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Morrer de solidão

por Jorge Soares, em 29.01.12

Em Portugal morre-se de solidão

Imagem minha do Momentos e Olhares

 

É uma notícia que é recorrente, foi  em Fevereiro de 2010 que escrevi o Post, Em Portugal há quem morra de solidão, na altura tinham sido encontradas mortas 9 pessoas que viviam sós, passaram dois anos e o que constatamos é que nada mudou, hoje a noticia fala de 10 idosos encontrados mortos em apenas seis dias..

 

Vivemos tempos estranhos, nunca como agora as pessoas estiveram tão próximas umas das outras, por muito grande que seja a distancia física, nunca foi tão fácil comunicarmo-nos com quem está longe, as redes sociais acercaram-nos das pessoas e do mundo. A grande maioria de nós comunica todos os dias com dezenas, centenas e até milhares de estranhos... o messenger, o Facebook, os blogs.... colocam-nos à distância de um clik de milhares de pessoas... e, também falo por mim, quantas vezes falamos com as pessoas mais próximas de nós?

 

Acredito que muitas vezes as pessoas estejam sós porque foi isso que escolheram para as suas vidas, mas o facto de escolherem estar sós não deveria significar que tenham que estar esquecidas...  e o que vemos é que há muita gente esquecida... esquecida pelos seus, esquecida por quem está à volta..esquecida pelo mundo. Parece que quando alguém deixa de ser produtivo, passa a ser dispensável, peso morto para o mundo.

 

Quando ouço noticias destas o primeiro que penso é "onde anda a família destas pessoas?", acredito que um ou outro não a tenha, mas são centenas, milhares de pessoas sós, a maioria terá filhos, netos, irmãos... alguma vez teve amigos, ninguém vive uma vida inteira na solidão, de uma ou outra forma terá deixado a sua marca no mundo, porquê terminam assim?, abandonados por todos?

 

Acredito sinceramente que o estado podia fazer algo mais para evitar que estas coisas aconteçam... mas este é um daqueles casos em que não acho que seja o estado a falhar... quem falha somos todos nós, falhamos como seres humanos e como sociedade.

 

Pense lá, quando foi a última vez que falou com os seus?.. não haverá alguém que até sabemos que está só e a quem poderíamos dar uma palavra de conforto?

 

«Morrer é só não ser visto.»

 

A morte é a curva da estrada,

Morrer é só não ser visto.

Se escuto, eu te oiço a passada

Existir como eu existo.

 

A terra é feita de céu.

A mentira não tem ninho.

Nunca ninguém se perdeu.

Tudo é verdade e caminho.

 

Fernando Pessoa

 

Jorge Soares

 

publicado às 20:08


21 comentários

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De Sara a 29.01.2012 às 20:43

Acabei de falar sobre isto no TST ... andamos com os mesmos pensamentos e as mesmas preocupações .
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De Jorge Soares a 30.01.2012 às 23:35

Pois.. parece que sim :-)
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De Marta M a 29.01.2012 às 21:47

Jorge:
Este é um tema estranho...Parece simples a explicação, mas será?
Será que não existem casos de pessoas que nunca mudaram de comportamento, foram sempre "problemáticas" e nesse registo, o tempo passou e... envelheceram.
Conheço casos próximos, infelizmente. Agora, fragilizados fisicamente, pedem o que nunca deram exigem a prática que nunca tiveram?
É claro que entendo que falas de "esquecimento", não abandono.
Do outro lado estão todos os outros, que passam esta fase da vida em solidão e, de facto, não fizeram nada para o merecer. E obviamente todos temos esse dever de cuidar solidariamente uns dos outros.
Dos mais fragilizados primeiro.
Abraço e boa semana
Marta M
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De Jorge Soares a 30.01.2012 às 23:39

Não, não é um tema fácil.

É claro que existem casos e casos, há muita gente que nunca terá feito por merecer muito mais que o esquecimento... mas não deixa de ser triste... e acredito que estes sejam uma pequena maioria, a grande maioria será desleixo e abandono... porque as pessoas idosas dão trabalho..e é mais fácil deixar que fiquem à sua sorte e ao abrigo da caridade...

Temos que olhar para os idosos como quem olha para crianças, dificilmente seriamos capazes de abandonar um filho, por muito mal que este se porte, por muitos problemas que dê... porque é tão mais fácil abandonar quem nos deixou no mundo?

