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Porque: "A vida é feita de pequenos nadas" -Sergio Godinho - e "Viver é uma das coisas mais difíceis do mundo, a maioria das pessoas limita-se a existir!"
Imagem de aqui
Talvez vocês se cansem de ler, mas eu não me canso de repetir, pelo menos enquanto alguma coisa não mudar na forma como são dadas as noticias neste país, vou repetir algo que já escrevi várias vezes, pode ser que por força de tanto me repetir alguém interiorize:
Em Portugal não há devolução de crianças adoptadas, é um erro que vemos muitas vezes repetido já seja na imprensa escrita ou na falada. Depois de decretada a adopção não há diferença nenhuma entre um filho biológico e um adoptado, a devolução de um filho tem outro nome, chama-se abandono e existem leis contra isso. O que efectivamente acontece algumas vezes, 10 vezes durante o ano 2010, em 2009 foram 16, é a entrega das crianças durante o período de pré adopção por parte dos candidatos a pais.
Hoje a noticia é da RTP e fala da devolução de uma criança de 12 anos, porque alegadamente seria esquizófrénica e teria problemas mentais, não faço ideia qual será a formação do senhor que aparece na reportagem, mas mesmo que seja médico, não estou a ver como conseguiu diagnosticar estas doenças durante o curto periodo de um fim de semana. Para ser sincero, não gostei nada nem da noticia nem da forma em que ela foi apresentada, e muito menos das desculpas do senhor.
Acreditem, para nós pais adoptivos, há poucas coisas que nos choquem mais que este tipo de casos, não há desculpa nenhuma para que alguém tome uma atitude destas, e a culpa pode ser de muita gente, mas nunca é da criança.
Mas o que leva à devolução de uma criança?... de novo vou repetir-me, uma adopção é um processo em que de um dia para o outro nos entra pela casa dentro um estranho, e nós nem sempre temos capacidade de gostar de imediato dos estranhos que vamos conhecendo, ora, se este estranho fica a viver em nossa casa... e se ainda por cima este estranho é uma criança que já passou por situações de vida em que foi maltratado, violentado, abandonado.. o mais certo é que não seja o filho ideal que a maioria das pessoas sonhou. E do meu ponto de vista esse é o maior problema, as pessoas idealizam os filhos, criam uma imagem do filho perfeito que vai chegar ávido de amor e carinho e vai receber os pais de braços abertos.... meus amigos, isso não existe.
O primeiro que faz uma criança adoptada é testar os limites dos novos pais, esticam a corda ao máximo e quanto mais corda damos, mais eles esticam, faz parte do processo normal. Até se sentirem seguros, até concluírem que a ligação é mesmo definitiva eles fazem trinta por uma linha.. com o tempo acalmam... mas entretanto mais de um pai que deveria ser babado, já entrou em desespero. Depois há que recordar que estamos a falar de crianças que vêm de instituições, crianças que a maior parte das vezes estão habituadas a viver com regras que não tem nada a ver com a vida familiar.. se a isto juntarmos a pouca auto-estima que tem alguém que já foi abandonado... temos uma mistura muitas vezes explosiva...e nem sempre estamos preparados para isto.
Quanto a este caso especifico, acho muito estranho que tanto a instituição como a segurança social tenham de alguma forma tentado esconder a situação médica da criança. Estamos a falar de uma criança de 12 anos que estava institucionalizada desde os seis, tempo mais que suficiente para que se diagnostique correctamente uma doença como a que foi referida pelo senhor.
Quer-me parecer que a criança não terá gostado de ser adoptada e encontrou uma forma de fugir para a frente, depois uma coisa levou à outra e tudo isto levou a criança a ser abandonada de novo... sim, porque para mim isto não passa de uma forma de abandono, quem devolve uma criança está a abandonar essa criança à sua sorte.
É claro que no meio de tudo isto não há inocentes... e ouvir que uma só instituição teve desde Agosto até agora 4 devoluções de crianças, leva-me a pensar que algo de errado se estará a passar, ou com a instituição ou com as equipas de adopção que com ela trabalham. E claro, haveria que perguntar quem serão os responsáveis de que a criança tenha estado seis anos institucionalizada, seis anos é muito tempo, tempo demais desde qualquer pespectiva
Jorge Soares