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Fugir de casa

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

Há alturas na vida em que somos apanhados em contramão, esteve prestes a acontecer um destes dias. Ter um filho hiperactivo não é nada fácil, não o é quando ele tem 4 ou 5 anos, não melhora quando ele vai para a escola e a julgar pela amostra, a adolescência vai ser um caso bicudo.

 

As coisas na escola vão indo, está a ser muito bom para o que eram as nossas expectativas, o que não quer dizer que quase todas as semanas não apareça mais uma coisa qualquer... no Sábado apanhamos o N. em falta, como o caso era mais ou menos grave e ainda por cima repetido, levou umas palmadas, há muito que eu não lhe batia, mas ante a tentativa de mentir para esconder a falta, perdi a paciência.

 

Apesar do grave do assunto, a coisa ficou pelas palmadas e por uma advertência de que de modo algum poderia repetir a graça. Não demorou muito, na segunda feira voltou a pecar. Acho que ele não tem muita sorte, porque na terça já eu tinha descoberto.

 

Ao fim do dia estive mais de uma hora à conversa com ele, não era bem conversa, ele ia balbuciando umas coisas e eu puxando pelas pontas e descobrindo até onde ia a coisa, no fim descobri que: Não almoçou na escola, na hora do almoço saiu da escola e foi comprar gomas e pastilhas com os colegas, em lugar de comer o lanche, leva dinheiro às escondidas e compra sandes e sumos nas máquinas da escola, o lanche de casa é sandes e sumo. Está proibido de sair da escola, mas sai montes de vezes com os colegas... entre outras coisas, algumas bem mais graves.

 

A conversa não foi fácil, a dada altura virou-se para mim e disse-me:

 

- Se continuas a ameaçar-me, saio de casa!

- Sais de casa como?

- Sim, saio de casa

- E vais para onde?

- Para onde gostem de mim e não me façam sofrer!

 

Aqui perdi a paciência

 

- Mas tu julgas o quê?, que me assustas com isso?, se queres sair de casa a porta está aberta.

- Mas é que vou mesmo - aqui levanta-se e sai disparado para a porta da rua.

- ..... 

 

Desta eu não estava à espera.....

 

- Ouve lá, onde é que tu vais?

- Não sei, vou-me embora!

- Ok, tu podes ir, mas não levas nada que seja desta casa

- Mas eu não levo nada

- Levas levas, esses sapatos e essa roupa são de cá, tira lá os sapatos e a roupa

- Mas tu queres que eu vá para a rua de cuecas?

- De cuecas não, que essas também são de cá.

- Eu não vou para a rua nú!

- Isso é problema teu, tu não dizes que não precisas de nós?.

 

Voltou para o quarto, ... foi por pouco, com a chuva que estava lá fora ele não ia longe, mas.....

 

Acho que tirando a minha meia laranja, não conheço ninguém que não tenha alguma vez pensado em sair de casa, o facto de ser adoptado e de passar a vida a aprontar não nos facilita a vida, nem a ele nem a nós... 

 

Eu senti que ele estava a utilizar  a ameaça como estratagema para assustar a mãe, e decidi mostrar-lhe que não podia ser, por pouco não era eu o apanhado na minha ratoeira... as crianças hiperactivas tem uma memória curta, dizem os médicos que os castigos devem ser firmes e imediatos, castigos prolongados não resultam porque passado pouco tempo já não tem a noção de porque estão castigados. O facto de ter sido castigado no Sábado e na segunda estar a aprontar de novo mostra que a ciência sabe do que fala.... mas não é fácil para mim como pai interiorizar, e claro, é muito complicado explicar ao mundo, e em especial à maioria dos professores que não é uma questão de atitude ou má criação das crianças, é sim uma doença. 

 

Entretanto falamos com a escola, que nos diz que não tem forma de controlar se eles saem ou não do recinto, havia um projecto de implementação de entradas controladas por cartão que estava quase pronto,.....  foi cancelado pela crise.... a nós resta-nos estar com o coração nas mãos.... 

 

Pai sofre.

 

Jorge Soares

publicado às 22:04


1 comentário

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De Rosinda a 11.11.2011 às 10:06

Educar é difícil e se tratamos com crianças com problemas de saúde pior ainda.
Pelo que vou lendo, a forma como educas parece-me correcta, mas depois vêm os amigos e até a escola que não ajudam nada.
Sim , porque a maior parte dos miudos não têm pais que se preocupem com essas coisas, nem dão conta!
Eu tive um filho que chegou mesmo a sair de casa, teria uns 17 anos.
A razão era não querer estudar e claro muito menos trabalhar. Então, eu "obriguei-o" a ir para uma fábrica de tecelagem durante as férias. Queria que ele se apercebesse do que era a vida. Fugiu...
para a praia, para a casa dos pais da namorada. Claro! A praia era melhor! Não fui atrá dele, pois eu sabia que voltaria . Assim foi . Um mês depois ao acordar olhei para o quarto dele e lá estava na cama... Entrou pela calada da noite, envergonhado.
Muitas histórias como estas haverá. Hoje o meu filho é um grande homem e um pai excelente.
Tranquiliza-te, pois fazendo o melhor, nada mais podemos fazer.
Um abraço e desculpa a extensão do comentário.
Rosinda

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