Boa semana Marta

Jorge
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De golimix a 29.01.2012 às 22:11

Concordando com a opinião da Marta (acima) algumas pessoas pedem aquilo que nunca deram, mas mesmo assim é nosso dever, como ser humanos, ajudar e amparar quem precisa.
No Centro de Saúde da minha área as equipas de saúde, mais precisamente a equipa de enfermagem tem estabelecido um plano de visitas a idosos com mais de 80 anos, de modo a verificar o apoio que estes têm e a activar toda uma rede de cuidados que inclui a assistência social, se tal necessidade for verificada. Não sei se estas diretrizes são a nível nacional, de qualquer forma é de valorizar.
Mesmo assim a solidão é uma realidade e algo para onde temos que olhar.
Boa semana
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De Jorge Soares a 30.01.2012 às 23:42

Olá

É verdade que há aquele ditado que diz, semeia ventos e colhe tempestades.... mas ao os abandonarmos não nos estamos a tornar no que eles foram?, o lógico não seria mostrar que conseguimos ser melhores que eles e que temos memória?, afinal é de pessoas que estamos a falar.

Por vezes as pessoa teimam em se isolarem... mas temos que pensar que os idosos são como crianças..e se não deixamos as crianças fazerem o que lhes apetece .....

Boa semana amiga

Jorge
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De sentaqui a 29.01.2012 às 23:08

Comovem-me sempre ouvir estes relatos de solidão de esquecimento e abandono. Penso que está na altura de olharmos para este problema com outros olhos e outras atitudes.
Felizmente no meu concelho há centros de dia em todas as aldeias e onde todos os idosos podem passar o dia e desenvolver algumas actividades.
Pena é que nos grandes aglomerados esta iniciativa seja mais difícil de implementar e apareçam estas notícias que nos deixam consternados.
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De DyDa/Flordeliz a 30.01.2012 às 11:52

Por aqui também os há - os centros de dia.
No entanto os meus pais nunca lá foram. Nunca conviveram. Logo se precisarem, nunca aceitarão frequentar.
Portanto moral da história será: abandonarmos a nossa vida e cuidarmos deles.

Farei o melhor que puder e souber.

Mas não estarão a ser egoístas? O facto de conviverem com outras pessoas não os obrigava a pensar, a sair da rotina?
Tenho a certeza que sim! O meu pai está a precisar exercitar os neurónios. A minha mãe pensa por ele e ele não precisa fazer esforço, o que o faz ficar "parado" acomodado.
Serei eu ou os meus irmãos que devemos deixar de trabalhar para lhes fazer companhia durante o dia?
Para além de não ter paciência para ouvir falar de doenças, preciso de colocar pão em cima da mesa - Complicada a vida...
Parece mais fácil falar do que praticar.

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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:16

É uma situação complicada, muitas vezes temos que enfrentar a relutância deles, mas a verdade é que nós não podemos deixar de viver para estarmos sempre a seu lado.. até porque nem eles nem nós vivemos do ar.

Haverá sempre o meio termo, mas nem sempre é fácil conciliar vidas, manias e vontades... chega uma altura em que temos que olhar para eles como olhamos para os nossos filhos..e não deixamos de viver por eles... nem os abandonamos....

Complicado.. eu sei..e fácil de falar de cor..também sei
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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:12

É algo que nos devia preocupar, porque somos um país com uma população cada vez mais envelhecida... e estes casos vão-se multiplicar.. e é uma situação que nos deveria envergonhar a todos como seres humanos

Jorge
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De lagoa_azul a 30.01.2012 às 10:22

Olá Jorge,

Eu acho que não são os tempos que são estranhos, as pessoas é que no seu egoísmo se tornaram estranhas umas para as outras, não se dão nem se partilham como se houvesse possibilidade do outro roubar algo daquilo que somos.
Nota-se mais a estranheza das pessoas nos grandes centros urbanos, felizmente para mim vivo perto dos grandes centros mas afastada o suficiente para sentir que por aqui onde moro ainda cuidamos uns dos outros.
É realmente uma solidariedade orgânica, tal como disse um sociólogo numa reportagem este fim de semana. Eu sempre vi essa solidariedade a ser praticada na família desde os tempos da minha avó. Foi pelo exemplo que fui educada.

