo é uma decisão muito difícil e eu não escolho nenhuma delas. Há outras alternativas. A coisa não tem de ser uma escolha dicotómica entre ficar no euro e aceitar a agiotagem do FMI (tu já viste bem as condições do 'perdão' da divida à Grécia?) Não é perdão coisa nenhuma!! Isto é pior ainda do que aqueles filmes de Mafiosos que víamos na TV em que eles emprestavam dinheiro, para depois poderem escravizar as pessoas para toda a vida. Cada vez que iam 'colectar' o dinheiro a divida era maior e as pessoas ainda apanhavam, invariavelmente, uma valente tareia. As dívidas passavam para os filhos e assim sucessivamente.
Isto é EXACTAMENTE a mesma coisa. A solução de sair do Euro é, neste momento desastrosa. A desvalorização da moeda teria consequências devastadoras, representando uma perda de salários/rendimentos/valor do dinheiro na ordem dos 40 a 50%. Acontece que as dividas ao estrangeiro, mantém-se em Euros. Por outro lado, ficar neste cenário, com um garrote cada vez mais apertado ao pescoço e em que, ao estilo dos agiotas de Hollywood, a nossa divida cresce em vez de descer, é uma solução igualmente desastrosa. Estamos portanto na merda.
Mas há formas de minorar estes problemas. E eles chamam-se concertação dos países que estão nesta situação (uns melhor, outros um bocadinho pior, mas estão todos no mesmo barco): os famosos PIIGS. O problema é Europeu, logo, só uma solução Europeia o pode resolver. Se estes países todos em vez de cada um lutar pelo seu lado, se juntassem e fizessem frente à agiotagem de que estão a ser alvo, teriam muito, mas muito mais força, poder de negociação e a sua posição seria outra. Para já, Alemanha, França e os interesses financeiros não querem perder os seus filõezinhos de ouro. É mantê-los ali na miséria, mas ainda assim capazes de irem cumprindo minimamente os compromissos. Se todos se unirem e disseram NÃO a este assalto, a coisa muda de figura. Já dizia o outro, que a União faz a Força.
E depois, dentro de cada país, as escolhas do Governo para cumprirem estes compromissos também podem ser outras: TAXAÇÃO DA BANCA!!!! DAS TRANSAÇÕES FINANCEIRAS, DERRUBE DAS OFFSHORE, TAXAÇÂO DAS GRANDES FORTUNAS; EQUIDADE FISCAL. Há dinheiro neste país (e nos outros). Só não querem ir por essa via porque estariam a ir contra os interesses financeiros, da banca, patronato, nacional e internacional, que lhes alimenta o ego e, principalmente os bolsos.
Não sei se já vista a quantidade medonha de ex-ministros que saíram dos Governos para carreiras de administração de grandes empresas (que beneficiaram claro das políticas que eles implementaram enquanto ministros).
Sandra, eu por principio sou contra qualquer perdão, perdoar a divida à Grécia ou a Portugal, ou à Itália ou a quem for e deixar tudo como está é como dar um peixe a alguém e não lhe ensinar a pescar.
Todos sabemos o que aconteceu na Grécia, durante 20 anos os sucessivos governos andaram a enganar o mundo, hoje estão numa situação em que não conseguem sair do buraco por si só... podem até perdoar 100% da dívida, mas se não fizerem perceber aos gregos que tem que mudar o seu modo de pensar e até de viver, daqui a 10 ou 15 anos vão estar na mesma.
E o mesmo se aplica por cá, e não, a culpa não é só dos políticos, a culpa é de todos nós.. cada um de nós contribuiu para o que se está a a passar, todos somos responsáveis e todos temos que fazer a nossa parte.
Que há outras alternativas a estas medidas, é claro que há, mas não há soluções milagrosas, qualquer alternativa vai ter custos que todos vamos pagar, disso não tenhas dúvidas.
Neste momento a diferença entre a tua forma de ver as coisas e a minha é que eu acho que para além das medidas que se estão a tomar, deveriam tomar-se também as que tu nomeias.... e não sei se já não será tarde, se mesma com a soma de tudo isso ainda iremos a tempo.
Mas uma coisa é certa, se a Grécia decidir que não vai pagar as dívidas, vai haver um grupo de países que vai cair como um baralho de cartas... eu não tenho dinheiro em banco nenhum, mas se tivesse, neste momento estaria a tentar arranjar um bom colchão, porque já estou ver pelo menos dois bancos que não se vão segurar ...e basta cair um para que o caos se instale.
Jorge