Ainda hoje, quando chego a casa lá vem uma tia ou uma prima trazer-me batatas ou couves ou laranjas, ou ovos. Elas sabem que se não levarem eu naturalmente vou pedir, este acto estreita os laços, e cada vez que elas precisam de apoio na resolução de alguns problemas sabem que podem contar comigo, e é a mim que se dirigem a buscar esse apoio.
Aqui onde vivo cuidamos de todos os nossos idosos, sejam familiares ou não. E alem disso, cuidamos ajudar todos os que sabemos que por uma ou outra circunstância da vida estão a precisar, mesmo não sendo idosos.

Boa semana
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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:19

Os meios pequenos aproximam as pessoas, nos grandes centros vivemos rodeados por milhares de pessoas e a maior parte das vezes,.. sozinhos... é triste que assim seja.. mas é cada vez mais assim.
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De DyDa/Flordeliz a 30.01.2012 às 11:41


Não preciso pensar:
Foi à 15 minutos atrás.
Se eles não me ligam, ligo eu.

Mas sabemos que as famílias não são todas iguais.
E que há idosos com um feitio muito complicado mesmo quando precisam de ajuda e que têm dificuldade em aceitar que alguém os ajude, como se estivéssemos a invadir o seu "mundinho" ou mesmo a meter nariz na casa de família alheia.

Recordo a minha avó que fugia para a sua casa e queria lá ficar de noite sozinha já com mais de oitenta anos e complicava a vida de quem a cuidava com carinho e atenção...

Idosos que apenas aceitam como companhia os gatos ou os cães....

Pessoas que passam uma vida inteira quase incógnitos, em que os vizinhos não se aproximam por sentirem não ser bem-vindos...

A culpa é da sociedade, sim. Só que a sociedade, somos todos nós.

E nós muitas vezes somos egoístas. Novos ou velhos.

Beijinho



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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:26

Hummm.. este teu comentário dá mais um post ... me aguarda.

Jorge
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De Rosinda a 30.01.2012 às 20:28

Dramático, inaceitável...
Podemos ter que mudar drasticamente a nossa vida para cuidar dos nossos pais, sim é verdade. Mas não mudaram eles toda a sua existência por causa dos filhos?
São situações que me recuso a aceitar, um telefonema por dia no mínimo faria a diferença.
Lembremos o velho ditado:
"Filho és, pai serás, conforme fizeres, assim receberás..." Todos seremos "velhos" se chegarmos a velhos.
Rosinda
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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:29

Rosinda, não é assim tão simples.. é verdade que eles deram muito por nós... mas nós não podemos deixar de viver porque eles existam... tem que haver um meio termo... como estão as coisas, se os meus pais adoecessem seria impossível eu estar com eles todos os dias.. primeiro porque estão 300 Kms, segundo, porque para estar com eles tinha de deixar de dar de comer aos meus filhos....

Não é fácil...
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De miilay a 30.01.2012 às 21:44

É verdade, e estes números chocam, onde estão os familiares, os amigos ,os vizinhos? É muito triste quando não se faz nada aos outros também já ninguém faz nada por nós. Mas, nunca pensei que isto acontecesse com tanta frequência. Temos que olhar mais por quem passa por nós.
miilay
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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:30

Acontece sim... muito mais que aquilo que podemos pensar.. porque nas grandes cidades não há vizinhos, ou amigos, muitas vezes não há sequer família, só há solidão... é triste, mas é a nossa sociedade e o que estamos a fazer dela
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De Sofia a 31.01.2012 às 00:12

A mim estas coisas comovem-me sempre. Sei que muitos se isolam por opção, mas outros são mesmo abandonados. Ainda me lembro de quando era criança de ser a companhia de uma idosa que morava sozinha por cima da loja da minha mãe. Tinha família e até lá iam visitá-la, mas de vez em quando lá estava à janela a chamar por mim...e eu ficava toda contente e passava horas com ela.
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De Jorge Soares a 31.01.2012 às 00:31

Por vezes basta um pequeno gesto para se fazer a diferença... porque ninguém gosta da solidão.
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De Joana a 31.01.2012 às 13:35

Penso tantas vezes nisto... Como para quase tudo, a minha resposta é a educação. Acredito que se educarmos os nossos filhos a viver e a conviver bem com a velhice, e a tratar a velhice como uma etapa da vida importante, teremos beneficios disso na sociedade no futuro. Por agora temos que esperar.
O estado, o nosso estado, é lamentável. é pobre e mediocre. Este é mais um indicador...

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